Se existe alguma pauta
que unifique a “esquerda”, os movimentos sociais e os sindicatos é a atual luta
contra a “reforma” da Previdência do governo Bolsonaro (PSL e aliados). Todas
as principais análises feitas por estes setores estão corretas, demonstrando que,
na verdade, se trata de uma contra-reforma que levará a total destruição da
Previdência. Embora a maioria destas análises estejam certas, elas não chegam às
suas raízes mais profundas: a crise histórica do capitalismo, que se tornou
claramente incompatível com Previdência
Social, direitos trabalhistas, férias, 13º salário, licença maternidade,
direitos democráticos mínimos. Sua necessidade econômica mais premente é aumentar
o nível de exploração dos recursos naturais e do proletariado dos países da
América Latina, equiparando-o ao da China.
O
governo Bolsonaro encarna a barbárie do capitalismo atual. O falacioso discurso
do governo, da grande mídia e dos políticos sobre “recuperação econômica do país” não significa nada mais do que a
entrega dos recursos naturais e a destruição do que ainda existe de “bem estar
social” presente na Constituição de 1988. Traduzindo: para o país se
“recuperar” é preciso legalizar este novo patamar de exploração. O centro do
mercado mundial (isto é, o imperialismo norte-americano e europeu) exige estas
“reformas” para sustentar o capitalismo internacional. Neste contexto, o
sistema financeiro, que suga 40,66% dos recursos federais para o serviço de
pagamento da “dívida pública”, não pode mais tolerar dividir 24% com a
Previdência Social, que como é bem denunciado pelo movimento sindical, desvia
recursos para outras áreas e sofre com a sonegação de impostos dos grandes
bancos e empresas. A atual proposta se baseia no exemplo nefasto do Chile, que
vincula as aposentadorias a títulos de capitalização que dependem das
oscilações do mercado e, geralmente, terminam por se desvalorizar, levando a um
achatamento brutal dos salários dos aposentados.
Sendo
assim, a suposta necessidade de uma “reforma” na Previdência não passa de mais
um grave sintoma da decadência do capitalismo. A “reforma” proposta pelo
governo Bolsonaro não mexe nos privilégios dos militares, dos políticos e não
pune a sonegação fiscal. Ao contrário, dá carta branca pra que esta sangria
desatada continue. É justamente para manter esta sangria que se propõe a
“reforma”. E isto é tudo o que o capitalismo tem a oferecer ao povo brasileiro.
Algumas
tendências apontam que se Bolsonaro não aprovar a “reforma” nos moldes do que
quer o seu ministro da Escola de Chicago, Paulo Guedes, cairá, dando lugar ao
seu vice-presidente militar, o general Mourão, a quem possivelmente será dado
carta branca pra enfiar goela abaixo a integralidade da “reforma”, senão uma
versão ainda pior. Por isso, ele baixou um decreto em 8 de fevereiro
transferindo “dotações orçamentárias” vinculadas à Previdência Social da União
para Estados e Municípios.
Lutar
apenas contra o enxugamento do Estado ou contra o capitalismo e o seu sistema
financeiro?
Não
restam alternativas fora da luta de resistência. Chorar, se lamuriar ou fugir
do país não resolverá a crise. O acordo das análises entre o movimento sindical
sobre a “reforma” da Previdência, no entanto, cede lugar à políticas
oportunistas para “combatê-la”. Esta é uma das razões de não se conseguir
derrotá-la até o momento. As direções sindicais mais reconhecidas, como Força
Sindical, CGT, CSB, NCST, etc., ou apoiam vergonhosa e disfarçadamente a
proposta de “reforma”, ou, então, como a CUT e CTB, pretendem “negociá-la” e
apostam todas as fichas nas instituições democrático-burguesas.
A CUT,
por exemplo, já disse que quer negociar com Bolsonaro, submetendo toda a sua
“estratégia de luta” à pressão sobre essas instituições. Isto é, pretende, como
sempre, desgastar o governo para eleger um governo petista. Esta “estratégia”
condena o movimento dos trabalhadores a um beco sem saída, marcado por uma luta
inconsequente, com “greves gerais” de 1 dia que não tem trabalho de base prévio,
nem continuidade.
Para
a CUT e a direção estadual do CPERS o problema central é apenas o “enxugamento
do Estado”. A manutenção do capitalismo em decadência e o Brasil na periferia
do mercado mundial seria apenas um mero
detalhe. Para nós, ao contrário, não se trata apenas do “enxugamento do
Estado”, que é uma das exigências do capitalismo na sua fase atual, mas a luta
pautada por uma estratégia socialista, de superação do capitalismo (estratégia
há muito abandonada pela CUT e o PT), sem o quê, não é possível nenhuma luta
consequente.
Não
casualmente o Sineta de março de 2019
não fala nada sobre a relação entre a “reforma” da Previdência e o capitalismo.
Vendem ilusões de que basta não “enxugar o Estado” e uma melhor administração
do capital para que tudo se resolva. Este caminho não existe! O capitalismo
necessita, cada vez mais, das riquezas naturais e dos recursos do Estado para
se contrapor a queda tendencial da taxa de lucros. O governo Bolsonaro e Leite
representam o programa raivoso contra qualquer Previdência social, saúde e
educação públicas; enfim, necessitam avançar impiedosamente sobre os direitos
trabalhistas visando aprofundar a exploração dos trabalhadores. Não haverá
negociação deste projeto.
Os
setores à “esquerda” da CUT, como Intersindical (setores do PSOL e PCB) e a
CSP-Conlutas (PSTU), apostam no seu tantra de “greve geral”, mesmo sem
condições alguma e também sem o menor trabalho de base; enquanto apoiam, no
essencial, e sem declarar, toda a política inconsequente da CUT. Propor “greve
geral” hoje é, na prática, incumbir CUT ou Força Sindical de dirigi-la, pois
são as únicas direções sindicais com condições para isso.
Para
derrotar a Reforma da Previdência e o governo Bolsonaro é necessário inovar!
A atual proposta de “paralisação” e atos de rua no dia 22
de março tem uma concepção por trás: apostar tudo no funcionalismo público e
num sindicalismo de “faz de conta”. Propõem dias que estejam próximos do final
de semana, tentando inchar movimentos com uma “maioria” de servidores e
incentivando, na prática, “feriadões”. Grande parte dos servidores e
repartições públicas paralisadas não se traduz em participação organizada nos
movimentos. Este tem sido um grande calcanhar de Aquiles que demonstra a
necessidade urgente de mudar, colocando um debate que precisa ser feito.
Fingir que se “está lutando” ao apostar prioritariamente
no funcionalismo público para inchar “manifestações” e, se negando a ver que
grande parte prefere ir para casa ao invés das ruas, é fazer uma luta
inconsequente que jamais poderá derrotar um governo neofascista como o de
Bolsonaro e as suas sucursais estaduais, como Eduardo Leite. A maioria
esmagadora do setor privado segue trabalhando normalmente e está alheio ao
movimento, em especial o operariado. A crise do movimento sindical está na sua
ausência de trabalho de base e de formação; na sua diplomacia secreta e
oportunista, que resulta num sindicalismo de cúpula, sem organização por local
de trabalho, e numa estratégia incoerente de combate às políticas neoliberais,
todas voltadas às eleições de governos “reformistas”.
Seria necessário
um grande movimento nacional, com uma agenda permanente de agitações,
manifestações, panfleteações e incursões de programas na grande mídia burguesa
e nas redes sociais, de forma clara e unificada, denunciando os verdadeiros interesses do sistema financeiro
por trás destas reformas. É esta firmeza e coerência na luta que poderia fazer
o governo recuar e ser derrotado. Os setores à “esquerda” da CUT tem um peso
relativo para poder imprimir esta dinâmica à própria CUT, embora prefiram
incentivar o seu faz de contas.
Ao invés de ficar agitando uma fantasiosa “greve geral”,
que, na melhor das hipóteses, se traduz em apenas 1 dia de paralisação, seria
necessário planificar estas propostas de propaganda e agitação a nível
nacional, denunciando firme, corajosa e coerentemente toda a política do
governo Bolsonaro e a sua ligação umbilical com a crise do capitalismo e as
exigências do sistema financeiro. Desenvolver um trabalho de base real, que não
apenas não incentiva “greves-feriadões” no funcionalismo público, mas que
avance para o setor privado. Por exemplo: que o setor público se dedicasse a
agitar no setor privado com um “exército” de centenas de milhares de agitadores
do serviço público, e não apenas as cúpulas sindicais.
A proposta de “greve geral” propagada no vácuo, sem
trabalho de base e, na maioria das vezes, refém de uma luta incoerente, só pode
resultar na vitória do governo. No referido Sineta
a direção central afirma que a greve geral de 2017 barrou a “reforma” de Temer.
Este ufanismo esconde o fato de que os governos tem perdido terreno para a aprovação
da “reforma” mais para as negociatas do Congresso Nacional do que pela pressão
organizada do movimento sindical. Todo o
trabalho de base está por ser feito. Urge um plano coerente de lutas,
baseado num enfrentamento consequente contra o sistema, que se espalhe para o
setor privado e desempregado, visando uma estratégia socialista; e não,
simplesmente, uma negociação com o governo visando um desgaste político e
eleitoral.
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Trabalho de base e organização por local de trabalho já: rever todas as nossas
práticas!
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Denunciar coerentemente a ligação do sistema financeiro e do mercado com as
instituições políticas!
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Combater a burocratização sindical para desenvolver uma estratégia socialista!
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Contra o governo Bolsonaro e a sua “Reforma” da Previdência: por uma grande
agitação nacional de denúncia do caráter do seu governo e da sua política
entreguista!