A publicação de uma reportagem em Zero Hora sobre os
problemas enfrentados pela turma 11F da Escola Estadual Julio de Castilhos, o
Julinho, foi o pretexto utilizado pelo governo Tarso para abrir uma
sindicância contra a escola, fato este repudiado pela comunidade escolar.
Utilizando-se da desculpa de que vai “apurar os fatos”, a SEDUC pretende criar
as condições para uma intervenção na escola, liquidando de vez com a precária
autonomia escolar e gestão democrática. Essa prática intimidatória tem sido utilizada
pelos governos burgueses de diversos estados para cercear as reivindicações dos
educadores contra as reformas neoliberais. Como tantos outros, também
denunciamos esse autoritarismo que consiste em transferir a responsabilidade do
governo para os professores. O problema do Julinho é fruto do descaso do
governo com a educação e ocorre em todas as escolas: falta de professores,
problemas de aplicação da Reforma que rebaixa o ensino público e que foi
imposta goela baixo, problemas estruturais e curriculares, que tendem a
continuar e se agravar. A sindicância no Julinho é uma farsa, porque o governo
não vai culpar a si mesmo. Serve apenas como bode expiatório para posar como
grande gestor dos serviços públicos perante a opinião pública.
O Secretário de Educação José Clóvis teve a desfaçatez de
afirmar que os problemas descritos ocorrem somente no Julinho e que os professores
estão entusiasmados com a Reforma do Ensino Médio. Isso é uma grande
falsificação, pois os únicos professores “entusiasmados” com ela são aqueles
que a SEDUC coopta e tenciona de diversas formas para que dêem os seus “livres”
depoimentos em cursos e palestras. A comunidade escolar rechaça profundamente
essa reforma. Não há um único professor ou aluno, sério e honesto, que não
perceba que a Reforma é uma grande artimanha para facilitar a aprovação e
maquiar os índices educacionais, para continuar recebendo os recursos do Banco
Mundial. Essas mentiras do secretário demonstram o seu compromisso com a
privatização do ensino sob orientação do Banco Mundial e que é um inimigo da
educação pública, que deve ser expulso das fileiras do CPERS.
Novamente o secretário culpa os contratados pela “falta de
professores”. Estes, na verdade, são vítimas das políticas neoliberais que o
governo Tarso mantém e aprofunda. Os concursos públicos foram utilizados como
jogo político pelo governo e não supriram toda a carência da rede pública. Os
contratos emergenciais seguem e seguirão como política preferencial de
admissão, uma vez que os governos neoliberais preferem este tipo de relação
precária de trabalho. A rede pública, ao contrário de suas declarações,
continua tão precária quanto no governo Yeda, basta visitar as escolas ou
consultar os educadores e alunos.
O
governador demagogicamente declarou na mídia burguesa que os “diretores aqui no Estado são
eleitos e têm autonomia para aplicar a reforma”. Tarso enrola a opinião
pública, porque o fato de haver eleição para diretores (cada vez mais ameaçada)
não significa autonomia. Atualmente a tal “autonomia” só serve para impor as
ordens impostas pela SEDUC, isto é, para aceitar e aplicar a Reforma do Ensino Médio
sem direito de optar pela sua não aplicação. Serve também para impor a mão de
ferro da SEDUC sobre tantas outras questões, mediante ameaças abertas ou
disfarçadas. O governador Tarso do PT afirma que se trata de uma “batalha ideológica dentro da categoria”,
como se ele, a SEDUC e a RBS também não tivessem ideologia e tudo o que falam a
respeito do ocorrido com a turma 11F do Julinho e sobre a Reforma do Ensino
Médio não fosse ideológico, isto é, a ideologia da burguesia, do capitalismo
liberal. O governo também intervém nessa “batalha
ideológica dentro da categoria” através
dos seus agentes no interior do CPERS, fato que omite.
Há que se perguntar também porque Zero Hora publicou
essa reportagem nesta época do ano e a esta altura do governo Tarso? Por acaso
esses problemas não existem há no mínimo 2 anos, desde o início da aplicação
dessa Reforma nefasta? No início do governo, ZH não tinha uma posição
supostamente “neutra”, mas de total apoio à Reforma, um projeto do Banco Mundial?
Que interesse tem ZH em publicar este tipo de reportagem? Seria melhorar a
educação pública ou trata-se de disputas políticas entre a burguesia gaúcha
pelo controle do Estado? A RBS está interessada em desgastar eleitoralmente o
governo Tarso do PT para favorecer a candidatura de Ana Amélia Lemos do PP,
isto é, a candidatura alternativa da burguesia ao governo. Hoje publica essas
irregularidades, mas uma vez no governo cumprirá o mesmo papel que cumpre hoje
o governo Tarso, de continuar honrando os pagamentos das dívidas com o
imperialismo, de sucateamento da educação e saúde públicas, de aplicação das
“reformas” do Banco Mundial. Outro objetivo sutil dessa série de reportagens é
instigar o preconceito às lutas reivindicatórias dos educadores e de tencionar
o governo para que acabe com o Plano de Carreira, e com as “10 faltas
justificadas” por ano, etc.
Os
trabalhadores em educação e os estudantes do Julinho e das demais escolas devem
ficar atentos para não comprar gato por lebre, nem serem utilizados em uma luta
escusa que nada tem a ver com os seus próprios interesses. A luta contra a
sindicância no Julinho deve ser contra essa farsa montada pelo governo Tarso e,
também, contra a manipulação da mídia burguesa a serviço das políticas liberais
contra a educação pública. Somente os trabalhadores têm interesse numa educação
pública de qualidade e autoridade para criticar os problemas existentes, que
são de inteira responsabilidade do governo.
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