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7 de jul. de 2017

OS VÍCIOS ELEITORAIS DO APARATO SINDICAL CORROBORAM COM A VITÓRIA DA CHAPA 2

Governo Sartori e o próximo governo do Estado podem dormir tranquilo: terão mais 3 anos de conciliação e trégua para retirar direitos.


         Einstein disse, certa vez, que é “loucura querer resultados diferentes, fazendo tudo exatamente igual”. A sentença aplica-se muito bem às eleições do CPERS.
Em números gerais, a eleição contou com 35.657 votantes, num universo de 81.519 sócios (números de 2014; isto é, menos de 45% dos sócios votaram). A “maior eleição de todos os tempos” teve 749 votantes a menos que a eleição de 2014, que alcançou 36.406. A chapa 2 (composta por PT, PCdoB, PDT e PP; CUT e CTB) foi reeleita com 18.739 votos. A direção central ainda elegeu 25 dos 42 núcleos, enquanto que as correntes da chapa 1 ficaram com 17. Há que se refletir sobre os motivos que possibilitaram esta reeleição, para assimilar todas as lições do processo.
A onda conservadora vivida no país e no mundo também se reflete dentro do nosso sindicato. Golpe do impeachment a nível federal; eleição de Sartori (PMDB) no RS e Donald Trump nos EUA; ascensão de pautas, partidos e personalidades de direita são alguns dos sinais dos tempos. Nos sindicatos, existe uma ofensiva correspondente para retomar ou manter o controle dos aparatos. Neste campo, quem representa as forças conservadoras são o PT e a CUT, que tem demonstrado a intenção de manter o estrito controle do movimento sindical para usá-lo como moeda de troca na luta político parlamentar atual. Não foi apenas no CPERS que o PT e a CUT tomaram a dianteira para garantir o controle sobre o sindicato, mas também na APEOESP (sindicato dos educadores do Estado de São Paulo). Lá foram utilizados métodos gangsteristas contra oposições, tal como os praticados pela Força Sindical; no CPERS não foram necessários tais métodos (à exceção do 14º núcleo, que teve seguranças e vigias da CUT), uma vez que todo o processo foi dócil aos seus interesses, controlados através de uma comissão eleitoral em que possuía ampla maioria.

Os problemas da Comissão Eleitoral
            Um dos principais problemas destas eleições sindicais foi a Comissão Eleitoral Estadual, que orientou e comandou todas as subcomissões. Ela não foi tirada, nem referendada em Assembleia Geral. Surgiu das 4 paredes do Conselho Geral, sendo composta por 11 integrantes, sendo que 8 eram militantes de correntes do PT. A presidente da Comissão era ligada à Articulação Sindical (mesma corrente que está na direção do CPERS). A falta de informação e de iniciativa da Comissão, aprofundadas por uma desorganização latente, impediram um pleito transparente e com condições reais de igualdade. Em muitos rincões do interior do Estado mal se sabia que existia uma chapa 4 para disputar a direção central. Este erro, já denunciado em 2014, se repetiu novamente.
            Durante os dias de votação houve uma proposta de acordo sobre as assinaturas dos mesários nas cédulas, mas não foi cumprido e sequer chegou ao conhecimento de todas as chapas. Cada região agiu de uma forma. O amadorismo foi gritante e a desorganização a inconsequência inevitável. Muitos mesários, se quisessem, poderiam fraudar atas e votos à vontade. Esta desorganização não é uma casualidade, mas faz parte dos métodos da burocracia sindical para poder se aproveitar dos erros e vícios do aparato sindical.
            Até o domingo, dia 2 de julho, as subcomissões não tinham apurado todas as urnas, mesmo com o término do pleito no dia 28 de junho. Alguns núcleos terão votos recontados e a categoria nada sabe sobre isso.

O nível do debate eleitoral e o recenseamento das forças das correntes majoritárias
            Constatamos um sério problema em relação ao debate eleitoral, que também é viciado e sem margem para uma real reflexão sobre as propostas eleitorais. A chapa 2, da atual direção, esteve desde o ano passado em plena campanha eleitoral. A chapa 1 (MLS, PSTU, PSOL, CEDS e PCB) tentou transformar – e conseguiu – a disputa eleitoral numa falsa polarização, tal como acontece nas eleições burguesas (quem não está conosco está a favor da chapa da atual direção – ou como se diz nas eleições gerais: “vamos votar no PT para evitar a volta da direita”). Apesar de ser formado por diversas correntes e ter angariado o apoio de correntes menores, a chapa 1 defende, no essencial, o mesmo sindicalismo da chapa 2. Não encontramos, por exemplo, nenhuma grande divergência ao longo dos três anos entre as correntes da chapa 1 e da chapa 2 no Conselho Geral (à exceção da sindicância, obviamente). Defenderam essencialmente a mesma política. Existe, pontualmente, um espaço mais democrático nas assembleias gerais dirigidas pelas correntes da chapa 1; ao contrário do que vivenciamos com as assembleias da chapa 2 (grades, seguranças, repressão e golpes escancarados). Isso justificaria uma unidade política com a chapa 1? Na nossa avaliação – ao contrário de todas as correntes de “oposição” –, não!
Nunca alimentamos um grama de esperança em uma chapa unitária. Na maioria das vezes apresentamos políticas opostas a estas correntes e à direção central. Não se trata – como falam muitos maldosamente, refletindo este baixo nível teórico – de auto-proclamação ou sectarismo. Trata-se de poder debater e propor questões programáticas nestas eleições que certamente seriam censuradas pela “maioria” da chapa 1, tais como: democratização das assembleias gerais e do conselho fiscal; propostas de combate à burocratização sindical; organização pela base; desfiliação da CNTE-CUT; denúncia do PNE-PEE; política classista para os educadores contratados; formação teórica e sindical; debate sobre socialismo e a denúncia do capitalismo (para quem quer um novo rumo e um novo sindicalismo para o CPERS, isto é imprescindível). Ninguém tocou nesses assuntos, a não ser a chapa 4. É com grande pesar que constatamos que isso não é importante para esta vanguarda, que fala em socialismo somente nos dias de festa. Jamais “perderiam votos” para levantar uma pauta como esta diante do senso comum conservador. O “socialismo” é apenas pra constar nas siglas das correntes pra aparecer pra vanguarda, mas quando se trata da grande massa da categoria é uma palavra proibida.
            A maioria das correntes do Bloco de Lutas pela Educação Pública (com exceção de alguns de seus membros) e o MRT chamaram voto na chapa 1, atribuindo qualidades políticas e programáticas que ela não possuía. Seria mais justo que tivessem dito: “chamamos o voto na chapa 1 porque só ela tem peso eleitoral para derrotar a chapa 2”. Não querem perceber que votar na chapa 1 e no seu programa eclético e dúbio é, indiretamente, reforçar a própria dominação da atual direção, pois todas elas compactuam a mesma política no Conselho Geral, nas assembleias gerais, em relação à “burocratização sindical”, à CNTE, ao PNE-PEE, à formação teórica e sindical, etc. O erro teórico mais evidente cometido por estas correntes é o que tenta atribuir “burocratização sindical” apenas à chapa 2, como se as correntes da chapa 1 supostamente combatessem-na ou dessem espaço para esta luta. Não apenas não combatem, como durante a campanha eleitoral não falaram nada a respeito, nem avançaram uma vírgula quando estiveram na direção central. As suas bandeiras eram genéricas e semelhantes às da chapa 2. Quando se diferenciavam em algum tema (como na questão dos contratados), apresentavam problemas políticos.
            Compreendemos que este tipo de apoio político-eleitoral e de debate não apenas não derrota a chapa 2, como a reforça. Ao invés de tirar a luta do seu campo e trazer para o nosso; faz o inverso. Todos aqueles que esperam derrotar a atual direção do CPERS apenas nas eleições cometem um grande erro. Como derrotá-la agora, em 2017, se comungaram acriticamente com ela de quase todas as suas práticas e pautas nas instâncias sindicais? A luta por um novo curso para o CPERS deve se dar cotidianamente, em todos os espaços sindicais, em todos os momentos em que a inconsistência da política da direção transparecer (e inevitavelmente esta inconsistência transparecerá em razão do caráter de classe da chapa 2).
***
            O debate promovido pela chapa 1 e 2 nas redes sociais e nas escolas refletiu o que foi dito antes. A chapa 5, por sua vez, não apresentou nenhuma proposta nas redes sociais e na maior parte das regiões do Estado não fez campanha. A corrente CUT pode mais, que a montou, após insuflar a CS para dividir a chapa 1 visando montar uma nova chapa (a 3, que não se concretizou), lançou sua própria candidatura. Defendia essencialmente o mesmo discurso e programa que a chapa 2 (inclusive com uma bizarra proposta de refiliação do CPERS à CUT), sem nenhuma crítica à atual direção central. O PT e a CUT, cinicamente, não viram nenhum tipo de “divisionismo” na chapa 5, que lançou outra chapa para defender exatamente o mesmo. Se em sua propalada falácia de “CPERS unido e forte” não viu nenhum problema nesta “divisão” na sua luta contra o golpe, é justamente porque só pode ter interesse numa candidatura deste tipo.
No entanto, os votos já estavam definidos. As eleições do CPERS tem se caracterizado por serem bastante fanatizadas, a exemplo do que acontece com os torcedores dos grandes clubes de futebol. Não interessa que o outro time tenha jogado melhor; por ser torcedor, é justamente pro seu time que vai torcer e apoiar, independente de qualquer coisa. Os recenseados da chapa 1 e, principalmente, da 2, foram convocados a cumprir um ritual. Muitos colegas (sobretudo do interior) ficaram reféns da falta de informação da Comissão Eleitoral, da falsa propaganda feita pelo Sineta durante 3 anos, além das caravanas eleitoreiras da direção central, que não promoveram luta alguma.
            Qualquer contestação política e teórica da política da atual direção era visto não como uma divergência política e teórica, mas como um ataque pessoal e “divisionista”. Por sua vez, estas contestações políticas e teóricas eram respondidas com ataques pessoais, que não entravam em nenhum mérito da questão e ignoravam completamente as premissas da argumentação (exemplo: ao serem questionados sobre como seria a prestação de contas e a democracia nas assembleias gerais em sua gestão, membros da chapa 2 se negavam a responder para “não dar ibope a uma chapa que tinha membros em apenas duas regiões”). Imperou, novamente, o voto por “amiguismo”, o cabresto, a falta de informação, a intriga e o incentivo à questões do senso comum. Surfou-se no conservadorismo. Pouca ou nenhuma proposta foi realmente avaliada ou debatida, a despeito dos nossos esforços. Um espaço de debate importante entre as chapas aconteceu no Julinho, mas não saiu dos limites das 4 paredes da sua sala dos professores. A Comissão Eleitoral não teve vontade política de promover nenhum.
            O nível do debate eleitoral, a conciliação das correntes da chapa 1 com a quase totalidade da política da direção central ao longo de três anos, bem como a conjuntura em que vivemos, somado aos inúmeros problemas obscuros da Comissão Eleitoral, resultou na vitória da chapa 2.

O papel da grande mídia no processo eleitoral do CPERS
            Outro ponto importante se refere à grande mídia burguesa. Como sempre, ela cobriu o processo eleitoral do CPERS de forma tendenciosa. É do seu interesse que o maior aparato sindical do Estado continue dócil e conciliador, não oferecendo nenhuma resistência real ao projeto neoliberal em curso. ZH saudou a “moderação” da chapa vencedora. Pouco ou nada divulgou sobre o conteúdo das eleições e das chapas. Até as vésperas das eleições tinha dado grande destaque às forças de “oposição” da chapa 1 e 3 (que nem chegou a se inscrever para o pleito estadual). O Sul21, assim como ZH, entrou em contato apenas nas vésperas da votação. Fez campanha velada pelo PT, dando enormes destaques para a candidata da chapa 2, além de, na matéria específica sobre as eleições, dar espaço e destaque para a chapa 1. O Correio do Povo nem sequer entrou em contato com todas as chapas e saiu anunciando que a vitória da chapa 2 representava “o apoio da categoria à direção” do CPERS. Reproduziu ainda as palavras da presidente da Comissão Eleitoral, que colocou panos quentes em eleições que tiveram capangas da CUT de fora da categoria no 14º núcleo e que só terminou de apurar as urnas cinco dias após o seu início; sem falar na desorganização em relação à validação das cédulas e de atas.
            A mídia burguesa e a burocracia sindical se entendem subjacentemente e se utilizam dos mesmos métodos.

A chapa 2 se apoia na retaguarda intelectual e política da categoria
            Uma retaguarda (pois é impossível chamá-la de vanguarda) ligada à chapa 2 se expressa através de um preocupante baixo nível político nas redes sociais (muitas vezes com provocação) e na vida política do sindicato, tentando minimizar os impactos de uma nova direção sindical inoperante, que apenas aprofundará o afastamento do CPERS do chão de escola, usando argumentos que precisam ser analisados.
            Eles dizem: “as eleições acabaram; todas as chapas e membros do CPERS devem trabalhar agora na base, mobilizar, informar, gerar consciência política contra o nosso único inimigo que é o governo Sartori”. Esta tentativa de tentar dissociar a burocracia sindical da ligação com o governo, querendo apagar o fato de que temos inimigos na trincheira, é bastante corriqueira e tremendamente perigosa. Toda a base o sente a cada passo. Este é um dos motivos que a leva a se desfiliar (como forma equivocada de protesto), dentre outras manifestações problemáticas de descontentamento em relação ao sindicato. Não é possível mobilizar plenamente a base sem confiança; nem informa-la ou gerar consciência política se o processo vai até certos limites tolerados pela direção, que a impede de criar consciência política real, deixando-a estacionada, muitas vezes, no senso comum. Que dirá falar em democracia direta? Sendo assim, uma direção que freia a luta, que desmonta greves, que não respeita decisões de assembleia geral, que não é transparente nas decisões, nas finanças, na política; que não tem política para os seus setores mais precarizados; será incapaz de unificar a categoria para lutar contra o governo Sartori (ou qualquer outro).
Falar em “ir pra base” com a reeleição de uma direção com este perfil, portanto, só pode ser uma profunda incompreensão política ou, então, uma piada de mau gosto.

O que esperar da nova gestão da chapa 2?
            O grande “debate político” da chapa 2 foi a luta contra o golpe do impeachment e as reformas na sede do sindicato. Defenderam explicitamente o PNE. Não há dúvidas de que precisamos lutar contra o golpe em curso no país; sobretudo contra o seu programa político (as “reformas”). Contudo, o problema é que a “luta” proposta pela chapa 2 para “combater” o golpe da direita não é clara e bastante inócua, restringindo-se apenas à uma pressão pela readmissão do PT no rol dos partidos burgueses “viáveis” do país. Ou seja, esta “luta” se daria através de um sindicalismo conciliador, de cúpula, de bastidores, fadado a ser usado como moeda de troca da luta extra-parlamentar do PT contra os seus rivais de ocasião. Vai levar, novamente, a luta sindical para o terreno da burguesia e o deixar refém dos seus limites e chantagens. Tudo isso para traí-lo na próxima esquina, assim que alguns objetivos parciais forem atingidos. Impulsionará ou freará o movimento de acordo com tais conveniências. Em relação à categoria, terá a mesma política de sempre: isolamento da vanguarda consciente, postura anti-democrática na condução cotidiana do sindicato (Conselho Geral, assembleia geral, prestação de contas, relação com a base), baixo nível político, de formação, etc. Se encastelará no aparato em torno dos seus e assim permanecerá, apoiando-se nos setores conservadores e no senso comum ao invés de combatê-los.
Nestes próximos três anos de gestão cutista, podemos esperar, portanto, apenas mais conciliação de classes e a organização de novas derrotas. Mudar um pouco esta correlação de forças vai depender se a vanguarda “atuante” e independente dentro do CPERS se somará aos esforços de desmascarar os passos da direção cutista, fazendo exigências e denúncias pertinentes; ou se ficará prostrada, refém dos acordos do Conselho Geral e das correntes majoritárias.
Porto Alegre demonstrou maior rechaço à atual direção central do que o interior; porém, não o suficiente para derrotá-la. No interior foram alicerçados pilares fortes em 3 anos de visitas e Sinetas direcionados, voltados à uma campanha velada que utilizou-se da máquina sindical. Porém, muitas escolas importantes da capital, que reúnem parte da vanguarda combativa do sindicato, deram grandes votações à nossa chapa. Seria importante multiplicar estes exemplos, sobretudo nas lutas.

A chapa 4 e a Construção pela Base
            Precisamos trabalhar pacienciosamente para elevar o nível dos debates eleitorais, caso contrário, este sempre será terreno fértil para a despolitização das chapas demagógicas e burocráticas. As eleições sindicais são, para nós, mais um momento para combatermos a burocracia sindical, que emperra e sabota a nossa luta. Mantivemo-nos fiéis ao nosso programa, que já é de conhecimento da vanguarda do sindicato e que queremos que chegue a toda a categoria. Não tivemos nenhuma apoio político ou financeiro dos aparatos das centrais sindicais e dos partidos institucionalizados. Restringimo-nos ao valor repassado para todas as chapas. Por tudo isso e por não termos liberados sindicais, nossa chapa esteve dividida entre a sala de aula e a campanha nas horas livres.
Nos orgulhamos de ter recebido votos sem nenhum tipo de cabresto, “amiguismo”, bajulação ou através das estruturas viciadas. Todos foram conquistados por um debate franco, honesto e aberto, refletindo única e exclusivamente as prementes necessidades de mudar os rumos do CPERS e dar um novo curso programático para o nosso sindicato. É por isso que afirmamos que foram votos com consciência de classe! Esta consciência ainda é minoritária dentro do CPERS. Estamos trabalhando duro para construí-la. Este pleito foi mais um passo nesse sentido. 
Sabemos que temos limitações e que somos minoritários. Ainda temos muito o que melhorar, evoluir e nos organizar. Não nos “auto-proclamamos”. Apenas não negamos as evidências de que os erros e traições políticas das correntes majoritárias, expressas em todas as outras chapas que já estiveram na direção central do CPERS, são por demais gritantes para que possamos ignorá-los e nos furtarmos de apresentar um outro programa. A conjuntura há de mudar, e nela, um novo programa deverá ser procurado pela nossa categoria e pela classe trabalhadora. Nestas eleições nos orgulhamos de ter ajudado a colocar um tijolo nesta grande construção.

            

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