A greve deflagrada na assembleia geral do
dia 8 de março, proposta pela direção do CPERS (PT, PCdoB, PDT, CUT, CTB),
pelas correntes da dita “oposição” (MLS, PSTU, PSOL e seus satélites) e amparada
pelo Conselho Geral, apesar de ser apoiada por um setor da “vanguarda” do
sindicato, evidencia a irresponsabilidade das burocracias sindicais, que não
levam em consideração o estado de ânimo da classe e uma análise de conjuntura
consequente. Em uma assembleia esvaziada, que reuniu um pouco mais do que 1500
educadores, se deram falas, selecionadas no critério burocrático e excludente
que já conhecemos, que polarizaram em torno de dois pontos irrelevantes: a
direção central, apoiada por algumas correntes de “oposição”, propôs que a
deflagração da greve deveria ser a partir do dia 15/03; e a dita “oposição” já
a partir do dia 08/03. O fato é que as burocracias unidas defenderam a greve
por tempo indeterminado, disputando apenas a data de quando começar, desconsiderando todo o resto da realidade. A importante discussão sobre a possibilidade da greve deu lugar à discussão vaidosa de
quando iniciá-la (8/03 ou 15/03).
Nossa proposta de não greve, apresentada na
assembleia, parte da análise de uma conjuntura e correlação de forças
desfavoráveis neste início de ano – que está marcada por uma ofensiva do
governo contra ativistas, removendo e demitindo. Nossa proposta partia da
percepção do baixo ânimo da classe para a luta, em função de inúmeras derrotas,
descontos salariais recentes e perseguições políticas. Um exército quando se
coloca em movimento contra o inimigo deve levar em consideração o ânimo de seus
combatentes, a munição e a força de seu exército, pois para deflagrarmos uma
greve estamos em guerra contra o nosso inimigo de classe. Se saímos para uma
greve fracos, desanimados e com 1% de nosso exército, saberemos que nossa luta
será derrotada. Um “general” que age desta forma, na verdade, tem outros
interesses que não são o da vitória do seu próprio exército.
O setor que se diz “oposição” à direção do
CPERS (MLS, PSTU, PSOL, CEDS e outros), vinculados à CSP Conlutas e à
Intersindical, que trabalhou abertamente pela desfiliação da CUT, fez um
seguidismo absurdo e cego em relação à CNTE, que é a reminiscência da CUT
dentro do nosso sindicato. Agem assim porque no fundo praticam o mesmo sindicalismo
e tem o mesmo programa para dirigir o sindicato, que é o de governar e reformar
o capitalismo, a despeito do discurso em contrário. Para eles foi uma “vitória”
a CNTE ter proposto uma greve nacional contra os ataques do governo Temer, só
não dizem em que condições concretas isto seria possível.
Há, sem dúvida, a necessidade de uma ampla
luta contra os ataques do capital, expressos hoje pelo governo Temer (PMDB),
Sartori (PMDB), Marchezzan Jr (PSDB) e pela grande mídia. Nossa luta é
defensiva, isto é, lutar para não perder: contra a “Reforma” da Previdência, o congelamento
e parcelamento de salários, a demissão de trabalhadores contratados, fechamento
de turnos, escolas e remoção de professores. Porém, isso não pode ser
artificial, como faz a burocracia, que propõe qualquer movimento com objetivo
de desgastar os governos, para que os seus assumam nas próximas eleições. Além
de sua adaptação ao Estado burguês, praticam um sindicalismo de cúpula, em que
determinam “greves” de cima para baixo, praticando a conciliação de classe por
cima e a desorganização de base por baixo. Em razão da ausência sistemática de
trabalho de base e de uma política classista coerente, a greve no RS está praticamente
inexistente. A nossa categoria parou parcialmente no dia 15, que era parte do
calendário oficial da CNTE-CUT. Neste dia vimos algumas categorias
profissionais nas ruas, mas ficamos muito aquém do que precisávamos. A nossa
categoria ficou em casa e a CNTE-CUT trabalhou para canalizar este princípio de
movimento de descontentamento com a “Reforma” da Previdência para o campo
eleitoral, de olho em 2018.
Uma greve no momento atual,
independentemente de ser deflagrada no dia 8 ou 15 de março, é mais uma
demonstração da inconsequência da burocracia sindical. Há uma sonegação
sistemática do número de adesão pelos núcleos e pela direção central, o que
dificulta uma visão do todo enquanto classe. O fundo de greve tornou-se um tabu
por parte da burocracia sindical, que quer manter a todo custo o seu monopólio
sobre as finanças do CPERS. O comando de greve novamente foi eleito entre
quatro paredes e reflete a hegemonia total da atual direção sobre ele. Este
comando, que é composto também por todas as correntes da dita “oposição”, não
propõe nenhuma agenda de luta real, nem faz um levantamento sistemático da
adesão para dar clareza à base, muito menos denuncia o papel sabotador da luta
concreta por parte da direção central. É tão irresponsável quanto a direção
central.
Temos todos os motivos do mundo para fazer
greve, mas isto apenas não basta. Há que se avaliar constantemente a disposição
por parte da categoria, que hoje, infelizmente, reflete as várias traições e
sabotagens políticas por parte da burocracia sindical. Apesar disso, somos
contra culpabilizar os colegas do chão da escola como muitos ativistas da
vanguarda fazem, como se a não adesão da base fosse o principal motivo do
fracasso das nossas greves. Estes setores assumem uma postura bastante sectária
com relação aos nossos colegas e ignoram o peso morto da burocracia sindical e
de toda a sua orientação política.
Que peso tem na disposição de luta da base
as traições do Pepsi On Stage (2015), desmonte da ocupação do CAFF e conivência
com o desmonte de ocupações de escola por parte da UMESPA (maio e junho de
2016), uma greve finalizada pelo facebook (dezembro de 2016) e pelos sucessivos
descontos salariais, resultado de greves conduzidas irresponsavelmente? Pra
piorar, muitos colegas contratados estão sendo demitidos em meio a própria
“greve” e a direção do CPERS nada faz, apenas reforça sua política reacionária
de omissão em relação aos setores mais precarizados de nossa categoria. O que
fará o comando de greve em relação a estas demissões?
O resultado inevitável desta greve sem
condições é o aprofundamento da desmobilização e desconfiança na classe. A
burocracia sindical não dá a menor importância para isso. É preciso que em cada
escola se debata o papel das burocracias sindicais e tente superá-las com
organização de base por local de trabalho, com aulas públicas, panfletagens,
agitações, conversas com a comunidade escolar, organização por zonais, etc. Não
há condições de enfrentarmos sozinhos os ataques dos governos a serviço do
grande capital. Para isso, temos que unificar a nossa luta com os demais trabalhadores,
propor pautas em conjunto, unificações de lutas e calendários. Os municipários
de Porto Alegre, bem como categorias federais, tem sofrido os mesmos ataques e
as mesmas ameaças: é fundamental buscar e querer esta luta conjunta, bem como
os sindicatos do setor privado. As nossas palavras de ordem precisam ser
debatidas nas bases e criar raízes nela. Para que ela lute com consciência,
precisa entendê-las e saber hierarquizá-las. Nada disso foi feito antes da
deflagração desta nova aventura da burocracia sindical.
Para preservarmos a disposição de luta da
classe é fundamental chamarmos uma nova assembleia geral e encerrarmos a greve,
mas propondo um novo calendário de luta que siga a denúncia contra o governo
Sartori (PMDB) e a sua política, tal como o fechamento de turmas, a demissão
dos trabalhadores contratados, a remoção de professores e a “Reforma” da
Previdência do governo Temer. A burocracia sindical só propõe greve para
aparecer como “combativa”, mas é por trás desta aparência que ela cava a nossa
cova. Para evitarmos isso, reafirmamos a importância de aprovarmos com urgência
um calendário de luta por núcleo e escola para o próximo período.
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