Dissemos
em diversas análises antigas que a burocracia sindical era o grande empecilho
para uma luta independente e uma greve vitoriosa. Não é possível pensar em
greve vitoriosa ou qualquer outra política sindical consequente enquanto a
burocracia sindical estiver dirigindo e controlando o CPERS.
A
burocracia cutista sabotou a nossa luta, manobrou e conchavou nos bastidores, terminando
por levar o movimento grevista à derrota. Desde a cúpula do fórum dos
servidores públicos foi preparado a destruição do movimento de base. A
burocracia unida dos sindicatos de servidores deixou a luta transcorrer até
certo ponto para, logo a seguir, ter melhores condições de sabotar e frear a
organização e a luta de base. Ou seja, a grande mobilização dos servidores
públicos foi uma resposta aos ataques do governo Sartori (PMDB, PP, PPS, PSDB,
PSB, PSD, PRB, PV) e não mérito da política sindical do CPERS. Muito antes pelo
contrário: o CPERS e a CUT se colocaram a frente do movimento para melhor
domesticá-lo e freá-lo.
Como a burocracia
sindical dispõe de muito tempo livre, tudo foi minuciosamente montado: desde a
propaganda e o discurso ambíguo; até os passos políticos concretos para o
desmonte. Muito se falou em “greve de novo tipo”, mas, como tudo se comprovou,
isso era apenas uma forma de arrefecer e acalmar os ânimos da base. Foi com
essa ajuda das burocracias sindicais que o governo Sartori conseguiu derrotar o
movimento de indignação que as suas políticas de ajuste despertaram e aprová-las,
uma a uma, na Assembleia Legislativa. Para vender a ideia de alguma “vitória”,
a direção do CPERS afirmou que “garantiu o não corte do ponto” durante os dias
de greve e que a pressão do fórum dos servidores “adiou votação de projetos na ALERGS” (Sineta, setembro/outubro de
2015).
Na assembleia geral
do Pepsi On Stage a burocracia
sindical mostrou sua verdadeira face
Temos visto a
democracia sindical ser asfixiada pouco a pouco dentro do CPERS. Os golpes,
manobras, imposições, desmontes, distorções, foram práticas comuns deste
“movimento grevista” e está se tornando a regra. Este foi o principal motivo
para a CUT ter investido pesado nas eleições do CPERS: queria ganhá-lo para
poder frear a luta contra os seus governos!
A culminância dos
golpes burocráticos se deu na assembleia geral do Pepsi On Stage. Para esconder essa vergonhosa manobra, a burocracia
sindical distorceu os fatos: “Um grupo, a
favor da greve por tempo indeterminado, começou a confusão após a categoria
decidir pela manutenção do Estado de greve [...] atitude que impediu a contagem nominal dos votos” (Sineta,
setembro/outubro de 2015). Isso demonstra o grau de compromisso com os governos
federal e estadual. Não houve a menor intenção por parte da direção em contar
os votos nominalmente. Claramente ela estava tencionando o plenário para
empurrar a manobra adiante ou usar o pretexto de “desordem” para encerrar a
assembleia. Como a quase metade dos presentes – e não um “pequeno grupo” –
impediu que a manobra fosse consumada, a direção do CPERS optou pelo segundo
caminho.
O papel conciliador
das correntes e núcleos de “oposição”
Mesmo
controlando a metade dos núcleos do CPERS, as correntes ditas de “oposição”
(MLS, PSOL, PSTU, CEDS), apesar de criticarem as políticas da direção central
e, eventualmente, falar contra a burocracia sindical, foram meras correias de
transmissão da burocracia cutista. Em nenhum momento desfizeram as mentiras da
direção central, seus discursos falaciosos e as circulares que visavam preparar
o desmonte. Aceitaram passivamente a destruição da greve após a manobra da
assembleia geral, propondo o mesmo caminho que a direção do CPERS e a não
insistência de mantermo-nos em greve, pois dali não havia saído decisão alguma!
Alguns núcleos de Porto Alegre não se responsabilizaram pela manutenção dos
períodos reduzidos e sequer formaram comandos de greve regionais. No auge das
mobilizações, quando cada assembleia regional tinha em média cerca de 100
presentes, foram limitadas as falas, numa reprodução da falta de democracia e de
organização das assembleias gerais do CPERS.
Todas
estas correntes e núcleos de “oposição” falam pontualmente contra a
burocratização sindical, mas os seus programas e o sindicalismo são os mesmos
que o da atual direção; isto é, totalmente burocratizado. Repetem no CPERS à
disputa entre PT e PSDB: na oposição se permitem todo o tipo de crítica; na
direção mantém a mesma estrutura sindical burocratizada, da qual todas se
beneficiam. A sua crítica é feita sob medida para consumo das bases; seus
núcleos, na prática, são correias de transmissão da direção central; o seu
programa e a sua atuação não permitem superar a burocratização sindical.
Sobre
a realização do IX Congresso do CPERS
Algumas
destas correntes, através dos núcleos “de oposição” que dirigem, estão propondo
tencionar a direção central para a realização do Congresso ordinário do CPERS.
Até o presente momento, a diretoria não tocou no assunto e, no que depender
dela, não tocará. Estatutariamente o CPERS deveria realizar congressos de dois
em dois anos. O último foi em 2013, na cidade de Bento Gonçalves.
O
congresso, para ser produtivo, deveria ser precedido por uma longa discussão
pré-congressual de teses; sobretudo na base. Nada disso foi feito. Pela atuação
da direção central nesta “greve parcelada”, a realização do congresso em tão
pouco tempo – menos de três meses para acabar 2015 – seria apenas uma
formalidade burocrática que em nada contribuiria para a formação e a luta da
categoria. Novos golpes seriam dados e o desânimo da categoria aumentaria. A
burocracia sindical, utilizando-se do seu controle onipotente sobre o aparato,
certamente asfixiaria o debate, reduzindo-o a uma farsa, uma trivialidade,
cansando-o com inúmeros painéis e atividades culturais descolados da realidade
direta da categoria. A pressão para a sua realização é importante, mas não pode
estar desvinculada desta compreensão. É preciso propor um congresso para o ano
que vem, com, no mínimo, 4 meses de debate de teses e programa, bem como um
calendário e um método para fazer este debate chegar ao chão das escolas; caso
contrário, ele se tornará apenas outra correia de transmissão da burocracia
sindical para sabotar a nossa luta e desmoralizar a categoria.
A transferência do
conselho geral para Santa Maria
Após
a destruição da greve e do retorno do sindicato a sua rotina burocrática, a
direção do CPERS transferiu a reunião do conselho geral para Santa Maria. A
desculpa oficial é acompanhar e “pressionar” o governo Sartori em uma audiência
pública. Porém, trata-se de mais uma manobra visando fugir dos questionamentos
e da pressão da base de Porto Alegre. O conselho geral foi bastante visado
durante o período da “greve parcelada” e sofreu grandes pressões da base,
sobretudo de Porto Alegre. Para ter maior liberdade de manobra, a direção
central mudou o local da reunião para dificultar o acesso.
As
lições da derrota
A direção do CPERS foi vitoriosa na sua
política de derrotar a força e disposição de luta da categoria contra o governo
Sartori. Esta se viu encurralada entre os ataques do governo e os golpes da direção do
CPERS, que impediu que a luta contra o governo fosse radicalizada. A burocracia
dirigente, na assembleia geral do dia 11/09, destruiu a possibilidade de uma
greve consequente por tempo indeterminado para barrar os ataques.
Estamos sofrendo o peso desta derrota no dia-a-dia das
escolas, com uma carga de trabalhado excessiva, corte de repasses das verbas
escolares, a ameaça permanente de parcelamento de salários, salários
congelados, sucateamento da educação pública e todos os demais ataques
encaminhados à Assembleia Legislativa pelo governo Sartori.
As correntes e
muitos ativistas de “oposição” até podem falar contra a burocracia sindical,
mas na sua prática não se encontra a denúncia persistente e a disputa para desmascará-la
e propor uma política consequente no lugar da sua. Seu pensamento e programa
são marcados pelo formalismo. Buscam alianças eleitorais com ela, como também
não questionam seus métodos autoritários. Não estão dispostas a questionar os
alicerces reais de toda a burocratização sindical, pois de uma forma ou outra
fazem parte dela e procuram dissimular este fato com críticas vazias. Em suma:
a derrota do nosso movimento grevista atual é o reflexo do controle da
burocracia sindical sobre o CPERS, seja através da direção cutista ou das
correntes de “oposição” que lhe orbitam.
Como sempre, a cada
nova manobra burocrática que destrói a nossa luta, uma onda de apatia e
descrença se espalha na categoria, mas precisamos resistir! Já apontamos que o
principal entrave para a nossa luta é a burocracia sindical. Enquanto ela
estiver presente no CPERS, amargaremos mais derrotas como a que vivemos nesta
“greve parcelada”.
Apesar
das traições da burocracia sindical, não podemos desanimar. A luta continua em
defesa dos nossos direitos e contra os ataques do governo. Precisamos continuar
nos organizando. É preciso que a base da categoria participe das plenárias,
reuniões, assembleias do sindicato, fazendo propostas e impedindo as manobras
da burocracia sindical. A partir de nossa organização por local de trabalho,
poderemos construir a nossa independência de classe em relação aos governos e à
burocracia sindical.
É preciso continuar
construindo uma oposição consequente dentro do CPERS, que se enfrente
politicamente com essa burocracia. Todos aqueles que entendem a necessidade
desta organização que se somem nesta luta!