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25 de set. de 2019

PELO DIREITO AO TRABALHO DOS CONTRATADOS E A ORGANIZAÇÃO DA LUTA CONTRA AS ENTURMAÇÕES


Declaração da Construção pela Base à Assembleia Geral do dia 27 de setembro

         Os últimos ataques do governo Leite têm sido direcionados ao elo mais fraco da nossa categoria: os contratados! Como este setor nunca teve política dentro do nosso sindicato – e a bem da verdade, continua sem – o governo sabe onde atingir para dividir a luta.
         A conjuntura mundial está marcada pelos ataques da direita neofascista, que se assemelha ao fascismo clássico pelo terrorismo de Estado ou pelo terrorismo mercenário, pela xenofobia, racismo, anticomunismo e um conservadorismo radical. O neofascismo tem sido o abre-alas da burguesia imperialista, usado quando necessário para concretizar suas políticas econômicas. Apesar de disseminar ódio, preconceito, fake news, dando justificativas para guerras, assassinatos e ditaduras militares, pode conviver com instituições democrático-burguesas. O bolsonarismo é a aplicação desse neofascismo no Brasil. O seu discurso a favor da ditadura militar não deixa de conviver com o Congresso Nacional. O neofascismo se caracteriza também pela manipulação através da divulgação de fake news nas redes sociais, cujos assessores são técnicos utilizados pelo imperialismo. Elas ajudam a espalhar e consolidar o irracionalismo, uma vez que a hipnose da massa necessita deste controle a partir do ódio, do sadomasoquismo e do medo. É este governo neofascista que quer aplicar a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e a “reforma” do Ensino Médio, cuja principal finalidade é preparar as demissões na educação pública em nome dos bancos e das grandes empresas, abrindo o caminho para as terceirizações. O governo Leite é a sucursal deste projeto aqui no Estado.
         Nos últimos anos vimos a explosão de diversas manifestações espontâneas: primavera árabe, Occupy Wall Street, Coletes Amarelos, manifestações de 2013 no Brasil, dentre outras. Dada a inoperância e o oportunismo da “esquerda”, a direita e o imperialismo canalizaram estas manifestações para si. Apoiar qualquer mobilização de massa, sem a menor preocupação com o conteúdo e o programa das manifestações, não pode gerar nenhuma situação revolucionária de luta, mas apenas a consolidação dos projetos da burguesia. O caso mais recente tem sido as mobilizações de Hong Kong, que tem por trás os interesses dos EUA e, mesmo assim, foram apoiadas entusiasticamente por diversas correntes de “esquerda” (muitas delas com grande peso dentro do CPERS).
         O espontaneísmo da “esquerda” tem servido para sustentar a mobilização de massas da direita e do imperialismo contra os trabalhadores. Iludem suas bases de que estão a serviço dos “interesses do povo”, quando na verdade são o abre alas dos interesses do imperialismo dentro do movimento sindical. O fato é que, graças aos métodos do neofascismo, a direita tem mobilizado as massas muito mais exitosamente que a “esquerda”! E este é um cuidado que devemos tomar a partir desta constatação, além de nos forçar a tirar conclusões.

Podemos deflagrar uma “greve maciça” agora?
         A Carta de Bento Gonçalves, aprovada no último dia do X Congresso do CPERS, ameaça o governo Leite (PSDB e comparsas) com a maior e mais importante greve da história da categoria. E acrescenta: “A greve é inevitável. Cabe a nós construirmos as condições para que seja, também, vitoriosa”.
         Companheiros, o governo Leite tem surfado exitosamente na onda aberta pelo neofascismo. Age rápida e certeiramente, ao contrário do CPERS, que parte de uma total paralisia e de um Congresso que não debateu e não encaminhou nenhuma luta real, para a proposta de uma “greve maciça”, sem trabalho de base e sem mudar a orientação que vinha praticando até o momento. Além do que, não apresenta nenhuma bandeira para os contratados, que somam cerca de 40% da nossa categoria, e, também, nenhuma unificação real com as demais categorias do funcionalismo público (a maioria dirigida pela CUT).
         Na compreensão da Construção pela Base uma greve deflagrada agora esbarraria nos mesmos problemas de sempre, que insistem em se manter porque não são combatidos conscientemente: falta de preparação prévia, desorganização da base, confusão sobre as reivindicações, direções autoritárias nas escolas e sabotagem por parte da burocracia sindical. Somam-se a isso os problemas de alienação de grandes contingentes da nossa categoria, a ausência de política da direção central para a recuperação dos dias parados (o que deixa a categoria à mercê da chantagem da SEDUC e das direções autoritárias) e a resistência contra a abertura do comando de greve (dirigido pelas correntes, sem eleição proporcional nos núcleos de base); sem falar no boicote ao fundo de greve, que foi aprovado em Assembleia Geral e até hoje não foi colocado em prática.
Sendo assim, somos contra a deflagração de uma greve neste momento por entender que ela apenas contribuiria pra piorar o quadro e desgastar ainda mais a nossa principal ferramenta de luta. Alguns colegas pensam que algo tem que ser feito, pois os ataques do governo Leite não cessam. Compreendemos essa preocupação, embora entendamos que o desespero e ações motivadas por flagrantes contradições não podem “fazer nada” efetivamente contra o governo, apenas piorar a nossa situação.
Além do mais, não consideramos a aprovação do PL 392/2019 como uma “vitória”, mas apenas como um ganho de tempo para organizar a luta dos contratados. As enturmações, que já estão em curso em muitas escolas com claras intenções de “reaproveitar recursos humanos” e aumentar sua exploração, também tendem a levar a novas demissões. E tudo isso após o secretário de educação reconhecer em programa de rádio no dia 6 de agosto que a rede pública estadual tem aumentado o número de alunos como reflexo da “crise”. O CPERS sabe e admite que o governo pretende fechar cerca de 7 mil turmas nos próximos anos, mas, mesmo assim, não organiza uma ampla denúncia que levante a bandeira dos contratados com firmeza, denuncie as enturmações e procure envolver a comunidade escolar; sequer propõe a luta contra a enturmação como um dos eixos da assembleia geral, o que transforma a hipótese de uma “greve” agora em insensatez e fanfarronada.

O que fazer?                                                
         Uma greve ou “ações radicalizadas” descoladas da base (que está retraída e com a consciência atrasada) não pode fazer milagres. Precisamos olhar seriamente para os nossos problemas, pois como dizia Einstein: “é loucura querer resultados diferentes, fazendo tudo exatamente igual”.
Para a assembleia de 12 de abril deste ano escrevemos: “Nada demonstra mais a ineficiência do atual sindicalismo de ‘negociação’ do CPERS do que a nossa situação de miserabilidade salarial. Desde o início da política de parcelamento, tivemos 3 greves (uma de mais de 90 dias) e inúmeras ‘negociações’ com os governos. Apenas a direita avançou. Ficamos num brete cada vez pior. As pautas se rebaixaram e o CPERS aponta apenas para ‘mesas de negociações sérias’, não como o reflexo da força do nosso movimento, mas como um fim em si mesmo, que resultaria da benevolência do governo Leite. Para fortalecer o nosso movimento não há proposta alguma do CPERS, apenas seguir o mesmo caminho”.
E concluía: “Precisamos, urgentemente, de um novo tipo de trabalho de base que não reforce ilusões ou paternalismos, mas a disposição de luta e sacrifício, somado à criação de uma nova democracia sindical organizada por local de trabalho, que aprofunde a relação com a comunidade escolar. Temos todo um caminho pela frente. Ao invés de cercear e controlar as ações da base que não estão sob seu controle, o CPERS deveria apontar urgentemente uma nova organização sindical que leve em consideração todas as boas iniciativas vindas do chão das nossas escolas (sobretudo aquelas que rompem conscientemente os grilhões do legalismo burguês)”. Nada disso foi feito de lá pra cá!
Por isso, ao invés de uma greve fictícia, propomos:
- Fim da política ilusória de negociação com Leite: ele só negociará se ver mobilização real! Denúncia da política de Leite em panfletagens permanentes em grandes concentrações populares, atos de rua e na grande mídia.
- Por um novo sindicalismo: mudar a relação com a base! Respeitar e cumprir as decisões de assembleia geral que não partem apenas da direção central; organizar um verdadeiro trabalho de base, incentivando a democracia no chão da escola; fim da ditadura do microfone (onde só falam os “representantes eleitos”); que as posições divergentes possam ser conhecidas e debatidas democraticamente (só assim poderemos evoluir); debater temas desconfortáveis (como a alienação da base da categoria); organizar um verdadeiro contato com as comunidades escolares (combatendo os preconceitos de “superioridade” da categoria com relação a pais, alunos e colegas contratados). Organizar atos nas escolas envolvendo a comunidade e unificá-los depois.
- Contra a demissão e remoção dos educadores contratados: pelo direito ao trabalho! Readmissão das contratadas demitidas! Apostar na organização de base dos contratados e incentivá-la!
- Romper com o corporativismo: organizar congressos, encontros, seminários e protestos de rua unificados com outras categorias de servidores e trabalhadores, do setor público e privado (abaixo os encontros de cúpulas sindicais).
- Criar uma verdadeira solidariedade de classe, abrindo espaço para crítica e auto crítica nas instâncias sindicais, nos seus meios de comunicação (Sineta, site, redes sociais, etc.). Combater a vaidade individual e o controle autoritário da burocracia sindical sobre o aparato e sua mídia.
- Estudar e debater a forma de abertura do comando de greve, com eleição proporcional nos núcleos de base, bem como a ligação com as escolas realmente grevistas. Viabilizar a aplicação do fundo de greve junto dos núcleos de base!
- Não refiliar o CPERS à CUT: isso só tende a piorar a relação de confiança entre a base e o sindicato.
- Retomar a luta contra a BNCC, a “reforma” do Ensino Médio as terceirizações e as demissões: que os grandes empresários paguem pela crise!
- Não às enturmações! Por uma declaração pública do CPERS para alertar a comunidade escolar e exigir que qualquer enturmação passe pelos conselhos escolares, CPMs e reunião de pais!

Participe do Sarau Poesia e Liberdade, no sábado, dia 28 de setembro, às 17h, no Artezano Café Bistrô (Av. Venâncio Aires, 144, Cidade Baixa). Curta a nossa página no Facebook: @construcaopelabasecpers

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