26 de dez. de 2017

O IMEDIATISMO E A LUTA DA NOSSA CATEGORIA

Qual educador nunca ouviu de um aluno a seguinte pergunta: “pra quê eu vou usar este conteúdo na minha vida?”? Desconsiderando os problemas pedagógicos, curriculares e estruturais da escola atual, estamos diante de uma clara expressão de imediatismo. Tal aluno não compreende a necessidade do esforço intelectual se não vislumbra algum tipo de lucro em troca; isto é, de um retorno imediato. Ele não se vê como parte de um elo social, construindo conhecimento e cultura.
        O imediatismo não está presente apenas entre os alunos. Encontramos suas expressões em toda a sociedade, como reflexo direto ou indireto de um círculo vicioso presente na economia, no nosso modo de vida e na própria educação. De forma semelhante a uma erva daninha, o imediatismo se espalha para a consciência dos trabalhadores e das suas diversas categorias, tendo influência sobre os movimentos reivindicatórios.
        Podemos considerar o imediatismo como extensão da filosofia norte-americana conhecida como pragmatismo, que é disseminada incessantemente pelas relações econômicas, pela grande mídia, pelas escolas e universidades, terminando por se entranhar no senso comum. Os pragmáticos substituem a busca filosófica pela “verdade” (isto é, do reflexo objetivamente verdadeiro da realidade) pelo conceito de utilidade, de êxito, de vantagem. Deste ponto de vista, todos os conceitos, mesmo místicos e religiosos, são verdadeiros na medida em que são úteis. Os pragmatistas tomam como critério da “verdade” não a experiência ampla, social, do trabalho, mas unicamente as experiências individuais. Neste sentido, qualquer pensamento que seja útil individualmente pode ser reivindicado, tornando possível dar explicações diferentes, até mesmo contraditória, de um mesmo fenômeno. No essencial, o pragmatismo filosófico defende que “se funciona” é bom; ou seja, tudo aquilo que atinja seus fins individuais (como o lucro, por exemplo) cumpre a sua função, independentemente deste fim ser contraditório com o social.
        É evidente que o senso comum não percebe esta ligação do seu imediatismo com o pragmatismo filosófico, pois não busca a reflexão. Seja uma expressão consciente ou inconsciente das pessoas, o imediatismo é um fenômeno intrínseco às relações capitalistas de produção.

O imediatismo e o sindicato
        No campo sindical o imediatismo é como um câncer, que corrói qualquer movimento pelas beiradas. Sabemos que um dos motivos que impede a mobilização de base é o medo da represália (assédio moral, perseguições, remoções ou mesmo demissões) e as traições da burocracia sindical; mas há, além disso, uma hipocrisia subjacente em muitos colegas, que apesar de todos os esclarecimentos possíveis, optam por seguir um caminho de acomodação e passividade. Quem é imediatista não compreende o papel dos sindicatos e das greves; apenas exige “resultados” práticos. As pessoas seduzidas pelo imediatismo não acham importante participar dos sindicatos, os vendo hoje, conforme sua lente reducionista, simplesmente como antro de politicagem e partidos. Ignoram todas as lutas que foram e são travadas coletivamente, não vendo (hipocritamente) nenhum papel na sua omissão. Nem sequer levam em consideração que haja burocratização sindical, afastamento das bases e que, justamente isso, gere a politicagem burguesa. A disseminação do imediatismo na sociedade atual tem sido um impeditivo para uma luta consequente, além de alimentar a própria burocratização do movimento.
        A burocracia sindical reproduz nos sindicatos a relação paterna que pauta o sentimento infantil e na qual a nossa sociedade está fundamentada. É mais fácil e seguro seguir o pai, a mãe ou algum “protetor” que tudo fará por nós, do que buscarmos nossa autonomia, pensarmos por conta e risco e irmos para a vanguarda das lutas (desta mesma base psicológica advém a noção religiosa de messias). Somente em momentos de crise os trabalhadores rompem com esta conduta e dão um passo adiante, mas carregando consigo todo o peso e o atraso das lutas e dos debates não enfrentados e não superados. Quando conseguem romper esta passividade e se mobilizam, acabam por se chocar com a estrutura sindical burocrática e autoritária.
        Os dirigentes sindicais, por sua vez, reforçam este sentimento paternalista visando consolidar sua dominação. Tratam a base como crianças; bajulam os trabalhadores em momentos de calmaria e nunca falam o que realmente precisam ouvir. Em caso de ruptura da alienação sindical e política, os atacam furiosamente. Alimentam o sentimento imediatista quando negam derrotas nas lutas e nas greves; quando omitem verdades desagradáveis que os fariam perder votos e influência; quando defendem a forma vertical de sindicalismo, que dá poder apenas à cúpula em detrimento da base. Afirmam direta ou indiretamente: “não precisam se mobilizar e tomar a luta em suas mãos de forma autônoma e coletiva; basta votar em nós que faremos uma gestão responsável e resolveremos todos os seus problemas”. É como a propaganda comercial: “o voto em nós é satisfação garantida”. Amplos setores da base da categoria não veem nenhum problema nesta estrutura; ao contrário, aceitam-na acriticamente e acham tudo isso normal.
        Não é de se estranhar que a base do CPERS esteja bastante contaminada por este sentimento imediatista, temperado por uma forte compreensão de que a luta sindical é prioritariamente jurídica ou por queixas de que “o sindicato não faz nada por nós”. Dado a sua natureza democrático-burguesa, o sindicalismo cutista (e o reformista no geral) não pode agir de forma diferente, nem criar outro tipo de consciência.

O imediatismo e as greves
        Muitos alunos e outros tantos educadores não grevistas (e, às vezes, até mesmo grevistas) expressam novamente o sentimento imediatista quando afirmam diante o resultado de uma greve sem conquistas: “de quê adiantou fazer greve”? A burocracia sindical não apenas não pode responder esta pergunta, como se esforça por alimentá-la. Não quer encontrar explicações. Faz análises superficiais, quando não totalmente falsas. Inclusive não quer encontrar explicações sobre a não participação da grande massa da categoria em uma luta. É campeã de encontrar com lupa “micro vitórias” ou mesmo derrotas travestidas de “vitórias” para apresentar a sua base.
Desnudar as entranhas do imediatismo não significa negar que lutamos e fazemos greves porque queremos vencer, mas nem todas as greves poderão resultar em vitórias ou conquistas. Devemos ter sempre em mente que a luta é a longo prazo, que mesmo em uma derrota, por mais dolorosa que seja, devemos tirar lições, para que se tornem experiências e permitam que as futuras lutas e greves partam de um novo patamar. Devemos escolher os melhores momentos pra deflagrar greves (fato nunca levado em consideração pelas burocracias sindicais); no entanto, nem sempre poderemos escolher. Às vezes somos levados à greves de vanguarda e sem correlação de forças favorável. Ultimamente nossas greves têm sido, quase como regra, defensivas e de resistência. A conjuntura geral nos tem sido desfavorável.
O fato, contudo, é que não existe um talismã para vitória certa em uma greve. Somente o andamento da luta pode garantir frutos positivos, sobretudo se vencermos a burocracia e o seu sindicalismo reformista. Os nossos colegas (potenciais grevistas e lutadores do presente ou do futuro) precisam desenvolver esta consciência de longa duração, pois este é um dos principais antídotos contra o imediatismo. A formação teórica, política e sindical tem papel determinante; sobretudo a história do movimento operário, mas, principalmente, a sintetização das experiências das nossas lutas e greves. Não é casual que a burocracia sindical seja inimiga da formação teórica revolucionária, justamente porque precisa manter a consciência presa ao imediato. Armar teoricamente a categoria é tirar conclusões das experiências, é desnudar suas limitações e traições; portanto, é dar armas contra si própria.

O imediatismo na vanguarda de esquerda e a greve em curso
        A greve atual (que deve se tornar a greve de maior duração da história do CPERS) trouxe a tona o avesso da moeda. Os grevistas que estão lutando arduamente para que a greve siga, derrotando a burocracia sindical em duas assembleias gerais, tem pautado debates importantes, ainda que muitos também estejam centrados no imediatismo. Eles falam seguidamente: “o que ganhamos para sair da greve?”. Esta pergunta, repetida seguidamente, não leva em consideração que a greve deve ser medida como um processo, além de ignorar a conjuntura e muitos fatos objetivos.
        Se foi importante derrotar as intenções irresponsáveis da burocracia sindical de desmontar a greve com manobras e discursos terroristas de medo (demonstrando que é possível derrotá-la), esta vanguarda menospreza ou ignora que a categoria refluiu. Tal como a burocracia sindical, evita investigar as razões deste refluxo. Para nós, certamente pesam as traições do CPERS, os desmontes de greve, a falta de trabalho de base, de organização por local de trabalho. A burocracia sindical muito já destruiu e continuará destruindo as pontes com a base. O exemplo atual é o golpe na proposta de comando de greve aberto. Porém, há o sentimento imediatista, que, a despeito de ser alimentado pela própria burocracia sindical, também surge autenticamente da base, como reflexo de outras influências sociais e pessoais.
        A base que deflagrou a greve em setembro de 2017 explodiu indignada contra os ultrajes do governo Sartori (PMDB e aliados); sobretudo em razão dos míseros R$350 do seu parcelamento salarial de agosto. Deu uma demonstração de força que momentaneamente fez o governo recuar, junto com a própria burocracia sindical, que se assustou. Contudo, bastou apresentar uma proposta que não mudava em nada o essencial, somada a chantagens e ameaças de desconto e desemprego, para que a base refluísse, deixando a vanguarda novamente isolada. Ainda que tenha havido louváveis demonstrações de combatividade, o imediatismo terminou por se impor novamente, preparando as bases de uma possível derrota. Isto é, o governo não recuou do parcelamento, do escalonamento, da política de fim do 13º salário, de arrocho salarial e do ajuste fiscal.
O governo e a grande mídia conhecem muito bem este sentimento existente não apenas na nossa categoria, mas entre a maioria dos trabalhadores. Não hesitarão em utilizá-lo contra nós. Portanto, cabe a nós, como vanguarda consciente dos trabalhadores, estudá-lo, conhecê-lo e trabalhar para superá-lo, seja através da formação teórica, seja através da intervenção consciente na luta concreta.
O imediatismo tem parentesco direto com o espontaneismo, um vício muito pernicioso do movimento operário, que é alimentado por grande parte da “esquerda”. O espontaneismo já foi desmascarado por Lenin no livro “Que fazer?”, escrito há mais de 100 anos atrás, dentre outras obras. Cabe a nós retomar esta tradição teórica, pois uma de suas grandes conclusões expressas no referido livro é que “sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária”.

- Contra o imediatismo! Por uma política de formação teórica, sindical e política para a nossa categoria e para todos os trabalhadores.
- Abaixo a burocracia sindical, fonte de alimentação do imediatismo e das traições da nossa luta.
- Por um sindicalismo classista, revolucionário e organizado pela base, que incentive a autonomia dos trabalhadores.

14 de dez. de 2017

PELA IMEDIATA REINTEGRAÇÃO DAS COMPANHEIRAS CRIS E KATIANA ÀS SUAS ESCOLAS

Após o final da greve vivemos uma ofensiva do governo, da SEDUC, da CRE e de direções autoritárias de escola contra os lutadores que resistiram bravamente no movimento grevista. As duas companheiras da Construção pela Base, Cris e Katiana, estão sofrendo uma clara perseguição política por terem exercido o seu direito constitucional de greve. As duas foram substituídas em suas escolas durante o período de greve, quando retornaram ao trabalho foram encaminhadas para remoção na 1 Coordenadoria de Educação. As duas colegas são nomeadas, demonstrando que o direito à efetividade só é reconhecido quando convém, sendo seletivamente ignorado, principalmente quando se trata de atacar aqueles que lutam ou questionam as práticas autoritárias dos órgãos do serviço público e do governo.
Exigimos a imediata reintegração das duas companheiras ao seu local de trabalho, pois além de serem plenamente reconhecidas por suas respectivas comunidades escolares, jamais cometerem irregularidades ou desleixo no seu trabalho, ao contrário de dezenas de direções de escola autoritárias, envolvidas em escândalos de corrupção e sustentadas benevolamente pelas CREs e SEDUC.
Pedimos o apoio de todas as correntes e ativistas do CPERS para esta luta. Um sindicato não pode tolerar a perseguição aos seus lutadores sob pena de degenerar numa omissão à defesa de toda a sua categoria.
- Pela imediata reintegração das companheiras Cris e Katiana ao seu local de trabalho!

POR UM ACORDO DE GREVE QUE DEFENDA OS LUTADORES

Terminada a nossa greve, o período de reação contra a mobilização se abre. Muitos colegas nomeados e contratados foram substituídos ou removidos de escola sem nenhuma justificativa plausível, apenas deixando claro que se trata de perseguição política aos grevistas. Sabemos que as CREs estão querendo punir aqueles que tiveram a ousadia de lutar. No dia 15 de dezembro a direção central do CPERS (PT, PCdoB, PDT, PP; CUT e CTB) irão se reunir com o governo para “negociação” e acordo final de greve. O CPERS tem um papel importante aí que não pode ser negligenciado.
Depois de desmoralizar e desmontar a luta, ao ponto de deixar o movimento grevista esvair-se por inanição, sabemos que esta “negociação” será muito difícil. Apesar disso, se levado a sério pela direção do CPERS, este acordo pode ter um desfecho positivo, a depender de sua capacidade de envolver a categoria, a assessoria jurídica, as comunidades escolares e a opinião pública nestas reivindicações.
A postura da direção central, por sua vez, tem demonstrado que não utilizará a sua assessoria jurídica para isso, tampouco pretende envolver a opinião pública nesta luta por um acordo de greve digno. Esperamos que esta postura equivocada tenha sido revista. Mas que tipo de acordo esta direção pretende levar a esta mesa de “negociação”? Não somos contra que se busque primeiramente uma tentativa de conciliação com o governo, sem necessidade de intermediação direta da justiça. Em contrapartida, deve acioná-la imediatamente caso o governo mantenha a perseguição e as remoções de escolas.
Frente a isso, achamos que existem dois pontos do acordo de greve que são os principais. Estes pontos são os seguintes:
- Realocação de todos os grevistas removidos de suas escolas para o seu antigo posto de trabalho, junto à sua comunidade escolar. Ou seja, a anulação de todas as substituições feitas pelas CREs durante a greve, bem como anular a dispensa de educadores contratados. Caso este ponto não seja cumprido, se tratará de uma clara violação do direito constitucional de greve.
- Autonomia para a recuperação dos dias parados, respeitando o direito de greve dos educadores e o direito às férias dos alunos. Os acordos de recuperação devem ser feito através da própria comunidade escolar, debatidos em reuniões de pais, que contemplem a realidade concreta da escola e não a punição de quem fez greve. Caso contrário, será uma imposição autoritária que também significará perseguição política e punição aos lutadores.
Uma vez que o governo não cumpra estes pontos básicos numa mesa de conciliação, deve ser denunciado imediatamente para órgãos oficiais, como OIT (Organização Internacional do Trabalho), Ministério Público, Assembleia Legislativa e Justiça do Trabalho, bem como para toda a população (inclusive com campanha de mídia, se necessário for). Além disso, a direção central deve acionar imediatamente a sua assessoria jurídica para forçar um acordo real através da justiça, convocando os educadores para que se mobilizem para fiscalizar as decisões judiciais. Caso a direção central do CPERS se negue a isso, estará cometendo uma nova omissão imperdoável contra a categoria que diz representar.

7 de dez. de 2017

A GREVE DO CPERS FOI VANGUARDA NA LUTA CONTRA O AJUSTE FISCAL, MAS ACABOU DERROTADA PELO GOVERNO SARTORI, PMDB, PT, PCdoB E A BUROCRACIA SINDICAL

A nossa greve se iniciou em setembro de 2017, após os humilhantes R$350 reais depositados no final do mês de agosto. Teve caráter massivo, alastrando-se por todo o RS, e levando ao movimento escolas que nunca tinham feito greve. Este primeiro impacto gerou medo no governo e na sua base de apoio, a Assembleia Legislativa e a grande mídia, que partiram para o contra ataque com distorções, calúnias, difamações, chantagens e a ameaça de desconto e demissões.  
Neste primeiro momento da greve o governo foi parcialmente derrotado com as liminares na justiça, além do abandono da política de junção das folhas de pagamento. A grande mobilização da base não se refletiu no comando de greve, que até a assembleia de 10 de novembro ficou fechado entre as correntes majoritárias do CPERS. Até este momento, as ações foram as mesmas de sempre: burocráticas, rotineiras, restritas ao sindicalismo tradicional de orientação cutista, entrecortadas por algumas ações “radicalizadas” que não foram preparadas na base e que duraram no máximo um dia. Frente a este corpo mole, o governo usou a estratégia de sempre: enrolou o movimento com mesas de negociações inúteis, reforçando seu discurso mentiroso de crise na mídia, matando a greve no cansaço e, contando para isso, com a conivência da burocracia sindical.
Foi neste contexto que o governo aceitou a proposta do comando estadual de greve (que ainda era fechado) de escalonamento dos salários, conforme atesta o editorial do secretário de educação publicado na Zero Hora (e não desmentido). O escalonamento e o medo de perder as férias começaram a tencionar os colegas imediatistas, tentados à voltar ao trabalho. No entanto, em razão da penúria de grande parte da categoria, a luta seguiu com grande adesão e conseguiu reverter estas ameaças. A burocracia sindical percebeu que teria problemas para desmontar o movimento. Sua primeira tentativa, sem sucesso, se deu na assembleia geral de 31 de outubro, esperando que surgissem propostas de fim de greve da própria base, fato que não ocorreu. Até este momento o CPERS não tinha desenvolvido uma campanha de mídia consistente, que respondesse sistematicamente os ataques da grande mídia e as mentiras do governo. Deixou o movimento ser alvejado por todos os lados para deixar gerar antipatia na opinião pública (que, como sabemos, é propensa à apoiar discursos reacionários, embora até este momento tivesse dado apoio à causa dos educadores por perceber o seu sofrimento).
A partir da assembleia geral de 10 de novembro a direção central (PT, PCdoB, PDT, PP; CUT e CTB) e a maioria do comando de greve passaram à ofensiva contra a greve. Partindo de uma análise correta de que o movimento tinha refluído (omitindo, é claro, o seu papel neste refluxo), apelaram ao discurso do medo, ao aparato para asfixiar o movimento e as iniciativas da base. Mesmo reduzindo-se à uma vanguarda, o movimento resistiu contra estas investidas, pois esta ainda era numerosa, indo muito além das correntes oficiais do CPERS e das greves anteriores. Uma das qualidades desta vanguarda era a sua insistência e a capacidade de infringir derrotas à inúmeras correntes majoritárias que dirigem núcleos do interior, como a Articulação Sindical (PT) e a Construção Socialista (PSOL), que já trabalhavam abertamente pelo fim da greve, inclusive com discursos reacionários que repudiamos. Devemos alertar a categoria para os perigos reais, mas jamais insuflar-lhe medo. Muitos destes argumentos foram utilizados posteriormente pela mídia e pelo governo, inclusive em uma ação judicial pedindo a ilegalidade da greve, que não foi deferida. A nota do CPERS “alertando” a categoria sobre a tentativa de tornar a greve ilegal respondeu o governo de forma patética, quase como uma nota oficial do próprio governo.
O discurso da direção central e da maioria do comando de greve, além de apelar ao terrorismo psicológico e judicial (autênticas traições de classe), usava uma argumentação cínica: “acabar com a greve para seguir na luta, fazer uma ‘greve geral’, derrotar o ajuste fiscal e concretizar a unidade com os servidores”. Além de ser um flagrante contrassenso político e teórico, pela experiência sabemos que se a greve for encerrada a direção central enterrará toda a luta e não promoverá mais movimento algum.

Os problemas do comando de greve estadual
            Durante a maior parte do tempo o comando de greve ficou restrito apenas às correntes majoritárias. Somente a partir da assembleia de 10 de novembro foi aberto para as correntes minoritárias (como a nossa). Mesmo “aberto”, a direção central seguiu impondo sua hegemonia pela força do aparato, procurando matar a greve por inanição. Foi exatamente o que aconteceu. Discursos de medo para a categoria e clima de ódio com pautas nada propositivas no comando estadual intensificaram o refluxo da greve. Tudo isso aumentou o isolamento da vanguarda.
            A nova prorrogação da greve na assembleia de 24 de novembro, apesar de ter aprovado a abertura do comando de greve para toda a base, intensificou o isolamento e a inanição do comando de greve. Depois de restringir a sua abertura apenas aos diretores de núcleo, dando um golpe na base, a direção central tolerou dirigentes fura-greve, envergonhando a luta e quebrando a disciplina sindical. A inoperância deste “novo” comando de greve estadual foi completa. Reuniu-se apenas duas vezes e não debateu nada além de datas para a assembleia geral e ataques pessoais. Não formulou uma única orientação para os núcleos; nem esgotou nenhuma possibilidade; colocou seletivamente em prática propostas aprovadas na última assembleia geral. Dava orientações e declarações a reveria do comando estadual de greve, apresentando um calendário para núcleos alinhados, boicotando atividades que julgava inconvenientes (principalmente em Porto Alegre), propondo reuniões de cúpula para os sindicatos de servidores e as centrais.
            A aprovação da abertura do comando de greve para a base, a despeito de problemas de formulações (amplamente exagerados ou deformados pela burocracia sindical), demonstrou claramente o total isolamento do comando estadual dos comandos de base. A grande lição deste movimento grevista é que não podemos tolerar uma única greve a mais com este tipo de comando, hegemonizado por correntes de forma vertical e sem eleição proporcional nos comandos abertos de base, nos núcleos. Em uma greve, as direções precisam se estender para um comando que seja a expressão mais próxima possível do movimento na base, eleito nos comandos abertos de núcleos, desenvolvendo um critério que reflita proporcionalmente o número de escolas de cada região. Para os ativistas honestos que procuram um caminho, fica a experiência para ser aperfeiçoada. Para aqueles que vão propor a continuidade da greve, abrir o comando estadual nesses moldes é um dever, caso contrário será apenas fanfarronada ou suicídio.

Se Lula e o PT “perdoaram os golpistas”, os trabalhadores não devem perdoá-los
            A mudança de linha política do PT e PCdoB a nível nacional se refletiu na greve. O sindicalismo da CUT e da CTB não vão além do legalismo democrático-burguês, portanto, andam conforme a chantagem das suas instituições e dos seus partidos. O trancaço da Assembleia Legislativa demonstrou claramente o papel de cúmplices de PT e PCdoB na aplicação do ajuste fiscal do governo Sartori (PMDB), que, no melhor estilo da direita, classificaram o trancaço de “inaceitável”. Nos sindicatos que dirigem ajudaram a frear os servidores contendo a luta e deixando-os isolados. A direção do CPERS e a CUT boicotaram sistematicamente a proposta de unificação de calendários de luta dos sindicatos dos servidores, bem como a realização de encontros de base.

Por que fomos derrotados?
            As nossas greves tem se caracterizado por serem de resistência. Não arrancam novas conquistas, mas lutamos para preservar as velhas. Isto é um reflexo da conjuntura, da inoperância das centrais sindicais e do desgaste de um tipo de sindicalismo. É necessário iniciarmos uma nova cultura sindical e, para isso, tirar as lições desta derrota é fundamental. Tivemos pontos positivos com este movimento, tais como o desmascaramento da “crise financeira” do governo Sartori (as irregularidades em suas contas, principalmente do FUNDEB), a não junção das folhas de pagamento, a participação de escolas e colegas que nunca tinham feito greve, a organização dos contratados, o início do debate sobre a abertura do comando e o desmascaramento de PT e PCdoB. Este movimento grevista demonstrou claramente que a burocracia sindical cria uma cortina de fumaça entre o interior e a capital, embaçando dados e dificultando informações. Vivemos um verdadeiro regime de censura na base. Para superar isso, é fundamental aprofundar a relação que se desenvolveu ao longo da greve entre lutadores independentes dos diferentes núcleos para construirmos um poder paralelo de informações, troca de dados e impressões, no sentido de minar as bases de poder da burocracia sindical. Neste sentido, as redes sociais cumprem papel importante.
            Por outro lado, setores da vanguarda que querem seguir em luta afirmam que “não podemos acabar com a greve, pois não arrancamos nada do governo”. Esta visão é equivocada, pois no atual contexto não se trata de “tirar algo do governo”, mas de resistir. Nesta resistência, contudo, fomos derrotados, em primeiro lugar, pela força organizada do governo Sartori (o PMDB e aliados, o aparato de estado, a grande mídia e a opinião pública alienada). Em segundo lugar, pela direção central e a maioria do comando de greve, que deixaram a greve ser atacada e morrer de inanição (ou seja, usaram o aparato para frear a luta, no velho estilo stalinista). Em terceiro lugar, pelo imediatismo pequeno-burguês da maior parte de nossa categoria, não combatido pelas direções do CPERS com formação teórica e organização por local de trabalho.
            O resultado foi o refluxo e o esgotamento. Apesar da derrota, as lições ficam. Que a vanguarda não se esqueça delas. Por sabermos que a continuidade da greve não terá base mobilizada e morrerá de asfixia imposta pela burocracia sindical através do aparato, compreendemos que devemos encerrar a greve.
            Contudo, não devemos nos abalar com a derrota. A luta é um processo! Precisamos fortalecer os fóruns alternativos de troca de informações, a organização dos educadores contratados, a disseminação teórica da experiência que vivemos com este movimento e preparar a luta contra a punição da recuperação dos dias letivos. Na busca deste “acordo” de recuperação devemos nos utilizar de todo o arsenal jurídico disponível. Caso a direção central e sua assessoria jurídica se neguem a encampar esta luta, se tratará de uma nova traição, largando a categoria à sua própria sorte. Nós, enquanto corrente, seguiremos firmes ajudando a organizar as forças independentes da categoria, convictos de que para termos greves e lutas vitoriosas no futuro, precisamos derrotar a burocracia sindical do CPERS.

3 de dez. de 2017

TEM CHEIRO DE GOLPE NO AR!

Após uma grande campanha de difamação e distorção grosseira sobre a proposta aprovada em assembleia geral que abre o comando de greve estadual para a base da categoria, a direção central já trabalha a todo vapor para domesticá-la e torná-la estéril. Primeiro, tentou desmoralizá-la, lançando a pecha de que era "inviável". Uma vez que vários debates e sugestões começaram a surgir entre a vanguarda e na base da categoria, demonstrando a plena viabilidade de sua execução (ainda que com dificuldades, é claro, uma vez que as estruturas anti-democráticas e a rotina burocrática do sindicato servem de empecilhos), a direção central exagerava grotescamente a nossa proposta, tentando ridicularizar o encaminhamento. Depois, a burocracia sindical tentou distorcer a proposta, afirmando que toda a categoria poderia participar do comando, inclusive não grevistas.
Tentando ganhar tempo e, como sempre, despendendo enormes quantidades de energia para frear a luta, a direção central convocou o Conselho Geral do CPERS com a finalidade de "regulamentar" o comando de greve aberto, ignorando a resolução aprovada na assembleia e o próprio comando de greve já instituído. Trata-se, na verdade, de mais uma manobra visando dar um golpe. A proposta de abertura do comando de greve à base visa romper exatamente com este tipo de hegemonia das correntes sindicais sobre a greve. Quer dar voz e voto a todos os grevistas, possibilitando novas experiências à vanguarda que permanece em greve. O Conselho Geral, por sua vez, é controlado pelas mesmas correntes que já dirigiam o comando de greve anterior e, como é de seu costume, tal como o Congresso Nacional brasileiro, costuma legislar em causa própria, virando as costas à base da categoria. Pra piorar, a maioria das correntes que hegemonizam o Conselho Geral não votaram apenas pelo fim da greve, mas muitos de seus dirigentes sequer estão em greve. Que tipo de comando de greve poderão regulamentar?
Sendo assim, esta nova tentativa de democratizar o CPERS corre sério risco de não ser implementada, terminando por manter a hegemonia dos mesmos de sempre. Enquanto persistir esta estrutura vertical, autoritária, paternalista e burocrática, certamente teremos dificuldades em democratizar as instâncias sindicais, como o comando de greve. Este singelo passo, dado na última assembleia, representa uma fissura; um indicativo de que é possível e fundamental democratizar o CPERS pela base. A vanguarda independente precisa se conscientizar do seu papel e trabalhar para concretizar a proposta.
Por hora, a abertura do comando de greve está seriamente ameaçada em razão deste avanço da burocracia sindical. Cabe aos lutadores que ainda resistem remarem novamente contra a corrente, alertando toda a categoria e a sua vanguarda sobre o novo golpe que está em curso contra a abertura do comando de greve!

QUEM É REALMENTE IRRESPONSÁVEL?

Mal a proposta que abre o comando de greve estadual para a base foi aprovada em assembleia, membros da direção central do CPERS e apoiadores já saíram a apontá-la como irresponsável. E por que exatamente seria um ato irresponsável abrir o comando para uma base que, por distintas vezes, demonstrou seu desejo por mais democracia e transparência por parte da direção do CPERS, estendendo o poder de decisão para além das correntes?
Como classificar um passo tão importante para a categoria como uma irresponsabilidade? Onde está o problema em avançar da "representação" para a participação efetiva? Existem dois argumentos centrais por parte destes setores que estão repudiando a abertura do comando de greve para a base. Um afirma que não há operacionalidade para a proposta, sustentando que todos os sócios iriam querer participar; o segundo sustenta que setores da direita ou mesmo do governo iriam se infiltrar no comando, portanto, teríamos um problema de segurança. Respondemos, serenamente, que surgiram muitas sugestões (não apenas nossas) para colocar a proposta em prática. A mais conhecida, apresentada na assembleia geral, seria através da liberação de senhas, uma vez que a reunião se daria em um ambiente determinado com o seu limite físico. Até mesmo a operacionalidade para a participação do interior foi pensada (indicação dos comandos regionais e custos para os núcleos). Sobre a segurança e o combate às infiltrações também foram pensadas possíveis soluções, como a identificação dos presentes pelos próprios presentes, além do reconhecimento a partir da atuação no sindicato, no seu núcleo de origem e no seu comando de greve regional.
Alegam ainda, os inconformados com a proposta aprovada, que o "comando aberto" seria, numa interpretação mal-intencionada, aberto para qualquer um, inclusive para o MBL ou pessoas de fora da categoria. É um método muito comum na política reduzir a posição do adversário ao absurdo, levando-a a extremos. Qualquer pessoa capaz de raciocinar entendeu que se trata de abrir o comando para a base grevista da categoria, e não para qualquer pessoa. A uma direção séria, caberia pensar em caminhos para executar tal proposta, sintetizá-la, levá-la ao laboratório da práxis, corrigir seus erros e consolidar os acertos. Mas não! Temos visto ataques que beiram o desespero. Além disso, toda essa discussão e terrorismo em torno do novo formato do comando de greve serve apenas para revelar a inexperiência democrática do nosso sindicato.
Membros da direção central estão afirmando ainda que a abertura do comando para a base seria igualmente para grevistas e não grevistas. Ora, isso é uma manobra para descaracterizar a proposta! Comando de greve é só para quem está em greve! É sabido que muitos dirigentes de núcleos ligados à direção central ou às correntes que a orbitam não acatam as decisões da assembleia e muitos vergonhosamente não fazem greve, mas querer descaracterizar um comando de greve inflando-o com não-grevistas já demonstra as reais intenções da burocracia sindical. Não compactuamos com isso.
A proposta sobre a abertura do comando para a base (ainda que sempre possa ser aperfeiçoada) dividiu as correntes em dois campos: as que apostam na democratização do sindicato, trabalhando no sentido de superar a hierarquização, pensando em novas formas de organização e avançando na construção coletiva de decisões; e as que apostam no controle restrito, autoritário, stalinista, controlando a base como crianças que não podem pensar por conta própria. Ao invés de, honestamente, procurar formas de melhorar a proposta de democratização e abertura do comando, estas correntes gastam energia para reproduzir o velho discurso do terrorismo, distorcendo grosseiramente a intenção de democratizar o CPERS e as suas greves.
Para nós, irresponsável é fretar ônibus para ter maiorias artificiais visando desmontar as lutas; é não cumprir o que é decidido nas assembleias (fundo de greve, encontro de servidores, distribuição de 1 milhão de panfletos, dentre outras); é manter um sindicalismo de cúpula, atrelado ao estado; é desviar a atenção da Assembleia Legislativa quando os seus parlamentares (do PT e PCdoB) vão votar a favor do ajuste fiscal; é marcar assembleia geral para acabar com a greve em um dia nacional de luta; é falar contra a RBS, mas deixá-la gravar de dentro todas as assembleias gerais; é fazer discurso terrorista para amedrontar a categoria e repassar número de grevistas para a mídia burguesa; é manobrar para que não-grevistas entrem num comando de greve. A crise aberta com a proposta de abertura do comando de greve é o prenúncio do esgotamento de um tipo de sindicalismo e da necessidade de um novo.
Construção pela Base
MAR - Movimento Autonomia e Revolução


Proposta para operacionalizar o Comando Estadual de Greve Aberto do CPERS Sindicato

1. Quem participa?
- Os Comandos de greve aberto dos 42 núcleos devem estar conectados ao Comando Estadual, pois nestes comandos estão representados todos que tem disposição para a luta (ou seja, todas as forças, bem como as que já estão representadas no atual comando, os representantes de escolas, a base da categoria), com direito a voz e voto. A participação da base se dará via comando do núcleo ou via presencial na sede do Comando Estadual.
2. Como organizar as reuniões?
- Utilizar tecnologias que oportunizem participação em tempo real, semelhante conferência on-line, para todas as sedes dos núcleos (onde as reuniões não serão gravadas, apenas transmitidas).
3. Critérios de segurança:
- Não poderá ser usado celulares, tablets e outros equipamentos tecnológicos de acesso a internet, bem como gravações que possam dar acesso a reunião.
- Identificar o participante da reunião.
- Participa quem é da categoria.
4. Quantidade de falas?
- A ser definida pela mesa da reunião, fazendo uma média pelos presentes e respeitando, principalmente, as propostas divergentes.
5. Como se dará encaminhamento de propostas?
- Receber e ler todas as propostas, procurar a síntese e o consenso.
- Nas propostas com divergência abre-se uma defesa a favor e outra contra colocando em votação.
6. Onde será a sede de transmissão?
- A sede de transmissão será em Porto Alegre.
- Garantir que integrantes dos Comandos de Greve dos Núcleos possam participar pessoalmente das reuniões do Comando Estadual na sede de transmissão, com direito a voz e voto, bem como o núcleo deverá custear suas despesas.
- Na sede de transmissão será permitido a entrada de participantes da categoria através de senhas conforme a capacidade do local, bem como utilizando os critérios de segurança e garantindo a participação dos integrantes dos núcleos do interior e capital.

Construção pela Base
MAR - Movimento Autonomia e Revolução