25 de set. de 2019

PELO DIREITO AO TRABALHO DOS CONTRATADOS E A ORGANIZAÇÃO DA LUTA CONTRA AS ENTURMAÇÕES


Declaração da Construção pela Base à Assembleia Geral do dia 27 de setembro

         Os últimos ataques do governo Leite têm sido direcionados ao elo mais fraco da nossa categoria: os contratados! Como este setor nunca teve política dentro do nosso sindicato – e a bem da verdade, continua sem – o governo sabe onde atingir para dividir a luta.
         A conjuntura mundial está marcada pelos ataques da direita neofascista, que se assemelha ao fascismo clássico pelo terrorismo de Estado ou pelo terrorismo mercenário, pela xenofobia, racismo, anticomunismo e um conservadorismo radical. O neofascismo tem sido o abre-alas da burguesia imperialista, usado quando necessário para concretizar suas políticas econômicas. Apesar de disseminar ódio, preconceito, fake news, dando justificativas para guerras, assassinatos e ditaduras militares, pode conviver com instituições democrático-burguesas. O bolsonarismo é a aplicação desse neofascismo no Brasil. O seu discurso a favor da ditadura militar não deixa de conviver com o Congresso Nacional. O neofascismo se caracteriza também pela manipulação através da divulgação de fake news nas redes sociais, cujos assessores são técnicos utilizados pelo imperialismo. Elas ajudam a espalhar e consolidar o irracionalismo, uma vez que a hipnose da massa necessita deste controle a partir do ódio, do sadomasoquismo e do medo. É este governo neofascista que quer aplicar a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e a “reforma” do Ensino Médio, cuja principal finalidade é preparar as demissões na educação pública em nome dos bancos e das grandes empresas, abrindo o caminho para as terceirizações. O governo Leite é a sucursal deste projeto aqui no Estado.
         Nos últimos anos vimos a explosão de diversas manifestações espontâneas: primavera árabe, Occupy Wall Street, Coletes Amarelos, manifestações de 2013 no Brasil, dentre outras. Dada a inoperância e o oportunismo da “esquerda”, a direita e o imperialismo canalizaram estas manifestações para si. Apoiar qualquer mobilização de massa, sem a menor preocupação com o conteúdo e o programa das manifestações, não pode gerar nenhuma situação revolucionária de luta, mas apenas a consolidação dos projetos da burguesia. O caso mais recente tem sido as mobilizações de Hong Kong, que tem por trás os interesses dos EUA e, mesmo assim, foram apoiadas entusiasticamente por diversas correntes de “esquerda” (muitas delas com grande peso dentro do CPERS).
         O espontaneísmo da “esquerda” tem servido para sustentar a mobilização de massas da direita e do imperialismo contra os trabalhadores. Iludem suas bases de que estão a serviço dos “interesses do povo”, quando na verdade são o abre alas dos interesses do imperialismo dentro do movimento sindical. O fato é que, graças aos métodos do neofascismo, a direita tem mobilizado as massas muito mais exitosamente que a “esquerda”! E este é um cuidado que devemos tomar a partir desta constatação, além de nos forçar a tirar conclusões.

Podemos deflagrar uma “greve maciça” agora?
         A Carta de Bento Gonçalves, aprovada no último dia do X Congresso do CPERS, ameaça o governo Leite (PSDB e comparsas) com a maior e mais importante greve da história da categoria. E acrescenta: “A greve é inevitável. Cabe a nós construirmos as condições para que seja, também, vitoriosa”.
         Companheiros, o governo Leite tem surfado exitosamente na onda aberta pelo neofascismo. Age rápida e certeiramente, ao contrário do CPERS, que parte de uma total paralisia e de um Congresso que não debateu e não encaminhou nenhuma luta real, para a proposta de uma “greve maciça”, sem trabalho de base e sem mudar a orientação que vinha praticando até o momento. Além do que, não apresenta nenhuma bandeira para os contratados, que somam cerca de 40% da nossa categoria, e, também, nenhuma unificação real com as demais categorias do funcionalismo público (a maioria dirigida pela CUT).
         Na compreensão da Construção pela Base uma greve deflagrada agora esbarraria nos mesmos problemas de sempre, que insistem em se manter porque não são combatidos conscientemente: falta de preparação prévia, desorganização da base, confusão sobre as reivindicações, direções autoritárias nas escolas e sabotagem por parte da burocracia sindical. Somam-se a isso os problemas de alienação de grandes contingentes da nossa categoria, a ausência de política da direção central para a recuperação dos dias parados (o que deixa a categoria à mercê da chantagem da SEDUC e das direções autoritárias) e a resistência contra a abertura do comando de greve (dirigido pelas correntes, sem eleição proporcional nos núcleos de base); sem falar no boicote ao fundo de greve, que foi aprovado em Assembleia Geral e até hoje não foi colocado em prática.
Sendo assim, somos contra a deflagração de uma greve neste momento por entender que ela apenas contribuiria pra piorar o quadro e desgastar ainda mais a nossa principal ferramenta de luta. Alguns colegas pensam que algo tem que ser feito, pois os ataques do governo Leite não cessam. Compreendemos essa preocupação, embora entendamos que o desespero e ações motivadas por flagrantes contradições não podem “fazer nada” efetivamente contra o governo, apenas piorar a nossa situação.
Além do mais, não consideramos a aprovação do PL 392/2019 como uma “vitória”, mas apenas como um ganho de tempo para organizar a luta dos contratados. As enturmações, que já estão em curso em muitas escolas com claras intenções de “reaproveitar recursos humanos” e aumentar sua exploração, também tendem a levar a novas demissões. E tudo isso após o secretário de educação reconhecer em programa de rádio no dia 6 de agosto que a rede pública estadual tem aumentado o número de alunos como reflexo da “crise”. O CPERS sabe e admite que o governo pretende fechar cerca de 7 mil turmas nos próximos anos, mas, mesmo assim, não organiza uma ampla denúncia que levante a bandeira dos contratados com firmeza, denuncie as enturmações e procure envolver a comunidade escolar; sequer propõe a luta contra a enturmação como um dos eixos da assembleia geral, o que transforma a hipótese de uma “greve” agora em insensatez e fanfarronada.

O que fazer?                                                
         Uma greve ou “ações radicalizadas” descoladas da base (que está retraída e com a consciência atrasada) não pode fazer milagres. Precisamos olhar seriamente para os nossos problemas, pois como dizia Einstein: “é loucura querer resultados diferentes, fazendo tudo exatamente igual”.
Para a assembleia de 12 de abril deste ano escrevemos: “Nada demonstra mais a ineficiência do atual sindicalismo de ‘negociação’ do CPERS do que a nossa situação de miserabilidade salarial. Desde o início da política de parcelamento, tivemos 3 greves (uma de mais de 90 dias) e inúmeras ‘negociações’ com os governos. Apenas a direita avançou. Ficamos num brete cada vez pior. As pautas se rebaixaram e o CPERS aponta apenas para ‘mesas de negociações sérias’, não como o reflexo da força do nosso movimento, mas como um fim em si mesmo, que resultaria da benevolência do governo Leite. Para fortalecer o nosso movimento não há proposta alguma do CPERS, apenas seguir o mesmo caminho”.
E concluía: “Precisamos, urgentemente, de um novo tipo de trabalho de base que não reforce ilusões ou paternalismos, mas a disposição de luta e sacrifício, somado à criação de uma nova democracia sindical organizada por local de trabalho, que aprofunde a relação com a comunidade escolar. Temos todo um caminho pela frente. Ao invés de cercear e controlar as ações da base que não estão sob seu controle, o CPERS deveria apontar urgentemente uma nova organização sindical que leve em consideração todas as boas iniciativas vindas do chão das nossas escolas (sobretudo aquelas que rompem conscientemente os grilhões do legalismo burguês)”. Nada disso foi feito de lá pra cá!
Por isso, ao invés de uma greve fictícia, propomos:
- Fim da política ilusória de negociação com Leite: ele só negociará se ver mobilização real! Denúncia da política de Leite em panfletagens permanentes em grandes concentrações populares, atos de rua e na grande mídia.
- Por um novo sindicalismo: mudar a relação com a base! Respeitar e cumprir as decisões de assembleia geral que não partem apenas da direção central; organizar um verdadeiro trabalho de base, incentivando a democracia no chão da escola; fim da ditadura do microfone (onde só falam os “representantes eleitos”); que as posições divergentes possam ser conhecidas e debatidas democraticamente (só assim poderemos evoluir); debater temas desconfortáveis (como a alienação da base da categoria); organizar um verdadeiro contato com as comunidades escolares (combatendo os preconceitos de “superioridade” da categoria com relação a pais, alunos e colegas contratados). Organizar atos nas escolas envolvendo a comunidade e unificá-los depois.
- Contra a demissão e remoção dos educadores contratados: pelo direito ao trabalho! Readmissão das contratadas demitidas! Apostar na organização de base dos contratados e incentivá-la!
- Romper com o corporativismo: organizar congressos, encontros, seminários e protestos de rua unificados com outras categorias de servidores e trabalhadores, do setor público e privado (abaixo os encontros de cúpulas sindicais).
- Criar uma verdadeira solidariedade de classe, abrindo espaço para crítica e auto crítica nas instâncias sindicais, nos seus meios de comunicação (Sineta, site, redes sociais, etc.). Combater a vaidade individual e o controle autoritário da burocracia sindical sobre o aparato e sua mídia.
- Estudar e debater a forma de abertura do comando de greve, com eleição proporcional nos núcleos de base, bem como a ligação com as escolas realmente grevistas. Viabilizar a aplicação do fundo de greve junto dos núcleos de base!
- Não refiliar o CPERS à CUT: isso só tende a piorar a relação de confiança entre a base e o sindicato.
- Retomar a luta contra a BNCC, a “reforma” do Ensino Médio as terceirizações e as demissões: que os grandes empresários paguem pela crise!
- Não às enturmações! Por uma declaração pública do CPERS para alertar a comunidade escolar e exigir que qualquer enturmação passe pelos conselhos escolares, CPMs e reunião de pais!

Participe do Sarau Poesia e Liberdade, no sábado, dia 28 de setembro, às 17h, no Artezano Café Bistrô (Av. Venâncio Aires, 144, Cidade Baixa). Curta a nossa página no Facebook: @construcaopelabasecpers

16 de set. de 2019

BALANÇO DO X CONGRESSO DO CPERS: BUROCRATISMO, TURISMO SINDICAL E A INCRÍVEL LUTA PARA DESPERTAR O REBANHO HUMANO



Até quando um dito "dirigente"
vai controlar tua consciência
e ditar tua ação?
(Do Poema Base de alguém – Katiana, 8/9/2019)

            Pela terceira vez consecutiva e com o atraso de 1 ano, ocorreu no Fundaparque, em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, o X Congresso do CPERS. Reunindo cerca de 1800 delegados do Estado inteiro, o Congresso manteve o padrão dos anteriores, com baixa qualidade de discussões, métodos autoritários e burocratismo. As assembleias dos núcleos que elegeram os delegados foram “massivas” comparadas com as que ocorrem nos períodos de greve ou de “normalidade”, o que demonstra claramente que todas as grandes correntes da burocracia sindical jogaram peso neste processo eleitoral para constituir suas maiorias artificiais. Que tipo de sindicato poderíamos ter se elas agissem sempre para levar o máximo possível de educadores para as assembleias regionais?
         As mesmas correntes que gritam no congresso pela “unidade da categoria”, são as que criam currais eleitorais, baseados nos cochichos ao pé do ouvido para que “os outros” não escutem. A diplomacia secreta tem matado o CPERS. Ela não foi debatida neste Congresso e nem em nenhuma outra instância sindical. A política sustentada pela direção central baseada na palavra de ordem de “eu oriento a minha base a votar contra!”[i], já denunciada por nós no balanço do IX Congresso de 2016, não apenas não foi superada, como se aprofundou.
         Por isso, os debates foram limitados e viciados. As teses tiveram apresentações formais de apenas 7 minutos, intercalados pela janta, com esvaziamento consentido do plenário. Cada uma das 19 teses traz boas contribuições que mereciam ser refletidas visando uma síntese salutar. Porém, toda a riqueza delas não foi discutida, restando apenas uma apresentação superficial para que as resoluções pudessem ser enfiadas goela abaixo pelas maiorias artificiais. Um debate a toque-de-caixa e com este método serve pra quem?

I - Regimento do Congresso: organizar o debate ou restringi-lo?
         Já no primeiro dia do seu Congresso Estadual a direção central do CPERS impôs um regimento sem grupos de trabalho e com o prazo final de entrega de resoluções para às 14h do seu primeiro dia, antes da mesa de abertura. Isso impediu que os congressistas que quisessem propor resoluções até o último dia do Congresso pudessem apresenta-las, restringindo ainda mais o debate.
         A justificativa para isso foi a de que os debates de resoluções precisariam ser melhor organizados e sintetizados; e que a ausência dos grupos de trabalho não prejudicaria o debate, que ocorreriam direto no plenário. Seriam posições justas se as mesas encaminhassem a discussão de forma correta e quisessem, de fato, chegar a uma síntese democrática. Não foi o caso.
         É característico dos Congressos do CPERS a desorganização que atropela ou “encaminha errado” as propostas para a votação. Se não fossem sindicalistas com mais de 20 anos de atuação, poderíamos dizer se tratar de inexperiência. No entanto, estes debates atropelados tornam-se parte do próprio burocratismo, que impede o debate democrático e asfixia as minorias sem ter a menor vontade de se chegar a uma síntese.
         Uma vez que o debate das teses foi pro-forma e os grupos de trabalho não existiram, só encaminhar e votar as resoluções não aprofunda nenhum tipo de debate. Assim, a discussão ficou restrita a este tipo de método, que serve perfeitamente para camuflar diferenças e não esclarecê-las.

II - Turismo sindical
         Muitos delegados foram levados ao Congresso sem saber ao certo o que faziam lá. Outros tantos nem leram a tese pela qual foram eleitos. Isto não foi uma exclusividade do X Congresso, mas tem sido uma prática dos Congressos do CPERS. O fato de ser sediado na serra gaúcha – uma região turística – não seria problema se não estivesse previsto na programação um escandaloso “passeio cultural” (que ocupou a manhã de domingo) e distribuição de garrafas de vinho, enquanto o restante da categoria segue miserável e com os salários atrasados.
         Somos favoráveis a integração da categoria. O Congresso é uma grande oportunidade para isso. Uma festa e um momento lúdico são importantes. Porém, feito de forma inescrupulosa, com debates atravessados e superficiais, com um regimento antidemocrático e votações mal encaminhadas, só podemos concluir que o turismo sindical, com suas respectivas benesses, é parte desta política de dominação do aparato. Este é o “trabalho de base” feito pelas correntes burocráticas para constituir as suas maiorias. Uma vez que elas trabalhassem de fato na construção de um sindicalismo combativo, falando a verdade amarga que precisam ouvir, não sobrariam muitos para “contar a história”.

III - “Em terra de egos quem enxerga o outro é rei”
         Muitos delegados de base com quem conversamos consideraram grande parte das discussões e falas marcadas por disputas de egos. Isso é verdade quando observamos que muitos “dirigentes” não se preocupam com o andamento do Congresso. Defendem praticamente a mesma coisa que já foi defendido por outro apenas para subir no palco; exigem “declaração de votos” nas abstenções; fazem demagogia com os ouvintes, bajulando-os; dentre outras encenações.
         Isso não quer dizer, de modo algum, que muitos oradores não debateram e propuseram resoluções importantes e fizeram falas justas e necessárias. Porém, a regra tem sido a exposição egocêntrica de posições burocráticas e que pouco ou nada ajudam para o andamento da luta. Em alguns casos, a entravam claramente. Ainda que pareça individualismo puro, estes “egos” estão a serviço de uma política e de um programa.

IV - Lula livre, Lula solto ou Lula preso?
         Dentro deste contexto de restrição e enquadramento dos debates se deu uma polêmica sobre a palavra de ordem “Lula Livre”. Inevitavelmente, em razão de todo o método de construção das discussões e das relações entre as correntes, os delegados e a construção do Congresso, surgiram falsas polêmicas e debates estéreis, que terminaram por não encaminhar nenhuma posição coerente sobre este tema importante da conjuntura.
         A direita neofascista tem transformado a prisão de Lula num estandarte político. Sabemos perfeitamente que hoje Lula é um prisioneiro político, embora não seja o único. Existem tantos outros, como Rafael Braga, por exemplo, sobre o qual nada foi falado. Porém, o caso de Lula submerge com mais força porque é um ex-presidente da República; e o único preso por tanto tempo. Por isso a prisão de Lula se tornou uma bandeira da direita, da qual ela não pode abrir mão. Isto exige de nós uma posição. Por isso, esta bandeira deveria ser debatida franca e abertamente não apenas no Congresso, mas com toda a categoria.
         Infelizmente, dado o alto nível de burocratismo e de diplomacia secreta, isso não pôde ser debatido conforme a realidade exigia. As correntes petistas e cutistas exageram sua importância, pois da liberdade de Lula depende toda a sua estratégia política; e as oposições burocráticas minimizam a gravidade desta prisão, levando água ao moinho da direita. Somos a favor da liberdade de Lula, mas com as seguintes ressalvas: a bandeira #Lula Livre tem sido usada pela CUT como ponto central da sua agitação. Denota claramente que seu objetivo é eleitoreiro: tudo depende da liberdade de Lula, pois é o único que pode vencer eleitoralmente a direita neofascista na atual conjuntura. Novamente vemos toda a estratégia política das centrais sindicais majoritárias e da “esquerda” reformista em torno do campo minado das eleições.
         Discordamos daqueles que não querem a liberdade de Lula. Se houvesse correlação de forças favoráveis ao poder dos trabalhadores e Lula fosse preso por dar lucro recorde aos banqueiros e ao sistema financeiro, por fazer vistas grossas à administração dos fundos de pensão pelo PT e pela ditadura que este partido exerce no movimento sindical contra os trabalhadores conscientes de base, seríamos totalmente favoráveis a sua prisão. Mas não é o caso. Ele está preso por motivos políticos e eleitorais, com justificativas bizarras e forjadas, portanto, trata-se de uma flagrante injustiça. Tudo piora quando observamos que Temer foi preso e solto em seguida e outros ex-presidentes possuem centenas de imóveis, contas e ações ilegais e estão completamente livres. Bolsonaro já está envolvido em diversos casos de corrupção e nada acontece.
         Portanto, somos a favor da liberdade de Lula e contra a estratégia eleitoreira e burguesa do PT e da CUT. Seguiremos debatendo estas questões com a categoria deste ponto de vista.

V - A preparação de um novo golpe: a burocracia dirigente quer refiliar o CPERS à CUT!
         Na esteira das discussões burocráticas e sorrateiras, foi pautado e aprovado no Congresso o debate para filiação do CPERS em uma central sindical. Escondidos sob distorções flagrantes, a Articulação Sindical (tese 12) começa a preparar o terreno ideológico pra enfiar uma possível refiliação goela abaixo. Ela diz: “entendemos que a atual conjuntura exige, acima de tudo, UNIDADE da classe trabalhadora e para tanto será necessário estarmos filiados a uma CENTRAL SINDICAL para o fortalecimento de nossas lutas no próximo período”[ii]. E mais adiante continua sua verborragia sobre um suposto “comprometimento da CUT com os trabalhadores em educação”. Neste Congresso as correntes cutistas aproveitaram-se da estrutura política do evento para abrir o caminho para refiliar o CPERS à CUT, aprovando por uma pequena margem o indicativo de refiliação, que precisa ser referendado por uma assembleia geral da categoria.
         A CUT há tempos está na trincheira oposta. Por sua política sindical, ela não unifica a classe trabalhadora, mas a divide. Tampouco combate o corporativismo das categorias. Na verdade, o reforça! Age assim porque se adaptou totalmente ao Estado burguês e a sua legislação. Seu sindicalismo é refém do eleitoralismo burguês e praticamente todas as críticas presentes no Caderno de Teses ao afastamento do CPERS das suas bases dizem respeito, em maior ou menor medida, ao sindicalismo cutista, que leva o nosso sindicato a funcionar desta forma.
         Escrevemos na nossa tese que “A desfiliação do CPERS da CUT foi uma mentira. Rompeu formalmente com esta central, mas seguiu subordinado a ela não apenas pelo fato de sua direção central ser orientada pela política oficial cutista, mas porque segue filiado à CNTE (sua sucursal na educação). Ser contra a CUT não significa ser contra as centrais sindicais em si, mas contra os problemas de burocratização sindical criticado até aqui. Por isso, defendemos a desfiliação do CPERS da CNTE, e que o dinheiro destinado a esta confederação seja usado num fundo de greve, de mobilização e de formação controlado pelos núcleos e, sobretudo, pela base. Para, além disso, precisamos romper com o seu ‘sindicalismo cidadão’, disseminador de ilusões reformistas e eleitoreiras”[iii].
         Ou seja, o que a Articulação Sindical e as demais correntes petistas querem é a legitimação da totalidade dos recursos financeiros cabíveis do CPERS para a CUT (que se tornou, mais do que nunca, um elefante branco sedento por verbas), uma vez que a orientação política e sindical do nosso sindicato já é desta central. Defendemos a importância de uma central sindical, porém, a esmagadora maioria das que existem sofrem dos mesmos males. Não casualmente todas elas estão juntas nos momentos decisivos da luta de classes e, em particular, na defesa das anti “greves gerais”. Compreendemos que os recursos aplicados diretamente na luta são muito mais importantes para o CPERS e para a nossa categoria. Inclusive reiteramos a necessidade de não dar mais nenhum centavo para quem tem como proposta mexer no plano de carreira, aceitar acordos rebaixados, apoiar as “reformas” da Previdência quando são propostas por governos petistas e frear as lutas apostando no seu “sindicalismo cidadão”. A CUT não reforça a consciência de classe e a luta dos trabalhadores; mas forma e reforça consciências pequeno-burguesas.
         Qual será a tática da Articulação Sindical para refiliar o CPERS à CUT? Inflar as assembleias gerais com a sua base burocrática, constituída em grande parte por “sócios aposentados” (que somam cerca da metade das matrículas do CPERS), e o seu típico “trabalho de base” de turismo sindical e distribuição de benesses que primem “pelo conforto e segurança da categoria”[iv]. Assim estarão garantidas as maiorias artificiais que servirão para fazer o CPERS retroceder para a década de 1990.

VI - Sobre o “Fora Bolsonaro”
         Há tempos o CPERS agita as palavras de ordem de “Fora este ou aquele”. Já exigiu “Fora Yeda” e “Fora Sartori”. Esta última foi uma palavra de ordem agitada febrilmente desde o Congresso de 2016 em atos e manifestações de rua. Tal como Yeda, Sartori terminou o seu mandato sem maiores sobressaltos. Nenhuma conclusão ou balanço foi feito de tais agitações. Por este tema ser recorrente dentro do CPERS, nos parece que para a imensa maioria das correntes é correto fazer qualquer tipo de agitação que aparente radicalidade, mesmo que não haja correlação de forças para tanto.
Puxado pela Intersindical (tese 10), o debate sobre o “Fora Bolsonaro” foi motivo de polêmica, mas acabou derrotado. Esta discussão, no entanto, abre a possibilidade de uma reflexão para os futuros “Fora este ou aquele” que certamente deverão ser levantados. O governo Bolsonaro é uma catástrofe para os trabalhadores; e isso é uma visão unânime das teses apresentadas ao X Congresso. É o resultado das táticas equivocadas da “esquerda” e da manipulação midiática; além, é claro, da fraudulenta operação Lava-Jato e da politicagem burguesa. Em 9 meses de governo está destruindo tudo o que pode, inclusive fazendo a Amazônia arder. Sem sombra de dúvidas precisa ser derrotado e afastado do poder o quanto antes. Porém, a correlação de forças ainda lhe é favorável e nenhuma palavra de ordem radical poderá operar um milagre. Ao contrário, facilitará a sua manutenção no poder.
As palavras de ordem e a ação da “esquerda” brasileira quando não são abertamente oportunistas e degeneradas, são infantilmente inventadas. Do ponto de vista da propaganda do socialismo estaria correto debatermos com os trabalhadores a necessidade de tirarmos Bolsonaro pelas nossas mãos através da luta e de uma revolução. E deste ponto de vista somos favoráveis a explicar porque precisamos por Bolsonaro pra fora. Mas não é assim que a “esquerda” compreende esta palavra de ordem, pois a trata como uma tarefa de agitação para ser concretizada agora.
Antes de agitar “Fora Bolsonaro” devemos perguntar: quem tem forças hoje para colocar Bolsonaro pra fora? A CUT, que sabota qualquer luta independente? O CPERS, que é dirigido pela CUT-CNTE? O PT, que foi deposto vergonhosamente pelos aliados de ontem e aposta todas as fichas na institucionalidade burguesa e nas eleições? Ou seriam as pequenas centrais e os pequenos grupos de militantes? Sem responder a estas perguntas, o “Fora Bolsonaro” torna-se uma aventura; e uma forma de extravasar a raiva e o desespero, sem que nada de concreto aconteça (tal como foi o “Fora Sartori”; e dentro em breve será o “Fora Leite”). A questão aqui é que os trabalhadores não estão suficientemente conscientes e nem suficientemente organizados para concretizar uma ação tão decisiva quanto essa. Além disso, seus sindicatos estão dominados por burocracias sindicais que são incapazes de levar qualquer luta com coerência. Isso deveria ser admitido antes de pensarmos em uma palavra de ordem tão séria para agitação de rua, que só pode ser agitada nas vésperas de um movimento de massas em que os trabalhadores estejam suficientemente organizados para tomar o poder e, que ainda por cima, tenham a perspectiva do socialismo.
O “Fora Bolsonaro” como forma de agitação significa hoje, concretamente, trabalhar para que o vice assuma (tal como aconteceu com Dilma) ou desgastar o governo eleitoralmente para que algum outro partido assuma o governo (mesmo o PT não teria condições de assumir hoje, dado o seu desgaste pela direita). Sabemos que em todos estes casos nada mudaria (o PT aliviaria a corda no pescoço por alguns anos, mas prepararia os futuros golpes da direita). Hoje o “Fora Bolsonaro” significa “Viva Mourão!”. Ou os camaradas acham que por um evolucionismo vulgar a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, como que por um passe de mágica, irá crescendo numa maré montante conforme os nossos desejos e fará o governo cair? Se isso é certo, porque não aconteceu nada com o “Fora Sartori” e o “Fora Yeda”? Quais condições existem hoje para um governo alternativo dos trabalhadores? Não seria isso tudo uma demonstração de impaciência (ou até mesmo de desespero)?
Uma lógica mais correta nos diria que, como ainda não temos condições de “botá-los todos para fora”, devemos nos centrar nas palavras de ordem de acumulação de forças, de desgaste do governo do ponto de vista revolucionário e não eleitoral; na luta contra a burocracia sindical para destravar os sindicatos e os movimentos sociais. Não existem atalhos milagrosos e não podemos cair em tentação de colocar a carroça na frente dos bois, pois isso só prolonga a agonia e os próprios males.

VII - A confusão constrangedora e premeditada no encaminhamento da votação sobre a organização sindical e os contratados
         As mesas que encaminharam as discussões das resoluções agiram de forma burocrática e “erraram” em muitas discussões, cabendo destacar os pontos sobre os contratados e a organização sindical (existiram erros em outros pontos também, mas esses são suficientes para ilustrar o seu método de funcionamento).
         Durante a discussão de organização sindical a mesa ignorou que existiam propostas diferentes no mesmo ponto, fazendo uma ser votada contra a outra para eliminar todas as propostas “indesejáveis”. Por exemplo: Articulação Sindical e outras correntes apresentaram resolução sobre a reunificação do movimento sindical e das centrais sindicais; o CEDS, o MLS, o Combate e Democracia e Luta apresentaram proposta de abrir o debate sobre a filiação do CPERS a uma central sindical; a CS apresentou resolução para reorganizar a luta no fórum dos servidores públicos estaduais; Eloir de Oliveira apresentou resolução sobre a necessidade de maior proximidade com as escolas Mbya Guarani; o Alicerce apresentou proposta sobre fundo de greve; nós, da tese 1, apresentamos propostas sobre reorganização das assembleias gerais, que necessitam ser organizadas pela base, abertura dos comandos de greve para além das correntes e democratização dos meios de comunicação do CPERS (Sineta, site, redes sociais, etc.).
         A mesa, capciosamente, encaminhou uma proposta contra a outra, como se tivessem o mesmo conteúdo e fossem contrárias. Venceu, obviamente, a proposta da Articulação Sindical, que nada tinha a ver com as demais propostas, eliminando-as todas. Pior do que isso: quando convinha, a mesa destacava determinadas resoluções para votar em separado, como foi o caso da resolução sobre as escolas Mbya Guarani. Assim, com uma só tacada burocrática, a direção central eliminou o debate sobre fundo de greve, reorganização das assembleias gerais, abertura do comando de greve e dos meios de comunicação do CPERS.
         Assustadoramente, poucos presentes perceberam o método ardiloso de passar a patrola burocrática contra as minorias e as discussões. Antecipou discussões que forçavam uma unidade fictícia para tentar ludibriar os congressistas, com falsos sorrisos e aplausos; enquanto ia cravando o punhal pelas costas, sufocando e patrolando as discussões com encaminhamentos equivocados. Este método não é uma casualidade, mas a forma encontrada pela burocracia para suprimir diferenças sem parecer autoritária.
***
         O mesmo método foi utilizado no encaminhamento do debate sobre os contratados. Numa atitude louvável, a “oposição” unificou as resoluções em defesa da efetivação dos educadores contratados em torno da tese 4, do Comitê Estadual dos Educadores Contratados. Porém, a direção central encaminhou o debate de forma confusa, com a nítida intenção de fazer vencer a resolução da Articulação Sindical, fazendo votar de uma só vez propostas com temas diferentes.
         Além disso, a defesa da direção central não foi apenas mais do mesmo (batendo na sua tecla do concurso público), mas de um baixo nível lamentável, fazendo reviver os preconceitos pequeno-burgueses da categoria. Falou em “trenzinho da alegria” e “porta dos fundos”. Para se contrapor a uma crítica bem armada, como foi a tese 4 (dentre outras), a direção central precisou recorrer aos sentimentos mesquinhos, ao discurso de ódio e de “superioridade aristocrática”. Para eles, os contratados não fazem parte da classe trabalhadora e lhes exigir algum tipo de direito é algo inaceitável. Isso é flagrante não apenas para a Articulação Sindical, mas para muitas outras teses, que falam em “precarização das condições do trabalho docente”[v], em abrir o sindicato para as “demandas dos setores mais precarizados da categoria, que tendem a aumentar cada vez mais”[vi], mas são incapazes de formular uma política classista. Pior do que isso: as correntes cutistas não conseguem manter o debate num nível elevado. Precisam recorrer a sofismas, distorções ou a mesquinharias pequeno burguesas.
         Apesar de tudo isso, o movimento dos precarizados da nossa categoria – os contratados – cresce a olhos vistos. É por isso que as correntes cutistas apelam para a calúnia e difamação contra quem sustenta a palavra de ordem de efetivação. A direção central fala em “secretaria da juventude”, em “renovar o CPERS”, mas não é capaz de formular uma política que combata, de fato, a precarização do trabalho para os jovens educadores. A única política que foi capaz de propor para a juventude enfrentar os contratos “emergenciais” é aquela que afirma tacitamente: “você tem o emprego garantido até termos concurso público! Depois disso você é tão descartável como uma garrafa pet!”. Qual patrão não ficaria orgulhos dessa postura?
         Para nós, ao contrário dessa política patronal, a precarização do trabalho, a terceirização e o desemprego somente diminuirão e serão derrotados quando aqueles que sofrem estas situações obrigarem os empresários e os governos a aumentar o número de postos de trabalho e a conferir-lhes estabilidade[vii]. A direção central do CPERS, tal como os patrões, é totalmente avessa a esta luta.

VIII - O que esperar de um Congresso e de um sindicato que não se importam com o socialismo?
         Utilizando-se do método descrito acima de “desorganização burocrática”, a mesa do debate sobre “plano de lutas” simplesmente ignorou resoluções publicadas no caderno dentro de todos os prazos previstos, trazendo à tona discussões secundárias e outras tantas demagógicas. Na verdade, a desorganização conveniente serviu para ignorar debates fundamentais, como a nossa resolução, que afirmava a necessidade de uma estratégia socialista para a luta sindical.
         Um trecho dela afirmava o seguinte: “As nossas lutas salariais e defesa dos nossos direitos devem estar inseridas na luta pelo socialismo, isto é, pelo controle dos trabalhadores sobre os meios de produção mediante a expropriação da burguesia. Devemos fazer a propaganda do socialismo com base na realidade, conscientizar pela propaganda concreta [e pela experiência]. Mostrar que não existe saída dentro do capitalismo. Alimentar ilusões de que através das eleições burguesas os trabalhadores podem governar o capitalismo significa trair e colaborar para o fortalecimento da direita golpista contra a nossa classe...”[viii].
         Para nós, o cerne da questão é a luta contra o capitalismo. É cada vez mais patente que a luta contra ele é o que pode assegurar um futuro para a humanidade. Todos os principais ataques relatados na maioria das teses é fruto das suas necessidades econômicas, políticas e sociais. Por isso, não denunciá-lo é um crime e uma traição. O socialismo não pode ser uma saudação à bandeira e um discurso para consumo das bases em dias de festa. A nossa luta sindical deve estar vinculada a uma estratégia revolucionária e socialista. Nenhuma resolução – a não ser esta – teve a preocupação de fazer esta vinculação e este debate no X Congresso do CPERS. A triste constatação desse fato nos leva a perceber que o socialismo é uma simples carta abstrata de intenções para grande parte das correntes que tem um “S” de socialista em suas siglas.
         Na contramão dessa perspectiva, a principal corrente da direção central do CPERS propõe que “devemos aglutinar as pessoas e defender os ideais de democracia real, liberdade, igualdade e direitos humanos. Esta deve ser a preocupação central do próximo período...”[ix]. Como ela não tem coragem de enfrentar a ideologia burguesa em voga – ao contrário, se submete à ela –, quer jogar os ideais do nosso sindicato de volta para 1789.

IX - Proporcionalidade combate burocratização ou apenas contempla cargos sindicais?
         Como sempre, o debate sobre “reforma estatutária” girou em torno da proporcionalidade na direção do sindicato e o presidencialismo. Equivocadamente, muitas correntes apresentam a proposta de proporcionalidade como um antídoto à burocratização sindical. Para nós, isso não é verdade. A burocratização sindical deve ser combatida com um programa e uma política revolucionária, que trabalhe conscientemente por organizar os trabalhadores pela base. Somente quando essa organização fincar raízes e avançar é que poderemos falar seriamente em combate à burocratização sindical. Na atual conjuntura do CPERS, a proporcionalidade significa apenas o loteamento de cargos na direção do sindicato entre as correntes organizadas. Portanto, confunde e dificulta a organização pela base.
         A diretoria executiva não representa a opinião de toda a categoria, mesmo porque essa opinião não existe. A categoria é dividida por opiniões diversas e muitas delas antagônicas. Se unifica apenas nas campanhas salariais (e, ainda assim, parcialmente). As políticas gerais das diversas correntes são distintas. A diretoria executiva é eleita para defender uma determinada política, não todas as políticas. Mesmo nas diretorias proporcionais, existe uma posição da maioria. Essa é a que vigora. A burocracia não permitirá à minoria se expressar na imprensa sindical; e ela não terá mais vantagem com a proporcionalidade do que já não desfruta como simples oposição. A proporcionalidade, no atual contexto do CPERS, de nada serve à democracia sindical e, muito menos, ao combate da burocratização sindical. Ao contrário, servirá para gerar confusão e diluirá propostas combativas no leito morto do burocratismo dirigente.
        As diretorias sindicais são organismos executivos eleitos em torno de um programa. Não podem colocar em prática dois programas. A unidade para a luta é a única que interessa aos trabalhadores, não a luta interna numa diretoria. Isso serviria para confundir minorias com a maioria burocrática, além de nos tornar co-responsáveis por sua política. A democracia sindical entre tendências antagônicas é cada vez mais impossível. É preciso a mais completa diferenciação de classe. Em geral, a defesa da proporcionalidade hoje somente serve a propósitos aparelhistas e para a negociata com a burocracia; nunca para combatê-la. Pressupõe o abandono da luta contra a burocracia e a convivência pacífica com ela.
Ao contrário disso, a proporcionalidade é um método necessário e obrigatório para os organismos não executivos dos sindicatos: congressos, conselhos de representantes, delegados sindicais, comissões de negociação, comandos de greve, entre outros. Na defesa destas proporcionalidades estaremos sempre na linha de frente. Sabemos, também, que a direção central do CPERS não se coloca contra a proporcionalidade por estes motivos, mas pelo controle absolutista do aparato. Nos causa estranheza o fato das correntes que defendem a proporcionalidade não lutarem pela abertura da imprensa sindical à contribuições da base e das correntes minoritárias, para que novas propostas e posições possam aparecer para a base da categoria através do Sineta e outros órgãos de comunicação. Isso possibilitaria à base influir sobre o CPERS sem se comprometer com a política burocrática de sua direção central.
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Somos contra o presidencialismo. Achamos corretas as propostas que pretendem acabar com o personalismo presidencialista e que almejam transformar o CPERS numa coordenação colegiada. Porém, não concordamos com a vinculação da luta pelo fim do presidencialismo com a proporcionalidade na direção executiva.

X - Uma greve maciça, talvez a maior e mais importante da história da categoria, se aproxima?
         É assim que a Carta de Bento Gonçalves, “aprovada” no último dia do Congresso, finaliza: ameaçando o governo com, “talvez”, a maior e mais importante greve da história da categoria. E acrescenta: “A greve é inevitável. Cabe a nós construirmos as condições para que seja, também, vitoriosa”[x].
Nós não esquecemos, nem por um momento, que à frente do nosso sindicato estará uma burocracia sindical que age com os métodos descritos até aqui. E que, além do mais, manobrou para não aprovar resoluções sobre abertura do comando e do fundo de greve, bem como da sua imprensa sindical. O que esperar, então, de uma “greve maciça” como essa? Por tudo o que foi descrito até aqui, temos profundas preocupações com o futuro do CPERS e dos seus Congressos. Nenhum debate para sintetizar as nossas experiências grevistas, por exemplo, foi feito no X Congresso. Para quem tem servido os nossos congressos então? Será possível, assim, avançar no movimento grevista?


XI - Admirável gado novo: uma reflexão para os Congressos do futuro!
Um dos momentos mais polêmicos e profundos do Congresso foi a luta contra a política oficial do “eu oriento a minha base a votar contra”, gerando atritos, vaias e “explicações” por parte da direção central através de declaração de voto. Quando afirmamos que o sindicalismo vigente no CPERS está obsoleto e precisa ser conscientemente superado, é por este método de funcionamento, que trata delegados de base como “gado” em um verdadeiro curral eleitoral.
Temos plena consciência de que a comparação é dura, porém, necessária! Num mundo onde a mentira é a regra, falar a verdade parece provocação. Segundo Nietzsche: “Nós somos, até a medula e desde o começo, habituados a mentir”. Como falar de verdade o que sentimos e pensamos, onde tudo é interpretação? Foi com este intuito que questionamos o discurso de ódio pregado pelas correntes majoritárias (como a Articulação Sindical), que inflamavam “sua base” para jogá-la contra outras correntes, ao mesmo tempo em que pregava a “unidade da categoria” e falava contra Bolsonaro; propusemos, então, um debate sobre o método e a qualidade dos votos dos delegados. Vimos, por exemplo, contratados “de base” votar contra si próprios (ou seja, contra a efetivação) porque os dirigentes das suas correntes e teses ordenavam, dentre outros atos deste gênero. Até onde isso terá condições de criar um sindicalismo combativo e nos levar a greves vitoriosas?
A estrutura da psique humana debate-se na contradição entre o desejo intenso de liberdade e o medo da liberdade. Pensar por si próprio dói. Se posicionar politicamente dói. É mais fácil e confortável seguir ou ser “dirigido”, ainda que isso custe a nossa independência. Podemos afirmar que grande parte das pessoas (e mesmo dos delegados do Congresso) não tem clareza sobre estes processos, que se desenvolvem e se firmam de forma inconsciente sobre a nossa conduta. Milênios de submissão, de terrorismo psicológico político e religioso, terminaram por criar gerações de seres temerários e medrosos, mas já é hora de quebrar a corrente!
Foi parte do nosso combate e da nossa tese neste Congresso a luta para despertar o rebanho humano, sem o quê não existirá sindicalismo vitorioso e, tampouco, socialismo. Queremos relembrar o melhor de Paulo Freire e não matar seu pensamento em discursos demagógicos ou banners: “É preciso ousar, aprender a ousar, para dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente”. Queremos a aplicação total e profunda da pedagogia da autonomia e o combate sem tréguas à demagogia da submissão, afinal de contas, ninguém é sujeito da autonomia de ninguém[xi]!       


NOTAS


[i] Balanço do IX Congresso do CPERS: http://construcaopelabase.blogspot.com/2016/07/balanco-do-ix-congresso-do-cpers_94.html
[ii] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 112).
[iii] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 12).
[iv] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 111).
[v] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 114).
[vi] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 150).
[vii] BERNARDO, João. Transnacionalização do capital e fragmentação dos trabalhadores – Ainda há lugar para os sindicatos? Boitempo editorial, São Paulo, 2000.
[viii] Caderno de resoluções do X Congresso do CPERS (página 21).
[ix] Caderno de teses do X Congresso do CPERS (página 112).
[x] Disponível em: https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/politica/2019/09/congresso-do-cpers-sinaliza-greve-macica-de-professores-e-funcionarios-de-escolas-do-rs/
[xi] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Paz e Terra, São Paulo, 2010.