29 de out. de 2015

BALANÇO DA "GREVE PARCELADA" DO CPERS


        Dissemos em diversas análises antigas que a burocracia sindical era o grande empecilho para uma luta independente e uma greve vitoriosa. Não é possível pensar em greve vitoriosa ou qualquer outra política sindical consequente enquanto a burocracia sindical estiver dirigindo e controlando o CPERS.
        A burocracia cutista sabotou a nossa luta, manobrou e conchavou nos bastidores, terminando por levar o movimento grevista à derrota. Desde a cúpula do fórum dos servidores públicos foi preparado a destruição do movimento de base. A burocracia unida dos sindicatos de servidores deixou a luta transcorrer até certo ponto para, logo a seguir, ter melhores condições de sabotar e frear a organização e a luta de base. Ou seja, a grande mobilização dos servidores públicos foi uma resposta aos ataques do governo Sartori (PMDB, PP, PPS, PSDB, PSB, PSD, PRB, PV) e não mérito da política sindical do CPERS. Muito antes pelo contrário: o CPERS e a CUT se colocaram a frente do movimento para melhor domesticá-lo e freá-lo.
Como a burocracia sindical dispõe de muito tempo livre, tudo foi minuciosamente montado: desde a propaganda e o discurso ambíguo; até os passos políticos concretos para o desmonte. Muito se falou em “greve de novo tipo”, mas, como tudo se comprovou, isso era apenas uma forma de arrefecer e acalmar os ânimos da base. Foi com essa ajuda das burocracias sindicais que o governo Sartori conseguiu derrotar o movimento de indignação que as suas políticas de ajuste despertaram e aprová-las, uma a uma, na Assembleia Legislativa. Para vender a ideia de alguma “vitória”, a direção do CPERS afirmou que “garantiu o não corte do ponto” durante os dias de greve e que a pressão do fórum dos servidores “adiou votação de projetos na ALERGS” (Sineta, setembro/outubro de 2015).

Na assembleia geral do Pepsi On Stage a burocracia sindical mostrou sua verdadeira face
Temos visto a democracia sindical ser asfixiada pouco a pouco dentro do CPERS. Os golpes, manobras, imposições, desmontes, distorções, foram práticas comuns deste “movimento grevista” e está se tornando a regra. Este foi o principal motivo para a CUT ter investido pesado nas eleições do CPERS: queria ganhá-lo para poder frear a luta contra os seus governos!
A culminância dos golpes burocráticos se deu na assembleia geral do Pepsi On Stage. Para esconder essa vergonhosa manobra, a burocracia sindical distorceu os fatos: “Um grupo, a favor da greve por tempo indeterminado, começou a confusão após a categoria decidir pela manutenção do Estado de greve [...] atitude que impediu a contagem nominal dos votos” (Sineta, setembro/outubro de 2015). Isso demonstra o grau de compromisso com os governos federal e estadual. Não houve a menor intenção por parte da direção em contar os votos nominalmente. Claramente ela estava tencionando o plenário para empurrar a manobra adiante ou usar o pretexto de “desordem” para encerrar a assembleia. Como a quase metade dos presentes – e não um “pequeno grupo” – impediu que a manobra fosse consumada, a direção do CPERS optou pelo segundo caminho.

O papel conciliador das correntes e núcleos de “oposição”
        Mesmo controlando a metade dos núcleos do CPERS, as correntes ditas de “oposição” (MLS, PSOL, PSTU, CEDS), apesar de criticarem as políticas da direção central e, eventualmente, falar contra a burocracia sindical, foram meras correias de transmissão da burocracia cutista. Em nenhum momento desfizeram as mentiras da direção central, seus discursos falaciosos e as circulares que visavam preparar o desmonte. Aceitaram passivamente a destruição da greve após a manobra da assembleia geral, propondo o mesmo caminho que a direção do CPERS e a não insistência de mantermo-nos em greve, pois dali não havia saído decisão alguma! Alguns núcleos de Porto Alegre não se responsabilizaram pela manutenção dos períodos reduzidos e sequer formaram comandos de greve regionais. No auge das mobilizações, quando cada assembleia regional tinha em média cerca de 100 presentes, foram limitadas as falas, numa reprodução da falta de democracia e de organização das assembleias gerais do CPERS.
        Todas estas correntes e núcleos de “oposição” falam pontualmente contra a burocratização sindical, mas os seus programas e o sindicalismo são os mesmos que o da atual direção; isto é, totalmente burocratizado. Repetem no CPERS à disputa entre PT e PSDB: na oposição se permitem todo o tipo de crítica; na direção mantém a mesma estrutura sindical burocratizada, da qual todas se beneficiam. A sua crítica é feita sob medida para consumo das bases; seus núcleos, na prática, são correias de transmissão da direção central; o seu programa e a sua atuação não permitem superar a burocratização sindical.

Sobre a realização do IX Congresso do CPERS
        Algumas destas correntes, através dos núcleos “de oposição” que dirigem, estão propondo tencionar a direção central para a realização do Congresso ordinário do CPERS. Até o presente momento, a diretoria não tocou no assunto e, no que depender dela, não tocará. Estatutariamente o CPERS deveria realizar congressos de dois em dois anos. O último foi em 2013, na cidade de Bento Gonçalves.
        O congresso, para ser produtivo, deveria ser precedido por uma longa discussão pré-congressual de teses; sobretudo na base. Nada disso foi feito. Pela atuação da direção central nesta “greve parcelada”, a realização do congresso em tão pouco tempo – menos de três meses para acabar 2015 – seria apenas uma formalidade burocrática que em nada contribuiria para a formação e a luta da categoria. Novos golpes seriam dados e o desânimo da categoria aumentaria. A burocracia sindical, utilizando-se do seu controle onipotente sobre o aparato, certamente asfixiaria o debate, reduzindo-o a uma farsa, uma trivialidade, cansando-o com inúmeros painéis e atividades culturais descolados da realidade direta da categoria. A pressão para a sua realização é importante, mas não pode estar desvinculada desta compreensão. É preciso propor um congresso para o ano que vem, com, no mínimo, 4 meses de debate de teses e programa, bem como um calendário e um método para fazer este debate chegar ao chão das escolas; caso contrário, ele se tornará apenas outra correia de transmissão da burocracia sindical para sabotar a nossa luta e desmoralizar a categoria.

A transferência do conselho geral para Santa Maria
        Após a destruição da greve e do retorno do sindicato a sua rotina burocrática, a direção do CPERS transferiu a reunião do conselho geral para Santa Maria. A desculpa oficial é acompanhar e “pressionar” o governo Sartori em uma audiência pública. Porém, trata-se de mais uma manobra visando fugir dos questionamentos e da pressão da base de Porto Alegre. O conselho geral foi bastante visado durante o período da “greve parcelada” e sofreu grandes pressões da base, sobretudo de Porto Alegre. Para ter maior liberdade de manobra, a direção central mudou o local da reunião para dificultar o acesso.

As lições da derrota
        A direção do CPERS foi vitoriosa na sua política de derrotar a força e disposição de luta da categoria contra o governo Sartori.  Esta se viu encurralada entre os ataques do governo e os golpes da direção do CPERS, que impediu que a luta contra o governo fosse radicalizada. A burocracia dirigente, na assembleia geral do dia 11/09, destruiu a possibilidade de uma greve consequente por tempo indeterminado para barrar os ataques.
        Estamos sofrendo o peso desta derrota no dia-a-dia das escolas, com uma carga de trabalhado excessiva, corte de repasses das verbas escolares, a ameaça permanente de parcelamento de salários, salários congelados, sucateamento da educação pública e todos os demais ataques encaminhados à Assembleia Legislativa pelo governo Sartori.
As correntes e muitos ativistas de “oposição” até podem falar contra a burocracia sindical, mas na sua prática não se encontra a denúncia persistente e a disputa para desmascará-la e propor uma política consequente no lugar da sua. Seu pensamento e programa são marcados pelo formalismo. Buscam alianças eleitorais com ela, como também não questionam seus métodos autoritários. Não estão dispostas a questionar os alicerces reais de toda a burocratização sindical, pois de uma forma ou outra fazem parte dela e procuram dissimular este fato com críticas vazias. Em suma: a derrota do nosso movimento grevista atual é o reflexo do controle da burocracia sindical sobre o CPERS, seja através da direção cutista ou das correntes de “oposição” que lhe orbitam.
Como sempre, a cada nova manobra burocrática que destrói a nossa luta, uma onda de apatia e descrença se espalha na categoria, mas precisamos resistir! Já apontamos que o principal entrave para a nossa luta é a burocracia sindical. Enquanto ela estiver presente no CPERS, amargaremos mais derrotas como a que vivemos nesta “greve parcelada”.
Apesar das traições da burocracia sindical, não podemos desanimar. A luta continua em defesa dos nossos direitos e contra os ataques do governo. Precisamos continuar nos organizando. É preciso que a base da categoria participe das plenárias, reuniões, assembleias do sindicato, fazendo propostas e impedindo as manobras da burocracia sindical. A partir de nossa organização por local de trabalho, poderemos construir a nossa independência de classe em relação aos governos e à burocracia sindical.
É preciso continuar construindo uma oposição consequente dentro do CPERS, que se enfrente politicamente com essa burocracia. Todos aqueles que entendem a necessidade desta organização que se somem nesta luta!