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29 de jun. de 2020

EaD E GOOGLE SALA DE AULA PREPARAM A UBERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Com a intensificação das exigências profissionais para a utilização de métodos de Ensino à Distância (EaD), o governo Leite (PSDB e comparsas) pretende acelerar a uberização da educação pública. Este sempre foi um projeto do governo tucano, que já havia fechado um acordo com a Fundação Lemann em fevereiro de 2019 e tencionava permanentemente direções de escola para a aplicação das chamadas online.

Nesta cruzada em nome da uberização, chamada eufemisticamente de "modernização", o governo Leite conta com o apoio da grande mídia, que tem intensificado uma campanha subjacente nas suas reportagens em defesa dos "benefícios" do teletrabalho, que responderiam à demandas modernas e ao "novo mercado de trabalho". Tal como já havíamos denunciado em textos de abril e junho deste ano no nosso blog, o governo se utiliza de métodos desenvolvidos pela Escola de Chicago (a mesma de Paulo Guedes e de Bolsonaro) para "passar a boiada" —  usando a expressão célebre do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles — em meio a uma "calamidade pública".

A difícil situação dos alunos e da comunidade escolar
Ser contra o EaD não significa ser contra o uso da tecnologia em sala de aula, nem contra o EaD em si; mas sim, contra o modelo que está sendo implementado, que coloca o EaD como o centro da educação, e não como um recurso secundário à sala de aula real. O fato, contudo, é que a comunidade escolar, os professores e mesmo a sociedade gaúcha atendida pela escola pública não tem condições materiais para a aplicação do EaD, que é marcada mais pelo formalismo do que por uma realidade palpável. E não é necessário ser sociólogo ou economista para entender as razões desse problema: em famílias que vivem em casas nos bairros periféricos, sem luz elétrica ou saneamento básico, com diversas carências elementares que não poucas vezes redundam em fome, não tem condições de aprender ou se dedicar aos estudos pela internet (sendo que muitas não possuem sequer celular, computador ou internet).

É por isso que a 1ª CRE, a serviço dessa política nefasta de "uberização" em meio à uma "calamidade pública", pede que se "continue insistindo na tentativa de contato com as famílias dos alunos para que realizem o primeiro acesso à plataforma Google sala de aula", mesmo sabendo que o "pacote de internet ainda não está disponível para professores e alunos" (E-mail de pedagogico01cre@seduc.rs.gov.br - AULAS REMOTAS: orientações - 26/06/2020). Fora da realidade e totalmente preocupada com a aplicação do "novo projeto" do governo, a 1ª CRE afirma ser "possível, onde houver condições, que sejam intercaladas atividades na plataforma" (idem). Esta CRE sabe, perfeitamente, que as condições são as piores possíveis, e não levam em consideração sequer a dura realidade cotidiana em que muitos alunos vão à escola prioritariamente para merendar. O setor "pedagógico" da 1ª CRE "esquece" que, como dizia Aristóteles, "só depois de todo o necessário ter estado disponível os homens começaram a filosofar" (ver Aristóteles, Metafísica, livro 1, capítulo 1; página 105). Saciar a fome e as condições materiais básicas são, precisamente, as condições que faltam para que os "homens comecem a estudar". Na escola pública, por pior que sejam suas condições elementares e infraestruturais, são garantidas não apenas a merenda — a base material mais básica  — , mas, também, certo suporte pessoal através da socialização direta.

A difícil situação dos educadores ou "como os custos estão sendo repassados aos seus ombros"
Já no caso dos professores, os diversos governos que arrocham salários, parcelam e atrasam, exigem que coloquem à disposição do Estado os seus aparelhos pessoais (celulares, notebooks, computadores, etc), obrigados a baixar aplicativos ou a dominarem um método tecnológico que, além de não atingir nem sequer a metade dos alunos, não é dominado nem mesmo pela própria SEDUC, que dá informações contraditórias, equivocadas ou formalistas que mais confundem do que esclarecem, aprofundando o mal-estar

Em síntese: tal como acontece com o uber e os entregadores tipo ifood, os custos estão sendo repassados para os próprios trabalhadores. Foi por isso que exigimos que se o governo quer EaD, que garanta as condições materiais (internet, celulares, computadores, formação tecnológica apropriada) para professores e alunos. Infelizmente o CPERS não apenas não aderiu a tais reivindicações, como sequer as debateu no seu Conselho Geral virtual, dando preferência, como sempre, para palavras de ordem delirantes e completamente descoladas da realidade e das ameaças diretas à nossa categoria.


Formalismo burocrático e suporte midiático versus realidade nua e crua
A grande pressão exercida pela SEDUC e suas CREs sobre direções e supervisores vai no sentido de forçar uma "nova forma de trabalho" que vai do nada para lugar nenhum, mas que preenche uma "papelada burocrática" que tem a finalidade de "demonstrar resultados em forma de números" — e tudo isso em meio a uma pandemia e a uma "calamidade pública"! Ou seja, com o formalismo no preenchimento dos dados pretendem maquiar a realidade. Secundados por programas reacionários, como o Pampa Debates, certos jornalistas mercenários ao serviço do governo e da SEDUC, afirmam que "EaD vem dando muito certo, apesar da crítica de várias pessoas". Isso seria verdade?

Em uma escola padrão de Gravataí — conhecida por não fazer greve e seguir à risca o que manda a sua CRE e a SEDUC — cerca de apenas 30% dos alunos conseguem fazer as atividades. Passando para a análise da capital, nota-se que a realidade não é muito diferente: no universo de uma professora que leciona em uma escola da zona sul de Porto Alegre, de regime de trabalho de 20 horas, com 8 turmas e cerca de 240 alunos, apenas 5 fizeram as atividades propostas por ela. É assim que o EaD vem sendo aplicado e "vem dando certo". Alertamos a toda a categoria sobre os perigos de uma adesão formal às propostas confusas e que ignoram a realidade dos alunos, da comunidade escolar e de "calamidade pública" por parte do governo Leite e da SEDUC.

Defender na prática e não apenas em resoluções formais do Conselho Geral o direito ao trabalho em meio à "calamidade pública"
Há ainda o claro perigo do desemprego que nos espreita: com tais propostas de uberização da educação pública e de outros setores sociais, o governo Leite e o mercado estão criando as condições para a demissão de educadores contratados, visando enxugar a máquina e garantir essas verbas para o sistema financeiro e os gestores de aplicativos. Lembramos a todos que o discurso em voga por parte do governo, mídia comercial e, até mesmo, do CPERS, era de que os contratos "emergenciais" renovados em 2019 iriam até o "final de 2020. Precisamos começar a organizar a luta, sem "muro das lamentações", para resistir a um processo que começa a delinear suas reais intenções.

#ForaFundacaoLemannDaEducacaoPublica
#NenhumContratadoAmenos
#NenhumaContratadaAmenos


- Contra a retirada de direitos em meio à pandemia que é, segundo o decreto do governo Leite, uma calamidade pública;
- Contra as aulas EAD como método prioritário e norteador;
- Intensificar a campanha contra a privatização da Educação Pública;
- Que as comunidades escolares decidam democraticamente o que fazer no período de pandemia;
- Estabilidade no emprego para todos os contratados e contratadas;
- Nenhum direito a menos;
- Se o governo quer EAD durante a pandemia faça como em outros países: garanta as condições materiais (internet, celulares, computadores) para professores e alunos;
- Pelo direito ao emprego e ao salário durante a pandemia: contra a demissão, retirada de direitos ou rebaixamento salarial!

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