O palco está armado
para as eleições do CPERS. Já tem data marcada (27 e 28 de junho) e comissão
eleitoral (formada pelas correntes majoritárias). No horizonte se desenham 4
chapas para a direção central. O processo de formação de chapas nos deixa
algumas lições importantes que demonstram o caráter da disputa por parte da
burocracia sindical que iremos acompanhar nas próximas semanas.
A atual direção do CPERS (composta
por PT, PCdoB e PDT; CUT e CTB) já está em plena campanha eleitoral desde o ano
passado. Organizou “caravanas” pelo interior que nada mais eram do que a
sedimentação da sua base eleitoral; realizou encontros de aposentados com a
mesma finalidade, além de se utilizar do jornal Sineta como um meio de
propaganda enganosa, demonstrando os “seus feitos e realizações”. Já estão
arrecadando apoio político e financeiro da CUT e da CTB, dentre outros meios
espúrios. Em novembro de 2016 a atual direção petista lançou-se numa cruzada
jurídica contra a antiga direção, não para resolver os problemas de prestação
de contas da entidade (que continuam), mas para criminalizar os antigos
dirigentes visando criar as condições para impedir que disputassem as eleições.
Foram derrotados, mas as correntes da antiga direção, que se uniram naquele
momento, voltaram a se dividir em razão dos cargos e da vaidade para a disputa
eleitoral de junho.
Vaidade apenas ou vaidade a serviço de um programa?
Vários setores da “oposição” à atual
direção defendiam a unificação de todas as correntes que se dizem de “oposição”
para tirar as correntes petistas, que aprofundaram
os estragos burocráticos e o afastamento da base em relação ao CPERS. No velho
estilo das eleições burguesas, tentaram aplicar aquele discurso que escutamos
seguidamente: “votar no PT para evitar a volta da direita”; ou seja, queriam
“votar na antiga direção para evitar a vitória da atual”. Não restam dúvidas de
que a continuidade da atual direção do CPERS só pode significar novas derrotas
e o aprofundamento da burocratização sindical, porém, não se pode dourar a
pílula em relação à suposta “oposição” (MLS, CS, PSTU, PSOL, PCB, CEDS, etc).
Estes representam uma variante um pouco “mais à esquerda” do atual sindicalismo
cutista e não podem evitar a volta do PT/PCdoB, seja hoje ou amanhã.
O MLS e o PSTU já dirigiram o CPERS
por duas gestões, junto com correntes menores (inclusive compartilhando tranquilamente
diretorias com correntes petistas). Foram os responsáveis pela vitória da chapa
da atual direção. A falta de coerência é um problema sério por parte desta
“esquerda”, que precisa ser olhada e combatida de frente.
O centro de toda essa disputa entre
a dita “oposição” foi a convenção da CSP-Conlutas, realizada na Igreja Pompéia
no dia 21 de abril, que indicou a cabeça de chapa do MLS. Esta indicação gerou
uma crise entre esta “oposição” e o posterior racha, com inúmeras acusações e
desculpas, de um lado e de outro.
Não há nenhum argumento de programa
ou diferença política. Ambos defendem exatamente o mesmo. Tanto é assim que
estiveram juntos por duas gestões na direção central. Os discursos são sobre a
validade ou não dos votos da tal conferência. A CS, que pretende encabeçar uma
chapa do PSOL e da Intersindical com o apoio de correntes menores, como a CUT
pode mais, acusou o personalismo da dirigente do MLS, que já foi presidente por
duas gestões. Num verdadeiro jogo, a candidata do MLS propôs abrir mão da
cabeça de chapa, mas mesmo assim a CS e a chapa do PSOL reafirmaram sua intenção
de uma chapa em separado. Como se vê, o problema agora não é a cabeça de chapa,
mas os cargos.
Há aqueles que pensam, reproduzindo
o senso comum, que a “esquerda” sempre se divide. Porém, podemos perceber que
não há divergências programáticas ou políticas sérias, apenas ânsia por cargos
e pelo controle do aparato. A prática sindical, tanto da atual direção, como da
chapa que provavelmente será encabeçada pelo MLS e da outra, pela CS, é a
mesma, com diferenças superficiais. Todas elas sabotaram, de uma forma ou
outra, o fundo de greve, a organização pela base, a prestação de contas feita
em assembleia geral, bem como algumas de suas decisões; rebaixaram o discurso e
o programa, apoiaram greves patronais da CNTE-CUT, defendem a continuidade da
submissão do CPERS à CNTE (e, portanto, à CUT), dentre outros.
Vimos recentemente a CS lançar um
documento intitulado “Programa para revolucionar o CPERS”. É preciso
radicalizar nas palavras quando não se pode fazê-lo pelos atos. Este é o
intuito de tal documento. Muitos dos erros criticados neste texto foram
cometidos pela própria CS, quando esteve em uma direção conjunta com o MLS e os
demais. Reconhece, no ponto 26, o verdadeiro problema do qual sofre o CPERS: “para se fazer qualquer coisa, inclusive uma greve, é preciso que seja
feito um acordo entre as correntes” (grifos nossos). Este erro, cometido
por TODAS as correntes que estão disputando as eleições nas chapas maiores, não
só não é e não foi combatido na prática pela CS, como não será combatido pelo
MLS, que como nos demonstraram na tal conferência, preocupam-se em fechar os
acordos em torno de cargos e nomes perpetuando esta prática nefasta (típica da
democracia burguesa).
Vários ativistas independentes e
correntes minoritárias, dentre as quais, o MRT, defendem uma “unidade da
oposição”, reconhecendo a burocracia sindical apenas na atual direção petista.
As correntes da dita “oposição” (como MLS, PSTU, PSOL e cia) seriam
anti-burocráticas e revolucionárias? Ignora a trajetória delas e o período em
que estiveram na direção do CPERS, bem como tudo o que fizeram por lá. É uma
falácia afirmar que existem diferenças de programa e de sindicalismo entre as
chapas encabeçadas pelo MLS e a CS, e a chapa do PT (alguém viu uma auto
crítica das primeiras em relação as suas numerosas unidades com as chapas do PT,
bem como uma superação em relação ao seu sindicalismo? Por que todos defendem a
CNTE?).
A “viabilidade” e a “governabilidade”
Toda
uma parcela da vanguarda do CPERS tem medo de ousar e tentar quebrar esse círculo
vicioso. Somos seguidamente acusados dos mais baixos adjetivos porque temos
esta ousadia. Por não nos aliarmos a qualquer preço, tal como é a prática em
voga no CPERS, apresentamos nossa chapa para combater estes e outros vícios que
emperram nosso sindicato e a luta de nossa categoria.
A
chamada “viabilidade” de uma chapa, tal como se fala de “governabilidade”, é o
que tem levado o CPERS – dentre outros fatores – à situação em que estamos. Todo
aquele que se diz independente dentro do CPERS e capitula para esse discurso e
para esta prática estará, ao mesmo tempo, servindo de alicerce para tudo isso.
Lutamos por um CPERS sem personalismos, sem vaidades; por um novo programa e um novo sindicalismo, não apenas no discurso, mas na prática, lançamos
a nossa chapa independente, constituída por colegas do chão da escola, todos
cansados destas mesmas manobras de bastidores. Mantemo-nos fiéis aos princípios
que nortearam nossa chapa em 2014 (ao contrário da dança das cadeiras e de
alianças que vem de longa data). Não se revoluciona um sindicato ou se derrota
um governo a serviço do capital com o sindicalismo e as práticas de todas estas
correntes que, de uma forma ou outra, já estiveram na direção central. É
preciso coerência e coragem. Lançamos nossa semente! Esperamos que os colegas
que realmente querem uma mudança dentro do nosso sindicato venham nos ajudar a
regá-la.