O
fascismo tem possibilidade real de voltar ao poder nestas eleições. É o que
alguns intelectuais estão chamando de “suicídio da democracia”. A crise
econômica do capitalismo levou à crise política que há tempos se expressava no
desgaste dos políticos e dos partidos burgueses. Habilidosamente, a burguesia
conseguiu jogar a sua responsabilidade para os ombros da “esquerda” e do
“comunismo”. É claro que, para isso, contribuiu a estratégia política do PT,
que se adaptou completamente ao capitalismo, tolerando e fortalecendo essa
direita.
Não damos vazão ao debate que tenta
minimizar o fascismo em ascensão dizendo que não podemos usar essa definição.
Os fascistas do futuro não vão ter o estereótipo de Hitler ou Mussolini, nem o
discurso e os símbolos de um “Estado totalitário”. Uma das principais
características do fascismo atual é que não é possível um debate coerente.
Impera o irracionalismo e a manipulação de emoções infantis. Os fascistas, no
geral, não sustentam nenhum argumento seriamente até o fim, reproduzindo, como
papagaios, o que vem de cima. Utilizam-se do ódio mal resolvido, da repressão
moral e sexual da grande massa; sobretudo por parte da religião organizada.
Alguns métodos do novo fascismo
brasileiro começam a se esclarecer: manipulação das redes sociais, algoritmos e
fake news baseada no misticismo
evangélico. Com o poder do Estado na mão, "legitimado" pelas urnas,
virá a repressão policial, a proibição dos movimentos sociais e de
trabalhadores, a repressão ideológica, a imposição do moralismo sexual e
religioso, a tortura física e psicológica, até os assassinatos
"seletivos" (feitos por terceiros, mas legitimados pelo governo). Tudo
em nome de quê? Da aplicação do ajuste
fiscal para "salvar" o capitalismo da crise. Discursando contra a
"ditadura comunista", os neofascistas enfiarão goela abaixo do país o
ajuste fiscal, mantendo o Brasil como plataforma de exportação de matérias-primas,
usando a repressão do povo e daqueles que resistem, como as últimas ferramentas
que a classe dominante e o imperialismo têm para manter seus privilégios e
aumentarem seus lucros a qualquer custo.
O capitalismo chegou numa nova fase da sua
degeneração. Quer retirar todos os direitos sociais, acabar com a farsa do
Estado de "bem estar social" (que foi uma resposta à União Soviética,
que hoje não existe mais). Nos distraem com o discurso paranoico e falso sobre
a Venezuela para preparar melhor o terreno ao regime de exploração típico do
sudeste asiático, como o capitalismo chinês, que paga 1 dólar por dia aos seus
trabalhadores e tem lucro recorde para todas as multinacionais que lá operam.
Além disso, quer o "Estado mínimo" (leia-se: destruir os serviços públicos)
para garantir as verbas federais ao sistema financeiro e ao agronegócio. A
burguesia imperialista e nacional não podem mais usar o teatrinho democrático de “instituições respeitadas” e direitos
humanos: precisam do fascismo aberto e declarado (de segunda ordem, é claro,
tipo Pinochet)! Esta é a raiz da crise atual.
Há muito tempo isso vem sendo preparado. Mais
especificamente, desde a eleição de Donald Trump e outros governos neofascistas
pelo mundo. O irracionalismo é plantado conscientemente: falam contra a
corrupção pra melhor manter a corrupção do sistema financeiro e do próprio
capitalismo; falam contra a “ditadura comunista” para melhor implantar uma
ditadura capitalista pra salvar os privilégios dos bancos, das grandes
empresas, do agronegócio e dos próprios políticos.
O voto crítico em Haddad e a
democracia burguesa
Sabemos que as eleições nesta
democracia dos ricos é um jogo de cartas marcadas. Repetidamente esta “democracia”
se torna uma ditadura escancarada quando sobrevém os períodos de crise
econômica. Não temos ilusões na candidatura do PT. Sabemos que preparam um
ajuste fiscal em um ritmo mais lento do que a de Bolsonaro (PSL). No entanto, o
voto nulo não é um princípio para nós.
Chamamos voto crítico na candidatura
do PT no sentido de preservar as liberdades democráticas mínimas e atrapalhar,
como é possível no momento, a ascensão fascista. Sabemos do caráter burguês do
PT e do PCdoB e de todos os seus planos de administração do capitalismo, o que
inevitavelmente acarretará novas ascensões da extrema direita no futuro. Se
eleito, no entanto, estaremos na primeira fila para lutar contra as suas
medidas “democráticas” de administração do capital. Embora entendamos os motivos
do voto nulo e respeitemos os motivos de quem o levanta, justamente por não ser
um princípio, achamos equivocado defendê-lo nesse momento. Faremos campanha por
um voto crítico sem sustentar a política e o programa petista, que
compreendemos estar condenado pela experiência histórica.
O ódio ao PT representa um ódio aos
pobres, aos negros, aos ex-escravos, aos trabalhadores em geral. A “luta contra
a corrupção” desta classe média e da elite esconde, na verdade, a defesa dos
seus privilégios de classe. Elas sabem perfeitamente que não estão lutando
contra a corrupção, mas usando-a como um escudo para defender os seus interesses.
Eles querem a ditadura conscientemente e, para isso, se usam deste argumento. A
elite e a classe média estão pouco se lixando para uma repressão fascista contra
o povo pobre. Ao contrário, querem isso para “colocar o populacho no seu lugar”
e preservar os seus privilégios ameaçados pela crise do capitalismo. Sabemos
que a ditadura irá se impor primeiro nas periferias e nas favelas, para se
estender ao movimento sindical e os locais de trabalho.
O PT, na contramão disso tudo, tenta
sustentar o regime democrático burguês, que desmorona como um castelo de areia.
Quanto mais é desrespeitado, mas se apega às suas regras. A crise econômica
capitalista exige um novo regime político e o PT se nega a se preparar para
essa luta. Os reflexos inevitáveis estão no seu sindicalismo, sustentando pela
CUT. A justiça está totalmente controlada por esta direita, que não tem
escrúpulos em usá-la politicamente. A vitória eleitoral do fascismo lhes
deixará com as mãos livres para aplicarem todo o ajuste fiscal, retirar
direitos, aumentar seus privilégios e reprimir os trabalhadores e os movimentos
sociais. A vitória de Haddad, por outro lado, justamente por se apegar às
regras do jogo democrático burguês, não deterá a ascensão dessa direita, que se
sente “empoderada” para atacar trabalhadores, mulheres, negros, LGBTTs. Por
tudo isso, o foco das nossas tarefas para o próximo período deve estar na preparação
de uma frente única de resistência.
Organizar a luta contra o
fascismo: preparar a frente única contra a ditadura militar!
Todas as propostas de frente
anti-fascistas levantadas até o momento se resumem à frentes eleitorais para a
eleição de Haddad. Somos contra esse tipo de frente, que é estéril e só pode
preparar nossa derrota e novas frustrações. É preciso construir frentes
antifascistas que desenvolvam ações
coordenadas de autodefesa, informações, inteligência, solidariedade,
formação política, agitação e propaganda, em todos os locais em que isso for
possível, desde os sindicatos e locais de trabalho, até as escolas,
universidades, bairros e vilas.
Por política de frente única deve-se
entender, antes de tudo, uma ação comum, com trabalhadores de partidos
reformistas, social-democratas e sem-partido, dentro e fora dos sindicatos.
Grande parte da burocracia sindical dirigente está apegada ao regime
democrático-burguês em desmoronamento, tal como um náufrago a um pedaço de
madeira. Ridiculariza o debate sobre a autodefesa. Para enfrentar a real
gravidade da situação, precisamos de frente únicas que superem o método de
organização desenvolvido até hoje pelo sindicalismo oficial. Temos que organizar
reuniões democráticas e amplas. Todos devem defender todos e sair em
solidariedade em caso de agressão, calúnias e outras formas de ataque fascista.
A organização de frentes
antifascistas deixa claro que estamos numa conjuntura defensiva. Será preciso
resistir por um período longo, até conseguirmos tomar a ofensiva. A propaganda
e a agitação, somada à autodefesa, assumem o primeiro lugar. No campo da
agitação e propaganda é fundamental desmascarar o programa do ajuste fiscal e
os métodos autoritários que o capitalismo precisa impor para se manter,
demonstrando desde já os verdadeiros culpados: o capitalismo, a burguesia e o
seu ajuste fiscal.
A situação atual, por mais
desesperadora que pareça, também abre grandes possibilidades de mobilização e de
luta contra a direita e o capitalismo, desde que compreendida em profundidade e
bem utilizada.
Defendemos:
- Voto crítico em Haddad
(PT) pelas liberdades democráticas mínimas: nenhuma confiança no seu programa
econômico de administração do capitalismo e no seu governo!
- Combater o fascismo sem
vacilação: organização de frente única com todos os setores que se dispuserem a
tal!
- Contra o ajuste fiscal e a
fascistização da política e da economia: denunciar amplamente o seu programa,
os seus métodos e os seus objetivos!
- Que os sindicatos
organizem frentes únicas contra a ditadura militar que se avizinha! Se a
direção do CPERS não cumprir esta tarefa, que seja imediatamente destituída!
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