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29 de nov. de 2020

O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO CONSEQUÊNCIA DO RACISMO ESTRUTURAL DO CAPITALISMO


         O racismo estrutural no Brasil é composto de práticas históricas, institucionais e culturais de exclusão social, violência policial ditada pelo Estado que tem como alvo a população negra. O genocídio do povo negro está em curso há 520 anos no Brasil. Essas ações violentas estão alicerçadas na herança escravocrata do Brasil colônia. Entre os séculos XVI e XIX a coroa portuguesa usurpou o continente africano trazendo aproximadamente 5 milhões de negros e negras, na condição de escravizados, sob intensa violação de seus corpos, para servir de mão-de-obra nas grandes fazendas produtoras de cana-de-açúcar e mineração, e assim garantir o desenvolvimento da colônia.

            Nesses três séculos de escravização sob o regime colonial o discurso religioso da cristandade serviu para legitimar e dar suporte ideológico para impor ao povo negro a tortura, estupros e as mais bárbaras violações dos direitos humanos, visando “convertê-los” à fé “cristã”.

            O racismo é inerente ao sistema capitalista, assim como a homofobia, misoginia e todas as formas de opressão e exploração. O lucro é o deus do mercado, e para submeter bilhões de trabalhadores(as) é necessário impor terror e medo, “normalizar” a violência e a exploração, acumular e privatizar a riqueza produzida pelos(as) trabalhadores(as) na mão de uma elite perversa.

 

Por que João Alberto Silveira de Freitas foi assassinado?

           João, um homem negro que não baixava o olhar, encarava os racistas e a exclusão que o povo negro sofre historicamente. João olhava nos olhos de seus algozes, não manifestava medo enquanto os seguranças o seguiam pelo supermercado Carrefour, ou olhavam com desconfiança, pré-julgando por conta de ser negro; no ditado popular João os “encarava”.  Em função da herança escravocrata, os seguranças brancos não suportavam essa situação de um negro não baixar a cabeça para eles, e nem temê-los, isso é inadmissível.

            Então os capitães do mato, serviçais do Carrefour, resolveram dar uma lição no negro, diante da câmeras de monitoramento, celulares e a plateia cativa,  como era nos moldes do período da escravidão, nos pelourinhos espalhados pelo Brasil colônia, para que servisse de exemplo para outros negros e negras não ousarem andar de cabeça erguida dentro do supermercado Carrefour. 

          Os seguranças assassinos espancaram João Alberto até matá-lo, e mesmo gritando por socorro, dizendo que não respirava, não conseguiu fazer com que os assassinos parassem, tampouco provocou uma reação contundente na plateia cativa, que impedisse o seu assassinato cruel diante de todos(as). Quando os socorristas do SAMU chegaram ele já havia sido assassinado, não estava mais respirando, as tentativas de ressuscitação foram frustradas. 

            É evidente que houve uma ação deliberada de assassinar João Alberto, pois a violência só cessou quando João parou de respirar, isto é, depois que eles conseguiram matá-lo. Assim tem sido no Brasil, o medo, a apatia, e a nossa desorganização enquanto classe trabalhadora está permitindo a perpetuação dessa barbárie.

            Absurdamente a grande mídia divulgou uma suposta ficha corrida de delitos cometidos por João Alberto. Realmente nos tratam como idiotas, é notório que serve para plantar a divisão na opinião pública, entre os que consideram que ele deveria ter morrido por conta da tal “ficha”, os bolsonaristas, e os que se revoltaram contra a brutalidade cometida.  Assim foi com Marielle Franco, a direita neofascista também tentou vinculá-la às milícias, e assim tem sido no Brasil há séculos: encontrar justificativa para matar negros e negras. Agora vamos supor que a tal ficha corrida exista e que os seguranças a conheciam, então, reforça a tese de premeditação do crime de assassinato.

            Em situação semelhante ao assassinato de João Alberto, foi o assassinato pela polícia de Minneapolis, Minnesota, de George Floyd, nos Estados Unidos em 25 de maio desse ano, em que ele implorava dizendo que não conseguia respirar até ser morto. Uma onda de revoltas e indignação reverberou pelo mundo todo, com slogan: Black Lives Matter (vidas negras importam).

            O assassinato de João Alberto também gerou revoltas pelo Brasil e o aparato repressor do estado foi colocado à disposição para proteger a propriedade privada dos assassinos. Houve prisões, balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio, para conter os que se revoltaram contra o genocídio do povo negro.

 

A resistência do povo negro

            Assim como João Alberto, o povo negro segue na luta de diferentes formas buscando combater a sua escravização. Durante o período colonial as rebeliões de escravos(as) deixavam os senhores escravocratas preocupados, havia muitas fugas, formação de quilombos. O quilombo de Palmares, liderado por Zumbi, em Alagoas no século XVII, foi referência da luta do povo negro, mas existiram muitos outros. 

            A revolta dos Malês, em Salvador, no século XIX, aconteceu na noite de 24 para 25 de janeiro de 1835, foi um levante bastante importante de escravizados de maioria muçulmana. Os malês queriam derrubar e ocupar as estruturas políticas, melhorando as condições de vida do povo negro.

            A partir da segunda metade do século XIX, as rebeliões de escravos cresceram e a pressão dos movimentos abolicionistas, as pressões internacionais, principalmente da Inglaterra contra o governo brasileiro tencionaram para assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888.

            As lutas dos Movimentos Negro Brasileiro não cessaram. De lá pra cá, muitas batalhas têm se travado contra o racismo estrutural no Brasil, que exclui negras e negros das políticas públicas. Os Movimentos Negro Brasileiro       lutam permanentemente pela regularização dos territórios quilombolas, que são alvos da especulação imobiliária e grilagem, fomentação de ações e políticas afirmativas que visa corrigir a exclusão social, ampliação da legislação que possa a fomentar ações contra o preconceito racial como, por exemplo, o Estatuto da Igualdade Racial, são importantes avanços, mas ainda insuficientes.

            Considerando que o sistema capitalista lucra com o racismo, é necessário organização e unificação das lutas antirracista, anticapitalista, antimachista, antifascista, com uma estratégia de poder da classe trabalhadora para combater o capital e libertar a humanidade da opressão e exploração.

 JOÃO ALBERTO, PRESENTE!


 

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