15 de jul. de 2020

A PREFEITURA DE ALVORADA GOVERNA A CIDADE À REVELIA DA CONSTITUIÇÃO, DA LDB E DA LEI DE GESTÃO DEMOCRÁTICA

Cenas da vida cotidiana de Alvorada, a 6ª cidade mais violenta do Brasil

        Alvorada é uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, mas tem características de cidades do interior do país que nos remetem à triste época do coronelismo da República Velha (1889-1930). Tanto o prefeito de Alvorada, José Arno Appolo do Amaral (MDB), quanto o de Viamão, André Nunes Pacheco (PSDB, herdeiro do clã dos Bonattos; substituído posteriormente por Valdir Jorge Elias, o “russinho”), governam praticamente sem nenhum tipo de oposição séria, promulgando leis arbitrárias que não encontram resistência dos movimentos sociais e sindicais. 
        Em Alvorada se criou a terrível imagem de “cidade dormitório”, onde seus moradores devem acordar cedo para ir trabalhar em outra – geralmente em Porto Alegre – e voltam apenas para dormir. Tal visão, complicada e atrasada, encontra um vergonhoso respaldo, inclusive, nos textos da BNCC. Já é hora de dizer claramente que o povo de Alvorada merece ter sua própria cultura e criar as condições para desenvolver a sua própria cidade, política, econômica, social e, é claro, culturalmente. Esta visão de “cidade dormitório” a condena a uma eterna subserviência e a uma profunda falta de seriedade para consigo mesma. Os prefeitos-coronéis dessas cidades deitam e rolam nessa mentalidade, aproveitando-se para governa-las como aproveitadores e tiranos.
        A forma da administração pública adquire contornos autoritários que contrariam a legislação vigente no país – que como costumamos lembrar, geralmente, é respeitada apenas em casos que vão contra os interesses dos trabalhadores. Em específico, quando falamos da educação pública de Alvorada e Viamão, podemos constatar que os partidos de direita (MDB e PSDB) apoiadores das medidas do governo Bolsonaro (ex-PSL, e hoje inconstitucionalmente “sem partido”) as utilizam como um grande laboratório que, uma vez obtendo “sucesso” – como parece ser o caso –, devem ser aplicadas a nível estadual também. O caso mais escandaloso – praticamente aceito sem nenhuma resistência pelos movimentos sociais e sindicais das duas cidades – é a imposição de diretores nas escolas municipais, ignorando toda a legislação e a prática vigente de eleição de direções. É o mesmo que pretende Bolsonaro com a imposição de reitores nas universidades federais.
        Tal medida escandalosa tem a clara finalidade de dificultar qualquer tipo de luta e resistência em defesa da escola pública, recriando o ambiente autoritário da República Velha e de certos tipos de “fidelidade pessoal” e subserviência política ao prefeito. Dentro dessa lógica nefasta, o prefeito alvoradense, José Appolo do Amaral, que já teve sérios problemas de irregularidades na sua posse em 2016[i], avança ainda mais contra a gestão democrática da escola pública: autoritariamente destitui o Conselho Municipal de Educação de Alvorada (CMEA). A lei “proposta” pela prefeitura e aprovada de forma unânime pela Câmara de Vereadores – que contava, inclusive, com 4 vereadores do PT[ii] – é anticonstitucional e, sobretudo, imoral, uma vez que rompe com o princípio básico elementar e universal de eleger um órgão fiscalizador de um poder público e não que o poder que deveria ser fiscalizado tenha o “direito” de indicar aqueles que vão lhe fiscalizar[iii].
        Antes da alteração aprovada pelos vereadores, a Lei Municipal 1.119/2000 estabelecia que os representantes nomeados pelo prefeito deveriam ser escolhidos pelas suas respectivas categorias (professores, servidores, pais e estudantes). A nova lei exclui a necessidade de escolha da sociedade e dá ao prefeito a liberdade de indicar todos os 15 membros do Conselho e seus suplentes[iv]. Os objetivos do prefeito de Alvorada são claros: beneficiar o ensino privado em detrimento do ensino público, seguindo uma tendência nacional e estadual. Aliás, está sendo pioneiro na aplicação de projetos que retiram verbas da educação pública e a destinam para o ensino privado – tal como também faz Marchezan Junior (PSDB) em Porto Alegre comprando vagas nas escolas infantis privadas com dinheiro público – e na destruição da legislação da gestão democrática do ensino público. Na esteira destes projetos vem uma série de retirada de direitos e a ameaça concreta de redução salarial, término compulsório de convocações e mesmo abre precedentes para a demissão de servidores e/ou terceirizados (e tudo isso em meio a um decreto estadual de “calamidade pública”, onde direitos dos pequenos supostamente deveriam ser assegurados em detrimento dos grandes).
        Na denúncia para a ouvidoria do TCE-RS, a presidente destituída do CMEA explica que foi informada apenas pelo sindicato dos municipários de que a nova lei estava em vigor e que já existia um “novo” conselho. Ela ainda denuncia que a paridade entre ensino público e privado foi abolida na nova lei, garantindo que os membros representantes da rede privada sejam maioria. O antigo CMEA, destituído autoritariamente, não foi consultado em nenhum momento sobre tais alterações, o que não impediu que numa conivência inaceitável, a “ouvidoria” do TCE respondesse que “não se trata de falta de transparência”, pois o “tema já vinha sendo debatido pelo poder legislativo desde 2019”.
        Ou seja: uma mudança feita em meio a uma pandemia, que dá o poder do prefeito indicar conselheiros “amigos do rei” e que em nenhum momento foi debatida com os conselheiros vigentes ou com as comunidades escolares alvoradenses. Uma vergonha para o poder legislativo, para a “democracia” de Alvorada e para a justiça, totalmente conivente com toda esta farsa. Não casualmente, tal “justiça” arquivou a denúncia e o processo contra tal arbitrariedade, tornando-se mais do que cúmplice: virou parte do autoritarismo coronelista reinante em Alvorada. Desgraçadamente, o movimento popular e sindical da cidade é cheio de ilusões eleitorais e judiciais. Procura fazer uma luta meramente jurídica em detrimento da luta política e de mobilização popular, por mais difíceis e incertas que estas o sejam.
        E o que fez o CPERS diante de tudo isso? Como sempre, está completamente à parte de todo este processo, como se isso não lhe dissesse respeito por se tratar de uma esfera municipal. Mas nós afirmamos: o CPERS tem responsabilidade sim! Primeiro, porque o núcleo que engloba Alvorada tem direito a um assento no CMEA, e nem sequer fez uma denúncia ampla sobre o ataque da prefeitura contra este conselho – a direção central certamente lavará as mãos dizendo se tratar de um problema do núcleo (o que é parte da verdade, mas que não combate essa prática horrorosa das instituições da democracia dos ricos de jogar toda a responsabilidade sobre outras esferas, típica da politicagem burguesa); segundo, porque se tal processo vinga em Alvorada, pode “subir” para outras esferas, como a estadual, que está louca para acabar com a lei de gestão democrática nas escolas públicas e já não reconhece em muitas questões fundamentais o Conselho Estadual de Educação; e terceiro, porque somos parte de uma única e mesma classe trabalhadora: por isso, devemos criar a consciência e a tradição de que um ataque à educação pública de Alvorada é um ataque à educação pública estadual e nacional, e vice-versa.
        Frente aos absurdos ocorridos em Alvorada, defendemos que o CPERS se torne parte desta luta levantando as seguintes bandeiras:
     - Revogação imediata da lei municipal 3.420/2020, que é anticonstitucional e imoral!
        - Respeito à Lei de Gestão Democrática em Alvorada e Viamão: que os diretores sejam eleitos pelas suas respectivas comunidades escolares!
        - Por uma ampla denúncia da prefeitura de Alvorada em todo o Estado e em todo o país, bem como de todos os poderes cúmplices: nenhuma confiança nos políticos burgueses e nas suas instituições – só a nossa luta direta decide! [isso não significa abrir mão de ações judiciais e de participar de eleições, mas de subordinar tais ações à luta direta, e não o inverso].
        - Abertura de todos os processos, contratos e relações entre a prefeitura de Alvorada e as instituições de ensino privado da cidade!


NOTAS


[ii] Ver: https://www.gazetadopovo.com.br/apuracao/resultados-eleicoes-2016-primeiro-turno/alvorada-rs/vereador/ o PT elegeu 4 vereadores, mas 3 usaram o partido como trampolim eleitoral e o deixaram, sendo que apenas 1 votou pela proposta (sendo expulso posteriormente). Este parece ser um fenômeno nacional (https://noticias.r7.com/sao-paulo/pt-perde-um-terco-dos-vereadores-eleitos-no-estado-de-sao-paulo-11052020). Cabe questionar de que vale um desespero eleitoral dos partidos de "esquerda" para acompanhar uma debandada de parlamentares eleitos depois das eleições justo na hora de votar contra projetos autoritários?

Nenhum comentário:

Postar um comentário