É comum em todos os relatos dos núcleos
e das correntes sindicais do CPERS que há uma grande desmobilização e
desconfiança no chão da escola. Para podermos reverter este quadro de ataques e
de desolação que se instaurou sobre a nossa categoria é preciso fazer uma
caracterização cuidadosa da realidade e ser coerente com ela. A correlação de
forças está desfavorável aos trabalhadores. A apatia, o cansaço e a
desconfiança não aconteceram por acaso, mas refletem a traição do ano passado;
qual seja: o desmonte da greve ocorrido na assembleia do Pepsi On Stage, no dia 11 de setembro de 2015, por manipulação
direta da burocracia sindical.
Após esta criminosa manobra, o desânimo
se instaurou na categoria e prossegue neste início de ano, sem muitas
perspectivas de ser superado pelo fato de que os motivos que lhe deram origem
continuam operantes e intactos, isto é, a direção do sindicato ainda está nas
mãos da burocracia sindica cutista. Não apenas segue em suas mãos, como a linha
política proposta por ela continua servindo como base para a “atuação” acrítica
de uma grande parcela da “vanguarda” do CPERS. Além disso, o déficit histórico
do trabalho de base não foi superado, uma vez que só poderemos falar nisso
quando houver uma política sindical autenticamente independente e voltada para
isso.
Vendo-se largada pelo sindicato – a
despeito de suas declarações de que está “se aproximando da base” – a categoria
não tem como ter unidade e nem força para enfrentar o governo Sartori, que continua
fazendo terrorismo psicológico e retirando direitos. O aparato sindical está
rendido e inoperante para as demandas reais da classe.
O preço destas traições sindicais é
a desagregação (que já é fragmentada por vários outros motivos) e o enfraquecimento
da luta sindical. Os militantes independentes e os educadores de base voltam-se
do coletivo para o individual. Procuram soluções individuais, uma vez que se
decepcionaram com os espaços coletivos (como a assembleia sindical e a
construção do movimento). Estes ativistas não refletem profundamente sobre as
causas destas traições e nem sobre o papel da burocracia sindical, que está
tendo êxito no cumprimento do seu papel de freio das lutas. A maioria das
correntes do CPERS ajuda a esconder ou minimizar estas traições, pois não faz este
debate justamente por ser parte desta mesma burocracia sindical ou de
compactuar com ela.
A única proposta
concreta de mobilização é a greve patronal da CNTE-CUT
A mesma direção que desmontou a greve do
Pepsi On Stage está impondo, de cima
para baixo, a greve nacional da CNTE-CUT. Para angariar o apoio da categoria
ela omite o verdadeiro conteúdo da greve (a defesa da imediata aplicação do
Plano Nacional de Educação – PNE –, o que anula todos os outros eixos) e aponta
para uma suposta continuidade da greve na assembleia marcada para o dia 18 de
março. Que espécie de greve poderia surgir desta junção de greve patronal com a
continuidade por tempo indeterminado proposto por uma direção que desmonta greves?
A vanguarda do CPERS – para receber este nome – deve propor à categoria que
entre neste mato sem cachorro ou precisa alertá-la sobre as armadilhas
implícitas em tais propostas? Não podemos dissociar forma e conteúdo: a greve
está errada tanto no conteúdo (programa patronal em defesa do PNE), quanto no
método (proposta vinda diretamente da cúpula da CNTE-CUT – da qual estamos
“meio” desfiliados – e do CPERS).
Além disso, os ativistas sindicais não
podem ignorar a atual conjuntura de desânimo da categoria (justamente em razão
das traições) e da correlação de força desfavoráveis. Propor greve por tempo
indeterminado neste momento significa incumbir a burocracia cutista de
dirigi-la (somente ela tem condições de fazê-lo, ainda mais frente a uma
categoria desmobilizada e desconfiada), o que só pode preparar novas derrotas e
maiores desmoralizações.
Na assembleia geral do dia 18 deveríamos
propor um programa de mobilização a longo prazo: reuniões por escolas, retomada
das zonais, aulas públicas, formação sindical e política para impulsionar novas
e maiores vanguardas de educadores com consciência de classe. Esta tarefa é
fundamental, pois não é possível ter movimento sindical combativo e classista
sem que a categoria tenha clareza sobre o que é a burocracia sindical e que
papel ela cumpre, bem como noções básicas de classismo.
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