A
última assembleia geral demonstrou a real situação do CPERS: menos de 500
pessoas presentes no Gigantinho! Não se trata apenas desta assembleia geral. Desde
o final da greve do ano passado (e, se formos criteriosos, desde antes da atual
direção central) que a mobilização vem decaindo dentro do nosso sindicato. A
base se sente cada vez menos representada pelo CPERS. As traições das últimas direções,
o seu sindicalismo de cúpula e descolado dos interesses do chão da escola, a
politicagem burguesa, dentre outros fatores, explicam em parte o esvaziamento
do sindicato e a descrença da base em relação à sua direção. A principal mídia
burguesa do Estado – RBS-ZH – não deixou de tirar partido deste vexame, puxando
o número de participantes pra baixo, afirmando se tratar apenas de 200
presentes; enquanto que o Correio do Povo – jornal que é amplamente financiado
pela publicidade do CPERS – puxou falaciosamente os números para cima,
afirmando que 1000 educadores participaram desta assembleia. Para nós, entre
400 e 500 pessoas estiveram presentes no Gigantinho, o que denota uma das
menores assembleias do CPERS nos últimos 20 anos. Isto é sintomático!
A crise da mobilização do sindicato
nos força a buscar suas raízes: quais foram as últimas mobilizações reais da
categoria? Tiveram as direções sindicais importância para estas mobilizações?
As únicas mobilizações autênticas vindas do
chão da escola no último período estão relacionadas ao ataque às condições de vida imediatas da categoria (parcelamento
e ameaça de demissão). Estes ataques garantiram assembleias com mais de 5 ou 10
mil pessoas. Isso, naturalmente, nada tem a ver com a política da direção
central do CPERS (por mais que esta se utilize dos métodos podres do marketing
político e eleitoral, e atribua os méritos a si própria). Ao contrário, a
política da direção central fez de tudo para arrefecer e enfraquecer a
mobilização da base, não dando uma continuidade coerente e classista para elas.
Levou todas elas para o leito morto da democracia burguesa e do seu legalismo anti-trabalhador. Mobilizações
espontâneas de resposta imediata aos ataques do governo – como o parcelamento
salarial, por exemplo – trazem consigo todo o peso do trabalho de base não
realizado: a consciência atrasada, pequeno burguesa; o imediatismo; as ilusões
“democrático-burguesas”, legalistas e eleitoreiras, dentre outras. Um “movimento
grevista” com todos estes problemas, por exemplo, é presa fácil da manipulação
midiática, do terrorismo do governo e um terreno fértil para a política
ilusória das burocracias sindicais.
Nesta última assembleia, percebendo
seu esvaziamento, muitos dirigentes sindicais falaram em “ir para base” e
“retomar o trabalho de base”. Existe uma profunda diferença na expressão “ir
para base” vinda dos lábios de um burocrata e na fala de um lutador
independente, ou mesmo de um colega do chão da escola sem participação ativa no
sindicato. Para a burocracia sindical “ir para a base” significa reforçar sua dominação; isto é, fazer
demagogia, alimentar ilusões, o senso comum; pois toda esta estrutura beneficia
o poder dos burocratas e das correntes sindicais que dependem dela. A atual
proposta de “caravanas” pelo interior não passa de uma auto promoção
inconsequente da direção central, com a clara finalidade eleitoreira (seja em
âmbito dos partidos reformistas nas eleições de outubro; seja no âmbito das
eleições sindicais do presente e do futuro). Se estas “caravanas” representassem
um real trabalho de base não teríamos assembleias gerais como a atual, nem o
profundo desgaste político do sindicato.
Nesse sentido, o discurso repetido à
exaustão pelos dirigentes do CPERS sobre se ter “responsabilidade nas
propostas” é o grande escudo com que se evita qualquer mobilização ou movimento
independentes que saiam um pouco do controle da burocracia dirigente. “Ter
responsabilidade” segundo os burocratas sindicais é não colocar os interesses
do movimento acima da estrutura sindical e da rotina burocrática que mantém os
sindicatos como verdadeiras empresas
privadas. O autêntico trabalho de base que a categoria necessita sem dúvida
coloca em risco tudo isso: combate o senso comum, o imediatismo, as informações
privilegiadas e guardadas a sete chaves entre as correntes sindicais
majoritárias; o incentivo à autonomia nos locais de trabalho, inclusive lutando
contra o pensamento retrógrado de muitos colegas que acham mais cômodo esperar
as orientações prontas “vindas de cima” ou “o que o sindicato vai fazer por
nós”. É preciso debater a conjuntura para muito além das eleições burguesas de
outubro (se estamos nessa situação aparentemente sem saída, é justamente porque
as sucessivas direções do CPERS não foram além da “responsabilidade para com o
aparato sindical” e não debateram saídas revolucionárias). Este trabalho de
base – o único real e do qual dependemos mais do que nunca – a burocracia
sindical jamais fará; e é por isso que soa cínica a sua fala de “ir para a
base”. A tendência, portanto, é de aprofundamento de assembleias esvaziadas e
do afastamento da categoria do seu sindicato (para alegria e conforto deste e dos
próximos governos) ou de mobilizações espontâneas que são o resultado de
ataques frontais dos governos, mas que não encontram futuro dentro desta
estrutura sindical.
O principal meio de romper com esta
tendência é a luta por um novo sindicalismo, classista, organizado pela base e
de orientação revolucionária e socialista. Este sindicalismo, por suposto, não
surgirá da noite para o dia, mas precisa ser debatido, organizado e preparado
por uma luta de longo prazo, que combata, dentre outros atrasos, o imediatismo
da nossa categoria. Outros apontamentos são importantes para o desenvolvimento
desse novo sindicalismo, tal como a crítica da atual política da direção
central do CPERS e do Conselho Geral. A pauta de reivindicações apresentadas
pelo Conselho é extremamente longa e um emaranhado de contradições e
incoerências (principalmente entre o discurso e a prática). Exige 23% de
reposição salarial em uma conjuntura de derrota de uma greve de 90 dias, em que
a categoria foi largada à sua própria sorte durante o período de recuperação
dos dias parados.
Como conquistar, então, estes 23%? No atual
estágio de refluxo e derrota da categoria, este reajuste só poderia surgir de
um conchavo de bastidores entre sindicato e governo, às custas da renúncia de
algo muito maior, como fazer vistas grossas à demissão de inúmeros colegas
contratados, que hoje estão no olho do furacão, ameaçados de perder o emprego,
sendo que alguns já foram demitidos. A direção central e a maioria das
correntes do CPERS demonstraram estar se lixando para estes trabalhadores, que
são o setor mais precarizado da nossa categoria. Nada foi apresentado nesta
pauta de reivindicação e muito menos falado para a grande mídia nas declarações
públicas da presidente da entidade. As propostas aprovadas ou assimiladas na
assembleia geral, como sempre, se tornam letra morta. O método da burocracia
sindical é incorporá-las para acalmar os
proponentes e deixá-la morrer nas
gavetas.
Pra piorar, o Conselho Fiscal (órgão
votado pelo Conselho Geral para fiscalizar as finanças do CPERS) continua
fechado à categoria, controlado pelas correntes da direção central. Como
elaborar uma política independente, capaz de fazer com que a base se sinta
representada neste sindicato, se sua política financeira é totalmente hegemonizada
e controlada pelos membros da direção central. Seria muito importante a
categoria sentir que pode opinar sobre tudo, inclusive sobre as finanças,
preparando e organizando a luta por local de trabalho, propondo pautas, escrevendo
nas suas mídias, etc. Mas não! As mesmas correntes sindicais de sempre
continuarão controlando o aparato com mãos de ferro. A maioria esmagadora das
correntes sindicais acha tudo isso normal ou prefere o silêncio. Enquanto as
coisas permanecerem assim, o quadro de esvaziamento sindical não será superado.
Com o golpe do impeachment, o alijamento do poder, a prisão de Lula e o novo gueto
eleitoral que a direita tradicional pretende jogar o PT e a CUT, a tendência é
que estes se voltem totalmente para os sindicatos no sentido de controlá-los
com mãos de ferro, exercendo uma verdadeira ditadura sindical sobre as
minorias. Como já sabemos, o movimento sindical é a principal moeda de troca do
petismo contra essa direita. E a utilização do aparato e do movimento sindical
com finalidades eleitoreiras não pode resultar em nada além de novos e piores
golpes contra os trabalhadores. Aqui já está condensado e apontado um
prognóstico e um caminho para superar o atual estado de coisas. Basta saber
agora em que tipo de trabalho de base as forças minoritárias e militantes
independentes apostarão.
A palavra está com eles...
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