Foi aprovado no IX Congresso do
CPERS a palavra de ordem “Fora Sartori”, que já vinha sendo levantada por
correntes sindicais (MLS, PSTU, PSOL-US/CST, CEDS, Tribuna Classista e outros
agrupamentos sindicais) desde antes da greve. A consigna de “Fora Sartori” soa
bem aos ouvidos porque supostamente trabalha para derrubar um governo
neoliberal, que está destruindo os serviços públicos e governa torturando psicológica
e financeiramente os trabalhadores. Mas o que viria no seu lugar? Seria muito importante
colocar o governo Sartori (PMDB e aliados) para fora, mas isto não está na
ordem do dia para os trabalhadores, pois vivemos uma conjuntura defensiva. Não
podemos fazer política unicamente de acordo com os nossos desejos, sem analisar
correlação de forças; ou o que é muito pior: baseado na demagogia ou na
irresponsabilidade.
Do ponto de vista da propaganda do socialismo, estaria
correto debatermos com os trabalhadores a necessidade de tirarmos os governos,
quaisquer que sejam, pelas nossas mãos através da luta e da mobilização; mas
não poderíamos tirar somente o governo estadual!
Precisaríamos de uma luta contra o sistema
capitalista, isto é, contra todos os governos, políticos e partidos burgueses,
desde o municipal até o federal. Nesse sentido, somente uma revolução
socialista poderia impor uma derrota a todos os governos representantes do
capital. Os trabalhadores precisam subverter a ordem social, desapropriar a
burguesia e colocar os meios de produção a serviço dos trabalhadores,
desconstruindo as estruturas políticas e econômicas corrompidas. Porém, uma vez
que ainda não temos organização, nem consciência para isso, é preciso um longo
e paciente trabalho de esclarecimento e propaganda. Se não tratamos esta
consigna de “Fora Sartori” como propaganda, então caímos no terreno da
agitação, o que significa propor uma tarefa imediata a ser cumprida pelos
trabalhadores. O que seria frustrada.
O “Fora Sartori” como forma de
agitação significa, concretamente, trabalhar para que o vice assuma (tal como
aconteceu com Dilma a nível federal) ou desgastar o governo eleitoralmente para
que algum outro partido assuma o governo. Nesse caso, sabemos, nada mudaria.
Todas as correntes sindicais do CPERS que levantam o “Fora Sartori” têm
perfeita clareza disto e mesmo assim continuam agitando esta palavra de ordem
como tarefa imediata. Com isso, querem colocar uma máscara de radicalismo para
enganar os trabalhadores mais desatentos para esconder a sua prática de conciliação
de classes e falta de política na luta sindical concreta.
Todos os trabalhadores conscientes
devem se perguntar: a nossa intenção seria apenas derrubar eleitoralmente o
governo, para assumir o vice-governador, José Paulo Cairoli (PSD)? Ou desgastar
o governo do PMDB para eleger um outro do PT, PSOL ou de qualquer outro partido
que governaria por dentro das instituições burguesas corrompidas? Tirar um
governador para por outro, mantendo a estrutura econômica e política que exige
a retirada de direitos e a destruição dos serviços públicos, poderia resolver
alguma coisa?
O único “Fora Sartori” que poderia
nos interessar é aquele em que os trabalhadores são protagonistas, colocando
abaixo o governo por suas próprias mãos, através da sua luta e da sua
organização, não apenas para tirar do poder o atual governador, mas para
derrubar toda a estrutura econômica e política que nos ataca e oprime, isto é,
o capitalismo, na perspectiva socialista do poder. No entanto, sabemos que hoje
não existem condições objetivas para isso (inclusive as correntes sindicais
majoritárias o sabem). Quem está na ofensiva é o governo e a direita. Sendo
assim, o “Fora Sartori”, por melhor que nos soe aos ouvidos e dialogue com a
raiva contra o governo, apenas pode significar a primeira opção; isto é, o
desgaste eleitoral e institucional que, se efetivado, colocará no poder o
vice-governador ou um novo governo da direita ou do PT.
Sabemos que muitos colegas acham que
a solução seria a eleição de um governo petista. Contudo, a experiência com o
governo Dilma e Tarso nos demonstra que os trabalhadores não podem esperar nada
daqueles que governam em aliança com a burguesia e, também, retirando direito
dos trabalhadores com um discurso “democrático e popular”. Esta estratégia
levou ao fortalecimento da direita e ao impeachment.
Em nenhum lugar do mundo as frentes populares beneficiaram os trabalhadores.
Não há saída por dentro do capitalismo e das suas instituições. Aliás, com a
atual correlação de forças político-institucional, nem sequer um governo
petista ou do PSOL seria eleito. O mais provável é que com a saída do governo
Sartori, veríamos a eleição de um novo governo da direita tradicional.
Esta foi a experiência com o “Fora
Dilma”, que não significou outra coisa que não a ascensão dos partidos da
direita. Da mesma forma, a campanha do “Fora Yeda” em 2009 apenas significou o
“viva Tarso”, que se elegeu com um discurso de salvador do Estado,
“anti-neoliberal”, mas não fez nada além de continuar aprofundando a política
liberal no RS à moda petista, atacou o plano de carreira, não pagou o piso,
demitiu milhares de trabalhadores. O “Fora este ou aquele” como forma de
agitação imediata, dentro da atual conjuntura em que os trabalhadores não tem
organização capaz de levá-los ao poder, tem servido apenas para ajudar a
reciclar o sistema e a afundar os trabalhadores ainda mais no lamaçal das suas
ilusões. Assim, se a vanguarda consciente do CPERS não souber se reorganizar em
bases revolucionárias, fazendo a leitura mais adequada da realidade e lançando
palavras de ordem coerentes, o “Fora Sartori”, se realmente for levado adiante,
servirá apenas para dar uma nova vida a uma grande camada de partidos e
políticos burgueses e reformistas, já desmoralizados, e um novo surto ao
banditismo da direita.
A direção central e as
correntes da “oposição pelo aparato” frente ao “Fora Sartori”
A direção do CPERS (ArtSind, AE,
CSD, MCS – todas estas do PT –, PCdoB, PDT) tem sido muito cautelosa em relação
ao “Fora Sartori”. Não temos dúvidas de que as correntes da direção central têm
todo o interesse em desgastar política e eleitoralmente o governo estadual,
para eleger um governo petista. Mas elas agem assim porque temem cair numa
contradição com o “Fora Dilma” e também porque pretendem conservar a ordem e a
institucionalidade de possíveis aliados políticos, sobretudo nas eleições
municipais que se avizinham. Portanto, as suas reservas com o “Fora Sartori”
nada tem a ver com a nossa posição.
Já as correntes sindicais da
“oposição pelo aparato” (MLS, PSTU, PSOL-US/CST, CEDS), mesmo sabendo da atual
correlação de forças e do debate sobre o que colocar no lugar do governo Sartori,
continuam levantando esta palavra de ordem visando unicamente o seu desgaste
eleitoral e institucional em prol do PT e do PSOL, mas, também, dos partidos da
direita tradicional. Não veem nenhum problema em insuflar uma luta equivocada
para que os trabalhadores novamente amarguem uma nova desilusão. Querem
aparentar um radicalismo estéril que apenas esconda a sua falta de política
para organizar a luta concreta contra o governo, o seu ajuste fiscal, a
burocratização sindical e o capitalismo. A incoerência do método é flagrante.
O “Fora Sartori” conta ainda com o
apoio de muitos ativistas independentes e correntes sindicais minoritárias, que
julgam ser esta uma palavra de ordem correta. Como foi dito até aqui, o “Fora
Sartori” não serve para organizar a luta da categoria, pois não podemos dar o
passo maior do que a perna segundo a nossa vontade individual e a raiva pessoal,
por mais justas que sejam. Aparentemente é uma palavra de ordem muito sedutora,
mas que implica em secundarizar ou mesmo omitir outras palavras de ordem que
são muito mais concretas no momento e que vão no sentido de acumular forças,
como a denúncia e a luta contra o ajuste fiscal do governo e todas as bandeiras
que daí decorrem.
O conjunto dos trabalhadores do
serviço público ainda não compreende que não é apenas o governo Sartori o
responsável pelos ataques contidos no ajuste fiscal (retirada de direitos,
parcelamento salarial, etc.), mas o próprio capitalismo, do qual o atual
governador é apenas mais um gerente de plantão em uma conjuntura de crise
econômica; não entende também que se não colocarmos abaixo todo o sistema, de
nada adiantará a mudança de alguns rostos. Para tudo isso, é preciso acumular
organização e conscientização no sentido de avançarmos resolutamente, sem
ilusões e ufanismos. Uma vitória concreta na luta contra o ajuste fiscal (a
total derrota do PL 44, por exemplo) caminhará muito mais firmemente na derrubada
do governo do que uma abstração agitativa e, na maioria dos casos, meramente
demagógica.
Quando nos referimos a imperiosa
necessidade de formação teórica e política da categoria é deste tipo de debate
que estamos falando, dentre muitos outros. Se não soubermos precisar nossa
propaganda e nossa agitação, levando em consideração a história do movimento
operário, com os seus erros e acertos, certamente estaremos fadados à derrota. Lamentavelmente
a baixa formação da categoria a deixa refém daquela falsa dicotomia simplista:
ser contra o “Fora Sartori” é ser a favor do governo. Queremos lutar contra
esta falsa consciência também. Frisamos que se colocar contra a agitação do
“Fora Sartori” não significa, sob hipótese alguma, defender ou sustentar o
governo. Queremos, com esta reflexão, mudar uma cultura sindical oportunista e
um método irresponsável e errado de agitação que, de longa data, vem iludindo
muitos trabalhadores dentro e fora do nosso sindicato.
Uma agitação alternativa ao “Fora
Sartori”, muito mais salutar, seria:
- Governo Sartori (PMDB e aliados):
inimigo da educação e dos serviços públicos;
- Em defesa da educação dos filhos
dos trabalhadores;
- Em defesa da saúde pública (SUS)!
- Derrotar o PL 44 e o ajuste fiscal
dos governos Sartori e Temer;
- Acumular forças para por os
governos pra fora pela via revolucionária!