Prólogo:
O texto abaixo foi escrito pelo militante anarquista Louis Eugène Varlin. Nascido de uma família de camponeses pobres da França em 1839, Varlin participa na fundação da sociedade de socorro mútuo dos encadernadores. Em 1864-1865, impulsiona a greve dos trabalhadores encadernadores parisienses. Torna-se presidente da sociedade de socorro mútuo desta categoria que ajudou a criar.
Em 1864 é criada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), conhecida sob o
nome de Primeira Internacional.
Varlin adere à AIT em 1865 e participa da primeira greve geral dos
encadernadores. É delegado em 1865 e 1866 aos primeiros congressos da AIT, em
Londres e em Genebra. Em 1869 e 1870, Varlin é preso várias vezes devido às greves
impulsionadas pela AIT na França. Em 1870, a seção parisiense da AIT publica um
manifesto contra a guerra franco-prussiana.
Com a deflagração da Comuna de Paris em
1871, assume vários postos de comando no governo proletário, ajudando a
consolidar a rebelião operária e a tomar a Praça Vendôme em 18 de março. No
decorrer da Semana Sangrenta, a 28 de Maio de 1871, Eugène Varlin é reconhecido
na rua e detido, sendo conduzido à Montmartre,
onde é linchado e finalmente fuzilado pelas tropas de Versalhes.
O texto abaixo, intitulado “Greve e
resistência”, foi publicado no jornal Le
Travail, número 22, de 31 de outubro de 1869. Como vivemos uma das maiores
greves do magistério, julgamos oportuno republicar uma contribuição tão
importante acerca do que são (ou do que deveriam ser) os movimentos grevistas.
Ainda que tenhamos diferenças com o anarquismo, compreendemos que o texto
abaixo é bastante preciso em suas reflexões e conclusões, por isso julgamos apropriado
a sua republicação.
Companheiro Eugène Varlin, presente!
Pintura do momento dramático do fuzilamento de Eugène Varlin em1871 |
***
Greve
e resistência
A
greve, a resistência do trabalho contra o capital, é a grande preocupação atual
de todos os trabalhadores.
Por
todo o lado, em todas as profissões, em todos os países, surgem greves com
proporções enormes. Que significa este movimento? Aonde nos conduz?
Será
que aqueles trabalhadores que desde alguns anos se agruparam criaram sociedades
de solidariedade, de resistência, câmaras sindicais e, para organizar as
reivindicações do proletariado moderno, fazem um supremo esforço para
aconselhar, guiar e ajudar os que hoje se deixam arrastar como que por uma
corrente irresistível, sem estar previamente preparados, sem ter calculado as
probabilidades de êxito, nem refletido sobre as consequências do seu ato – será
que eles conseguirão dominar esta situação?
De
qualquer modo, os esforços que lhe dedicam provam a importância que dão a esse
movimento.
O
povo anseia por uma repartição mais justa da produção geral; quer participar
nas vantagens que a ciência pôs ao serviço da indústria e de que uma minoria da
população se apoderou e pretende conservar apenas para si. Numa palavra, a
questão social impõe-se e quer ser resolvida.
Caberá
à greve a resolução? Não, pelo menos na sua forma atual. Mais tarde veremos.
Hoje,
perante a obstinação com que os detentores dos capitais defendem os seus
privilégios, a greve não passa de um círculo vicioso, no qual os nossos
esforços parecem não levar a parte alguma. O trabalhador pede um aumento de
salário para responder à carestia causada pela especulação; os especuladores
respondem ao aumento do preço da mão-de-obra mediante uma nova subida do valor
dos produtos. E assim por diante, os salários e os preços dos produtos
aumentando sem parar.
Por
que razão operários dedicados, ativos e inteligentes consagram toda a sua
energia, toda a influência que são suscetíveis de exercer sobre os seus
companheiros, a prosseguir este movimento que sabem não ter saída E que para
eles a questão prévia a qualquer reforma social é a organização das forças
revolucionárias do trabalho.
Em
todas as greves o que nos preocupa não é tanto e insignificante aumento
salarial, a pequena melhoria das condições de trabalho. Tudo isso é apenas
secundário; são paliativos que servem enquanto se espera por alguma coisa
melhor. Mas o supremo objetivo dos nossos esforços é o agrupamento dos
trabalhadores e a sua solidariedade.
Até
agora fomos maltratados e explorados impiedosamente porque estávamos divididos
e sem força. Hoje já se começa a contar conosco, já podemos defender-nos. É a
época da resistência. Em breve, quando estivermos unidos, quando pudermos
apoiar uns aos outros, então, como somos os mais numerosos e como, afinal, toda
a produção resulta do nosso esforço, poderemos exigir, tanto na prática como
legalmente, a totalidade dos produtos do nosso trabalho, como é justo.
Nessa
altura os parasitas deverão desaparecer da superfície da terra. Se querem
viver, deverão transformar-se em produtores, em pessoas úteis.
Acima
de tudo, o mais importante é que os trabalhadores estejam organizados. O
movimento está no bom caminho, a união prossegue em todos os setores da
atividade humana. Os operários industriais já não são os únicos a sentir essa
necessidade de organização. Os empregados do comércio começaram a seguir o
nosso exemplo, e parece quererem segui-lo também os empregados da administração:
telégrafo, correios, ferrovias, etc.
Para
que possamos encarar sem medo um futuro tempestuoso se faz necessário que todos
os trabalhadores se sintam solidários.
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