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7 de ago. de 2016

O "FORA SARTORI" SERVE PARA ALIMENTAR ILUSÕES NAS ELEIÇÕES BURGUESAS

Foi aprovado no IX Congresso do CPERS a palavra de ordem “Fora Sartori”, que já vinha sendo levantada por correntes sindicais (MLS, PSTU, PSOL-US/CST, CEDS, Tribuna Classista e outros agrupamentos sindicais) desde antes da greve. A consigna de “Fora Sartori” soa bem aos ouvidos porque supostamente trabalha para derrubar um governo neoliberal, que está destruindo os serviços públicos e governa torturando psicológica e financeiramente os trabalhadores. Mas o que viria no seu lugar? Seria muito importante colocar o governo Sartori (PMDB e aliados) para fora, mas isto não está na ordem do dia para os trabalhadores, pois vivemos uma conjuntura defensiva. Não podemos fazer política unicamente de acordo com os nossos desejos, sem analisar correlação de forças; ou o que é muito pior: baseado na demagogia ou na irresponsabilidade.
Do ponto de vista da propaganda do socialismo, estaria correto debatermos com os trabalhadores a necessidade de tirarmos os governos, quaisquer que sejam, pelas nossas mãos através da luta e da mobilização; mas não poderíamos tirar somente o governo estadual!
 Precisaríamos de uma luta contra o sistema capitalista, isto é, contra todos os governos, políticos e partidos burgueses, desde o municipal até o federal. Nesse sentido, somente uma revolução socialista poderia impor uma derrota a todos os governos representantes do capital. Os trabalhadores precisam subverter a ordem social, desapropriar a burguesia e colocar os meios de produção a serviço dos trabalhadores, desconstruindo as estruturas políticas e econômicas corrompidas. Porém, uma vez que ainda não temos organização, nem consciência para isso, é preciso um longo e paciente trabalho de esclarecimento e propaganda. Se não tratamos esta consigna de “Fora Sartori” como propaganda, então caímos no terreno da agitação, o que significa propor uma tarefa imediata a ser cumprida pelos trabalhadores. O que seria frustrada.
O “Fora Sartori” como forma de agitação significa, concretamente, trabalhar para que o vice assuma (tal como aconteceu com Dilma a nível federal) ou desgastar o governo eleitoralmente para que algum outro partido assuma o governo. Nesse caso, sabemos, nada mudaria. Todas as correntes sindicais do CPERS que levantam o “Fora Sartori” têm perfeita clareza disto e mesmo assim continuam agitando esta palavra de ordem como tarefa imediata. Com isso, querem colocar uma máscara de radicalismo para enganar os trabalhadores mais desatentos para esconder a sua prática de conciliação de classes e falta de política na luta sindical concreta.
Todos os trabalhadores conscientes devem se perguntar: a nossa intenção seria apenas derrubar eleitoralmente o governo, para assumir o vice-governador, José Paulo Cairoli (PSD)? Ou desgastar o governo do PMDB para eleger um outro do PT, PSOL ou de qualquer outro partido que governaria por dentro das instituições burguesas corrompidas? Tirar um governador para por outro, mantendo a estrutura econômica e política que exige a retirada de direitos e a destruição dos serviços públicos, poderia resolver alguma coisa?
O único “Fora Sartori” que poderia nos interessar é aquele em que os trabalhadores são protagonistas, colocando abaixo o governo por suas próprias mãos, através da sua luta e da sua organização, não apenas para tirar do poder o atual governador, mas para derrubar toda a estrutura econômica e política que nos ataca e oprime, isto é, o capitalismo, na perspectiva socialista do poder. No entanto, sabemos que hoje não existem condições objetivas para isso (inclusive as correntes sindicais majoritárias o sabem). Quem está na ofensiva é o governo e a direita. Sendo assim, o “Fora Sartori”, por melhor que nos soe aos ouvidos e dialogue com a raiva contra o governo, apenas pode significar a primeira opção; isto é, o desgaste eleitoral e institucional que, se efetivado, colocará no poder o vice-governador ou um novo governo da direita ou do PT.
Sabemos que muitos colegas acham que a solução seria a eleição de um governo petista. Contudo, a experiência com o governo Dilma e Tarso nos demonstra que os trabalhadores não podem esperar nada daqueles que governam em aliança com a burguesia e, também, retirando direito dos trabalhadores com um discurso “democrático e popular”. Esta estratégia levou ao fortalecimento da direita e ao impeachment. Em nenhum lugar do mundo as frentes populares beneficiaram os trabalhadores. Não há saída por dentro do capitalismo e das suas instituições. Aliás, com a atual correlação de forças político-institucional, nem sequer um governo petista ou do PSOL seria eleito. O mais provável é que com a saída do governo Sartori, veríamos a eleição de um novo governo da direita tradicional.
Esta foi a experiência com o “Fora Dilma”, que não significou outra coisa que não a ascensão dos partidos da direita. Da mesma forma, a campanha do “Fora Yeda” em 2009 apenas significou o “viva Tarso”, que se elegeu com um discurso de salvador do Estado, “anti-neoliberal”, mas não fez nada além de continuar aprofundando a política liberal no RS à moda petista, atacou o plano de carreira, não pagou o piso, demitiu milhares de trabalhadores. O “Fora este ou aquele” como forma de agitação imediata, dentro da atual conjuntura em que os trabalhadores não tem organização capaz de levá-los ao poder, tem servido apenas para ajudar a reciclar o sistema e a afundar os trabalhadores ainda mais no lamaçal das suas ilusões. Assim, se a vanguarda consciente do CPERS não souber se reorganizar em bases revolucionárias, fazendo a leitura mais adequada da realidade e lançando palavras de ordem coerentes, o “Fora Sartori”, se realmente for levado adiante, servirá apenas para dar uma nova vida a uma grande camada de partidos e políticos burgueses e reformistas, já desmoralizados, e um novo surto ao banditismo da direita.

A direção central e as correntes da “oposição pelo aparato” frente ao “Fora Sartori”
A direção do CPERS (ArtSind, AE, CSD, MCS – todas estas do PT –, PCdoB, PDT) tem sido muito cautelosa em relação ao “Fora Sartori”. Não temos dúvidas de que as correntes da direção central têm todo o interesse em desgastar política e eleitoralmente o governo estadual, para eleger um governo petista. Mas elas agem assim porque temem cair numa contradição com o “Fora Dilma” e também porque pretendem conservar a ordem e a institucionalidade de possíveis aliados políticos, sobretudo nas eleições municipais que se avizinham. Portanto, as suas reservas com o “Fora Sartori” nada tem a ver com a nossa posição.
Já as correntes sindicais da “oposição pelo aparato” (MLS, PSTU, PSOL-US/CST, CEDS), mesmo sabendo da atual correlação de forças e do debate sobre o que colocar no lugar do governo Sartori, continuam levantando esta palavra de ordem visando unicamente o seu desgaste eleitoral e institucional em prol do PT e do PSOL, mas, também, dos partidos da direita tradicional. Não veem nenhum problema em insuflar uma luta equivocada para que os trabalhadores novamente amarguem uma nova desilusão. Querem aparentar um radicalismo estéril que apenas esconda a sua falta de política para organizar a luta concreta contra o governo, o seu ajuste fiscal, a burocratização sindical e o capitalismo. A incoerência do método é flagrante.
O “Fora Sartori” conta ainda com o apoio de muitos ativistas independentes e correntes sindicais minoritárias, que julgam ser esta uma palavra de ordem correta. Como foi dito até aqui, o “Fora Sartori” não serve para organizar a luta da categoria, pois não podemos dar o passo maior do que a perna segundo a nossa vontade individual e a raiva pessoal, por mais justas que sejam. Aparentemente é uma palavra de ordem muito sedutora, mas que implica em secundarizar ou mesmo omitir outras palavras de ordem que são muito mais concretas no momento e que vão no sentido de acumular forças, como a denúncia e a luta contra o ajuste fiscal do governo e todas as bandeiras que daí decorrem.
O conjunto dos trabalhadores do serviço público ainda não compreende que não é apenas o governo Sartori o responsável pelos ataques contidos no ajuste fiscal (retirada de direitos, parcelamento salarial, etc.), mas o próprio capitalismo, do qual o atual governador é apenas mais um gerente de plantão em uma conjuntura de crise econômica; não entende também que se não colocarmos abaixo todo o sistema, de nada adiantará a mudança de alguns rostos. Para tudo isso, é preciso acumular organização e conscientização no sentido de avançarmos resolutamente, sem ilusões e ufanismos. Uma vitória concreta na luta contra o ajuste fiscal (a total derrota do PL 44, por exemplo) caminhará muito mais firmemente na derrubada do governo do que uma abstração agitativa e, na maioria dos casos, meramente demagógica.
Quando nos referimos a imperiosa necessidade de formação teórica e política da categoria é deste tipo de debate que estamos falando, dentre muitos outros. Se não soubermos precisar nossa propaganda e nossa agitação, levando em consideração a história do movimento operário, com os seus erros e acertos, certamente estaremos fadados à derrota. Lamentavelmente a baixa formação da categoria a deixa refém daquela falsa dicotomia simplista: ser contra o “Fora Sartori” é ser a favor do governo. Queremos lutar contra esta falsa consciência também. Frisamos que se colocar contra a agitação do “Fora Sartori” não significa, sob hipótese alguma, defender ou sustentar o governo. Queremos, com esta reflexão, mudar uma cultura sindical oportunista e um método irresponsável e errado de agitação que, de longa data, vem iludindo muitos trabalhadores dentro e fora do nosso sindicato.
Uma agitação alternativa ao “Fora Sartori”, muito mais salutar, seria:
- Governo Sartori (PMDB e aliados): inimigo da educação e dos serviços públicos;
- Em defesa da educação dos filhos dos trabalhadores;
- Em defesa da saúde pública (SUS)!
- Derrotar o PL 44 e o ajuste fiscal dos governos Sartori e Temer;
- Acumular forças para por os governos pra fora pela via revolucionária!