A RELAÇÃO DO
“DECRETARSO” COM A REFORMA DO
ENSINO MÉDIO E A AVALIAÇÃO POR
DESEMPENHO
Os eixos
aprovados no Conselho Geral do CPERS no dia 20/01/2012 omitem a gravidade e as
consequências do decreto do governador Tarso sobre a vida dos educadores. Com o
“decretarso”, o governo seguiu a risca as orientações do Banco Mundial dando o
golpe de misericórdia na estabilidade do emprego dos funcionários públicos da
educação através da aplicação da famigerada avaliação de desempenho (leia-se:
meritocracia) que responsabiliza os educadores pela evasão e repetência dos
alunos, tal qual Yeda tentou muitas vezes e outros governadores já
concretizaram.
As implicações da avaliação de
desempenho não estão sendo denunciadas pela direção do CPERS e nem pelas demais
correntes internas que se dizem de “oposição”. É preciso deixar claro a todos
os trabalhadores em educação que a estabilidade está ameaçada pelo
“decretarso”. A pontuação da avaliação servirá para os governos perseguir,
chantagear com a demissão qualquer contestação, retaliar os trabalhadores que
participarem do movimento sindical e, por fim, exonerá-los. Isto não é
exclusividade dos servidores públicos estaduais. A PLP 248/98 que tramita na
Câmara dos Deputados, que Dilma pretende aplicar aos servidores federais, traz
também uma prova de “avaliação de desempenho” que tem a mesma finalidade de
criar as condições para as demissões dos servidores públicos, confirmando o seu
discurso de posse que aplicaria a meritocracia nos serviços públicos federais.
Certamente que o governo Tarso não
exonerará imediatamente. Trata-se da preparação psicológica, política,
econômica e jurídica para as exonerações no futuro próximo, seguindo os passos
dos estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Ceará) que já
aplicam as diretrizes do Banco Mundial, expressas no Plano Nacional de Educação
(PNE). Genericamente podemos dizer que primeiro serão as remoções de escolas, a
redução da carga horária de educadores (sobretudo dos educadores contratados e sindicalistas),
depois virá a imposição da avaliação aos nomeados, que serão demitidos quando a
necessidade assim ordenar – seja pela retaliação política ou simplesmente pelo corte
de gastos públicos, para destinar esta verba aos grandes bancos falidos
continuarem especulando e lucrando (isto é, seguir a orientação internacional
do capitalismo em crise). No Ceará, que já legalizou as demissões, acompanhamos
o caso do Professor Macarrão, demitido por fazer greve e lutar junto ao
movimento estudantil. Assim como outros educadores de diferentes estados e, até
mesmo no nosso, são remanejados de suas escolas e têm reduzidas arbitrariamente
as suas horas após terem participado de greves e da organização das lutas
estudantis. Temos a certeza de que o “decretarso”, com a instituição da
“avaliação de desempenho”, é o primeiro passo do desmonte do nosso plano de
carreira e do fim da estabilidade no emprego.
IRREGULARIDADES
NO CONCURSO DO GOVERNO TARSO DO PT
O concurso
público do magistério que está sendo promovido pelo governo Tarso, previsto
para abril de 2012, é mais um presente de grego do que o atendimento a uma
reivindicação da categoria. O concurso não atende nossas reivindicações pelo
fato de legitimar o emblocamento das áreas como está previsto na Reforma do
Ensino Médio, tendo em vista que o professor não pode se inscrever na
disciplina de formação e sim na sua “área”, e serve também para consolidar o
calote do Piso Salarial Nacional, já que o salário que consta no edital descumpre
a lei, caracterizando a verdadeira intenção do governo em não pagar o Piso.
Além disso, apontamos outros pontos para a reflexão, tal como o valor da
inscrição do concurso ser um roubo (R$121) para uma categoria de salários
arrochados, para professores desempregados ou subempregados, e a questão da
“hora-aula” e “hora-relógio” que não é tratada no edital (tal como nos aponta o
informe jurídico distribuído no Conselho Geral). O concurso não supre a demanda educacional,
pois o número de vagas não repõe o total de contratos emergenciais (o governo
abriu apenas 10 mil vagas para um total de mais de 20 mil contratados – o
número é aproximado, pois o governo os maquia), e no mesmo período (13/01 à
18/01/2012) o governo abre inscrição para contrato emergencial, mostrando sua
verdadeira face que é continuar precarizando as relações de trabalho e
sucateando a educação pública.
A nossa luta é
contra o desmonte da educação pública, para evitar que os capitalistas joguem
os custos da sua crise sobre nossos ombros; não em discursos demagógicos, mas
em ações políticas concretas, através de um trabalho permanente nas escolas,
com formação política à categoria e à comunidade escolar, esclarecendo-as sobre
as políticas do Banco Mundial e seus governos, no sentido de consolidar a
resistência para enfrentar os ataques de forma organizada. A direção do CPERS
omite-se de fazer este trabalho e não esclarece a ligação que existe entre
todas as reformas decretadas por Tarso (Avaliação por desempenho – “decretarso”
–, Reforma do Ensino Médio, Fundos complementares da previdência...) com as
políticas neoliberais do Banco Mundial e o seu Plano Nacional de Educação
(PNE), cujos executores são Dilma e Tarso do PT, cumpridores das ordens do
imperialismo no Brasil e no Estado.
Uma direção
sindical que não alerta a sua categoria para todas as implicações políticas de
uma ação de governo não é uma direção séria, mas cúmplice do governo; não
esclarece e conscientiza a sua base, mas a deixa à mercê do que diz o governo e
a mídia comercial. Este silêncio conivente do CPERS em relação às implicações
do “decretarso”, da Reforma do Ensino Médio e das irregularidades do concurso,
aprofunda a consciência imediatista da categoria, deseducando-a do espírito
crítico e incentivando-a a aceitar qualquer migalha como “boa”.
QUE DENÚNCIA DO
GOVERNO TARSO DEVERIA SER
FEITA NOS OUTDOORS?
Mesmo vendo
que com o “decretarso” de final de ano os trabalhadores em educação engoliram
um “novo sapo” do governo – o início do processo de desmonte do plano de
carreira e da estabilidade do funcionalismo público –, a direção do CPERS foi
incapaz de fazer uma denúncia contundente do governo. Os outdoors que foram
espalhados por diversas regiões não falam nada além do óbvio, mantendo o nível
político dos educadores e da população exatamente no mesmo lugar. A direção do
CPERS, comprometida com o governo – apesar do discurso demagógico em contrário –,
não vai além do óbvio para continuar evitando o desgaste do seu governo. Que
“Tarso é mais um inimigo da educação” já está bastante visível. Aplicou o
“Pacotarso”, o “decretarso”, a Reforma do Ensino Médio, caloteou as RPVs,
descontou os dias de greve, dentre outros. Fizemos uma greve no final do ano
que ajudou a avançar nessa compreensão. Mas ao invés de ir além, a direção do
CPERS puxa pra trás.
No último
Conselho Geral, do dia 20 de janeiro, a direção do sindicato diz que “aprovou a continuidade da campanha de
denúncia e esclarecimento em relação à política educacional do governo Tarso”.
Mas não podemos chamar de “esclarecimento” uma prática de falar obviedades.
Nesse caso, estaríamos rebaixando o conteúdo da palavra “esclarecimento”.
Achamos que devemos “esclarecer” a categoria de outra forma. Defendemos,
através de um panfleto com as nossas propostas para o Conselho Geral, que
inclusive foi entregue à mesa, como deveria ser a propaganda do CPERS nos
outdoors: “O eixo que deve constar nos
outdoors é o seguinte: ‘Tarso governa para o Banco Mundial contra a educação
pública: governa por decreto, destrói a educação pública com suas reformas
neoliberais e ataca os direitos dos educadores”. Ao invés de se discutir
questões como estas neste Conselho Geral ampliado, perdeu-se um tempo precioso
numa luta estéril entre as alas da burocracia sindical por moções políticas ora
contra a direção (PT-DS, PSOL, PSTU, PSB, CS), ora contra a “oposição de
direita”, Articulação Sindical (PT).
Compreendemos
que não se pode desvincular o governo Tarso do Banco Mundial, uma vez que o
primeiro é o agente do segundo. E isso não se pode dizer só em nível de
vanguarda, mas de toda a categoria e para todo o povo. Isto é o que entendemos
por “esclarecer” politicamente a categoria e a população, desfazer suas
ilusões, mostrar os verdadeiros inimigos e preparar seu espírito para a luta
contra eles. O que é dito nos outdoors, portanto, é uma prestação de contas
burocrática para a base, sem nenhum compromisso real contra o governo Tarso e
pelo “esclarecimento da categoria”.
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