“DECRETARSO”
NO FINAL DO ANO:
SURPRESA
OU CONIVÊNCIA DA DIREÇÃO DO CPERS?
Seguindo a
cartilha do Banco Mundial e do FMI, Tarso aplicou na virada do ano o decreto
que muda o plano de carreira dos educadores gaúchos e abre o caminho definitivo
para as demissões no funcionalismo público. A tática ardilosa indicada pelos
bancos mundiais aos governos do mundo consiste em governar através de decretos
e impor as “mudanças estruturais” que o capitalismo em crise exige, que são:
cortar gastos sociais e facilitar os procedimentos de demissão. Isso fica claro
através da mídia comercial capitalista quando analisa a situação dos países
europeus: “Em agosto de 2011, o Banco
Central Europeu (BCE) detalhou as condições do auxílio financeiro à Itália. De
acordo com o Le Fígaro, ‘em primeiro lugar, exige-se que Silvio Berlusconi
proceda por decretos de aplicação imediata, e não por projetos de lei, e que o
Congresso abra espaço na agenda para aprová-los’. ‘Em relação a legislação
trabalhista em vigor desde 1970, o BCE pede que se flexibilizem os
procedimentos de demissão...” (Le Monde Diplomatique, Dossiê 8, novembro-dezembro de 2011). Em
Portugal, Irlanda, Grécia, Itália, EUA, Islândia, Inglaterra etc. esta é a
ordem do grande capital. No Brasil, contrariando o discurso do governo de que
aqui não existe crise, na virada do ano, fábricas do ABC paulista demitiram
centenas de operários.
O
“Decretarso” segue toda esta lógica internacional. Foi aplicado na virada do
ano, através de um decreto que cria as condições jurídicas, políticas e
psicológicas para as demissões. Foi por isso que alertamos no nosso boletim de
greve: “Tarso não realizou concurso
público porque necessita aplicar as reformas para que os próximos educadores
sejam regidos pela ‘nova ordem neoliberal’” (ver o texto “Tarso governo para o Banco Mundial”,
disponível em nosso blog). Enrolou a categoria desde que assumiu para lançar um
concurso público com inscrição só para janeiro de 2012, a um custo de
inscrição de mais de R$120, para apenas 10 mil vagas, com o salário constante
no edital menor que o Piso Nacional, logo após enfiar goela abaixo uma
questionada Reforma do Ensino Médio e, agora, o já esperado “Decretarso”, que modifica
o plano de carreira. O governo chora miséria sobre as finanças do Estado, mas
gasta milhões em propaganda ideológica nos principais jornais do Estado e em
publicações próprias, que tem a finalidade de iludir os trabalhadores defendendo
estes ataques sob o nome de “reformas”. O governo Tarso fez em um ano o que
Yeda tentou em quatro e não conseguiu; o segredo deste sucesso está no apoio da
CUT, que controla o movimento sindical. O “Decretarso” e a Reforma do Ensino
Médio vêm para complementar o “Pacotarso”, aplicado em junho de 2011. Todos
estes ataques passam os custos da crise do capitalismo para os nossos ombros,
com a conivência das direções sindicais e dos “partidos de esquerda” (PT, PSOL,
PSTU, PCB, etc.).
Em entrevista num programa da RBS,
Tarso negou que haverá demissões no funcionalismo público, a exemplo do que ocorre
na Europa. Mas isso, na verdade, é para anestesiar a opinião pública e,
sobretudo, fazer os trabalhadores baixarem a guarda. As demissões inevitavelmente
ocorrerão, aos poucos e de diversas formas (remoções, diminuições de carga horária,
até as exonerações de forma aberta). Em todos os estados brasileiros em que
foram aplicados os “modernos critérios de avaliação”, estes se traduziram em
demissões de educadores, em enxugamento da máquina pública. Aqui no Estado não
poderá ser diferente.
Sobre a
“surpresa” do “Decretarso” no final do ano, a direção do CPERS disse,
cinicamente, que teve “uma audiência na
Procergs no dia 22 e não foi citada qualquer intenção do governo, que agiu às
escuras no meio de um feriadão” (blog do André Machado, ClicRBS). Mas já
era sabido que o governo aplicaria o decreto em dezembro e a direção do CPERS,
novamente, nada fez. A propaganda veiculada pelo CPERS na mídia comercial omitiu-se,
não tocando nesse tema, pois considerou o adiamento do decreto de outubro para
dezembro uma “vitória”. Desde 2 de outubro que nossa oposição já alertava: “A direção do CPERS não esclarece que o
“Decretarso” já começará a ser aplicado conforme declaração do Secretário de
Educação José Clóvis na imprensa (Correio de Notícias): ‘parte do conteúdo
do Decreto seguirá sem alteração no cronograma de implementação, quer seja o
sistema de avaliação das escolas, coordenadorias e da própria secretaria’. Esta declaração deixa claro que antes
mesmo de dezembro o Decreto já entrará em vigor. Portanto , o
adiamento do decreto é um jogo de cena da direção do CPERS em conluio com o
governo. A parte final da execução do ‘Decretarso’ será em dezembro, depois que
a categoria entrar em férias, o que dificultará enormemente qualquer
mobilização. E este pacto de bastidores da direção do CPERS com o governo é
chamado pela burocracia dirigente de “vitória". Vitória seria se o
‘Decretarso’ fosse anulado”.
Para enganar
a categoria, a direção do CPERS contou com o apoio da grande mídia comercial
(ZH, Correio do Povo, etc.) que reforçava “imparcialmente” o discurso e a
propaganda enganosa de “vitória”. Com a atual aplicação do “Decretarso”,
novamente vemos a articulação entre mídia (em especial a RBS), o governo
petista e a direção do CPERS. Em 29 de dezembro, ZH fez reportagem especial
sobre o “Pacote do Magistério”, dizendo que as mudanças feitas por decreto eram
“modernas”, pois “mexiam num plano de carreira da década de 70” , mas omitindo todo o
restante, inclusive o próprio método ditatorial de sua aplicação; que também
não contou com nenhuma contestação por parte da oposição do PSDB, DEM, PP,
etc., uma vez que Tarso aplica o seu programa político. Na internet, o ClicRBS
reforçou a ideia de que a direção do CPERS “não sabia de nada sobre o
‘Decretarso’”, ao veicular a entrevista da direção da categoria sobre o
encontro da Procergs no dia 22 de dezembro e reforçando a falaciosa ideia de
que o “CPERS antecipa a mobilização
contra o governo”. Mas que mobilização? Que métodos a direção do CPERS
aponta? Como pretende mobilizar nas férias?
Frente ao “Decretarso”
defendemos um plano de luta: uma ampla campanha de mídia – TV e rádio – que
denuncie o “Decretarso”, suas consequências nefastas, sua ligação com o Banco
Mundial, o FMI e a crise capitalista, enfim, que sirva para esclarecer a
comunidade escolar e desfazer as mentiras do governo e da mídia comercial; construir
atos de rua – mesmo de vanguarda – em Porto Alegre e nas regiões onde for possível. Devemos
pressionar essa direção para que concretize a Conferência do CPERS sobre que
Educação Pública queremos, votada e aprovada na última assembleia, para
combater a Reforma do Ensino Médio do governo Tarso e do Banco Mundial, bem
como o “Decretarso”. Também precisamos expulsar do CPERS os filiados que
assumem cargos de chefia nos governos (secretários, coordenadores, etc.), para
que o sindicato se torne efetivamente classista, como forma de voltar a ter
credibilidade na base.
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