Sob um forte esquema de segurança da direção,
que contava com seguranças privados, bombeiros da Brigada Militar e capatazes
para intimidar setores da base e da oposição, foi aprovado a greve unificada de
três dias contra o governo Sartori (PMDB). Esta Assembleia Geral deu sinais
preocupantes do aprofundamento de uma verdadeira ditadura da burocracia cutista
sobre os trabalhadores de base e as correntes minoritárias, justamente em um
momento que vivenciamos um ascenso das lutas do funcionalismo público e
precisaríamos ampliar o debate e esclarecer as diferenças.
O
Gigantinho lotado, reunindo cerca de 8 mil educadores, demonstrou disposição para
a luta, mas esbarrou na muralha burocrática do sindicato, preparado minuciosamente
para fazer aprovar sua política conciliadora, sem debate sério e esclarecimento
das questões em disputa. O
aparato sindical foi acionado para controlar a Assembleia com mãos de ferro. A atual
direção gabou-se do número de presentes, dizendo que isso é um acerto de sua
política e que o CPERS “acordou”. Isso é uma fraude! A lotação quase total do
Gigantinho é fruto direto dos ataques do governo Sartori (parcelamento e
congelamento salarial, o seu ajuste fiscal, etc.), que indignou e mobilizou a
categoria; e não da política da burocracia cutista, incapaz de construir uma
mobilização independente e coerente. A verdade é exatamente o oposto: a
política burocrática e conciliadora da atual direção vai enterrar
gradativamente a atual mobilização do CPERS e de todo o funcionalismo público,
até voltarmos a velha situação de desmobilização. A vanguarda consciente do
CPERS não pode deixar isso acontecer. Somente com uma política anti-burocrática
é possível manter acesa a chama da luta.
A
burocracia sindical do Fórum dos Servidores e a
proposta
de greve por tempo determinado
O
Fórum dos Servidores, do qual o CPERS é signatário (bem como os seguintes
sindicatos: Fessergs, Semapi, União Gaúcha, Sindiágua, Sindipge, Sindet, CEAPE,
Ajuris, Asdep, Aprojus, Asters, Ugeirm, Sindicaixa, SISDAER), é uma organização
de cúpula que exclui as bases dos seus respectivos sindicatos. Delibera
políticas que refletem esta condição, bem como o velho sindicalismo cutista, de
cima para baixo. Quem dirige o Fórum é a própria CUT, que conta ainda com as
suas sócias menores, como a Intersindical, CSP-Conlutas e Nova Central.
A nossa proposta
aprovada na Assembleia Geral de junho de 2015 dizia: “Construir, unificadamente, um Encontro Estadual de base dos trabalhadores do serviço público na semana de formação,
em julho, no Gigantinho, para barrar os ataques do governo Sartori”. Esta
resolução é bem clara quanto a necessidade de se fazer um encontro de base dos
servidores públicos, no Gigantinho, e não apenas de sua cúpula em um “Fórum”
isolado, entre quatro paredes, tal como o CPERS promoveu com o apoio de todas
aquelas entidades e centrais sindicais. A atual política elaborada por este
Fórum vai na contra mão dos interesses das bases das categorias que
representam. É dele que surgiu a proposta de “greve por tempo determinado”. No
início da Assembleia Geral do CPERS foi dado um tempo precioso para esta
burocracia, que por meia hora fez uma lavagem cerebral nos presentes, sem
contraponto, falando da necessidade de aprovar greve por três dias.
A
burocracia sindical cutista subordinou a unificação do movimento com os demais
servidores à aprovação dos três dias de greve. Aí residia uma armadilha! Não é
verdade que só poderia haver movimento unificado com greve por tempo
determinado. A Assembleia Geral do CPERS deveria aprovar a sua proposta e
levá-la até a assembleia geral dos servidores para o debate e subordiná-la à
votação dos servidores unificados. O que a burocracia dirigente do CPERS fez
foi inverter a lógica: subordinou a Assembleia do CPERS ao acordo de cúpula das
burocracias sindicais do Fórum dos Servidores, sem nenhuma discussão com a
base. Uma política conciliadora precisa de métodos antidemocráticos para ser
aplicada, ignorando e atropelando o debate. É por isso que a direção do CPERS
tem intensificado os métodos autoritários e asfixiado a democracia sindical com
as piores justificativas. Com o total consentimento das correntes políticas da
antiga direção do CPERS, o Conselho Geral indicou que a direção deveria ficar
sozinha em cima do palco, dificultando o acesso para falas e apresentações de
propostas vindas da base.
“Greve
de novo tipo” ou desculpa para parcelar a greve?
Outro
engodo da atual direção do CPERS para aprovar a sua “greve por tempo
determinado” foi defendê-la como uma “greve de novo tipo”, que supostamente
demonstraria “sabedoria” e prezaria pela adesão da base, fato que não estava
ocorrendo nas greves passadas. Certamente precisamos de uma greve de novo tipo,
que envolva a comunidade escolar, que tenha ações mais radicalizadas pensadas
coletivamente, que construa comitês de mobilização desde a direção do
sindicato, dos núcleos, até o chão das escolas. Porém, não é nada disso que
propõe a burocracia cutista. A sua “greve de novo tipo” não passa de retórica
para apoiar a sua greve parcelada, apenas de demonstração, tal como acontece
seguidamente na Europa (Espanha, Portugal, Grécia) e na Argentina. Como greves
de demonstração são absolutamente estéreis, servindo apenas como um catalisador
para o descontentamento das suas bases de representação. Temos visto centenas
de “greves gerais por tempo determinado” em todo o mundo, meramente
demonstrativas, sem continuidade e coerência. Servem apenas como autopromoção
inconsequente para as burocracias sindicais e para o consumo das vanguardas
iludidas.
A burocracia
cutista, mesmo propondo greve por três dias, não encaminhou nenhuma luta nos
dias posteriores à greve, nem sequer um calendário (períodos reduzidos, aulas
públicas, atos das comunidades) até o dia 31. Absolutamente nada! Apenas um
indicativo vago de continuidade da greve no início de setembro, o que muitos
trabalhadores chamaram corretamente de “greve parcelada”.
A greve por tempo
determinado foi aprovada em razão do trabalho feito pela burocracia cutista que
canalizou o descontentamento da categoria – sobretudo do interior – para uma
greve demonstrativa, supostamente dialogando com o que “a categoria gosta de
fazer”; isto é, atrasando a sua consciência e impedindo um verdadeiro
enfrentamento ao governo Sartori. Nesse sentido, a caravana da burocracia pelo
interior ajudou a preparar a aprovação desta greve “demonstrativa”, sendo que, a
burocracia tem como mapear matematicamente na origem quem irá votar na sua
proposta ou não, favorecendo as regiões em que isto é mais fácil. Não é por
acaso que mais de 20 ônibus foram trazidos de núcleos da região sul do Estado com
esta finalidade. Barrar a entrada e o direito ao voto para os não sócios também
colaborou com a aprovação desta greve de três dias.
Não
existiu assembleia geral dos servidores:
foi
um ato de autopromoção do Fórum
O
que vimos no Largo Glênio Peres não foi uma assembleia geral dos servidores
públicos estaduais, conforme foi divulgado aos quatro ventos. Não houve debate,
disputa de ideias e táticas, mas apenas uma série de discursos de autopromoção
do Fórum dos Servidores e dos dirigentes sindicais. Ninguém, a não ser a
burocracia sindical, teve direito à fala, e um tempo precioso se perdeu apenas
ouvindo música. Nem sequer os resultados e os relatos das assembleias das
respectivas categorias foram apresentados.
Saudamos
o número expressivo dos presentes, que demonstraram disposição para a luta; mas
lamentamos a política conciliadora e distracionista das burocracias sindicais
que dirigiram o ato. O plano de lutas do CPERS e do Fórum se resume apenas à
pressão sobre a Assembleia Legislativa, o que é uma marca registrada do
sindicalismo conciliador cutista. Nenhum plano de luta unificado, sério e
coerente, foi tirado para além destas datas.
Enquanto
a burocracia sindical estiver controlando e dirigindo estes sindicatos, só
poderemos esperar mais ações inconsequentes como estas. É preciso fortalecer
uma oposição classista e revolucionária tanto dentro da nossa categoria, quanto
nas outras, para poder retomar estes sindicatos e colocá-los a serviço da luta
e da organização consequentes e, a partir daí, ter condições de criar um Fórum
dos Servidores pela base.
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