O racismo estrutural no Brasil é composto de práticas históricas, institucionais e culturais de exclusão social, violência policial ditada pelo Estado que tem como alvo a população negra. O genocídio do povo negro está em curso há 520 anos no Brasil. Essas ações violentas estão alicerçadas na herança escravocrata do Brasil colônia. Entre os séculos XVI e XIX a coroa portuguesa usurpou o continente africano trazendo aproximadamente 5 milhões de negros e negras, na condição de escravizados, sob intensa violação de seus corpos, para servir de mão-de-obra nas grandes fazendas produtoras de cana-de-açúcar e mineração, e assim garantir o desenvolvimento da colônia.
Nesses três séculos de escravização sob o regime colonial
o discurso religioso da cristandade serviu para legitimar e dar suporte
ideológico para impor ao povo negro a tortura, estupros e as mais bárbaras
violações dos direitos humanos, visando “convertê-los” à fé “cristã”.
O racismo é inerente ao sistema capitalista, assim como a
homofobia, misoginia e todas as formas de opressão e exploração. O lucro é o
deus do mercado, e para submeter bilhões de trabalhadores(as) é necessário
impor terror e medo, “normalizar” a violência e a exploração, acumular e
privatizar a riqueza produzida pelos(as) trabalhadores(as) na mão de uma elite
perversa.
Por que João Alberto Silveira de Freitas foi assassinado?
João, um homem negro que não baixava o olhar, encarava os racistas e a exclusão que o povo negro sofre historicamente. João olhava nos olhos de seus algozes, não manifestava medo enquanto os seguranças o seguiam pelo supermercado Carrefour, ou olhavam com desconfiança, pré-julgando por conta de ser negro; no ditado popular João os “encarava”. Em função da herança escravocrata, os seguranças brancos não suportavam essa situação de um negro não baixar a cabeça para eles, e nem temê-los, isso é inadmissível.
Então os capitães do mato,
serviçais do Carrefour, resolveram dar uma lição no negro, diante da câmeras de
monitoramento, celulares e a plateia cativa, como era nos moldes do
período da escravidão, nos pelourinhos espalhados pelo Brasil colônia, para que
servisse de exemplo para outros negros e negras não ousarem andar de cabeça
erguida dentro do supermercado Carrefour.
Os seguranças assassinos espancaram João
Alberto até matá-lo, e mesmo gritando por socorro, dizendo que não respirava,
não conseguiu fazer com que os assassinos parassem, tampouco provocou uma
reação contundente na plateia cativa, que impedisse o seu assassinato cruel
diante de todos(as). Quando os socorristas do SAMU chegaram ele já havia sido
assassinado, não estava mais respirando, as tentativas de ressuscitação foram
frustradas.
É evidente que houve uma
ação deliberada de assassinar João Alberto, pois a violência só cessou quando
João parou de respirar, isto é, depois que eles conseguiram matá-lo. Assim tem
sido no Brasil, o medo, a apatia, e a nossa desorganização enquanto classe
trabalhadora está permitindo a perpetuação dessa barbárie.
Absurdamente a grande
mídia divulgou uma suposta ficha corrida de delitos cometidos por João Alberto.
Realmente nos tratam como idiotas, é notório que serve para plantar a
divisão na opinião pública, entre os que consideram que ele deveria ter morrido
por conta da tal “ficha”, os bolsonaristas, e os que se revoltaram contra a
brutalidade cometida. Assim foi com Marielle Franco, a direita neofascista
também tentou vinculá-la às milícias, e assim tem sido no Brasil há séculos:
encontrar justificativa para matar negros e negras. Agora vamos supor que a tal
ficha corrida exista e que os seguranças a conheciam, então, reforça a tese de
premeditação do crime de assassinato.
Em situação semelhante ao assassinato
de João Alberto, foi o assassinato pela polícia de Minneapolis, Minnesota, de George Floyd, nos
Estados Unidos em 25 de maio desse ano, em que ele implorava dizendo que
não conseguia respirar até ser morto. Uma onda
de revoltas e indignação reverberou pelo mundo todo, com slogan: Black Lives
Matter (vidas negras importam).
O
assassinato de João Alberto também gerou revoltas pelo Brasil e o aparato
repressor do estado foi colocado à disposição para proteger a propriedade
privada dos assassinos. Houve prisões, balas de borracha e bombas de gás
lacrimogênio, para conter os que se revoltaram contra o genocídio do povo
negro.
A resistência do povo negro
Assim como João Alberto, o povo
negro segue na luta de diferentes formas buscando combater a sua escravização.
Durante o período colonial as rebeliões de escravos(as) deixavam os senhores
escravocratas preocupados, havia muitas fugas, formação de quilombos. O
quilombo de Palmares, liderado por Zumbi, em Alagoas no século XVII, foi
referência da luta do povo negro, mas existiram muitos outros.
A revolta dos Malês, em Salvador, no
século XIX, aconteceu na noite de 24 para 25 de
janeiro de 1835, foi um levante bastante importante de escravizados de
maioria muçulmana. Os malês queriam derrubar e
ocupar as estruturas políticas, melhorando as condições de vida do povo negro.
A partir da segunda metade do século
XIX, as rebeliões de escravos cresceram e a pressão dos movimentos
abolicionistas, as pressões internacionais, principalmente da Inglaterra contra
o governo brasileiro tencionaram para assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de
1888.
As lutas dos Movimentos Negro
Brasileiro não cessaram. De lá pra cá, muitas batalhas têm se travado contra o
racismo estrutural no Brasil, que exclui negras e negros das políticas
públicas. Os Movimentos Negro Brasileiro lutam
permanentemente pela regularização dos territórios quilombolas, que são alvos
da especulação imobiliária e grilagem, fomentação de ações e políticas
afirmativas que visa corrigir a exclusão social, ampliação da legislação que
possa a fomentar ações contra o preconceito racial como, por exemplo, o
Estatuto da Igualdade Racial, são importantes avanços, mas ainda insuficientes.
Considerando que o sistema
capitalista lucra com o racismo, é necessário organização e unificação das
lutas antirracista, anticapitalista, antimachista, antifascista, com uma
estratégia de poder da classe trabalhadora para combater o capital e libertar a
humanidade da opressão e exploração.
JOÃO ALBERTO, PRESENTE!
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