9 de mar. de 2016

QUANTO CUSTA UMA TRAIÇÃO SINDICAL?


        É comum em todos os relatos dos núcleos e das correntes sindicais do CPERS que há uma grande desmobilização e desconfiança no chão da escola. Para podermos reverter este quadro de ataques e de desolação que se instaurou sobre a nossa categoria é preciso fazer uma caracterização cuidadosa da realidade e ser coerente com ela. A correlação de forças está desfavorável aos trabalhadores. A apatia, o cansaço e a desconfiança não aconteceram por acaso, mas refletem a traição do ano passado; qual seja: o desmonte da greve ocorrido na assembleia do Pepsi On Stage, no dia 11 de setembro de 2015, por manipulação direta da burocracia sindical.
        Após esta criminosa manobra, o desânimo se instaurou na categoria e prossegue neste início de ano, sem muitas perspectivas de ser superado pelo fato de que os motivos que lhe deram origem continuam operantes e intactos, isto é, a direção do sindicato ainda está nas mãos da burocracia sindica cutista. Não apenas segue em suas mãos, como a linha política proposta por ela continua servindo como base para a “atuação” acrítica de uma grande parcela da “vanguarda” do CPERS. Além disso, o déficit histórico do trabalho de base não foi superado, uma vez que só poderemos falar nisso quando houver uma política sindical autenticamente independente e voltada para isso.
        Vendo-se largada pelo sindicato – a despeito de suas declarações de que está “se aproximando da base” – a categoria não tem como ter unidade e nem força para enfrentar o governo Sartori, que continua fazendo terrorismo psicológico e retirando direitos. O aparato sindical está rendido e inoperante para as demandas reais da classe.
O preço destas traições sindicais é a desagregação (que já é fragmentada por vários outros motivos) e o enfraquecimento da luta sindical. Os militantes independentes e os educadores de base voltam-se do coletivo para o individual. Procuram soluções individuais, uma vez que se decepcionaram com os espaços coletivos (como a assembleia sindical e a construção do movimento). Estes ativistas não refletem profundamente sobre as causas destas traições e nem sobre o papel da burocracia sindical, que está tendo êxito no cumprimento do seu papel de freio das lutas. A maioria das correntes do CPERS ajuda a esconder ou minimizar estas traições, pois não faz este debate justamente por ser parte desta mesma burocracia sindical ou de compactuar com ela.

A única proposta concreta de mobilização é a greve patronal da CNTE-CUT
        A mesma direção que desmontou a greve do Pepsi On Stage está impondo, de cima para baixo, a greve nacional da CNTE-CUT. Para angariar o apoio da categoria ela omite o verdadeiro conteúdo da greve (a defesa da imediata aplicação do Plano Nacional de Educação – PNE –, o que anula todos os outros eixos) e aponta para uma suposta continuidade da greve na assembleia marcada para o dia 18 de março. Que espécie de greve poderia surgir desta junção de greve patronal com a continuidade por tempo indeterminado proposto por uma direção que desmonta greves? A vanguarda do CPERS – para receber este nome – deve propor à categoria que entre neste mato sem cachorro ou precisa alertá-la sobre as armadilhas implícitas em tais propostas? Não podemos dissociar forma e conteúdo: a greve está errada tanto no conteúdo (programa patronal em defesa do PNE), quanto no método (proposta vinda diretamente da cúpula da CNTE-CUT – da qual estamos “meio” desfiliados – e do CPERS).
        Além disso, os ativistas sindicais não podem ignorar a atual conjuntura de desânimo da categoria (justamente em razão das traições) e da correlação de força desfavoráveis. Propor greve por tempo indeterminado neste momento significa incumbir a burocracia cutista de dirigi-la (somente ela tem condições de fazê-lo, ainda mais frente a uma categoria desmobilizada e desconfiada), o que só pode preparar novas derrotas e maiores desmoralizações.
        Na assembleia geral do dia 18 deveríamos propor um programa de mobilização a longo prazo: reuniões por escolas, retomada das zonais, aulas públicas, formação sindical e política para impulsionar novas e maiores vanguardas de educadores com consciência de classe. Esta tarefa é fundamental, pois não é possível ter movimento sindical combativo e classista sem que a categoria tenha clareza sobre o que é a burocracia sindical e que papel ela cumpre, bem como noções básicas de classismo.

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