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6 de out. de 2019

QUE TIPO DE GREVE É POSSÍVEL CONSTRUIR COM A ATUAL DIREÇÃO DO CPERS?

Balanço da assembleia geral do dia 27 de setembro

"Uma organização que perdeu a capacidade 
de aprender com sua própria derrota
está irremediavelmente condenada"
(L.Trotsky - Aonde Vai a França?)

A última assembleia geral do CPERS, realizada na casa do gaúcho, apontou um calendário de luta que fala em "construção de greve, recomposição salarial e num ato estadual no dia 15 de outubro". Reunindo a mesma média das últimas assembleias e fazendo um debate muito aquém do que era necessário, a direção central do CPERS dirigiu o evento dentro dos mesmos métodos viciados, o que dificulta a verdadeira mobilização e a aproximação com a base. Como não poderia deixar de ser, lá foi votado novamente uma malfadada "pressão aos Senadores do Estado do RS para votarem contra a PEC 06/2019", dando uma pequena mostra da marca registrada da verdadeira e única política da direção central do nosso sindicato.

Consideramos positivo a não deflagração de uma greve, uma vez que não existem condições no momento. Porém, o debate que é feito tanto pela direção, como pela "oposição", nos causa preocupação pelo nível teórico. A direção central afirma que não existem condições e que "precisamos construí-las". Isso é correto, embora saibamos que ela não moverá uma palha para construí-la no sentido que interessa aos trabalhadores. Para a direção central construir a greve significa jogar o jogo parlamentar e do legalismo burguês, sem fazer nenhuma mudança no atual sindicalismo praticado até aqui, que contribuiu decisivamente para chegarmos no brete em que nos encontramos. A orientação política, sindical, de formação, de relação com os núcleos e com a base está pautada pelos interesses da burocracia sindical de manutenção do aparato, apoio político e eleitoral ao reformismo e de diplomacia secreta. Foi alimentado a ideia de que ganhar tempo seria importante para nós. Isso poderia ser justo se tivéssemos palavras de ordem corretas, combinadas com um trabalho de base coerente.

Não foi o caso...

Existe equilíbrio e uma hierarquia justa entre as palavras de ordem debatidas na assembleia geral? A reposição salarial e a defesa do plano de carreira tem mais poder de mobilização que a luta contra as enturmações ou a demissão dos contratados? Todas elas são justas, mas porque umas se sobrepõe à outras? Aliás, quem decide estas palavras de ordem além da direção central e do Conselho Geral? Há uma construção democrática destas pautas que deitam raízes na base? Qual é a bandeira para os contratados? Apresentamos as nossas palavras de ordem à assembleia geral por considerá-las as norteadoras para o momento que vivemos: defesa dos contratados e a luta contra as enturmações (isto é: emprego e condições de trabalho) para encorajar o precariado da nossa categoria e as nossas comunidades escolares. A reposição salarial vem como reflexo do aumento e da adesão ao movimento e à luta. A questão salarial como pauta principal neste momento é facilmente atacada pela grande mídia visando nos jogar contra a comunidade. Em tempo: a direção central se preocupa com tudo isso? 

Como unificar uma luta contra o governo Leite em defesa do plano de carreira, onde 40% da categoria não está incluída nesse plano? Só esta pauta é uma incoerência, não agrega, não mobiliza e está fadada ao fracasso. Não é casual que o governador Eduardo Leite tenha tentado jogar contratados contra nomeados dizendo que o plano de carreira "se restringe somente aos professores concursados e efetivos que estão na ativa". Sem uma política classista e clara para os contratados, caímos nas armadilhas lançadas pelo governo. Para que os contratados possam defendê-lo, precisam ter a perspectiva de acesso a ele. Por isso a bandeira da efetivação ganha relevância.
***
Em contrapartida, setores da "oposição" sempre defendem greve, que teria um poder miraculoso de resolver as contradições da categoria, da sua consciência atrasada, da falta de condições objetivas, da confusão das reivindicações. A consciência da própria força é um dos elementos mais importantes da força real. Para esses setores "sempre é o momento", independentemente de qualquer fator. Falam contra a direção central, mas não são coerentes com as críticas que fazem. Não questionam que uma greve agora seria conduzida por esta mesma direção que criticam tão duramente; sequer se preocupam com o comando de greve, o fundo de greve, dentre de uma série de outras condições indispensáveis, como a política para os contratados, para o desconto e a recuperação dos dias parados, etc. Facilmente são refutados pela direção central, que sendo a mestra das incoerências e dos sofismas, frente a estes discursos, se vende como a campeã da coerência. Assim sendo, lhe presta um inestimável serviço!

Outros setores de "oposição", um pouco menos numeroso, compreendem que "a categoria está cansada, desgastada, preocupada com o final do ano e que ninguém aderiria a uma greve 'neste momento'". Sabemos da situação da categoria, que é de miserabilidade e de desconfiança com o sindicato. Porém, não podemos destacar prioritariamente isso, uma vez que, assim, acabaremos capitulando para aquela consciência atrasada da categoria que se preocupa unicamente com o calendário, virando o rosto para as dificuldades inevitáveis de um movimento grevista e para o fato de que não temos hora definida para fazer greve. Chegam ao cúmulo da solução mágica quando propõe, tal como as ilusões do réveillon, simplesmente adiar a deflagração da greve para o início de 2020. Este estado de espírito infantil, de dependência da base, não pode nos levar a lugar algum. Temos que nos enfrentar com ele, mais cedo, mais tarde, ou então renunciar a qualquer movimento; dizer categoricamente que não há saída fácil; que pode fazer parte da luta o comprometimento das nossas férias e, inclusive, o nosso "sossego". A preocupação com as férias acima do ímpeto grevista é um termômetro negativo para deflagrar greve.
***
Nós entendemos perfeitamente a necessidade de uma greve. Temos todos os motivos do mundo para fazer uma por tempo indeterminado. Porém, a nossa preocupação é precisamente com as condições objetivas e a burocracia sindical. Esta leva à confusão de bandeiras, a diplomacia secreta, a falta de transparência com a base e a um comando de greve fechado, que tergiversa e enrola sobre o fundo de greve. Em suma: para construirmos uma greve maciça, como apregoa a direção central e seus satélites, precisamos tentar mudar radicalmente o sindicalismo praticado até aqui. Isso pressupõe uma relação totalmente nova com a base. Antes de qualquer coisa, nos leva ao questionamento da burocracia sindical e a alertar, prioritariamente, a base em relação a este problema.

O estado de espírito da categoria, da forma como está atualmente, é facilmente manipulável e ludibriável por qualquer discurso. Pensa em greve apenas numa condição passiva, em que basta ser deflagrada e "fechar a escola" para se resolver por si mesma através de uma "boa condução". Não percebe a necessidade de construí-la, os piquetes, o debate com a comunidade, a luta ideológica contra a grande mídia e o governo; em síntese, a importância fundamental de se apropriar das instâncias sindicais e dos seus espaços, como o comando de greve, por exemplo. É precisamente esta consciência que precisa ser superada e transformada em ação consciente. A burocracia sindical jamais será derrotada pelo espontaneísmo passivo, mas somente por uma ação consciente e organizada. Uma ação desse nível, mesmo parcialmente desencadeada, seria determinante para uma greve vitoriosa; uma greve sem condições neste momento resultaria em nova derrota e apenas fortaleceria a burocracia sindical, aprofundando o nosso brete. 

Qualquer ação descolada dessa construção prévia redundará em atos isolados da categoria; portanto, em ações de vanguarda. A burguesia só concede uma reivindicação importante quando se vê na iminência de perder tudo; isto é, quando sente que o movimento é pra valer, vindo com força da maioria dos trabalhadores. A reposição salarial tão desejada por muitos setores da categoria só pode ser arrancada mediante uma luta muito maior, que vença as noções corporativas e limitadas. A atual direção central do CPERS é imprestável para construir este movimento. Toda a experiência com ela o comprova. A ação eleitoral de pressão parlamentar jamais poderá criar qualquer movimento nesse sentido. É por isso que todas as "negociações" com o governo Leite não redundam em nada! O atual sindicalismo praticado pela direção central é um aliado indireto do governo Leite.

Não podemos confundir os nossos desejos com a realidade! Existe todo um trabalho de base revolucionário a ser feito. Já demos inúmeras sugestões. Estamos abertos a debatê-las e melhorá-las, uma a uma. Sabemos que a direção central não construirá greve alguma no sentido debatido acima. Se, por ventura, for obrigada a deflagrar uma, estará dentro dos moldes que já conhecemos e, portanto, fadadas à derrota. A vanguarda independente tem a palavra. Estamos correndo contra o tempo...

Para unificar toda a categoria pra lutar contra os ataques do governo Leite, a pauta de reivindicações deve incluir todos os trabalhadores, contratados e efetivos. Nesse sentido, a pauta deve ser:
- Contra a enturmação! Organizar as comunidades escolares que estão se mobilizando isoladamente em um único movimento!
- Defesa do plano de carreira! Explicar para a sociedade que se tratam de direitos adquiridos com muita luta e que nada tem a ver com "privilégios" (privilégios existem apenas para os bancos, grandes empresas, justiça, políticos e governos). Desmentir as intrigas do governo Leite e do PSDB para dividir a nossa categoria.
- Pela efetivação dos atuais trabalhadores contratados! Única forma de dar a real unidade para a luta e, ao mesmo tempo, derrotar as intrigas do governo Leite.
- Pela defesa da garantia do trabalho! Contra as  demissões dos trabalhadores contratados!
- Contra as escolas cívico-militares: denunciar que se trata da destruição pedagógica da escola pública!
- Que as assembleias regionais que debatam greve sejam construídas com o mesmo empenho que as que elegem delegados aos congressos!
- Que façamos um debate democrático sobre a hierarquia e o equilíbrio das reivindicações!
- Por um comando de greve eleito e controlado pela base!
- Por um fundo de greve à disposição de um comando de greve eleito pela base!
- Organizar os educadores por escola, junto à comunidade! Abrir a imprensa sindical para as posições divergentes!
- Estudar como formação sindical todos os nossos movimentos grevistas passados! Que todas as correntes de opinião possam se expressar livremente neste debate e dentro do sindicato: pelo fim da ditadura do microfone!

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