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24 de jun. de 2015

ACUMULAR FORÇAS NA BASE PARA LUTAR CONTRA OS “PLANOS DE AJUSTE” DO GOVERNO SARTORI E DILMA!



     Estamos sendo atacados duramente em nossos direitos. O governo Dilma e seus opositores da direita (PSDB, DEM e outros) repassam a conta da crise capitalista para os trabalhadores através da aprovação dos planos de ajustes fiscais no Congresso Nacional reacionário (MPs 664, 665, PL 4330 e o corte de mais de R$ 70 bilhões no orçamento público). Os Planos Nacional e Estadual de Educação (PNE e PEE) do Banco Mundial são a matriz de todos os ataques à educação pública.
    O governo Sartori inicia seu governo aumentando os salários do governo e deputados; mas em contrapartida congela os salários dos servidores, altera a data do nosso pagamento, corta R$ 1,7 bilhão do serviço público para garantir o pagamento dos juros das dívidas aos banqueiros internacionais e mantém isenção de impostos às grandes empresas. Mente que existe um déficit nas finanças do Estado para não cumprir com a reposição salarial dos trabalhadores. Encaminhou à Assembleia Legislativa um PACOTE DE AJUSTES que retira direitos dos trabalhadores (Licença Prêmio, não nomeação dos aprovados em concurso, fim da incorporação da função gratificada na aposentadoria, intensifica-se o calote dos precatórios, congelamento de salários, aprofunda as privatizações no serviço público através das Parcerias Público-Privado e outras medidas recessivas).
   Enquanto isso, a direção governista do CPERS (Art Sind, Articulação de Esquerda – CUT-PT, PCdoB – CTB), não organizou e nem mobilizou a categoria para enfrentar o governo; apenas fez de conta, prática comum das burocracias sindicais, que agem como cúmplices dos governos. Ao invés de organizar a classe, bajulou a categoria com festividades, fez caravana pelo interior para dar visibilidade aos seus quadros e criar novos burocratas sindicais e cabos eleitorais, participou de um seminário da cúpula das direções burocráticas dos sindicatos dos servidores. Não promoveu um grande encontro da base dos servidores, porque não tem interesse real em organizar os trabalhadores e muito menos enfrentar o governo. Restringe a luta a encontros burocráticos de cúpula com o governo e demais sindicatos cutistas. Não organizou a formação da base da categoria, nem propôs nenhum enfrentamento concreto ao governo.
   Contudo, não podemos desanimar, temos que ir a luta! É necessário mobilizar os trabalhadores do serviço público visando barrar os ataques do governo Sartori. Entendemos que o eixo de nossas mobilizações, debatido nas escolas, deve ser: RETIRADA IMEDIATA DO PACOTE DE ATAQUES DO GOVERNO SARTORI, bem como REPOSIÇÃO SALARIAL DE 13,01% NA PERSPECTIVA DO PAGAMENTO DO PISO; mas, para isso, necessitamos construir um COMANDO DE MOBILIZAÇÃO DE BASE COM REUNIÕES ABERTAS NO CPERS, para nos mantermos mobilizados e definirmos coletivamente o rumo da nossa luta. Propomos também criarmos um FUNDO DE GREVE utilizando o valor que era destinado a CUT para nossas mobilizações e os possíveis cortes de salários.
      Defendemos mobilizar os trabalhadores do serviço público (Educação, Saúde e demais secretarias) promovendo um ENCONTRO ESTADUAL DE BASE (o local pode ser o Gigantinho) para juntos debatermos, organizarmos e protagonizarmos uma luta unitária contra os ataques do governo Sartori e Dilma. Inicialmente, propomos um plano de luta e de mobilização: PARALISAÇÃO ESTADUAL DO SERVIÇO PÚBLICO PELA RETIRADA IMEDIATA DO PACOTE DE ATAQUES DO GOVERNO SARTORI ENCAMINHADO À ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, precedido por discussões nas escolas, períodos reduzidos, atos regionais, aulas públicas e, principalmente, pela organização de núcleos sindicais por escola, no sentido de acumular forças. É importante também, além de unificarmos nossas pautas comuns, levarmos nossas pautas específicas. Caso o governo não recue nos ataques, vamos avaliando coletivamente e nos preparando para enfrentamentos mais radicalizados, como a CONSTRUÇÃO DE UMA GREVE DOS TRABALHADORES DO SERVIÇO PÚBLICO.

UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA: O PROBLEMA DA BUROCRACIA SINDICAL    
   Se tivéssemos uma direção sindical combativa e classista, o problema do acúmulo de forças para uma greve estaria, pelo menos, parcialmente solucionado. Porém, temos visto o oposto: um afastamento cada vez maior entre a base da categoria e o CPERS. Infelizmente não podemos confiar em uma direção cujo método de atuação se baseia em manobras burocráticas de bastidores, num discurso diferente da prática para disfarçar a defesa de bandeiras governistas, chegando, até mesmo, ao absurdo de sabotar resoluções aprovadas em congresso. A base que não participa ativamente do CPERS sente direta ou indiretamente esta hostilidade contra si.
   A unidade de toda categoria para um movimento sindical combativo e uma greve vitoriosa não acontece simplesmente por exigências feitas nas assembleias e nas redes sociais, mas com política correta, pacientemente construída, ouvindo os anseios da base para aumentar a precisão dos eixos de mobilização; com propostas de organização por escola, com formação sindical e teórica; na busca do apoio da comunidade escolar, na defesa da independência de classe; no desmascaramento da mídia, dos partidos oportunistas e governistas que atuam disfarçadamente entre nós, sabotando silenciosamente nossa mobilização.
   Na verdade, o que a vanguarda independente do CPERS deveria fazer antes de propor greve como um fim em si mesmo, é cerrar fileiras com a oposição sindical pra combater, denunciar e encurralar a burocracia do CPERS. Sabemos que essa unidade não se cria da noite para o dia, mas é preciso, infelizmente, priorizar este método para podermos começar a falar em greves vitoriosas. Isto se faz conscientizando a categoria, aumentando a precisão de nossas palavras de ordem, denunciando as vacilações, os cinismos e as inconsequências da burocracia sindical dirigente. A verdadeira unidade da categoria só poderá se dar sobre a destruição da burocracia sindical, que desune a categoria por toda a sua política e programa, ao mesmo tempo em que grita cinicamente por “unidade”.
   Quando a atual direção do CPERS fala que não quer “uma greve de vanguarda” para evitar os erros da direção anterior, está blefando; ela simplesmente usa uma desculpa sensata para esconder sua inconsequência, falta de vontade política e conivência com os ataques do governo Sartori, que no fundo são os mesmos “ajustes fiscais” do governo Dilma. Não fala a mesma língua que nós, nem tem as mesmas preocupações com a construção da mobilização. É simplesmente uma forma de perder tempo, esfriar os ânimos e continuar fazendo o seu sindicalismo de cúpula, centrado em reuniões com o governo e eventos distracionistas. O debate preparativo de uma possível greve com a categoria não pode abdicar desta denúncia da burocracia sindical, que sempre será inconsequente e vacilante na condução de qualquer luta.

A PREPARAÇÃO DE GREVES VITORIOSAS COMEÇA POR UMA ASSEMBLEIA GERAL QUE SIRVA PARA ESCLARECER E ORGANIZAR A LUTA!
   Um dos reflexos mais nefastos da burocracia sindical são as assembleias gerais completamente viciadas e caóticas, onde a organização das lutas se perde na autopromoção inconsequente das inúmeras correntes políticas burocráticas, com o abafamento das correntes minoritárias – como a nossa – e de colegas independentes. O caos reinante não é uma casualidade, mas uma ação proposital para que a categoria não se organize de forma soberana. Por esses e outros motivos é que as assembleias são desgastantes, pouco produtivas e, atualmente, esvaziadas. Nem sequer a presença de não sócios a burocracia permite nas assembleias gerais que pretende mobilizar, discutir ou declarar greve em nome de toda a categoria.
   É preciso que a vanguarda independente e honesta se some aos esforços da nossa oposição de tentar racionalizar as assembleias gerais, transformando-a de um instrumento de manipulação e desorganização numa ferramenta para a conscientização e a organização da nossa luta. Nesse sentido, como proposta inicial, reforçamos a necessidade de um COMANDO DE MOBILIZAÇÃO DE BASE COM REUNIÕES ABERTAS NO CPERS, desde os núcleos de base até a direção central, tentando desenvolver uma forma da base controlar a burocracia sindical dirigente.

21 de jun. de 2015

COMO OS PARTIDOS DE DIREITA SE ESCONDEM ATRÁS DO PL “ESCOLA SEM PARTIDO”?


        Tramita na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do RS um Projeto de Lei (PL) conhecido como “Escola sem partido”. Defendido por deputados como Diego Garcia (PHS/PR), Izalci Lucas (PSDB/DF – partido de FHC, Yeda e Aécio Neves) e Marcel Van Hatten (PP/RS – ex-ARENA, o partido oficial da ditadura militar), o PL faz parte da luta voraz da direita para calar os setores combativos do movimento sindical, visando destruir qualquer tipo de autonomia, organização e pensamento crítico entre os trabalhadores e os seus filhos, os estudantes da escola pública. A mídia burguesa, por sua vez, dá grande destaque a este PL para coagir ideologicamente os educadores e a população em geral – no Jornal do Almoço, da RBS, foi concedido uma reportagem de 10 minutos, que não passou de uma propaganda descarada e apelativa para a sua aprovação. Os ideólogos deste PL aproveitam-se da conjuntura em que a direita toma a ofensiva para colocá-lo na vitrine.
        Não existe nenhum professor, jornalista ou deputado, enfim, nenhum indivíduo ideologicamente neutro. Consciente ou inconscientemente, se apóia uma ou outra ideologia que representa os interesses das duas classes principais da sociedade: a ideologia burguesa, capitalista (predominante na sociedade); ou a ideologia proletária, socialista. Mesmo aqueles que não intervém em política conscientemente, possuem indiretamente uma ideologia, pois ela está presente até mesmo na forma de se ministrar uma aula de matemática ou numa concepção pedagógica. Estes deputados e partidos escondem tais conclusões e apresentam-se como os campeões do moralismo e da neutralidade.
Mas os partidos que propõem este PL estariam realmente isentos de doutrina ideológica? É claro que não! Sendo assim, a proposta de criminalizar, punir e expulsar as ideologias e “partidos” da escola só pode se tratar de uma manobra de censura típica da ditadura militar. Como não podem simplesmente reprimir, tal como no período que vigorou a ditadura, procuram coagir ideologicamente, jogando a responsabilidade da “doutrinação” exclusivamente sobre os ombros dos professores de “esquerda” e socialistas, como se os partidos que propõem o PL não tivessem uma ideologia (burguesa/capitalista) e o interesse da doutrinação visando a manutenção da ordem social.
Não é a toa que este PL é uma cópia servil de um movimento dos EUA (nodoctrination) e combata com fúria qualquer professor que critique o imperialismo norte-americano, tratando esta denúncia baseada em fatos históricos como “doutrinação política”. Também não é casual que o PL da “Escola sem partido” siga os passos da revista Veja na criminalização do livro didático Nova História Crítica, de Mário Schmitd, porque este defende o “socialismo” de orientação maoísta e traz uma denúncia da manipulação do debate eleitoral de 1989 entre Lula e Collor (manipulação esta já reconhecida até mesmo por Boni, da TV Globo). A mídia tem especial interesse na divulgação e aprovação desse PL porque é desmascarada nas aulas de professores de esquerda ou de professores simplesmente cansados de tanta manipulação midiática e política. Não por acaso, um dos critérios que o site do PL “Escola sem partido” define para identificar um “professor doutrinador” é quando ele supostamente se desvia dos “conteúdos oficiais” para discutir os noticiários da TV. Talvez seja por isso que o JA tenha dado destaque de 10 minutos para o PL em tramitação na Assembleia Legislativa e para o deputado da direita fascista, Marcel Van Hatten (PP).
       
O poder da ideologia burguesa
        Numa sociedade onde a classe dominante – a burguesia – detém o poder econômico, é impossível as escolas se libertarem completamente da sua influência ou dessa pressão ideológica e política. A burguesia conta com os partidos tradicionais, os partidos oportunistas, a igreja, a universidade e a grande mídia. Além, é claro, da escola, do senso comum, do pensamento conservador, que infelizmente predomina nos tempos de calmaria. Atualmente, um dos únicos contrapontos que os alunos da escola pública têm para enxergar o mundo de forma independente e classista é a sala de aula. Sendo assim, o contraponto a qualquer aula "esquerdista" já é dado por diversos meios, infinitamente mais poderosos. O que o PL quer acabar é justamente com este único contraponto que existe (e que na maioria das escolas nem sequer existe, dado o baixo nível político de muitos professores, deformados pela ideologia burguesa reinante nas universidades).
        A única questão em jogo aqui, portanto, é a censura da direita. Os partidos de direita querem tirar da sala de aula somente as ideologias e os partidos “de esquerda” (sobretudo o debate sobre um possível partido revolucionário), uma vez que o pensamento conservador não precisa desse tipo de “propaganda” feito em sala de aula, que são os poucos espaços que restam ao pensamento de “esquerda” frente à censura da democracia burguesa (estes espaços não existem, por exemplo, nas escolas e universidades privadas, apenas na escola pública). Como foi dito, ele está presente 24h por dia na TV, internet, igrejas, universidades, na moral social. O senso comum dança conforme a música do conservadorismo, que é vendido sempre como “neutro”.

O objetivo do PL é aterrorizar, desmoralizar e desmobilizar
        Os partidos de direita são plenamente conscientes do que fazem. Fingem não enxergar ideologia na grande mídia, na igreja, nos conteúdos escolares e universitários, mas apenas na atuação de “professores de esquerda”. Além disso, o PL “joga verde”, se utilizando do medo “legalista” da população, sobretudo o presente na nossa categoria. Muitos pensam erroneamente que a legislação é sagrada – ainda que ela seja absurda e injusta – e que qualquer lei não cumprida tem um efeito de punição imediata. Mesmo que o PL não venha a ser votado e formalmente aprovado, o seu objetivo já está sendo atingido; qual seja: intimidar e coagir as posições de esquerda dentro da escola pública e evitar que professores solicitem apoio aos alunos para uma greve ou mobilização contra o governo. Ou seja, quer se prevenir e criar uma cunha entre os professores e funcionários e a comunidade escolar, dificultando qualquer movimento grevista, que só poderá ser vitorioso na defesa da educação pública se estiver unificado.

O preconceito antipartido
        O PL surfa na consciência atrasada da população; isto é, no preconceito antipartido, que é amplamente disseminado. Se viu o quão nefasto foi esse preconceito nas jornadas de junho de 2013, nos “indignados” da Espanha e em tantos outros lugares. O que estes partidos de direita desejam, na verdade, é disseminar o preconceito contra a organização política dos trabalhadores, sobretudo em partido revolucionário, e contra o socialismo. Para isso angariam apoio entre o povo vendendo o discurso de “apartidarismo na escola”, que é muito sedutor para as pessoas comuns, que não intervém na política, nem possuem consciência de classe. Mas este preconceito cobra um preço muito caro: a destruição do principal meio para a emancipação da classe trabalhadora.
Esta indignação contra os partidos tradicionais é aparentemente progressiva, uma vez que repudia a politicagem burguesa, o aparelhamento, a defesa velada dos interesses do grande capital, a identificação dos partidos que estiveram à frente dos governos como os responsáveis pela crise econômica e política do país, mas, no fundo, volta-se contra os próprios trabalhadores, porque é usada pela burguesia como uma forma de disseminar preconceito contra a construção do partido revolucionário. Em suma: o PL trabalha para manter os trabalhadores desorganizados politicamente e a burguesia armada com o Estado, o exército, a polícia, a mídia, as igrejas, as universidades e é claro, com todos os partidos corruptos e mafiosos, como o PP, o PSDB, o PHS e a escola pública. Estes partidos não necessitam de professores que os defendam na escola, pois toda a estrutura social do capitalismo os sustenta e dissemina suas ideias por diversos meios. Eles querem, simplesmente, evitar que alguns professores de “esquerda” possam desmascarar os seus reais interesses, em particular, e os da sociedade capitalista, como um todo.
O próprio nome do PL – “Escola sem partido” – supõe que a escola é influenciada por professores que defendem a velha politicagem da qual todo o povo já está farto. Porém, fazer o tipo de debate que foi apresentado nesse texto em sala de aula não é politicagem. Muito menos o é fazer o debate científico, de ideias e programas políticos. A bem da verdade, politicagem é o que faz partidos como o PP, PHS e PSDB, que propõem este PL justamente para que o povo não se conscientize, não se organize e tome consciência da sua força para lutar contra esses mesmos partidos e a sua politicagem podre, que condena inclusive a existência da educação pública. Um partido deve ser criticado e combatido por sua ideologia, caráter de classe e programa, não simplesmente por “ser um partido”. Os alunos devem ser educados neste sentindo, para aprender a ler os interesses de classe escondidos sob frases “neutras”.
       
Pelo direito a uma educação livre: contra a censura da direita e do grande capital!
        Defendemos o direito a uma educação livre: apresentação da opinião do professor, do direito de ensinar sobre socialismo, reformismo, democracia burguesa, evolucionismo; uma vez que sobre capitalismo, eleições, “Estado democrático de direito” e criacionismo os alunos aprendem 24h por dia em outros meios, inclusive na escola. Evidentemente que um professor revolucionário e de “esquerda” não imporá sua opinião sobre os alunos; saberá ouvi-los e dialogar com eles, sempre sustentando a sua posição da maneira mais clara e didática possível. Se não proceder dessa forma não é revolucionário, nem de esquerda.
Todos os trabalhadores e estudantes não devem acreditar às cegas em nada! Devem desconfiar duplamente daqueles que atuam disfarçadamente, pretendendo lhes fazer acreditar que não necessitam de nenhuma direção ou ideologia. Ainda mais quando um PL como este é proposto por parlamentares ligados a partidos da direita mais reacionária. Pela boca de deputados do PP, PSDB e PHS falam os exploradores seculares do povo brasileiro: desde os colonizadores, senhores de engenho, capitães do mato e monarcas, até os senhores de café, empresários e banqueiros modernos! É o direito destas oligarquias que o PL quer perpetuar se disfarçando falaciosamente de neutro!
A direção cutista do CPERS deveria estar alertando a categoria sobre o conteúdo deste PL e dos movimentos da direita. Insistimos que é preciso uma grande campanha de formação política, sindical e pedagógica da categoria no sentido de educá-la na prática do desmascaramento dessas supostas “neutralidades” e “apartidarismos”. Mas, como ela mesma se utiliza destas artimanhas da direita, não pode dar armas para desmascarar a si própria.


COMO OS PARTIDOS DE DIREITA SE ESCONDEM ATRÁS DO PL “ESCOLA SEM PARTIDO”?


        Tramita na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do RS um Projeto de Lei (PL) conhecido como “Escola sem partido”. Defendido por deputados como Diego Garcia (PHS/PR), Izalci Lucas (PSDB/DF – partido de FHC, Yeda e Aécio Neves) e Marcel Van Hatten (PP/RS – ex-ARENA, o partido oficial da ditadura militar), o PL faz parte da luta voraz da direita para calar os setores combativos do movimento sindical, visando destruir qualquer tipo de autonomia, organização e pensamento crítico entre os trabalhadores e os seus filhos, os estudantes da escola pública. A mídia burguesa, por sua vez, dá grande destaque a este PL para coagir ideologicamente os educadores e a população em geral – no Jornal do Almoço, da RBS, foi concedido uma reportagem de 10 minutos, que não passou de uma propaganda descarada e apelativa para a sua aprovação. Os ideólogos deste PL aproveitam-se da conjuntura em que a direita toma a ofensiva para colocá-lo na vitrine.
        Não existe nenhum professor, jornalista ou deputado, enfim, nenhum indivíduo ideologicamente neutro. Consciente ou inconscientemente, se apóia uma ou outra ideologia que representa os interesses das duas classes principais da sociedade: a ideologia burguesa, capitalista (predominante na sociedade); ou a ideologia proletária, socialista. Mesmo aqueles que não intervém em política conscientemente, possuem indiretamente uma ideologia, pois ela está presente até mesmo na forma de se ministrar uma aula de matemática ou numa concepção pedagógica. Estes deputados e partidos escondem tais conclusões e apresentam-se como os campeões do moralismo e da neutralidade.
Mas os partidos que propõem este PL estariam realmente isentos de doutrina ideológica? É claro que não! Sendo assim, a proposta de criminalizar, punir e expulsar as ideologias e “partidos” da escola só pode se tratar de uma manobra de censura típica da ditadura militar. Como não podem simplesmente reprimir, tal como no período que vigorou a ditadura, procuram coagir ideologicamente, jogando a responsabilidade da “doutrinação” exclusivamente sobre os ombros dos professores de “esquerda” e socialistas, como se os partidos que propõem o PL não tivessem uma ideologia (burguesa/capitalista) e o interesse da doutrinação visando a manutenção da ordem social.
Não é a toa que este PL é uma cópia servil de um movimento dos EUA (nodoctrination) e combata com fúria qualquer professor que critique o imperialismo norte-americano, tratando esta denúncia baseada em fatos históricos como “doutrinação política”. Também não é casual que o PL da “Escola sem partido” siga os passos da revista Veja na criminalização do livro didático Nova História Crítica, de Mário Schmitd, porque este defende o “socialismo” de orientação maoísta e traz uma denúncia da manipulação do debate eleitoral de 1989 entre Lula e Collor (manipulação esta já reconhecida até mesmo por Boni, da TV Globo). A mídia tem especial interesse na divulgação e aprovação desse PL porque é desmascarada nas aulas de professores de esquerda ou de professores simplesmente cansados de tanta manipulação midiática e política. Não por acaso, um dos critérios que o site do PL “Escola sem partido” define para identificar um “professor doutrinador” é quando ele supostamente se desvia dos “conteúdos oficiais” para discutir os noticiários da TV. Talvez seja por isso que o JA tenha dado destaque de 10 minutos para o PL em tramitação na Assembleia Legislativa e para o deputado da direita fascista, Marcel Van Hatten (PP).
       
O poder da ideologia burguesa
        Numa sociedade onde a classe dominante – a burguesia – detém o poder econômico, é impossível as escolas se libertarem completamente da sua influência ou dessa pressão ideológica e política. A burguesia conta com os partidos tradicionais, os partidos oportunistas, a igreja, a universidade e a grande mídia. Além, é claro, da escola, do senso comum, do pensamento conservador, que infelizmente predomina nos tempos de calmaria. Atualmente, um dos únicos contrapontos que os alunos da escola pública têm para enxergar o mundo de forma independente e classista é a sala de aula. Sendo assim, o contraponto a qualquer aula "esquerdista" já é dado por diversos meios, infinitamente mais poderosos. O que o PL quer acabar é justamente com este único contraponto que existe (e que na maioria das escolas nem sequer existe, dado o baixo nível político de muitos professores, deformados pela ideologia burguesa reinante nas universidades).
        A única questão em jogo aqui, portanto, é a censura da direita. Os partidos de direita querem tirar da sala de aula somente as ideologias e os partidos “de esquerda” (sobretudo o debate sobre um possível partido revolucionário), uma vez que o pensamento conservador não precisa desse tipo de “propaganda” feito em sala de aula, que são os poucos espaços que restam ao pensamento de “esquerda” frente à censura da democracia burguesa (estes espaços não existem, por exemplo, nas escolas e universidades privadas, apenas na escola pública). Como foi dito, ele está presente 24h por dia na TV, internet, igrejas, universidades, na moral social. O senso comum dança conforme a música do conservadorismo, que é vendido sempre como “neutro”.

O objetivo do PL é aterrorizar, desmoralizar e desmobilizar
        Os partidos de direita são plenamente conscientes do que fazem. Fingem não enxergar ideologia na grande mídia, na igreja, nos conteúdos escolares e universitários, mas apenas na atuação de “professores de esquerda”. Além disso, o PL “joga verde”, se utilizando do medo “legalista” da população, sobretudo o presente na nossa categoria. Muitos pensam erroneamente que a legislação é sagrada – ainda que ela seja absurda e injusta – e que qualquer lei não cumprida tem um efeito de punição imediata. Mesmo que PL não venha a ser votado e formalmente aprovado, o seu objetivo já está sendo atingido; qual seja: intimidar e coagir as posições de esquerda dentro da escola pública e evitar que professores solicitem apoio aos alunos para uma greve ou mobilização contra o governo. Ou seja, quer se prevenir e criar uma cunha entre os professores e funcionários e a comunidade escolar, dificultando qualquer movimento grevista, que só poderá ser vitorioso na defesa da educação pública se estiver unificado.

O preconceito antipartido
        O PL surfa na consciência atrasada da população; isto é, no preconceito antipartido, que é amplamente disseminado. Se viu o quão nefasto foi esse preconceito nas jornadas de junho de 2013, nos “indignados” da Espanha e em tantos outros lugares. O que estes partidos de direita desejam, na verdade, é disseminar o preconceito contra a organização política dos trabalhadores, sobretudo em partido revolucionário, e contra o socialismo. Para isso angariam apoio entre o povo vendendo o discurso de “apartidarismo na escola”, que é muito sedutor para as pessoas comuns, que não intervém na política, nem possuem consciência de classe. Mas este preconceito cobra um preço muito caro: a destruição do principal meio para a emancipação da classe trabalhadora.
Esta indignação contra os partidos tradicionais é aparentemente progressiva, uma vez que repudia a politicagem burguesa, o aparelhamento, a defesa velada dos interesses do grande capital, a identificação dos partidos que estiveram à frente dos governos como os responsáveis pela crise econômica e política do país, mas, no fundo, volta-se contra os próprios trabalhadores, porque é usada pela burguesia como uma forma de disseminar preconceito contra a construção do partido revolucionário. Em suma: o PL trabalha para manter os trabalhadores desorganizados politicamente e a burguesia armada com o Estado, o exército, a polícia, a mídia, as igrejas, as universidades e é claro, com todos os partidos corruptos e mafiosos, como o PP, o PSDB, o PHS e a escola pública. Estes partidos não necessitam de professores que os defendam na escola, pois toda a estrutura social do capitalismo os sustenta e dissemina suas ideias por diversos meios. Eles querem, simplesmente, evitar que alguns professores de “esquerda” possam desmascarar os seus reais interesses, em particular, e os da sociedade capitalista, como um todo.
O próprio nome do PL – “Escola sem partido” – supõe que a escola é influenciada por professores que defendem a velha politicagem da qual todo o povo já está farto. Porém, fazer o tipo de debate que foi apresentado nesse texto em sala de aula não é politicagem. Muito menos o é fazer o debate científico, de ideias e programas políticos. A bem da verdade, politicagem é o que faz partidos como o PP, PHS e PSDB, que propõem este PL justamente para que o povo não se conscientize, não se organize e tome consciência da sua força para lutar contra esses mesmos partidos e a sua politicagem podre, que condena inclusive a existência da educação pública. Um partido deve ser criticado e combatido por sua ideologia, caráter de classe e programa, não simplesmente por “ser um partido”. Os alunos devem ser educados neste sentindo, para aprender a ler os interesses de classe escondidos sob frases “neutras”.
       
Pelo direito a uma educação livre: contra a censura da direita e do grande capital!
        Defendemos o direito a uma educação livre: apresentação da opinião do professor, do direito de ensinar sobre socialismo, reformismo, democracia burguesa, evolucionismo; uma vez que sobre capitalismo, eleições, “Estado democrático de direito” e criacionismo os alunos aprendem 24h por dia em outros meios, inclusive na escola. Evidentemente que um professor revolucionário e de “esquerda” não imporá sua opinião sobre os alunos; saberá ouvi-los e dialogar com eles, sempre sustentando a sua posição da maneira mais clara e didática possível. Se não proceder dessa forma não é revolucionário, nem de esquerda.
Todos os trabalhadores e estudantes não devem acreditar às cegas em nada! Devem desconfiar duplamente daqueles que atuam disfarçadamente, pretendendo lhes fazer acreditar que não necessitam de nenhuma direção ou ideologia. Ainda mais quando um PL como este é proposto por parlamentares ligados a partidos da direita mais reacionária. Pela boca de deputados do PP, PSDB e PHS falam os exploradores seculares do povo brasileiro: desde os colonizadores, senhores de engenho, capitães do mato e monarcas, até os senhores de café, empresários e banqueiros modernos! É o direito destas oligarquias que o PL quer perpetuar se disfarçando falaciosamente de neutro!
A direção cutista do CPERS deveria estar alertando a categoria sobre o conteúdo deste PL e dos movimentos da direita. Insistimos que é preciso uma grande campanha de formação política, sindical e pedagógica da categoria no sentido de educá-la na prática do desmascaramento dessas supostas “neutralidades” e “apartidarismos”. Mas, como ela mesma se utiliza destas artimanhas da direita, não pode dar armas para desmascarar a si própria.