Ainda há motivos para a greve!
Assembleia
geral do CPERS de 24 de novembro de 2017
A nossa greve chega próximo ao terceiro mês
com grandes dificuldades: isolamento das demais categorias do funcionalismo
público, campanha midiática para jogar opinião pública contra nós, refluxo da
categoria e sabotagem da direção central do CPERS. Para se deflagrar uma greve
é sempre necessário estudar o melhor momento (natureza dos ataques, mudança na
conjuntura, correlação de forças, etc.). O nosso movimento grevista, contudo,
já existe há mais de 2 meses e se tornou vanguarda da luta contra o ajuste
fiscal. Apesar de suas limitações, não se constrói um movimento como este da
noite para o dia. Para encerrá-lo também é necessário estudar o melhor momento.
Não pode ser feito como quer a direção central do CPERS (PT, PCdoB e PDT; CUT e
CTB) e a maioria do comando estadual de greve, fazendo discurso terrorista de
medo na categoria, repassando dados de “esvaziamento” da greve para a mídia
burguesa usar contra o movimento grevista.
Na última assembleia geral afirmamos que “quando a continuidade da greve é aprovada,
a direção central e a maioria do comando de greve deixam o movimento morrer de
inanição, sem defesa e sem ataque”. Foi exatamente o que aconteceu. Os
panfletos para agitação de rua chegaram com uma semana de atraso; nenhuma
atividade para distribuí-los massivamente foi marcada ou orientada pelo comando
estadual; e poucas das que foram marcadas pelos núcleos se concretizaram. A
unidade com os demais servidores públicos foi sabotada; as centrais sindicais
(com especial destaque para a CUT, que dirige a maioria dos sindicatos do
serviço público) ficaram completamente inertes, propondo “greves gerais”
fictícias e deixando a luta real se apagar aos poucos. As ocupações não foram
pensadas pra se sustentar. O trancaço da ALERGS, que teve o importante papel de
evitar que fosse protocolado e votado o PLC 249 do ajuste fiscal em regime de
urgência, durou menos de um dia, sendo mais uma ação para “consumo das
vanguardas” do que uma luta consequente, tendo em vista que nenhuma outra
categoria além da educação participou da atividade. Muitos dirigentes de núcleo
sabotaram a luta no interior e sequer seguiram em greve. A campanha de mídia
deliberado em assembleia geral ficou muito aquém da necessidade exigida e os
ataques dos jornalistas mercenários (como Rosane de Oliveira e Diego
Casagrande) ficaram, em sua maioria, sem resposta. Sendo assim, o resultado não
poderia ser outro: perdemos terreno na opinião pública, contribuindo para o enfraquecimento
do movimento grevista.
A principal lição da greve é que precisamos superar este
sindicalismo cutista e esta direção central conciliadora, pois sem isso
qualquer luta ou greve será inconsequente e limitada, passível de sabotagens e
traições. Esta direção central do CPERS demonstrou na prática que desmonta a
luta (trazendo aposentados para votar pelo fim da greve) e não é capaz de
realizar um trabalho de base no sentido de superar o individualismo, o medo, o
assédio moral e a alienação da categoria. De uma forma ou outra, esta e outras
direções centrais acabaram por alimentar um sentimento imediatista e passivo na
base, que se traduz agora neste refluxo.
Por anos esta direção central e setores da “oposição”
passaram derrotas por vitórias. Tratam a base como crianças que precisam ser
ludibriadas. Lutar e fazer greve, tal como uma guerra, é um processo que não
tem garantia de vitórias; embora saibamos que só pode vencer quem lutou.
Embalados por este sentimento, setores da vanguarda, mesmo reconhecendo o
refluxo, se perguntam: como voltar da greve sem nada? É preciso dizer aos
colegas que, nesta perspectiva, seremos derrotados pelo governo Sartori (PMDB e
aliados). Este se utilizou da mídia, do senso comum, da repressão, da chantagem
do desconto e do desemprego, não atendendo a nossa pauta de reivindicações; e
ainda que desgastado e parcialmente desmascarado, segue aplicando o seu projeto
político de ajuste fiscal e destruição dos serviços públicos. Não há vergonha
em lutar e ser derrotado. Há vergonha em ser derrotado sem luta ou passar
derrotas por vitórias.
É certo, também, que o nosso movimento grevista, após
quase 80 dias de luta, teve grandes méritos, como chamar a atenção da sociedade
ao projeto do governo Sartori, demonstrar que ele tem dinheiro, que tem contas
irregulares e que desvia dinheiro do FUNDEB. Se a greve não tivesse enfrentado
o governo na sua política de arrocho e parcelamento, certamente nada disso
teria aparecido. Da mesma forma, a extensão da greve para além do dia 10 de
novembro possibilitou o trancaço na ALERGS, deixando claro o papel cúmplice do
ajuste fiscal de PT e PCdoB, supostos partidos de “oposição” ao governo
Sartori. Esta mudança de tática política destes partidos, que visa “perdoar os
golpistas”, tem suas respectivas representações na direção central do CPERS.
Caso estes e outros partidos votem a favor do regime de urgência do ajuste
fiscal ou em qualquer proposta que ajude o governo a aprová-lo, o CPERS deve
realizar uma campanha de massas para denunciá-los, bem como denunciar o papel
inaceitável do deputado Edegar Pretto (PT), cúmplice e facilitador do protocolo
do projeto de ajuste fiscal na ALERGS.
Para seguirmos em greve e tentarmos esgotar as últimas
possibilidades, precisamos direcionar toda a nossa artilharia contra o ajuste
fiscal e as privatizações. Somos contra seguir em greve sem estratégia, muito
menos ter como prioridade principal a simples busca por mesa de negociação.
Esta somente pode surgir como consequência da pressão real de todo o movimento.
É preciso um último esforço, se estendendo com muitas dificuldades, até o dia 1º de dezembro, quando
novamente o governo atrasará os salários com o seu escalonamento. Muitos
núcleos do interior, contrariando a orientação de suas direções, votaram pela
continuidade. É preciso valorizar este esforço e tentar transformar a
disposição de luta desta vanguarda para atacar o coração do projeto político do
governo Sartori, que é o ajuste fiscal, a Renegociação da Dívida e o
desmantelamento do IPE. Somente neste sentido a continuidade da greve se
justifica, sendo complementada pelas seguintes políticas:
I) Busca de
unidade com os demais servidores, propondo um encontro de base e um calendário
de luta unificado. Pelo seu peso, a CUT tem um papel importante. Caso não faça
nada novamente, precisa ser denunciada na sua inércia cúmplice do governo
Sartori.
II) Campanha
de massas, com inserções na grande mídia, redes sociais, agitações de rua,
panfletagens e cerco à ALERGS, alertando a população sobre o que está em curso
com o projeto do governo.
III) Promover
aulas públicas nas comunidades escolares (principalmente naquelas que voltaram
a dar aula) sobre os ataques à classe trabalhadora e o ajuste fiscal. Também é
fundamental organizar plenárias interescolas e intercategorias, inclusive no
interior, em núcleos estratégicos, realizando assembleias de mobilização para
mexer com o eleitorado do PMDB e aliados. Ou seja, precisamos colocar em
prática efetivamente o que foi votado nas assembleias gerais.
ü Combate ao ajuste fiscal do governo
Sartori: acompanhar as votações na ALERGS.
ü Convocar as centrais sindicais,
sociedade civil organizada e demais categorias de servidores públicos
estaduais, de trabalhadores e estudantes para lutar contra o ajuste fiscal.
ü Fortalecer a campanha em defesa do IPE.
ü Se a greve prosseguir: abrir o comando
de greve estadual para base. Abaixo o burocratismo! Que a base tenha direito a
voz e voto no seu próprio sindicato!
ü Pela autonomia das comunidades escolares
definirem seus calendários de recuperação parcial sem interferência e assédio
moral das CREs, da SEDUC e da mídia.
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