20 de mar. de 2017

CRÔNICA DE UMA DERROTA ANUNCIADA

A greve deflagrada na assembleia geral do dia 8 de março, proposta pela direção do CPERS (PT, PCdoB, PDT, CUT, CTB), pelas correntes da dita “oposição” (MLS, PSTU, PSOL e seus satélites) e amparada pelo Conselho Geral, apesar de ser apoiada por um setor da “vanguarda” do sindicato, evidencia a irresponsabilidade das burocracias sindicais, que não levam em consideração o estado de ânimo da classe e uma análise de conjuntura consequente. Em uma assembleia esvaziada, que reuniu um pouco mais do que 1500 educadores, se deram falas, selecionadas no critério burocrático e excludente que já conhecemos, que polarizaram em torno de dois pontos irrelevantes: a direção central, apoiada por algumas correntes de “oposição”, propôs que a deflagração da greve deveria ser a partir do dia 15/03; e a dita “oposição” já a partir do dia 08/03. O fato é que as burocracias unidas defenderam a greve por tempo indeterminado, disputando apenas a data de quando começar,  desconsiderando todo o resto da realidade.  A importante discussão sobre a possibilidade  da greve deu lugar à discussão vaidosa de quando iniciá-la (8/03 ou 15/03).
Nossa proposta de não greve, apresentada na assembleia, parte da análise de uma conjuntura e correlação de forças desfavoráveis neste início de ano – que está marcada por uma ofensiva do governo contra ativistas, removendo e demitindo. Nossa proposta partia da percepção do baixo ânimo da classe para a luta, em função de inúmeras derrotas, descontos salariais recentes e perseguições políticas. Um exército quando se coloca em movimento contra o inimigo deve levar em consideração o ânimo de seus combatentes, a munição e a força de seu exército, pois para deflagrarmos uma greve estamos em guerra contra o nosso inimigo de classe. Se saímos para uma greve fracos, desanimados e com 1% de nosso exército, saberemos que nossa luta será derrotada. Um “general” que age desta forma, na verdade, tem outros interesses que não são o da vitória do seu próprio exército.
O setor que se diz “oposição” à direção do CPERS (MLS, PSTU, PSOL, CEDS e outros), vinculados à CSP Conlutas e à Intersindical, que trabalhou abertamente pela desfiliação da CUT, fez um seguidismo absurdo e cego em relação à CNTE, que é a reminiscência da CUT dentro do nosso sindicato. Agem assim porque no fundo praticam o mesmo sindicalismo e tem o mesmo programa para dirigir o sindicato, que é o de governar e reformar o capitalismo, a despeito do discurso em contrário. Para eles foi uma “vitória” a CNTE ter proposto uma greve nacional contra os ataques do governo Temer, só não dizem em que condições concretas isto seria possível.
Há, sem dúvida, a necessidade de uma ampla luta contra os ataques do capital, expressos hoje pelo governo Temer (PMDB), Sartori (PMDB), Marchezzan Jr (PSDB) e pela grande mídia. Nossa luta é defensiva, isto é, lutar para não perder: contra a “Reforma” da Previdência, o congelamento e parcelamento de salários, a demissão de trabalhadores contratados, fechamento de turnos, escolas e remoção de professores. Porém, isso não pode ser artificial, como faz a burocracia, que propõe qualquer movimento com objetivo de desgastar os governos, para que os seus assumam nas próximas eleições. Além de sua adaptação ao Estado burguês, praticam um sindicalismo de cúpula, em que determinam “greves” de cima para baixo, praticando a conciliação de classe por cima e a desorganização de base por baixo. Em razão da ausência sistemática de trabalho de base e de uma política classista coerente, a greve no RS está praticamente inexistente. A nossa categoria parou parcialmente no dia 15, que era parte do calendário oficial da CNTE-CUT. Neste dia vimos algumas categorias profissionais nas ruas, mas ficamos muito aquém do que precisávamos. A nossa categoria ficou em casa e a CNTE-CUT trabalhou para canalizar este princípio de movimento de descontentamento com a “Reforma” da Previdência para o campo eleitoral, de olho em 2018.
Uma greve no momento atual, independentemente de ser deflagrada no dia 8 ou 15 de março, é mais uma demonstração da inconsequência da burocracia sindical. Há uma sonegação sistemática do número de adesão pelos núcleos e pela direção central, o que dificulta uma visão do todo enquanto classe. O fundo de greve tornou-se um tabu por parte da burocracia sindical, que quer manter a todo custo o seu monopólio sobre as finanças do CPERS. O comando de greve novamente foi eleito entre quatro paredes e reflete a hegemonia total da atual direção sobre ele. Este comando, que é composto também por todas as correntes da dita “oposição”, não propõe nenhuma agenda de luta real, nem faz um levantamento sistemático da adesão para dar clareza à base, muito menos denuncia o papel sabotador da luta concreta por parte da direção central. É tão irresponsável quanto a direção central.
Temos todos os motivos do mundo para fazer greve, mas isto apenas não basta. Há que se avaliar constantemente a disposição por parte da categoria, que hoje, infelizmente, reflete as várias traições e sabotagens políticas por parte da burocracia sindical. Apesar disso, somos contra culpabilizar os colegas do chão da escola como muitos ativistas da vanguarda fazem, como se a não adesão da base fosse o principal motivo do fracasso das nossas greves. Estes setores assumem uma postura bastante sectária com relação aos nossos colegas e ignoram o peso morto da burocracia sindical e de toda a sua orientação política.
Que peso tem na disposição de luta da base as traições do Pepsi On Stage (2015), desmonte da ocupação do CAFF e conivência com o desmonte de ocupações de escola por parte da UMESPA (maio e junho de 2016), uma greve finalizada pelo facebook (dezembro de 2016) e pelos sucessivos descontos salariais, resultado de greves conduzidas irresponsavelmente? Pra piorar, muitos colegas contratados estão sendo demitidos em meio a própria “greve” e a direção do CPERS nada faz, apenas reforça sua política reacionária de omissão em relação aos setores mais precarizados de nossa categoria. O que fará o comando de greve em relação a estas demissões?
O resultado inevitável desta greve sem condições é o aprofundamento da desmobilização e desconfiança na classe. A burocracia sindical não dá a menor importância para isso. É preciso que em cada escola se debata o papel das burocracias sindicais e tente superá-las com organização de base por local de trabalho, com aulas públicas, panfletagens, agitações, conversas com a comunidade escolar, organização por zonais, etc. Não há condições de enfrentarmos sozinhos os ataques dos governos a serviço do grande capital. Para isso, temos que unificar a nossa luta com os demais trabalhadores, propor pautas em conjunto, unificações de lutas e calendários. Os municipários de Porto Alegre, bem como categorias federais, tem sofrido os mesmos ataques e as mesmas ameaças: é fundamental buscar e querer esta luta conjunta, bem como os sindicatos do setor privado. As nossas palavras de ordem precisam ser debatidas nas bases e criar raízes nela. Para que ela lute com consciência, precisa entendê-las e saber hierarquizá-las. Nada disso foi feito antes da deflagração desta nova aventura da burocracia sindical.
Para preservarmos a disposição de luta da classe é fundamental chamarmos uma nova assembleia geral e encerrarmos a greve, mas propondo um novo calendário de luta que siga a denúncia contra o governo Sartori (PMDB) e a sua política, tal como o fechamento de turmas, a demissão dos trabalhadores contratados, a remoção de professores e a “Reforma” da Previdência do governo Temer. A burocracia sindical só propõe greve para aparecer como “combativa”, mas é por trás desta aparência que ela cava a nossa cova. Para evitarmos isso, reafirmamos a importância de aprovarmos com urgência um calendário de luta por núcleo e escola para o próximo período.

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