1) Como está a campanha? Os
professores estão recebendo bem as pautas da chapa 4?
Esta é uma campanha extremamente desigual. Nós estamos tendo grandes
dificuldades em visitar os municípios do interior, já que todos os integrantes
da nossa chapa estão trabalhando nas escolas, sem nenhum liberado sindical para
fazer campanha o dia todo. Cumprimos horários, diferentemente da maioria dos
integrantes das chapas 1, 2 e 3, que contam com os militantes das centrais
sindicais, dos seus partidos e dos liberados sindicais que percorrerem todo o
Estado.
Apesar disso, os educadores das escolas que visitamos estão recebendo
bem nossas propostas, principalmente porque elas fogem da lógica do
sindicalismo oficial, que a categoria já está farta de ouvir. São algumas de nossas
pautas o combate à precarização do trabalho imposto pelos governos, como a
defesa dos trabalhadores contratados e dos Planos de Carreiras. Outra pauta que
discutimos com os educadores trata do combate à burocratização sindical e o
subsequente afastamento do CPERS da sua base. Queremos o fim dos privilégios
dos dirigentes sindicais (a verba de representação) e a transparência nas
finanças do CPERS, que hoje é controlada pela cúpula sem nenhum controle da sua
base. Estamos propondo uma nova forma de organização sindical, por local de
trabalho, com nova metodologia das assembleias gerais, inclusive com prestação
de contas publicamente, para toda a categoria. A gente ouve muitas queixas dos
colegas dizendo que o CPERS é um trampolim político, que muitos ex-dirigentes
assumem cargos nos governos, como o José Clóvis. Por isso estamos defendendo a
expulsão do Secretário de Educação, da Adjunta e dos coordenadores das CREs do
quadro de sócios do CPERS. Não podemos tolerar mais o carreirismo sindical para
fabricar quadros para o governo. A nossa chapa é a única que se pronuncia
contra o Plano Nacional de Educação (PNE) – base da Reforma do Ensino Médio
Politécnico – e o Pacto pelo Ensino Médio. Na nossa avaliação, estas são
propostas neoliberais impostas pelos governos Dilma e Tarso, a mando do Banco
Mundial, para legalizar o desvio de dinheiro público para o ensino privado,
sobretudo através do PRONATEC. Com estas pautas defendemos um CPERS
independente dos governos e dos partidos burgueses na prática, e não apenas nos
discursos, como fazem as outras chapas. Ao final das nossas falas, vemos
manifestações de apoio dos colegas. Isso nos dá a impressão de que houve
simpatia da parte deles.
2) O que está pautando o debate? Que
temas têm sido abordados na campanha e no diálogo com os professores?
Uma das pautas principais desta campanha é sobre a desfiliação da CUT.
Estamos defendendo isso desde que a nossa corrente sindical foi constituída em
2008, defendemos no congresso do CPERS em 2010 até hoje, ao contrário de
todas as outras chapas, que ou não querem a desfiliação por serem correia de
transmissão do PT (chapa 2) ou não demonstram a menor coerência sobre o tema
(chapas 1 e 3). A nossa proposta de um novo sindicalismo, desatrelado
do Estado e controlado pelos trabalhadores de base, também está tendo bastante
aceitação. Estamos pautando a perspectiva de construir o CPERS a partir de
núcleos por escolas, com formação (teórica, política e pedagógica), assembleias
por local de trabalho, utilizando todas as mídias disponíveis e fortalecendo os
representantes de escolas. Pautamos a necessidade de que as instâncias do nosso
sindicato sejam democratizadas, como as assembleias gerais, o Conselho Geral e
os Congressos.
Outra pauta bastante importante é a questão da precarização do trabalho,
como já foi dito. Nós estamos propondo que todos os contratados que já
cumpriram 3 anos de serviço no Estado sejam efetivados, como forma de combater
a política permanente de precarização do trabalho praticada por todos os
governos. Esta foi a política preferencial do governo Tarso, que certamente
será mantida pelos governos que virão. Mesmo tendo na Constituição Federal que
o ingresso no serviço público seja somente por concurso, todos os governos
descumpriram a lei, e contrataram em caráter “temporário emergencial” os
trabalhadores, porém, depois de 2 anos, o vínculo temporário fica
descaracterizado, e passa ser permanente. Hoje temos colegas se aposentando
como contratados, isto é, cumpriram seus deveres como trabalhadores, mas na
hora da aposentadoria recebem o fator previdenciário, reduzindo ainda mais seus
salários, o que consideramos extremamente injusto. Nossa proposta não é de
caráter permanente e nem contrária aos concursos públicos. Propomos que uma vez
efetivados os atuais contratados, que o ingresso aconteça somente através de
concurso e nunca mais por contratos “emergenciais”. Além disso, defendemos a
imediata nomeação de todos os aprovados em concurso público e o atual Plano de
Carreira.
3) Quais são as principais propostas e posições que
diferenciam a chapa 4 das demais?
Podemos destacar os seguintes pontos de diferença com as outras chapas:
a luta e o combate permanente contra a burocratização sindical, a desfiliação
da CUT-CNTE, a expulsão do dos membros oficiais do governo (Secretário de
Educação e coordenadores) do CPERS, a transparência nas finanças do sindicato,
o fim dos privilégios dos dirigentes sindicais (a verba de representação), a
defesa dos trabalhadores contratados, a luta contra o PNE, o “Pacto” e todos os
governos que aplicam os projetos do do Banco Mundial. Além disso, todos os
integrantes de nossa chapa estão diretamente no chão da escola, dando aula e
cumprindo horário. As 3 chapas já dirigiram o CPERS e alguns integrantes das
outras chapas chegam a estar há mais de vinte anos na direção. Nenhuma delas
representa renovação. Fazem um discurso de “oposição de ocasião”.
4) Qual é a sua posição e
proposta sobre a vinculação do CPERS à CUT?
Nós, da chapa 4, defendemos a desfiliação do CPERS da CUT e da
CNTE, por serem entidades que estão a serviço dos governos Dilma e Tarso.
Estas centrais defendem explicitamente o PNE, a Reforma do Ensino Médio
Politécnico, o “Pacto”, o fim do nosso Plano de Carreira, a divisão da nossa
categoria entre dois regimes de trabalho, a Reforma da
Previdência, Trabalhista, Sindical e todos os demais ataques aos
direitos dos trabalhadores feitos pelos governos do PT. Por tudo isso,
compreendemos que elas sabotam nossas lutas e greves, fortalecendo o governo na
retirada de direitos de nossa categoria. São entidades antidemocráticas,
aparelhadas, onde a base não tem vez. No passado foram representativas, mas
hoje, quem participa de suas instâncias são apenas as cúpulas sindicais que
decidem tudo contra os reais interesses da base dos trabalhadores. Defendemos
que nenhum tostão deve ser dado à CUT e à CNTE, que recebem milhões para
sabotar as nossas lutas e defender os governos Dilma e Tarso. Queremos que este
dinheiro seja destinado para a criação de um fundo de greve permanente, para
a formação política, teórica e pedagógica da categoria. Enfim, que este
dinheiro, que hoje é dado de presente ao governo, seja revertido em benefício
da categoria.
5) Em caso de ruptura com a CUT, a chapa pretende
vincular o CPERS a outra central sindical?
Não defendemos filiação a nenhuma outra central por entendermos que,
assim como a CUT, todas elas estão burocratizadas, afastadas da sua base e
sustentadas por verbas governamentais. A CUT, Força Sindical e CTB sustentam
diretamente os ataques dos governos contra os trabalhadores. A Intersindical e
a CSP-Conlutas sustentam o governo indiretamente através de sua política de
unidade sindical com a CUT, cujo exemplo mais nefasto ocorre na atual diretoria
do CPERS, que quer se reeleger pela chapa 1.
Não somos contra a ideia de uma central sindical. Ela é necessária
porque a nossa luta não pode ser isolada. Porém, as centrais atuais não nos
representam! Queremos conscientizar os trabalhadores sobre a necessidade de
combater a burocratização sindical também nas centrais sindicais.
6) Tu tens filiação partidária? De que grupos ou
correntes fazes parte?
Nós, da chapa 4, não temos vinculação a nenhum partido, mas isso não
significa que sejamos apartidários e apolíticos. Compreendemos que nenhum dos
partidos atuais representa os interesses da classe trabalhadora. Os partidos
atuais estão plenamente adaptados ao capitalismo, se beneficiando das verbas do
fundo partidário, defendendo somente os interesses das elites e fazendo apenas
discursos para o povo. Nossa chapa é composta por educadores independentes, com
uma orientação de esquerda, e por integrantes do coletivo Luta Marxista, do
qual faço parte. No CPERS, nos organizamos na corrente sindical de oposição à
burocracia sindical, chamada Construção pela Base. Ela existe desde 2008 e faz
um trabalho permanente de oposição à burocratização sindical do CPERS. Nós,
integrantes da Luta Marxista e alguns independentes, defendemos a construção de
um partido revolucionário, completamente diferente do que são os partidos
atuais, pois compreendemos que a inexistência
desse partido é a principal causa das derrotas dos trabalhadores. Outros
colegas independentes que compõem a nossa chapa pensam diferente. Acham que é
necessário a organização política dos trabalhadores através dos movimentos
sociais e dos sindicatos, mas que os partidos são dispensáveis. Temos o acordo
fundamental de ser contra os partidos institucionalizados, burgueses ou
reformistas, tais como PT, DEM, PSDB, PMDB, PTB, PCdoB, PSB, PSOL, PSTU e
outros.
7) Que estratégias a chapa 4 está usando para superar
a estrutura menor que a de outras chapas?
Estamos utilizando as redes sociais, visitas nas escolas dentro da nossa
hora livre, conversando com os colegas, enviando e-mails e indo até o interior
quando possível. Muitos colegas têm simpatizado com a nossa chapa e
espontaneamente levado nossos materiais para outras escolas. Assim, vamos
chegando as escolas que não tínhamos acesso. Além de nossas limitações, estamos
sofrendo uma censura burocrática dos núcleos do CPERS, que impedem o
compartilhamento dos nossos materiais nos perfis do facebook. Tivemos nossa
conta de email hackeada, e duas eliminadas. Entramos com solicitação na
comissão eleitoral central do CPERS para que os perfis, site, boletins, jornal
do CPERS e núcleos sejam equitativamente utilizados para divulgação das chapas,
mas ainda a censura ainda persiste. Infelizmente não apenas por parte das
correntes internas do CPERS, mas, também, por parte da grande mídia, em
particular de Zero Hora. Vimos a divulgação antecipada, antes da homologação
das chapas, que seria no dia 5 de maio, de uma reportagem deste jornal que
afirmava a existência de apenas 3 chapas disputando as eleições. Isso confundiu
a nossa categoria, pois quando fizemos panfletagem no seminário internacional,
muitos colegas nos questionavam sobre o fato de serem apenas 3 chapas, fazendo
referência a matéria do jornalista Carlos Rollsing, publicada em 29 de abril.
Isso dificultou a divulgação do nosso programa para os colegas do
interior. Mas vencemos as barreiras como é possível: panfleteando nestes
seminários, conversando com os colegas nas redes sociais, nas escolas e na rede
de solidariedade que surge através destas visitas.
8) És professora de que matéria e lecionas há quanto
tempo?
Ingressei no Estado no ano de 1997, em Porto Alegre, como professora de
Ciências do Ensino Fundamental. Atuei como professora de Biologia e Matemática
do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. Exerci a
função de diretora no Colégio Estadual Cônego Paulo de Nadal, em Porto Alegre.
Atualmente trabalho na vice-direção nesta mesma escola, e em sala de aula como
professora de ciências do Ensino Fundamental, no município de Porto Alegre.
9) Na tua opinião,
quais os principais problemas que prejudicam o magistério gaúcho?
Na opinião da chapa 4, os principais problemas que prejudicam a educação
pública e, consequentemente, os educadores, está diretamente relacionada à
política de desmonte da educação pública imposta pelos governos Dilma e Tarso, e pelo Banco Mundial, através do PNE, que
é a matriz de todas as reformas educacionais que destinam verbas da Educação
Pública para o setor privado, através dos projetos (PROUNI, PRONATEC, FIES,
Ensino à distância, ENADE, ENEM). Exemplos do que é o PNE podem ser vistos na
reforma do ensino médio politécnico e no “Pacto” do Ensino Fundamental e Médio.
Reformas que tem o único objetivo de reduzir custos e de alterar os índices
educacionais a custa do rebaixamento da qualidade de ensino. O resultado é que,
sem investimento, as escolas estão caindo aos pedaços, sem estrutura, sem
materiais apropriados e sem tecnologia. Os professores não têm condições de
trabalho dignas. Tiram leite de pedra todos os dias. A escola pública está
parada no século 19. As “reformas” são impostas de cima para baixo, sem
discussão, acabando, na prática, com a autonomia escolar e a gestão
democrática. O assédio moral é uma triste realidade no ambiente de muitas
escolas. Outros problemas da educação pública estão relacionados à precarização
do trabalho, seja através dos contratos emergenciais e das terceirizações (Mais
Educação, Escola Aberta e outros) ou da destruição dos planos de carreiras.
Além disso, os governos Dilma e Tarso descumprem a Constituição Federal
e Estadual, que prevê o investimento de 25% e 35%, respectivamente, na educação
pública. Em contrapartida, destinam 42,4% do orçamento geral da união para o
pagamento dos juros e amortizações da dívida. A lei do Piso nacional salarial,
que não passa de uma carta de intenção, até agora não saiu do papel. A
inexistência de obras de infraestrutura e manutenção permanente das escolas
estaduais, bem como a violência a que estão submetidos os educadores e as
comunidades prejudicam o nosso trabalho cotidiano. Os problemas que prejudicam
os educadores vão além da educação. Eles estão intimamente ligados ao
capitalismo, que, na nossa opinião, necessita ser superado por uma sociedade
socialista.
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