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20 de set. de 2015

O QUE É BUROCRACIA SINDICAL?


        A questão fundamental do movimento sindical hoje gira em torno do problema da burocratização. Nenhuma luta poderá ser consequente enquanto os sindicatos estiverem sob a influência e o controle das burocracias sindicais. Para entender este fenômeno que degenera os sindicatos e emperra as suas lutas, é preciso remontar as origens do movimento operário.
        A história do proletariado começa na Inglaterra, na segunda metade do século 18, com o surgimento da máquina a vapor e o advento da Revolução Industrial. Durante quase todo o século 19 – época em que a Revolução Industrial se consolidou –, imperou sobre os trabalhadores uma ditadura aberta, que lhes negava o direito de sindicalização e organização para lutar por melhores salários e condições de trabalho. A exploração capitalista não tinha limites. Os seus teóricos – como Adam Smith – sustentavam que a associação de classe era nefasta, pois era considerada como contrária à liberdade individual, e criava obstáculos para a iniciativa privada, impedindo a “livre concorrência”. Entidades de classe ou qualquer tipo de mobilização para conquistar melhorias nas condições de trabalho eram violentamente reprimidas. Quando as Trade Unions (os primeiros sindicatos) surgiram na Inglaterra, foram imediatamente consideradas uma ameaça à ordem.
        Apesar disso, os trabalhadores aumentaram suas reivindicações e organizaram diversas lutas não apenas na Inglaterra, mas em toda a Europa. Estas lutas transformaram-se em rebeliões, sendo que muitas delas ultrapassaram as reivindicações puramente econômicas, politizando-se. Os sindicatos surgiram e se impuseram ao longo deste processo revolucionário europeu, com muitos avanços e retrocessos, mas arrancando da burguesia o direito de organização. Os sindicatos formaram-se com o objetivo de defender os interesses da classe trabalhadora e a melhoria do seu nível de vida. Foi este primeiro sindicalismo que conquistou a redução da jornada de trabalho para 8 horas, o direito ao voto, a licença maternidade, as férias, a proibição do trabalho infantil e a regulamentação do trabalho feminino. Para isso, infelizmente e a despeito de todo o discurso de que o “capitalismo é democrático”, muito sangue foi derramado.

As características dos primeiros sindicatos
        Os primeiros sindicatos se formaram na luta contra a exploração mais desumana da burguesia. As direções sindicais precisavam buscar sua legitimidade perante sua base constantemente, seja através dos caixas de solidariedade, dos fundos de greve, ouvindo seus anseios e necessidades para se eleger etc. A sua representatividade era um reflexo direto do seu trabalho de base e as suas bandeiras eram aquelas mais sentidas pelos trabalhadores explorados no local de trabalho. Não havia a estreita vinculação do sindicato à legislação burguesa e à estrutura estatal, tal como acontece hoje, bem como a liberação sindical, que distancia os dirigentes dos locais de trabalho. Os mandatos, em sua maioria, eram revogáveis; seja por determinação estatutária ou pelas difíceis condições das fábricas. Resumidamente, os sindicatos eram a expressão direta desta necessidade de organização dos trabalhadores frente à exploração brutal dos patrões. Não havia carreirismo. Eram os próprios trabalhadores que mantinham os sindicatos através de contribuições voluntárias, fundos de greve, de solidariedade. A existência desta representatividade sindical era o reconhecimento direto e real dos locais de trabalho, não uma imposição formal e compulsória.
        A primeira reação da burguesia foi tentar destruir os sindicatos, através da repressão ou da cooptação, institucionalizando a sua organização. Com essa assimilação dos sindicatos por parte do Estado, a burguesia criou a chamada “burocracia operária”, com base numa aristocracia melhor remunerada dos trabalhadores. A representatividade sindical deixou de ser direta e passou a ser através de funcionários carreiristas que dirigem os sindicatos. A independência material , que é um dos aspectos fundamentais da independência sindical, deixou de existir. Os sindicatos atuais são financiados através do imposto sindical e outras contribuições compulsórias. Essa é a base material da sua subordinação, burocratização e carreirismo. Sindicatos independentes devem romper com esse financiamento estatal e devem ser financiados diretamente pelos trabalhadores, retomando a prática das origens.

O fenômeno da burocratização sindical
        A burocratização sindical é um fenômeno que corresponde à época de decadência do capitalismo; isto é, à época imperialista, que se inicia com a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e se estende até hoje. Surge o que chamamos de “capital financeiro”, que funde o capital industrial com o bancário. As grandes empresas destroem as menores, formando os monopólios, cartéis e trustes, que controlam as fontes de matérias-primas, liquidam com o chamado “livre mercado” e a lei de oferta e procura é secundarizada, uma vez que determinam entre si os preços. Os países onde este processo se deu, (primeiro, EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Japão; e, atualmente, ainda que não na mesma intensidade, China e Rússia) são chamados de “imperialistas”, pois dominam os países neocoloniais, que lhes fornecem as matérias-primas a preço de banana, enquanto que lhes “emprestam” dinheiro para que comprem seus produtos de alta tecnologia. Os países imperialistas dominam econômica, política e militarmente (se necessário) os países neocoloniais.
        Assim, para sustentar-se, o capitalismo monopolista precisa apoiar-se nessa parte mais privilegiada da classe trabalhadora, que domina os sindicatos burocratizados, para que contenham as lutas proletárias. Entre os altos estratos dos assalariados, surge uma camada de dirigentes que negociam diretamente com os monopólios capitalistas, ao mesmo tempo em que dominam e freiam as suas bases sindicais. Essa “aristocracia operária” defende a ordem burguesa, sua “democracia” e legislação, pois disso depende os seus privilégios. Ela é beneficiária diretamente da dominação burguesa e da existência dos monopólios. Disso dependem suas condições diferenciadas de vida.
        O super lucro dos grandes monopólios permite subornar os dirigentes operários e a camada superior da “aristocracia operária”, diretamente ou através do Estado, subordinando-os de mil maneiras, diretas ou indiretas, abertas ou ocultas[1]. A principal maneira é a assimilação dos sindicatos por parte do Estado burguês, ao que damos o nome de “burocratização sindical”. A cooptação dos dirigentes sindicais, bem como das suas correntes ou partidos, não se dá somente pelo convencimento político ou ideológico reformista, mas também e fundamentalmente através de um sistema de corrupção desses dirigentes e correntes políticas, que passam a ter privilégios frente ao restante da categoria. Esses privilégios vão desde uma simples dispensa do trabalho, da utilização da máquina do sindicato em proveito próprio (carros, computadores, celulares, verba salarial de representação sindical, diárias e outros), até o recebimento de vultosas somas pela assinatura de acordos rebaixados, concessões de viagens nacionais e internacionais, patrocínio para atividades dos sindicatos, liberação do ponto, financiamento de campanhas eleitorais, contratação de parentes, amigos e correligionários para a estrutura sindical ou nas empresas que “representam”.
        Existe uma característica comum na degeneração das organizações sindicais de todo o mundo: a sua aproximação e a sua vinculação cada vez mais estreita com o poder estatal. Este processo é característico de todos os sindicatos, sejam dirigidos por qualquer partido da atualidade, ou que se reivindique “neutro” e “apolítico”. Este fato, por si só, demonstra que a tendência a estreitos vínculos não é própria de tal ou qual partido ou indivíduo, senão que provém de condições materiais da economia monopolizada, comum a todos os sindicatos. Por tudo isso, não há espaço para sindicatos reformistas, independentes ou autônomos: ou são revolucionários socialistas ou são correias de transmissão do capital imperialista. Na era da decadência imperialista, os sindicatos somente podem ser independentes na medida em que tenham consciência de serem, na prática, os organismos da revolução proletária[2].

A burocratização sindical no Brasil
        Os sindicatos atuais no Brasil são submetidos a uma legislação autoritária que remonta ao governo de Getúlio Vargas, inspirada no fascismo, que condiciona toda vida sindical e a submete ao controle do Estado. Nós defendemos um sindicato absolutamente independente do Estado burguês. Não reconhecemos o “direito” da burguesia interferir na nossa organização sindical. Não pode existir sindicalismo independente que se submeta a essa “estrutura sindical”.
        Depois do golpe militar de 1964, o controle sobre os sindicatos se aprofundou, dificultando qualquer forma de oposição e os vinculando ainda mais estreitamente ao Estado. O movimento sindical era dominado pelos “pelegos” através da estrutura sindical oficial. Realizavam atividades e levantavam “reivindicações” permitidas pela ditadura. Foram raros os movimentos que fugiram a esse esquema. O movimento sindical real acontecia na ilegalidade, nas chamadas oposições sindicais que depois vieram a dar origem à CUT. As centrais sindicais eram proibidas. Perto do fim da ditadura militar, os trabalhadores radicalizaram-se a tal ponto de fazer a estrutura oficial rachar e ter que tolerar a ascensão e o surgimento da CUT, que foi uma conquista sindical arrancada da ditadura e da burguesia pelos trabalhadores brasileiros.
        A orientação programática dada à CUT não foi além dos limites do reformismo, o que gerou uma séria contradição política. A sua função principal passou a ser conquistar o apoio da maioria da classe operária para dar suporte eleitoral ao PT, ainda que pese o fato de ter dirigido greves que conquistaram algumas reivindicações salariais, melhorias nas condições de trabalho e tenha ajudado a acelerar o fim da ditadura militar. Mas desde cedo a CUT traiu as principais greves de trabalhadores. O fenômeno de burocratização da CUT se confunde com o processo que levou o PT a ter o seu controle hegemônico. A CUT, quando surgiu, empunhava a bandeira da independência do Estado, mas, pouco a pouco, foi abandonando-a, até que, em meados da década de 1990, tornou-se partidária aberta do “sindicalismo cidadão”, que se intitulava como “sindicalismo de resultado”, mas que não se propunha a transpor os limites do capitalismo “democrático”. O lema “sindicato dirigido pela base” da época do nascimento da CUT nunca se transformou em realidade, pois as condições para tanto foram sendo abandonadas pela orientação reformista da direção.
        A adaptação política da CUT refletia a estratégia reformista do PT, que foi se adaptando cada vez mais ao capitalismo e recebendo as primeiras doações financeiras eleitorais da burguesia. Estas doações significavam apoio político ao projeto do PT. Em seguida, o partido elegeu os primeiros vereadores, deputados e prefeitos. Quando Lula assumiu a presidência em 2003, a CUT passou a ser o sustentáculo do governo no seio dos trabalhadores: sabotou a luta contra a reforma da previdência; ajudou a preparar as reformas sindical e trabalhista; defende o ACE, as MPs 664, 665 e toda a política oficial dos governos petistas que retiram direitos dos trabalhadores. A CNTE – sua sucursal na educação – defende a destruição dos planos de carreiras, o PNE e as “reformas” que privatizam a educação pública. Assim como a CUT só pôde surgir numa luta contra o regime militar, um novo sindicalismo e uma nova central só poderão nascer numa luta que transcenda o economicismo e volte-se contra a farsa do regime democrático-burguês, que não passa de uma ditadura disfarçada.
        As centrais sindicais que se formaram a partir de rupturas com a CUT (CTB e CSP-Conlutas) não romperam com a sua política e programa. Pelo contrário, possuem as mesmas práticas sindicais e políticas que sustentam a burocratização sindical; tanto é assim que fecham chapas unitárias para vários sindicatos do país e não veem nisso nenhuma contradição. O discurso da CSP-Conlutas é diferente de CUT e CTB, pois critica o governo Dilma e eventualmente fala em “socialismo” e “revolução”, mas tudo isso faz parte do jogo das aparências. Um olhar mais atento sobre a sua prática não deixa pedra sobre pedra.

O programa político da burocracia sindical é burguês ou reformista
        Coerente com a defesa dos seus privilégios, a burocracia sindical defende também um programa burguês ou reformista sem reformas, tanto que apoia veladamente os pacotes de arrocho do governo, sabotando a luta contra eles, favorecendo a dominação do proletariado. O seu programa burguês defende abertamente a sociedade capitalista e os projetos e políticos da burguesia, no sentido de aprofundar a exploração sobre os trabalhadores visando garantir os super lucros dos grandes monopólios estrangeiros e nacionais. O programa reformista surgiu como uma degeneração do movimento revolucionário socialista, que abdica da revolução para supostamente “reformar pacificamente” a sociedade burguesa. Para alguns, chegaríamos ao socialismo calma e pacificamente, apenas elegendo deputados e partidos “comprometidos com os trabalhadores”. As inúmeras experiências com os partidos reformistas – e com o PT, em particular – demonstram que esta estratégia não passa de uma enrolação burguesa para acalmar os trabalhadores e cooptar suas lideranças, até transformá-las em correia de transmissão direta da burguesia. O reformismo surgiu numa época em que o capitalismo podia fazer algumas tímidas concessões aos trabalhadores, pois a exploração era grande e os lucros monumentais. A burguesia atirava alguns restos da sua mesa farta. Essas condições não existem mais.
        Atualmente o programa burguês da burocracia sindical é defendido pela CUT, CTB, Força Sindical, Nova Central, UGT, CGT, CGTB; PT, PCdoB, PSB, PSDB, PMDB, PDT, PTB, PPL e os demais partidos burgueses que dirigem, direta ou indiretamente, as primeiras centrais. O programa reformista de outra parte da burocracia sindical, também burguês, é expresso pela Intersindical, CSP-Conlutas; PSOL, PSTU, PCB, PCO, dentre outras correntes minoritárias afins. Estes últimos partidos e centrais não se dizem “reformistas”, mas “revolucionários”. Contudo, basta ver a sua prática burocrática no movimento sindical para percebermos que isso não passa de um discurso vazio.
        Muitos trabalhadores vêem a causa da burocratização no domínio dos sindicatos por partidos, inclusive, algumas correntes ditas de esquerda, que propõe a sua independência dos partidos em geral. A própria burguesia incentiva esse suposto apoliticismo dos sindicatos. Na verdade, os sindicatos não podem ser independentes de partidos genericamente. Historicamente sempre foram ou dirigidos por partidos burgueses ou por partidos proletários, que não existem atualmente. É por isso que os atuais sindicatos estão inteiramente dominados por partidos burgueses, embora de forma mascarada, ou por partidos burgueses reformistas, que sustentam a burocracia sindical. Essa burocracia não pode ser derrotada espontaneamente pelos trabalhadores. Apenas um partido revolucionário pode derrotar a burocracia sindical e democratizar os sindicatos. O discurso “apartidário” coloca todos os partidos – burgueses, reformistas e o revolucionário – num mesmo saco, o que impede a criação de um movimento político consciente do proletariado.
Atualmente, dentro do CPERS temos ouvido a atual direção (totalmente atrelada ao PT e à CUT), bem como correntes satélites, dizerem-se “apartidárias”, mas isso é uma falácia. Aproveitam-se do preconceito “apartidário” e “apolítico” da população e da nossa categoria, em particular, para esconderem suas reais finalidades, que é manter sua dominação sobre os sindicatos e o movimento dos trabalhadores. Por trás desse discurso, escondem-se os partidos burgueses e reformistas. Lutam por “aparelhar” o sindicato e desrespeitam a democracia sindical e os seus organismos. O “apartidarismo” defendido pela burocracia serve para enganar os trabalhadores (já que, como vimos, ela está vinculada aos partidos burgueses ou reformistas) e ocultar a necessidade da construção do partido revolucionário. Querem que os trabalhadores fiquem desorganizados politicamente. O falso discurso apartidário da burocracia sindical remete às estratégias de marketing eleitoral: a campanha de Sartori (PMDB) dizia: “o meu partido é o Rio Grande”; a burocracia sindical diz “o meu partido é o sindicato”.

A burocracia sindical “no concreto”
        A burocracia sindical é constituída por uma casta que se encastela na direção do sindicato e se autoprotege contra a organização de base. Está ligada aos partidos burgueses ou reformistas (ainda que não necessariamente um burocrata sindical tenha que ser filiado a um partido formalmente). Sabemos que a burocracia, entendida como um “corpo de funcionários” com a função de administrar e dirigir uma entidade é, até certo ponto, inevitável. Seria impensável que todos os trabalhadores tomassem as rédeas diretas do sindicato e vivessem em assembleia geral permanente. Isso seria o ideal, mas não é possível por questões práticas. Quando falamos em “burocracia sindical” não estamos nos referindo ao funcionamento de uma grande entidade que, naturalmente, exige um “corpo de funcionários”, mas ao fenômeno de burocratização, que significa essencialmente que a burocracia autonomiza-se em relação aos seus representados, usurpa o poder que lhe foi concedido pelos trabalhadores e passa a usá-lo em defesa dos interesses da burguesia. Procura criar mecanismos para oficializar e legitimar esta “autonomia”.
Por sua própria natureza, a burocracia sindical é avessa a qualquer trabalho de base sistemático e inimiga visceral da soberania das bases. São mais importantes os procedimentos jurídicos, os estatutos, as leis, os “rituais”, a “tradição” cega; do que a luta, a organização e a conscientização dos trabalhadores. A organização das falas em reuniões e assembleias é uma “burocracia” necessária, caso contrário imperaria o caos e a desorganização. Mas reduzir inscrições, asfixiar o debate e as diferenças é sintoma de burocratização. O estatuto é importante para organizar o funcionamento dos sindicatos, mas usado para esmagar as minorias e as oposições é sinônimo de burocratização.
Os organismos de base não são respeitados pela burocracia sindical, pois as principais decisões são tomadas nos bastidores, nas cúpulas. Dirige-se o sindicato através de manobras, acordões e intrigas, à revelia da base da categoria. E quanto mais este processo torna-se consciente, mais a degeneração burocrática transforma-se em um monstro, que desmonta greves ou as incentiva no momento errado para auto promover-se, espanta a base, destrói consciências e sabota a organização sindical. Resumidamente, podemos dizer que a burocracia sindical é um dos pilares do capitalismo decadente, ajudando a burguesia e o seu Estado a explorar os trabalhadores e a sabotar a sua luta.

Precisamos desmascarar a burocracia para depois expulsá-la dos sindicatos!
        A luta contra a burocracia sindical é uma questão fundamental. Não é possível haver luta independente, manutenção dos antigos direitos e conquistas de novos sem a destruição da burocracia sindical e a devolução do poder para a base do sindicato. A vitória de uma oposição classista e revolucionária só será possível como resultado de uma compreensão política e teórica mais elevada da categoria. Essa tarefa, de longo prazo, é um desafio para a nossa oposição e, também, um dever de todos os trabalhadores conscientes.
É por isso que um dos passos fundamentais na derrota da burocracia sindical deve ser a conscientização dos demais trabalhadores sobre o problema central da burocratização, que devem responder com ações práticas no sentido de superá-la. Somente momentos de grandes lutas podem servir de base para esta superação, quando a base da categoria sai da letargia e do marasmo. É preciso que com paciência e perseverança criemos uma nova cultura sindical, conjuntamente com uma nova “opinião pública” dentro dos sindicatos. Práticas burocráticas tidas hoje como “comuns” e “naturais” devem ser abominadas pelos trabalhadores conscientes.
        O “apartidarismo” e a “neutralidade política” não são caminhos para derrotar a burocracia sindical. Os militantes independentes não libertam sozinhos os sindicatos da influência ideológica da burguesia, expressa pela burocracia sindical. A força dos trabalhadores reside na sua organização e no seu número. A massa independente precisa organizar-se. O sindicato é apenas o primeiro degrau. Existem outras formas tão ou mais importantes: as comissões por local de trabalho, os conselhos populares, os partidos proletários. O predomínio atual da burocracia é uma conseqüência das derrotas e da desorganização dos trabalhadores. A burocracia não pode ser derrotada pela espontaneidade, mas apenas por uma organização superior. As correntes burocráticas somente podem ser vencidas por uma corrente revolucionária, onde uma oposição sindical classista, como a Construção pela Base, tem um grande papel. Corrente política não é sinônimo de burocracia, mesmo que a quase totalidade das atuais correntes o sejam.
        A luta sindical está em crise em razão da burocratização dos sindicatos. Há perda de direitos sem novas conquistas. A nossa categoria não poderá conquistar novas reivindicações e sequer preservar as velhas enquanto a direção estiver sob controle da burocracia sindical, casta inimiga dos trabalhadores. O sindicalismo transformou-se numa profissão e o sindicato em cabide de emprego. Existe uma hegemonia absoluta dos partidos burocráticos no sindicato, que expressam a influência da burguesia. Isso explica o seu esvaziamento e a desconfiança da base em relação à direção. Um CPERS democrático, classista, independente dos governos só poderá surgir com a derrota da burocracia sindical e com a criação de mecanismos que garantam a soberania da base e o seu controle sobre a direção.

Programa de luta contra a burocratização sindical do CPERS
        - Fim dos privilégios sindicais: verba salarial de representação sindical, diárias, utilização indevida do aparato!
        - Rotatividade para a liberação sindical: máximo de dois mandatos seguidos por dirigente!
        - Mandatos curtos e revogáveis a qualquer momento!
        - Abertura das contas do sindicato: prestação de contas permanente nas assembleias gerais e decisão coletiva sobre onde aplicar o dinheiro!
        - Criação de um fundo de greve e formação teórica permanente.
- Comissão de controle financeiro independente da direção e eleita semestralmente em assembleia.
        - Respeito aos organismos sindicais: as decisões devem ser sempre coletivas, nas assembleias, congressos e fóruns, e, principalmente, respeitadas! Se a direção não cumpre o que é votado por maioria deve ser imediatamente destituída!
        - Desvinculação das formas de controle do Estado burguês!
        - Expulsão do quadro de sócios de filiados que assumem vaga no governo: sindicato é para trabalhador e não para o patrão!




[1] Lênin. Imperialismo, fase superior do capitalismo.
[2] Trotsky. Os sindicatos na época de decadência do imperialismo.

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