A
chave para compreender o atual movimento envolvendo os caminhoneiros é a
política econômica sobre a importação do óleo diesel, que é a principal
reivindicação do locaute. O governo
golpista de Temer (MDB e aliados) não pode apresentar nenhuma solução capaz de
reverter os graves problemas sociais resultantes do ajuste fiscal, sendo assim,
a crise econômica capitalista, o aumento do custo de vida, a retirada de
direitos dos trabalhadores e o crescimento da barbárie social servem de base
para nos tornar simpático a qualquer movimento que aparentemente combata o
governo, ainda mais um movimento que cause impacto nacional.
A principal reivindicação do “movimento” dos
caminhoneiros é a isenção de impostos (PIS-Cofins) sobre o óleo diesel.
Rapidamente o governo e o Congresso Nacional aprovaram, por iniciativa do
deputado Orlando Silva (PCdoB), a desoneração. A pergunta central que deve ser
feita é: quem ganha com a desoneração de PIS-Cofins sobre o óleo diesel? Os
trabalhadores e o povo brasileiro? Não! Em primeiro lugar as grandes empresas
exportadoras de diesel, sobretudo as norte-americanas, e os seus acionistas,
que atualmente monopolizam cerca de 80% do mercado brasileiro. Logo depois, atende
aos interesses dos empresários do ramo do transporte de carga, como os
caminhoneiros. Por certo que a desoneração do combustível irá baixar
momentaneamente os preços, mas esta política paliativa se choca com a falta de
perspectiva geral em que a crise capitalista e o governo golpista jogaram o
país; ou seja: baixa o preço hoje para aumenta-lo amanhã, pois quem controla o
diesel, controla o transporte de mercadorias no Brasil. E como a política
central do golpe foi destruir a Petrobrás, voltando a atender os interesses
imperialistas de exportar óleo cru e importar combustível refinado dos EUA,
a tendência é aprofundar a dependência econômica e política.
Ter refinarias significaria ampliar o
controle nacional sobre o preço dos nossos próprios alimentos, o que ajudaria a
enfrentar a inflação e a planejar melhor a economia. O governo golpista,
contudo, tem “enfrentado” a inflação apenas com juros altos, omitindo o papel
fundamental dos preços estáveis da energia (combustíveis) e da melhora da
infra-estrutura logística do país. Nada disso está sendo debatido pelo
“movimento” dos caminhoneiros, apenas a desoneração do óleo diesel, que além de
facilitar a vida dos exportadores estadunidenses, ainda tem impacto negativo
sobre a arrecadação da Previdência Social, pois o COFINS tem como o objetivo
financiar a Seguridade Social, ou seja, áreas fundamentais como a Previdência
Social, Assistência Social e Saúde Pública.
Como o “movimento” dos
caminhoneiros pretende enfrentar o governo Temer?
Já vimos que no campo econômico o
movimento atende os interesses imperialistas e empresariais, e não sociais, o
que aprofundará todos os problemas do país, a dependência política e econômica
e o aumento do custo de vida para o povo. No campo político o “movimento” é um
desastre, pois reivindica a intervenção militar. Por este motivo é apoiado pelo
candidato fascista à presidência, Jair Bolsonaro (PSL).
Setores da “esquerda” apoiam
abertamente o locaute, afirmando que
se trata de uma greve. Invocam o fato de existirem trancaços protagonizados por
setores independentes (que, em sua maioria, defendem a pauta da intervenção
militar). Ignoram toda a lógica geral do movimento. Tentam resolver a grave
contradição convocando uma “greve geral”, que provavelmente seria protagonizada
pelas associações dos caminhoneiros ou por centrais sindicais, como a CUT.
Outros setores, um pouco mais
críticos, afirmam que o problema está no fato de não exigir “Fora Temer” entre
suas reivindicações. Se derrubado por este movimento, o que viria no lugar do
governo Temer? Certamente não seria um governo socialista dos trabalhadores,
pois estes estão ainda desorganizados e inconscientes. Viria então um governo
igual ou pior do que Temer, incapaz de romper com a lógica capitalista e
neoliberal, ou mesmo a catástrofe de um governo militar.
Exigir uma Petrobrás 100% estatal e
apoiar um movimento que reforça a exigência pelo fim da tributação ao óleo
diesel importado é uma contradição. O fim da tributação ao óleo importado só
pode reforçar a ideia de privatização da Petrobrás, a dependência da produção
estrangeira, a desregulamentação de preços, a submissão da economia nacional ao
imperialismo e o consequente aumento do custo de vida, além da confusão social
e política reinante que somente será “resolvida” com o aumento da repressão e
da lavagem cerebral.
É possível disputar o “movimento”
dos caminhoneiros e empresários?
Para responder essa pergunta há que se
compreender que a classe trabalhadora não está organizada e as ditas
organizações de “esquerda”, como os partidos institucionais e as centrais
sindicais, estão ganhas para o projeto da democracia burguesa; isto é,
alimentam ilusões de que mudaremos o curso da retirada de direitos e do aumento
da exploração via eleições. Nesse sentido atuam para o fortalecimento do regime
e do sistema. Quem apoia o “movimento” está novamente dando provas absurdas de
espontaneismo oportunista, prestando um desserviço para a luta dos
trabalhadores. Ao invés de encurtar o caminho, ele apenas o tornará mais longo.
O que define o caráter de um movimento é a
sua direção, interesse de classe e sua pauta. O fato de existir trabalhadores
não significa que eles estejam conscientes sobre os reais interesses da classe
trabalhadora. No geral, os trabalhadores caminhoneiros estão servindo como
massa de manobra para que o empresariado do transporte garanta o aumento de
seus lucros, tenha isenção de impostos e também que o setor fascista da
burguesia se fortaleça, expressando de forma errônea a sua indignação. Não
podemos ignorar que o senso comum é reacionário e uma parcela importante da
classe trabalhadora clama pela volta dos militares.
Sabemos que o movimento é heterogêneo e que
no seu seio existem trabalhadores honestos, mas isto não é argumento para
esquecermos o caráter das reivindicações e embarcarmos numa aventura de “Fora
Temer”, tendo em vista que na atual conjuntura quem está pronto para assumir o
Estado brasileiro é a direita ainda mais reacionária e fascista.
Um movimento genuinamente da nossa classe, no
mínimo, deveria ter uma pauta dos trabalhadores, já discutida e consensuada em
suas assembleias e entidades de classe, tais como:
-
Contra o aumento dos combustíveis e da carestia de vida.
-
Contra as reforma da previdência e trabalhista.
-
Contra a privatização da Petrobrás.
É por tudo isso que nós, da Construção pela
Base, afirmamos que um movimento dirigido pelo empresariado (isto é, um locaute), clamando por intervenção
militar, mesmo que seguido por uma parcela significativa de trabalhadores, não
merece nenhuma confiança.