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20 de ago. de 2015

BALANÇO DA ASSEMBLEIA GERAL DE 18/08: APROVADA A GREVE DE TRÊS DIAS DA BUROCRACIA CUTISTA: O QUE NÃO AVANÇA, RETROCEDE.

             Sob um forte esquema de segurança da direção, que contava com seguranças privados, bombeiros da Brigada Militar e capatazes para intimidar setores da base e da oposição, foi aprovado a greve unificada de três dias contra o governo Sartori (PMDB). Esta Assembleia Geral deu sinais preocupantes do aprofundamento de uma verdadeira ditadura da burocracia cutista sobre os trabalhadores de base e as correntes minoritárias, justamente em um momento que vivenciamos um ascenso das lutas do funcionalismo público e precisaríamos ampliar o debate e esclarecer as diferenças.
        O Gigantinho lotado, reunindo cerca de 8 mil educadores, demonstrou disposição para a luta, mas esbarrou na muralha burocrática do sindicato, preparado minuciosamente para fazer aprovar sua política conciliadora, sem debate sério e esclarecimento das questões em disputa. O aparato sindical foi acionado para controlar a Assembleia com mãos de ferro. A atual direção gabou-se do número de presentes, dizendo que isso é um acerto de sua política e que o CPERS “acordou”. Isso é uma fraude! A lotação quase total do Gigantinho é fruto direto dos ataques do governo Sartori (parcelamento e congelamento salarial, o seu ajuste fiscal, etc.), que indignou e mobilizou a categoria; e não da política da burocracia cutista, incapaz de construir uma mobilização independente e coerente. A verdade é exatamente o oposto: a política burocrática e conciliadora da atual direção vai enterrar gradativamente a atual mobilização do CPERS e de todo o funcionalismo público, até voltarmos a velha situação de desmobilização. A vanguarda consciente do CPERS não pode deixar isso acontecer. Somente com uma política anti-burocrática é possível manter acesa a chama da luta.

A burocracia sindical do Fórum dos Servidores e a
proposta de greve por tempo determinado
        O Fórum dos Servidores, do qual o CPERS é signatário (bem como os seguintes sindicatos: Fessergs, Semapi, União Gaúcha, Sindiágua, Sindipge, Sindet, CEAPE, Ajuris, Asdep, Aprojus, Asters, Ugeirm, Sindicaixa, SISDAER), é uma organização de cúpula que exclui as bases dos seus respectivos sindicatos. Delibera políticas que refletem esta condição, bem como o velho sindicalismo cutista, de cima para baixo. Quem dirige o Fórum é a própria CUT, que conta ainda com as suas sócias menores, como a Intersindical, CSP-Conlutas e Nova Central.
A nossa proposta aprovada na Assembleia Geral de junho de 2015 dizia: “Construir, unificadamente, um Encontro Estadual de base dos trabalhadores do serviço público na semana de formação, em julho, no Gigantinho, para barrar os ataques do governo Sartori”. Esta resolução é bem clara quanto a necessidade de se fazer um encontro de base dos servidores públicos, no Gigantinho, e não apenas de sua cúpula em um “Fórum” isolado, entre quatro paredes, tal como o CPERS promoveu com o apoio de todas aquelas entidades e centrais sindicais. A atual política elaborada por este Fórum vai na contra mão dos interesses das bases das categorias que representam. É dele que surgiu a proposta de “greve por tempo determinado”. No início da Assembleia Geral do CPERS foi dado um tempo precioso para esta burocracia, que por meia hora fez uma lavagem cerebral nos presentes, sem contraponto, falando da necessidade de aprovar greve por três dias.
        A burocracia sindical cutista subordinou a unificação do movimento com os demais servidores à aprovação dos três dias de greve. Aí residia uma armadilha! Não é verdade que só poderia haver movimento unificado com greve por tempo determinado. A Assembleia Geral do CPERS deveria aprovar a sua proposta e levá-la até a assembleia geral dos servidores para o debate e subordiná-la à votação dos servidores unificados. O que a burocracia dirigente do CPERS fez foi inverter a lógica: subordinou a Assembleia do CPERS ao acordo de cúpula das burocracias sindicais do Fórum dos Servidores, sem nenhuma discussão com a base. Uma política conciliadora precisa de métodos antidemocráticos para ser aplicada, ignorando e atropelando o debate. É por isso que a direção do CPERS tem intensificado os métodos autoritários e asfixiado a democracia sindical com as piores justificativas. Com o total consentimento das correntes políticas da antiga direção do CPERS, o Conselho Geral indicou que a direção deveria ficar sozinha em cima do palco, dificultando o acesso para falas e apresentações de propostas vindas da base.

“Greve de novo tipo” ou desculpa para parcelar a greve?
        Outro engodo da atual direção do CPERS para aprovar a sua “greve por tempo determinado” foi defendê-la como uma “greve de novo tipo”, que supostamente demonstraria “sabedoria” e prezaria pela adesão da base, fato que não estava ocorrendo nas greves passadas. Certamente precisamos de uma greve de novo tipo, que envolva a comunidade escolar, que tenha ações mais radicalizadas pensadas coletivamente, que construa comitês de mobilização desde a direção do sindicato, dos núcleos, até o chão das escolas. Porém, não é nada disso que propõe a burocracia cutista. A sua “greve de novo tipo” não passa de retórica para apoiar a sua greve parcelada, apenas de demonstração, tal como acontece seguidamente na Europa (Espanha, Portugal, Grécia) e na Argentina. Como greves de demonstração são absolutamente estéreis, servindo apenas como um catalisador para o descontentamento das suas bases de representação. Temos visto centenas de “greves gerais por tempo determinado” em todo o mundo, meramente demonstrativas, sem continuidade e coerência. Servem apenas como autopromoção inconsequente para as burocracias sindicais e para o consumo das vanguardas iludidas.
A burocracia cutista, mesmo propondo greve por três dias, não encaminhou nenhuma luta nos dias posteriores à greve, nem sequer um calendário (períodos reduzidos, aulas públicas, atos das comunidades) até o dia 31. Absolutamente nada! Apenas um indicativo vago de continuidade da greve no início de setembro, o que muitos trabalhadores chamaram corretamente de “greve parcelada”.
A greve por tempo determinado foi aprovada em razão do trabalho feito pela burocracia cutista que canalizou o descontentamento da categoria – sobretudo do interior – para uma greve demonstrativa, supostamente dialogando com o que “a categoria gosta de fazer”; isto é, atrasando a sua consciência e impedindo um verdadeiro enfrentamento ao governo Sartori. Nesse sentido, a caravana da burocracia pelo interior ajudou a preparar a aprovação desta greve “demonstrativa”, sendo que, a burocracia tem como mapear matematicamente na origem quem irá votar na sua proposta ou não, favorecendo as regiões em que isto é mais fácil. Não é por acaso que mais de 20 ônibus foram trazidos de núcleos da região sul do Estado com esta finalidade. Barrar a entrada e o direito ao voto para os não sócios também colaborou com a aprovação desta greve de três dias.

Não existiu assembleia geral dos servidores:
foi um ato de autopromoção do Fórum
        O que vimos no Largo Glênio Peres não foi uma assembleia geral dos servidores públicos estaduais, conforme foi divulgado aos quatro ventos. Não houve debate, disputa de ideias e táticas, mas apenas uma série de discursos de autopromoção do Fórum dos Servidores e dos dirigentes sindicais. Ninguém, a não ser a burocracia sindical, teve direito à fala, e um tempo precioso se perdeu apenas ouvindo música. Nem sequer os resultados e os relatos das assembleias das respectivas categorias foram apresentados.
        Saudamos o número expressivo dos presentes, que demonstraram disposição para a luta; mas lamentamos a política conciliadora e distracionista das burocracias sindicais que dirigiram o ato. O plano de lutas do CPERS e do Fórum se resume apenas à pressão sobre a Assembleia Legislativa, o que é uma marca registrada do sindicalismo conciliador cutista. Nenhum plano de luta unificado, sério e coerente, foi tirado para além destas datas.

        Enquanto a burocracia sindical estiver controlando e dirigindo estes sindicatos, só poderemos esperar mais ações inconsequentes como estas. É preciso fortalecer uma oposição classista e revolucionária tanto dentro da nossa categoria, quanto nas outras, para poder retomar estes sindicatos e colocá-los a serviço da luta e da organização consequentes e, a partir daí, ter condições de criar um Fórum dos Servidores pela base.

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