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30 de nov. de 2019

GREVE E RESISTÊNCIA

Prólogo:
       

        O texto abaixo foi escrito pelo militante anarquista Louis Eugène Varlin. Nascido de uma família de camponeses pobres da França em 1839, Varlin participa na fundação da sociedade de socorro mútuo dos encadernadores. Em 1864-1865, impulsiona a greve dos trabalhadores encadernadores parisienses. Torna-se presidente da sociedade de socorro mútuo desta categoria que ajudou a criar.
          Em 1864 é criada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), conhecida sob o nome de Primeira Internacional. Varlin adere à AIT em 1865 e participa da primeira greve geral dos encadernadores. É delegado em 1865 e 1866 aos primeiros congressos da AIT, em Londres e em Genebra. Em 1869 e 1870, Varlin é preso várias vezes devido às greves impulsionadas pela AIT na França. Em 1870, a seção parisiense da AIT publica um manifesto contra a guerra franco-prussiana.
        Com a deflagração da Comuna de Paris em 1871, assume vários postos de comando no governo proletário, ajudando a consolidar a rebelião operária e a tomar a Praça Vendôme em 18 de março. No decorrer da Semana Sangrenta, a 28 de Maio de 1871, Eugène Varlin é reconhecido na rua e detido, sendo conduzido à Montmartre, onde é linchado e finalmente fuzilado pelas tropas de Versalhes.
        O texto abaixo, intitulado “Greve e resistência”, foi publicado no jornal Le Travail, número 22, de 31 de outubro de 1869. Como vivemos uma das maiores greves do magistério, julgamos oportuno republicar uma contribuição tão importante acerca do que são (ou do que deveriam ser) os movimentos grevistas. Ainda que tenhamos diferenças com o anarquismo, compreendemos que o texto abaixo é bastante preciso em suas reflexões e conclusões, por isso julgamos apropriado a sua republicação.
        Companheiro Eugène Varlin, presente!

Pintura do momento dramático do fuzilamento de Eugène Varlin em1871

***

Greve e resistência
A greve, a resistência do trabalho contra o capital, é a grande preocupação atual de todos os trabalhadores.
Por todo o lado, em todas as profissões, em todos os países, surgem greves com proporções enormes. Que significa este movimento? Aonde nos conduz?
Será que aqueles trabalhadores que desde alguns anos se agruparam criaram sociedades de solidariedade, de resistência, câmaras sindicais e, para organizar as reivindicações do proletariado moderno, fazem um supremo esforço para aconselhar, guiar e ajudar os que hoje se deixam arrastar como que por uma corrente irresistível, sem estar previamente preparados, sem ter calculado as probabilidades de êxito, nem refletido sobre as consequências do seu ato – será que eles conseguirão dominar esta situação?
De qualquer modo, os esforços que lhe dedicam provam a importância que dão a esse movimento.
O povo anseia por uma repartição mais justa da produção geral; quer participar nas vantagens que a ciência pôs ao serviço da indústria e de que uma minoria da população se apoderou e pretende conservar apenas para si. Numa palavra, a questão social impõe-se e quer ser resolvida.
Caberá à greve a resolução? Não, pelo menos na sua forma atual. Mais tarde veremos.
Hoje, perante a obstinação com que os detentores dos capitais defendem os seus privilégios, a greve não passa de um círculo vicioso, no qual os nossos esforços parecem não levar a parte alguma. O trabalhador pede um aumento de salário para responder à carestia causada pela especulação; os especuladores respondem ao aumento do preço da mão-de-obra mediante uma nova subida do valor dos produtos. E assim por diante, os salários e os preços dos produtos aumentando sem parar.
Por que razão operários dedicados, ativos e inteligentes consagram toda a sua energia, toda a influência que são suscetíveis de exercer sobre os seus companheiros, a prosseguir este movimento que sabem não ter saída E que para eles a questão prévia a qualquer reforma social é a organização das forças revolucionárias do trabalho.
Em todas as greves o que nos preocupa não é tanto e insignificante aumento salarial, a pequena melhoria das condições de trabalho. Tudo isso é apenas secundário; são paliativos que servem enquanto se espera por alguma coisa melhor. Mas o supremo objetivo dos nossos esforços é o agrupamento dos trabalhadores e a sua solidariedade.
Até agora fomos maltratados e explorados impiedosamente porque estávamos divididos e sem força. Hoje já se começa a contar conosco, já podemos defender-nos. É a época da resistência. Em breve, quando estivermos unidos, quando pudermos apoiar uns aos outros, então, como somos os mais numerosos e como, afinal, toda a produção resulta do nosso esforço, poderemos exigir, tanto na prática como legalmente, a totalidade dos produtos do nosso trabalho, como é justo.
Nessa altura os parasitas deverão desaparecer da superfície da terra. Se querem viver, deverão transformar-se em produtores, em pessoas úteis.
Acima de tudo, o mais importante é que os trabalhadores estejam organizados. O movimento está no bom caminho, a união prossegue em todos os setores da atividade humana. Os operários industriais já não são os únicos a sentir essa necessidade de organização. Os empregados do comércio começaram a seguir o nosso exemplo, e parece quererem segui-lo também os empregados da administração: telégrafo, correios, ferrovias, etc.
Para que possamos encarar sem medo um futuro tempestuoso se faz necessário que todos os trabalhadores se sintam solidários.

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