30 de jul. de 2014

CONTRA O VOTO ÚTIL PARA A BURGUESIA: VOTE NULO CONSCIENTE!

            As eleições de outubro se aproximam. Velhas promessas são requentadas para iludir o povo e “novas” são criadas. Frente ao desgaste dos políticos, dos governos e das eleições, a grande mídia já iniciou uma campanha pelo “voto útil”, condenando o “voto nulo” e estimulando a consciência pequeno-burguesa e individualista da população. Disseminam a ilusão de que se deve votar obrigatoriamente em um candidato para que o voto seja “válido”, ou para evitar a vitória de outro (como o discurso da “volta da direita”, propagado pelo PT). Mas não existem diferenças profundas entre os programas. Todos os partidos destas eleições fazem parte de um mesmo sistema eleitoral corrompido, se beneficiando dele de alguma forma, não o denunciando (como se esperaria dos partidos de “esquerda”) e se coligando direta ou indiretamente.

Portanto, na atual conjuntura, votar em algum candidato para “validar” o voto é legitimar o seu programa em benefício da burguesia e de retirada dos direitos dos trabalhadores. O discurso do voto útil é a nova cadeia ideológica que mantém os trabalhadores como escravos modernos, votando de 2 em 2 anos naqueles que vão lhe explorar, com a ilusão de que o voto dentro desta “democracia” muda alguma coisa.


AS ALIANÇAS ELEITORAIS

       É baseado nessas ilusões complacentes que o governo Tarso (PT) vai tentar a reeleição, sustentado por uma aliança com PCdoB, PTC, PROS, PPL, PTB e PR. Os 4 anos de governo Tarso foram a continuidade do governo Yeda (PSDB): planos de austeridade e de retirada de direitos (o Pacotarso); não pagamento do Piso e o início da destruição do Plano de Carreira; início da aplicação do Plano Nacional de Educação (PNE), que é o plano neoliberal de privatização da educação pública; utilização dos concursos públicos como moeda de troca de seus interesses políticos; repressão aos movimentos sociais (principalmente em junho de 2013); isenção de impostos e lucro recorde aos bancos e empresas, tais como a Elbit System (empresa israelense que financia o genocídio palestino na Faixa de Gaza); escândalos de corrupção que foram abafados pela habilidade política e jurídica do governador (operação Kilowatt e FDRH). O governo Tarso governou à margem de muitas leis, aplicando “reformas” por decreto, administrando os negócios do grande capital e impondo os planos do Banco Mundial para concretizar os planos neoliberais que Yeda não conseguiu, em razão do apoio de CUT, UGES, UMESPA e de outros movimentos sociais. Em nada se diferencia do governo Lula/Dilma e de FHC em nível nacional. Ajudou a burguesia a passar os custos da crise capitalista para os ombros dos trabalhadores. Caso seja reeleito, todos estes projetos se aprofundarão. O partido da candidata à vice da chapa de Tarso, o PCdoB, está coligado com o PSDB no Maranhão e recebeu o apoio de Ana Amélia Lemos (PP) à candidatura de Manuela D’ávila para a prefeitura de Porto Alegre nas eleições de 2012. O PTB, ativo partido no esquema do mensalão, foi base do governo Yeda no RS. Os demais partidos são siglas burocráticas de aluguel, interessadas apenas no aparato estatal. É por isso que o discurso de “votar no PT para evitar a volta da direita” (seja com Aécio ou com Ana Amélia) é uma grande artimanha para iludir os trabalhadores e ganhar o seu “voto útil”. Os seus programas políticos são idênticos!

       A candidatura de Ana Amélia Lemos (do PP, partido de Paulo Maluf e de Jair Bolsonaro) conta com o apoio do PSDB, PRB (o partido da Igreja Universal, que foi base aliada do primeiro mandato do governo Tarso e está coligado com o PT a nível nacional para reeleger Dilma) e Solidariedade (o “novo” partido da mafiosa Força Sindical). O PP representa os interesses da velha oligarquia rio grandense e brasileira. Foi base aliada do governo Lula e do governo Dilma (PT). Caso seja eleito para o governo do Estado dará continuidade aos projetos de Yeda e de Tarso, tal como apoiou todos os projetos e “reformas” neoliberais do governo Lula e Dilma; apenas será menos demagógico com os movimentos sociais. O discurso petista de votar em Tarso para evitar a volta da direita carece de sentido lógico e só serve para ocultar este cinismo: o PP é base de sustentação do governo Dilma (PT) e de todo o seu projeto político; ambos têm o mesmo programa político, com discursos aparentemente diferentes. Por que legitimá-los? Que diferença faz votar no PT para “evitar a volta da direita” se todos os partidos deste páreo estão coligados de uma maneira ou outra e defendem o mesmo programa? As coligações anulam o argumento do “voto útil” porque todos estes partidos burgueses estão juntos contra os trabalhadores, seja a nível nacional ou estadual.

       Já o PSOL relançou a candidatura de Roberto Robaina em uma coligação com o PSTU, sustentando um discurso aparentemente progressivo, prometendo romper com o pagamento das dívidas do Estado e o pagamento do Piso aos educadores gaúchos. Contudo, o PSOL e o PSTU não se propõem a uma luta revolucionária, independente das ilusões e das engrenagens políticas da democracia burguesa. Não lutam contra as burocracias sindicais, mas fazem parte delas. O PSOL e o PSTU seguem a mesma estratégia eleitoreira e reformista que levou o PT a transformar-se no que ele é hoje, apenas com um discurso aparentemente mais radical. Nos sindicatos protagonizam alianças espúrias e praticam um sindicalismo economicista e de cúpula. Tanto é assim que dentro do CPERS estão “coligados” com PT (CUT pode Mais) e PSB, apoiando toda a política oficial da CUT e da CNTE (em outros sindicatos do país se coligaram com Articulação Sindical-PT e PCdoB), inclusive sendo conivente com a aprovação do PNE. Sem falar no escândalo do financiamento das grandes empresas, tais como Gerdau, Zaffari, Marcopolo e Taurus, para a campanha eleitoral de Luciana Genro, e na coligação com o PCdoB nas eleições de 2012. Deste modo é impossível ser independente e lutar por uma “nova política”. O “socialismo” de PSOL e PSTU é dos dias de festa, sem choque com a burguesia e as burocracia sindicais. Eles servem apenas para dar um “colorido” legitimador para a democracia burguesa.

       A candidatura de José Ivo Sartori, do PMDB, conta com o apoio de PSD, PPS (que foi base de sustentação do governo Yeda), PSB (ex-base de sustentação do governo Dilma e de Tarso no RS), PHS, PTdoB, PSL e PSDC (todas siglas de aluguel). O PMDB e o PSD estão apoiando a reeleição de Dilma, enquanto que aqui no Estado fingem ser oposição. Além disso, o PMDB foi o partido que mais vezes governou o RS, deixando uma herança de privatização e de destruição dos serviços públicos: Pedro Simon, Sinval Guazelli, Antônio Britto e Germano Rigotto.

Vieira da Cunha, por sua vez, concorre pelo PDT em uma aliança com o PSC (do deputado-pastor Marcos Feliciano), Democratas (ex-PFL, que apoiou todas as privatizações do PSDB), PV (de Zequinha Sarney) e PEN (que apóia Aécio Neves do PSDB). Até as vésperas desta campanha eleitoral o PDT foi base de sustentação do governo Tarso e apoiou todos os seus ataques aos direitos dos trabalhadores. Em nível nacional apóia a reeleição de Dilma. O PDT já governou o Estado com Alceu Collares, que dentre outros ataques aos serviços públicos, sucateou e destruiu a educação pública com o seu calendário rotativo.

Duas legendas de aluguel – PRTB e PMN –, mesmo sem nenhuma diferença programática com os outros partidos burgueses, lançaram seus candidatos ao governo do Estado para se valorizar, sem coligação com outros partidos (pelo menos no 1º turno). O PRTB lança o nome de Edison Estivalete, se vendendo como “renovação”, mas foi base aliada do governo Dilma e apoiou todos os seus ataques aos trabalhadores, além de ser a sigla de Joaquim Roriz, famoso corrupto do Distrito Federal. Já o PMN lança um ex-membro do PFL, João Carlos Rodrigues, para governador. O PMN também foi base de apoio de Dilma e agora apóia a eleição de Aécio Neves. Também é a atual sigla da empresária do agronegócio Jaqueline Roriz, filha de Joaquim Roriz.

O PCB apresenta a candidatura de Humberto Carvalho, que faz um debate despropositado, levantando doutrinariamente velhas “receitas prontas” descoladas da realidade concreta dos trabalhadores, sem entrar no mérito dos ataques dos atuais governos. Lamenta a divisão eleitoral dos partidos reformistas, que segundo o PCB, deveria sair unificada em uma “frente de esquerda” (que o incluísse). Na política prática vai a reboque do PT e das suas organizações sindicais, reforçando a política burocrática dentro dos sindicatos. Basta olhar a atuação da Unidade Classista, a corrente sindical do PCB dentro do CPERS.

Os candidatos a deputados e senadores seguem a mesma lógica dos seus partidos e das suas coligações.


VOTO ÚTIL X VOTO NULO

       Nestas eleições os trabalhadores não terão alternativa novamente. Todos os partidos apresentados estão coligados, de uma forma ou de outra, apresentando um programa burguês ou reformista. Em sua maioria, já governaram o país e o Estado, direta ou indiretamente. Seus governos foram apenas balcões de negócios para a burguesia e representaram o aumento da miséria e do sofrimento dos trabalhadores. Frente a isso o voto nulo é uma necessidade, pois é o único voto de protesto possível frente à identidade geral entre todos os programas políticos e a democracia burguesa.

       Não existe a proclamada mudança através do voto. Este é o único “caminho” que a mídia e os governos nos apresentam porque nos leva à passividade política e à crença de que votar de 2 em 2 anos em candidatos selecionados e tolerados pela burguesia pode mudar a nossa vida sem mexer na estrutura econômica e política do país. As eleições são controladas pelo poder econômico dos bancos e das grandes empresas, principalmente as multinacionais. Esta forma cômoda e pacífica de “mudar a sociedade” é uma ilusão que prepara inúmeras armadilhas, reforçando a lógica de que um indivíduo eleito – uma espécie de “messias” – vai resolver todos os problemas dos trabalhadores sem que precisemos nos mobilizar para cumprir o nosso protagonismo, que é indispensável. Estas ilusões são alimentadas de diversas formas, renascendo sempre das desilusões eleitorais e das derrotas das lutas, fruto das traições dos partidos reformistas.

Queremos debater caminhos alternativos ao mero voto do PT ou nos demais partidos burgueses e reformistas “para evitar a volta da direita” ou para uma renovação fictícia. É preciso romper com o caminho da alienação política, do comodismo e do egoísmo. Já bastam os 20 anos de desilusões com a democracia burguesa. Precisamos organizar o caminho da luta e da auto organização independente dos trabalhadores nos sindicatos, movimentos sociais, em partido revolucionário, para construir a revolução socialista: única forma de acabar com as desigualdades sociais, a corrupção e a politicagem burguesa.

       Sabemos que falta organização e conscientização para isso. Ainda é preciso percorrer um longo e árduo caminho. Muitas condições precisam ser criadas: retomar os sindicatos das burocracias sindicais, varrer o oportunismo da nossa trincheira, aumentar o nível político dos trabalhadores, nos reorganizarmos politicamente, organizar a autodefesa para uma insurreição popular, etc. Nenhum partido ou frente eleitoral de “esquerda” fará esse tipo de debate. O “voto útil” nos partidos burgueses e reformistas caminha no sentido oposto, reforçando e legitimando a opressão sobre nós mesmos. Neste momento é “útil” somente para legitimar toda farsa da democracia burguesa. Votar nulo nas próximas eleições é um primeiro passo no sentido de concretizar um caminho independente dos trabalhadores.