As eleições de outubro se aproximam.
Velhas promessas são requentadas para iludir o povo e “novas” são criadas.
Frente ao desgaste dos políticos, dos governos e das eleições, a grande mídia
já iniciou uma campanha pelo “voto útil”, condenando o “voto nulo” e
estimulando a consciência pequeno-burguesa e individualista da população.
Disseminam a ilusão de que se deve votar obrigatoriamente em um candidato para
que o voto seja “válido”, ou para evitar a vitória de outro (como o discurso da
“volta da direita”, propagado pelo PT). Mas não existem diferenças profundas
entre os programas. Todos os partidos destas eleições fazem parte de um mesmo
sistema eleitoral corrompido, se beneficiando dele de alguma forma, não o
denunciando (como se esperaria dos partidos de “esquerda”) e se coligando
direta ou indiretamente.
Portanto,
na atual conjuntura, votar em algum candidato para “validar” o voto é legitimar
o seu programa em benefício da burguesia e de retirada dos direitos dos
trabalhadores. O discurso do voto útil é a nova cadeia ideológica que mantém os
trabalhadores como escravos modernos, votando de 2 em 2 anos naqueles que vão
lhe explorar, com a ilusão de que o voto dentro desta “democracia” muda alguma
coisa.
AS
ALIANÇAS ELEITORAIS
É baseado nessas ilusões complacentes que o governo Tarso (PT) vai tentar a
reeleição, sustentado por uma aliança com PCdoB, PTC, PROS, PPL, PTB e PR. Os 4
anos de governo Tarso foram a continuidade do governo Yeda (PSDB): planos de
austeridade e de retirada de direitos (o Pacotarso); não pagamento do Piso e o
início da destruição do Plano de Carreira; início da aplicação do Plano
Nacional de Educação (PNE), que é o plano neoliberal de privatização da
educação pública; utilização dos concursos públicos como moeda de troca de seus
interesses políticos; repressão aos movimentos sociais (principalmente em junho
de 2013); isenção de impostos e lucro recorde aos bancos e empresas, tais como
a Elbit System (empresa israelense que financia o genocídio palestino na Faixa
de Gaza); escândalos de corrupção que foram abafados pela habilidade política e
jurídica do governador (operação Kilowatt e FDRH). O governo Tarso governou à
margem de muitas leis, aplicando “reformas” por decreto, administrando os
negócios do grande capital e impondo os planos do Banco Mundial para
concretizar os planos neoliberais que Yeda não conseguiu, em razão do apoio de
CUT, UGES, UMESPA e de outros movimentos sociais. Em nada se diferencia do
governo Lula/Dilma e de FHC em nível nacional. Ajudou a burguesia a passar os
custos da crise capitalista para os ombros dos trabalhadores. Caso seja
reeleito, todos estes projetos se aprofundarão. O partido da candidata à vice
da chapa de Tarso, o PCdoB, está coligado com o PSDB no Maranhão e recebeu o
apoio de Ana Amélia Lemos (PP) à candidatura de Manuela D’ávila para a prefeitura
de Porto Alegre nas eleições de 2012. O PTB, ativo partido no esquema do
mensalão, foi base do governo Yeda no RS. Os demais partidos são siglas
burocráticas de aluguel, interessadas apenas no aparato estatal. É por isso que
o discurso de “votar no PT para evitar a volta da direita” (seja com Aécio ou
com Ana Amélia) é uma grande artimanha para iludir os trabalhadores e ganhar o
seu “voto útil”. Os seus programas políticos são idênticos!
A candidatura de Ana Amélia Lemos (do PP, partido de Paulo Maluf e de Jair
Bolsonaro) conta com o apoio do PSDB, PRB (o partido da Igreja Universal, que
foi base aliada do primeiro mandato do governo Tarso e está coligado com o PT a
nível nacional para reeleger Dilma) e Solidariedade (o “novo” partido da mafiosa
Força Sindical). O PP representa os
interesses da velha oligarquia rio grandense e brasileira. Foi base aliada do
governo Lula e do governo Dilma (PT). Caso seja eleito para o governo do Estado
dará continuidade aos projetos de Yeda e de Tarso, tal como apoiou todos os
projetos e “reformas” neoliberais do governo Lula e Dilma; apenas será menos
demagógico com os movimentos sociais. O discurso petista de votar em Tarso para
evitar a volta da direita carece de sentido lógico e só serve para ocultar este
cinismo: o PP é base de sustentação do governo Dilma (PT) e de todo o seu
projeto político; ambos têm o mesmo programa político, com discursos
aparentemente diferentes. Por que legitimá-los? Que diferença faz votar no PT para
“evitar a volta da direita” se todos os partidos deste páreo estão coligados de
uma maneira ou outra e defendem o mesmo programa? As coligações anulam o
argumento do “voto útil” porque todos estes partidos burgueses estão juntos
contra os trabalhadores, seja a nível nacional ou estadual.
Já o PSOL relançou a candidatura de Roberto Robaina em uma coligação com o
PSTU, sustentando um discurso aparentemente progressivo, prometendo romper com
o pagamento das dívidas do Estado e o pagamento do Piso aos educadores gaúchos.
Contudo, o PSOL e o PSTU não se propõem a uma luta revolucionária, independente
das ilusões e das engrenagens políticas da democracia burguesa. Não lutam
contra as burocracias sindicais, mas fazem parte delas. O PSOL e o PSTU seguem
a mesma estratégia eleitoreira e reformista que levou o PT a transformar-se no
que ele é hoje, apenas com um discurso aparentemente mais radical. Nos
sindicatos protagonizam alianças espúrias e praticam um sindicalismo
economicista e de cúpula. Tanto é assim que dentro do CPERS estão “coligados”
com PT (CUT pode Mais) e PSB, apoiando toda a política oficial da CUT e da CNTE
(em outros sindicatos do país se coligaram com Articulação Sindical-PT e
PCdoB), inclusive sendo conivente com a aprovação do PNE. Sem falar no
escândalo do financiamento das grandes empresas, tais como Gerdau, Zaffari,
Marcopolo e Taurus, para a campanha eleitoral de Luciana Genro, e na coligação
com o PCdoB nas eleições de 2012. Deste modo é impossível ser independente e
lutar por uma “nova política”. O “socialismo” de PSOL e PSTU é dos dias de
festa, sem choque com a burguesia e as burocracia sindicais. Eles servem apenas
para dar um “colorido” legitimador para a democracia burguesa.
A candidatura de José Ivo Sartori, do PMDB, conta com o apoio de PSD, PPS (que
foi base de sustentação do governo Yeda), PSB (ex-base de sustentação do
governo Dilma e de Tarso no RS), PHS, PTdoB, PSL e PSDC (todas siglas de
aluguel). O PMDB e o PSD estão apoiando a reeleição de Dilma, enquanto que aqui
no Estado fingem ser oposição. Além disso, o PMDB foi o partido que mais vezes
governou o RS, deixando uma herança de privatização e de destruição dos
serviços públicos: Pedro Simon, Sinval Guazelli, Antônio Britto e Germano
Rigotto.
Vieira
da Cunha, por sua vez, concorre pelo PDT em uma aliança com o PSC (do
deputado-pastor Marcos Feliciano), Democratas (ex-PFL, que apoiou todas as
privatizações do PSDB), PV (de Zequinha Sarney) e PEN (que apóia Aécio Neves do
PSDB). Até as vésperas desta campanha eleitoral o PDT foi base de sustentação
do governo Tarso e apoiou todos os seus ataques aos direitos dos trabalhadores.
Em nível nacional apóia a reeleição de Dilma. O PDT já governou o Estado com
Alceu Collares, que dentre outros ataques aos serviços públicos, sucateou e
destruiu a educação pública com o seu calendário rotativo.
Duas
legendas de aluguel – PRTB e PMN –, mesmo sem nenhuma diferença programática
com os outros partidos burgueses, lançaram seus candidatos ao governo do Estado
para se valorizar, sem coligação com outros partidos (pelo menos no 1º turno).
O PRTB lança o nome de Edison Estivalete, se vendendo como “renovação”, mas foi
base aliada do governo Dilma e apoiou todos os seus ataques aos trabalhadores,
além de ser a sigla de Joaquim Roriz, famoso corrupto do Distrito Federal. Já o
PMN lança um ex-membro do PFL, João Carlos Rodrigues, para governador. O PMN
também foi base de apoio de Dilma e agora apóia a eleição de Aécio Neves.
Também é a atual sigla da empresária do agronegócio Jaqueline Roriz, filha de
Joaquim Roriz.
O PCB
apresenta a candidatura de Humberto Carvalho, que faz um debate despropositado,
levantando doutrinariamente velhas “receitas prontas” descoladas da realidade
concreta dos trabalhadores, sem entrar no mérito dos ataques dos atuais
governos. Lamenta a divisão eleitoral dos partidos reformistas, que segundo o
PCB, deveria sair unificada em uma “frente de esquerda” (que o incluísse). Na
política prática vai a reboque do PT e das suas organizações sindicais,
reforçando a política burocrática dentro dos sindicatos. Basta olhar a atuação
da Unidade Classista, a corrente sindical do PCB dentro do CPERS.
Os
candidatos a deputados e senadores seguem a mesma lógica dos seus partidos e
das suas coligações.
VOTO ÚTIL
X VOTO NULO
Nestas eleições os trabalhadores não terão alternativa novamente. Todos os
partidos apresentados estão coligados, de uma forma ou de outra, apresentando
um programa burguês ou reformista. Em sua maioria, já governaram o país e o
Estado, direta ou indiretamente. Seus governos foram apenas balcões de negócios
para a burguesia e representaram o aumento da miséria e do sofrimento dos
trabalhadores. Frente a isso o voto nulo é uma necessidade, pois é o único voto
de protesto possível frente à identidade geral entre todos os programas
políticos e a democracia burguesa.
Não existe a proclamada mudança através do voto. Este é o único “caminho” que a
mídia e os governos nos apresentam porque nos leva à passividade política e à
crença de que votar de 2 em 2 anos em candidatos selecionados e tolerados pela
burguesia pode mudar a nossa vida sem mexer na estrutura econômica e política
do país. As eleições são controladas pelo poder econômico dos bancos e das
grandes empresas, principalmente as multinacionais. Esta forma cômoda e
pacífica de “mudar a sociedade” é uma ilusão que prepara inúmeras armadilhas,
reforçando a lógica de que um indivíduo eleito – uma espécie de “messias” – vai
resolver todos os problemas dos trabalhadores sem que precisemos nos mobilizar
para cumprir o nosso protagonismo, que é indispensável. Estas ilusões são
alimentadas de diversas formas, renascendo sempre das desilusões eleitorais e
das derrotas das lutas, fruto das traições dos partidos reformistas.
Queremos
debater caminhos alternativos ao mero voto do PT ou nos demais partidos
burgueses e reformistas “para evitar a volta da direita” ou para uma renovação
fictícia. É preciso romper com o caminho da alienação política, do comodismo e
do egoísmo. Já bastam os 20 anos de desilusões com a democracia burguesa.
Precisamos organizar o caminho da luta e da auto organização independente dos
trabalhadores nos sindicatos, movimentos sociais, em partido revolucionário,
para construir a revolução socialista: única forma de acabar com as
desigualdades sociais, a corrupção e a politicagem burguesa.
Sabemos que falta organização e conscientização para isso. Ainda é preciso
percorrer um longo e árduo caminho. Muitas condições precisam ser criadas:
retomar os sindicatos das burocracias sindicais, varrer o oportunismo da nossa
trincheira, aumentar o nível político dos trabalhadores, nos reorganizarmos
politicamente, organizar a autodefesa para uma insurreição popular, etc. Nenhum
partido ou frente eleitoral de “esquerda” fará esse tipo de debate. O “voto
útil” nos partidos burgueses e reformistas caminha no sentido oposto,
reforçando e legitimando a opressão sobre nós mesmos. Neste momento é “útil”
somente para legitimar toda farsa da democracia burguesa. Votar nulo nas
próximas eleições é um primeiro passo no sentido de concretizar um caminho
independente dos trabalhadores.