1) O PRÉ-CONGRESSO NOS
NÚCLEOS:
SEM DEBATE, SEM
DEMOCRACIA E AUTORITARISMO
O VIII
Congresso Estadual do CPERS, ocorrido nos dias 28, 29 e 30 de junho de 2013, em Bento Gonçalves ,
contou com a presença de aproximadamente 1300 delegados (a expectativa era de
1800). Numa conjuntura de lutas, a direção do sindicato não cogitou a mudança
do evento para Porto Alegre. A pauta do Congresso era: Conjuntura, Balanço do CPERS, Movimento sindical,
Educação, Reforma Estatutária, Políticas específicas e Plano de Lutas.
As
plenárias do pré-congresso nos núcleos, que deveriam ser um espaço de amplo
debate político, formulação de resoluções, trocas de ideias e esclarecimentos,
sistematizando para o Congresso as opiniões divergentes e convergentes para
facilitar o debate e contribuir para formação da categoria, não serviu para
isso. Ao contrário. A dinâmica se reduziu a apresentação das teses num tempo
escasso de 5 minutos e, logo em seguida, ocorreu a votação das chapas para o
Congresso, não possibilitando nenhum debate sério e muito menos apresentação de
resoluções para serem encaminhadas ao Congresso. Além disso, colegas que tinham
tese, mas que em alguns núcleos não tinham representação, não puderam
apresentar suas teses, contrariando a democracia sindical. Vimos isso acontecer
no 38º núcleo.
Este método burocrático afasta a base dos
principais debates da nossa categoria, contribuindo para alienação,
despolitização. Não a prepara para enfrentar os ataques do governo e provoca o
distanciamento da categoria do sindicato. Tal como acontece nas eleições
burguesas, a burocracia disponibilizou transporte para carregar as pessoas para
votarem em suas teses. Não vemos a mesma disposição de colocar transporte para
levar colegas para as assembleias de núcleo
como acontece em momentos de pré-congresso. Esta prática deseduca a
nossa categoria e é a descrição exata do que é a burocratização sindical.
2) AUTORITARISMO E MANOBRAS DA DIREÇÃO FIZERAM UM
CONGRESSO PARA REFORÇAR A CONCILIAÇÃO DE CLASSE
O
autoritarismo começou pelo regimento antidemocrático – uma forma de neutralizar
as minorias – em que “os delegados só
poderiam participar com voz e voto dos grupos para os quais tenham sido
indicados nos seus crachás” (indicados por quem?). Os delegados foram
eleitos para o Congresso e não para os grupos. Além disso, as resoluções, para
irem a debate na plenária geral, teriam que ter no mínimo “10% dos votos do grupo”. Esse critério serve para eliminar as
propostas divergentes das minorias do debate da plenária geral do Congresso.
Mesmo com todo esse autoritarismo, as propostas da
Construção pela Base foram aprovadas nos grupos para a plenária geral, porém,
no caderno de resoluções, foram inaceitavelmente suprimidas resoluções da nossa
tese sobre Plano de Lutas, assim como as de outras teses; houveram resoluções
que misturadas em outros pontos de pauta (por exemplo: em conjuntura Nacional
tinha Plano de Lutas; em reforma estatutária tinha resoluções de questões
sindicais). Isto dificultou o acompanhamento dos delegados, serviu para
patrolar discussões e cansar o plenário com intervenções repetitivas e mal
organizadas. Tudo premeditado! A patrola da direção correu frouxa, procurando
ao máximo evitar o debate das resoluções divergentes, fazendo valer somente a
sua posição.
O Plano de lutas, de forma arbitrária e
autoritária, mais uma vez (assim como aconteceu no VII Congresso) foi deixado
para ser discutido no Conselho Geral, com a desculpa esfarrapada do “adiantado
da hora”. A desorganização foi culpa da própria direção, que não organizou as
resoluções que poderiam ser votadas uma contra a outra, fazendo o plenário
perder um tempo precioso. O Plano de lutas era um dos principais debates, que
não deveria ser secundarizado, já que determina nossa luta para o período. O
papel da burocracia consistiu em matar o debate pela raiz. Se opôs a discussão
de um Plano de lutas e agora chama, via
grande mídia, uma greve para agosto. Esta falta de planejamento e organização
não é uma casualidade.
3) SOBRE
AS RESOLUÇÕES APRESENTADAS
A Construção pela Base propôs reformular o Estatuto, argumentando
que todo o sócio que se tornar membro de governo (secretário de educação e coordenadores) seja expulso
do CPERS, porque estão claramente do outro lado da trincheira, são nossos
inimigos de classe. São aqueles que estão aplicando os planos de arrocho
neoliberais previstos no PNE: a meritocracia, a destruição dos planos de
carreiras, a privatização do ensino público e a precarização do trabalho.
Entendemos que é inadmissível a presença de agentes do governo em nossas
assembleias e atividades. Um CPERS independente do governo só pode surgir com a
derrota dos agentes do governo dentro do sindicato. Mais uma vez a direção,
como testa de ferro do governo, utilizou um discurso falacioso de que “que os membros do sindicato podem ter
filiação em qualquer partido”. Esse argumento desvia o verdadeiro foco do
debate, que não era sobre filiação partidária e sim sobre a permanência do
“governo em pessoa” dentro do sindicato. A defesa feita pela direção da
permanência desses “sócios” atesta a sua conivência com o governo Tarso e o seu
interesse em indicar novos candidatos para os altos cargos dos futuros
governos.
A seguinte proposta de
resolução que fizemos provocou também polêmica com a direção: “Nenhuma participação em fóruns
governistas, tais como as comissões paritárias (Conselho Estadual e Municipal
de Educação, Conselho do IPE e outros do mesmo tipo)”. Acreditamos que o CPERS não deve participar desses
fóruns governistas, criados com a intenção de cooptar os dirigentes sindicais
através de benesses, mordomias, cargos no governo. Não são fóruns de negociação,
mas de conciliação com o governo para combater a lutas da categoria. A direção do CPERS se opôs à essa nossa
proposta classista com a clara intenção de manter o vínculos com a
institucionalidade governista e assim garantir pequenos benefícios para si. Isso
não significa que os trabalhadores não possam negociar com o governo, por
exemplo, sempre que houver uma greve. Para isso não é necessário entidades
permanentes paritárias entre patrões, governo e empregados.
Em relação à precarização do
trabalho, propusemos uma política de inclusão dos contratados no plano de
carreira, enquanto a direção defendeu que sejam regidos pela CLT, dividindo a
categoria em celetistas e estatutários.
É de interesse do governo essa divisão em dois regimes de trabalho. Essa
nossa proposta para os contratados passou pela censura burocrática dos 10% dos
grupos, mas não pôde ser apresentada e discutida pelos delegados na plenária
geral em razão das manobras burocráticas.
Entendemos que a defesa dos contratados é uma luta pela unidade da nossa categoria, que
não pode ser vitoriosa dividida como está, com uma parte sem direitos, excluídos
dos planos de carreiras e sem bandeira para conquistá-las. Por isso defendemos
a efetivação dos atuais contratados,
após três anos de exercício efetivo
na profissão, e que as novas
admissões de trabalhadores sejam feitas somente por concurso público, e que os
trabalhadores contratados sejam incluídos nos planos de carreiras. Devemos
ter um só regime de trabalho para a categoria. Temos que lutar juntos contra as
demissões de contratados, denunciar o governo Tarso e sua política permanente
de precarização do trabalho através das “contratações emergenciais”. A defesa
dos concursos públicos por parte da atual direção e da Articulação Sindical
(PT) é uma falácia, pois nenhuma delas luta contra a abertura de novos
contratos emergenciais por parte do governo.
Em relação à abertura do
debate sobre a desfiliação do CPERS da CUT retiramos nossa proposta para apoiar
a resolução da direção no sentido de facilitar a sua aprovação para levá-la à
discussão na base. Porém, defendemos a desfiliação da CUT num sentido oposto ao
da direção. Para as demais correntes da burocracia sindical (CSP-Conlutas e
CTB, por exemplo), trata-se apenas de uma disputa para aumentar sua influência
sobre o aparato sindical, sem mudar a orientação política e o sindicalismo de
cúpula. Para nós, é um momento de discutirmos o papel cumprido pela CUT como
agência do governo, de colocarmos em pauta uma nova forma de organização
sindical, pela base e, sobretudo, uma nova orientação política, classista e
revolucionária, independente do governo e do Estado na prática concreta, e não
apenas nos discursos vazios. As correntes da atual direção do CPERS que não são
ligadas à CUT, tais como CSP-Conlutas e CTB, convivem muito bem com a CUT,
praticando a mesma política e o mesmo sindicalismo, tanto no CPERS quanto em
nível nacional (vide as marchas à Brasília, os programas assinados
conjuntamente, as mesas de negociação tripartite nas obras do PAC, etc.).
Inclusive representantes da CSP-Conlutas defenderam a continuidade do pagamento
à CUT quando propusemos o seu cancelamento em duas assembleias gerais.
Sobre a proposta da
Intersindical (Enlace-PSOL) de orientar a categoria a não votar em Tarso nas
eleições de 2014 acompanhamos um episódio patético. Toda a atual direção – à
exceção da corrente proponente – se colocou contrária a ela, inclusive PSTU e
CS! Tudo, evidentemente, em nome da preservação da unidade burocrática e de
cúpula da atual direção. Nossos delegados votaram à favor da resolução, mas
advertindo que trata-se apenas de uma proposta de caráter eleitoral, e não de
negação do regime democrático-burguês, bem como de rechaço à politicagem
burguesa, demonstrando que ter votado em Tarso nada mudou de concreto em
relação ao governo Yeda e que, portanto, as eleições são apenas um jogo para
desviar o foco de nossa luta e organização independentes. Esta proposta, vinda
de Enlace-Intersindical, só pode significar “Fora PT, viva o PSOL!” em 2014.
Continuaremos orientando a categoria à não votar em Tarso (PT) e em nenhum
outro partido burguês ou reformista, tais como PSOL, PSTU, PCB, uma vez que a
sua atuação oportunista nos sindicatos é uma demonstração concreta do que farão
nas instituições da burguesia. Mais do que não votar em Tarso, orientamos a
categoria a não depositar nenhuma confiança nas eleições e nas instituições da
democracia burguesa, porque estas são controladas pelo poder financeiro do
grande capital. Devemos confiar apenas na força de nossa organização
independente do governo e do Estado burguês. A libertação da classe
trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora organizada e consciente!
4) A BUROCRACIA SINDICAL DO CPERS E AS NOVAS
MOBILIZAÇÕES DE RUA
Mesmo o Congresso tendo deliberado pela
participação do CPERS nas grandes lutas contra o aumento das passagens, a
categoria continua indo para os atos por conta própria, sem contar com uma
organização do sindicato, sem trabalho de base no sentido de organizar as
escolas e a comunidade escolar. A estrutura sindical, que deveria estar à
serviços das lutas em curso, está absolutamente inoperante. Quem perde com o
imobilismo do CPERS não é apenas a nossa categoria, mas toda a classe
trabalhadora.
Podemos resumir da
seguinte forma: um Congresso marcado pela patrola da burocracia sindical contra
as minorias divergentes, pelo fortalecimento do governo em nosso sindicato,
pelo agravamento da divisão da categoria, pela continuação do CPERS como um
sindicato que serve à conciliação de classe. É preciso olhar a realidade de
frente e combater as ilusões. O nosso sindicato está tomado por uma burocracia
sindical à serviço do governo. O atual movimento da juventude no Brasil é um
prenúncio de novos tempos. É preciso não se deixar sugestionar pela ação da
burocracia e pelo desânimo! Não temos alternativas senão lutar! Nossa oposição
seguirá firme, com a bandeira hasteada, até a expulsão total destes agentes do
governo de dentro do CPERS, quando, finalmente, ele será um sindicato classista
e controlado pela base. Chamamos a todos os colegas conscientes e honestos para
que venham somar forças com a nossa oposição!
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