O Congresso do CPERS era pra ser um importante
espaço de debate e de encontro de sindicalistas de todo o estado, mas é subaproveitado
e mal organizado. As teses e resoluções não são devidamente debatidas e
refletidas. Há a preocupação em manter a maioria para controlar o aparato,
inclusive o Congresso. Não há esclarecimento de dúvidas e o debate franco,
aberto e leal nos núcleos (nem sequer existe pré-congresso). Muitas correntes
que lançaram teses distintas se unificaram em “chapas” na hora de eleger
delegados para constituir maiorias artificiais. Esta forma de tratar o
congresso do nosso sindicato é outro problema que reflete a burocratização
sindical.
Em razão da continuidade da greve, seria muito
importante ter transferido o Congresso de Bento Gonçalves para Porto Alegre,
mas infelizmente a rotina burocrática se impôs novamente sobre a luta concreta.
Certamente haverão inúmeros debates e divergências
no IX Congresso, mas, neste texto, gostaríamos de salientar dois temas
importantes:
1) A questão da proporcionalidade:
defendemos a proporcionalidade nos organismos de base, não na direção executiva
Os sindicatos são organismos de frente única de
todos os trabalhadores, independentemente de posições políticas, em torno de
reivindicações elementares. Modernamente, existe uma tendência de integração
dos sindicatos ao Estado, deixando estes de reivindicar esses direitos ou os
traindo sistematicamente. A burocracia sindical (CUT, CTB, Força Sindical, etc.)
é a representante desses interesses patronais nos sindicatos. Essas centrais
pelegas traem os trabalhadores principalmente apoiando os planos de arrocho da
burguesia. A democracia sindical é incompatível com essa política patronal. Nem
sempre é viável a convivência pacífica entre correntes classistas e a
burocracia. Já houve casos dessas centrais transformarem-se no braço armado da
burguesia, como nas greves das obras do PAC.
Os organismos do CPERS são: Assembleia
Geral, Congresso, Conselho Geral, Núcleos, Zonais e diretoria executiva. A
Assembléia Geral é composta pelos educadores sindicalizados. Deveria ser aberta
a todos os trabalhadores da educação. O Conselho Geral e o Congresso sindical
são organismos compostos proporcionalmente por representantes de todas as
opiniões políticas. Devem continuar sendo assim.
A
diretoria executiva não representa a opinião de toda a categoria, mesmo porque
essa opinião não existe. A categoria é dividida por opiniões diversas e muitas
delas antagônicas. Se unifica apenas nas campanhas salariais. As políticas
gerais das diversas correntes são distintas. A Construção pela Base combate os
planos de “austeridade” e a política liberal de todos os governos. Por exemplo:
combate o PNE. Ao contrário, a CUT (e as demais centrais) é a favor, por ação
ou omissão. A diretoria executiva é
eleita para defender uma determinada política, não todas as políticas.
Mesmo nas diretorias proporcionais, existe uma posição da maioria. Essa é a que
vigora. A burocracia não permitirá à minoria se expressar na imprensa sindical.
A minoria não terá mais vantagem com a proporcionalidade do que já não desfruta
como simples oposição. A proporcionalidade
de nada serve à democracia sindical e, muito menos, ao combate da
burocratização sindical.
As diretorias sindicais são organismos
executivos eleitos em torno de um programa. Não pode colocar em prática dois
programas. O programa classista que defendemos não pode ser expresso dentro de
uma diretoria burocrática, ou através da sua imprensa. A unidade para a luta é
a única que interessa aos trabalhadores, não a luta interna numa diretoria.
Isso serviria para confundir-nos com a mesma e sermos responsáveis
objetivamente pela sua política. A democracia sindical entre tendências
antagônicas é cada vez mais impossível. É preciso a mais completa diferenciação
de classe. Em geral, a defesa da proporcionalidade por parte da esquerda – CS,
MLS, PSTU, CST e outros – somente serve a propósitos aparelhistas e para a
negociata com a burocracia; nunca para combatê-la. Pressupõe o abandono da luta
contra a burocracia e a convivência pacífica com ela.
Ao contrário disso, a
proporcionalidade é um método necessário e obrigatório para os organismos não
executivos dos sindicatos: congressos, conselhos de representantes, delegados
sindicais, comissões de negociação, entre outros.
2) A
questão dos contratados: defendemos a efetivação de todos os atuais profissionais contratados e
achamos um erro os argumentos utilizados contra essa política (CLT e outros)
Os
professores e funcionários contratados “emergencialmente” são o setor mais
precarizado de nossa categoria, refletindo anos de aplicação do neoliberalismo
por sucessivos governos. A grande maioria desses trabalhadores são contratados
há mais de 10 anos, descaracterizando o caráter emergencial. Trata-se de uma
política dos governos que é consciente e premeditada para dividir a nossa
categoria, enfraquecer a luta sindical e conter gastos.
Algumas correntes – sobretudo
as ligadas ao PT – defendem como única “solução” para o problema dos contratos
emergenciais o concurso público. A precarização do trabalho na nossa categoria,
ao atingir dezenas de milhares de trabalhadores por muito tempo, não pode ser
revertida integralmente a curto ou médio prazo, através de uns poucos concursos
públicos. Nessas condições, a defesa apenas do concurso público, como solução
única para o problema, é alimentar uma ilusão e, na prática, compactuar com a
continuidade da contratação. A solução é mais complexa e requer um conjunto de
reivindicações, não apenas o concurso público. Sendo assim, a política destas
correntes deixa os trabalhadores contratados a mercê da precarização do
trabalho e largados a própria sorte. Um novo concurso público sem resolver este
grave problema apenas lançará servidores nomeados contra contratados,
aprofundando a divisão na base da categoria.
Ao contrário das correntes
sindicais petistas, que não levantam nenhuma política para os contratados,
CEDS, PSTU, MLS, CST e outros, procuram levantar reivindicações para este setor
da nossa categoria. Eles defendem a CLT para os contratados e afirmam que a
política de efetivação desmoraliza o concurso público e os planos de carreiras,
abrindo as portas para a admissão via efetivação. Não concordamos com estes
argumentos e com estas políticas, que também servem, de uma forma ou outra,
para aprofundar a divisão da nossa categoria.
O fim da contratação “emergencial”
pressupõe que o governo foi forçado a abandonar essa política. Defender a
efetivação dos contratados atuais não significa desmoralizar o concurso
público. Pelo contrário: a manutenção da política de contratação é que
desmoraliza o concurso público e os nossos planos de carreira. Ser a favor da
efetivação dos atuais contratados não significa defender admissão por
efetivação sem concurso público pra sempre. Trata-se de uma reivindicação
sindical circunstancial que serve para estender os mesmos direitos dos nomeados
aos atuais contratados,
desmoralizando a política de precarização do trabalho por parte dos sucessivos
governos. Para além destes, os futuros educadores só deverão ser efetivados por
concurso público, tornando sem sentido a política nefasta de contratação
emergencial.
Defender a efetivação dos
contratados, portanto, não significa se opor a realização de concursos públicos,
muito menos aos planos de carreira, pois lutamos pela efetivação somente dos atuais professores e funcionários contratados.
Desta forma, efetivá-los significa defender os planos de carreira, pois, além
de estender os seus direitos para todos os trabalhadores da nossa categoria,
garantiremos a coesão e a unidade em sua defesa. Entendemos que a proposta de
CLT legaliza a divisão da categoria em dois regimes de trabalho e, por isso
mesmo, contribui para enfraquecer a luta em defesa dos planos de carreira.
A nossa política deve refletir
o seguinte: uma só categoria, um só regime de trabalho! É por isso que
consideramos a efetivação como a única política classista para a questão dos
contratados. Contudo, também achamos importante algumas formulações diferentes,
mas que contemplam o mesmo conteúdo, qual seja: as teses que defendem a
“equiparação de direitos entre contratados e efetivos” e a “estabilidade no
emprego” aos contratados. É neste caminho que encontraremos a unidade em defesa
dos planos de carreira e da luta sindical contra a precarização das nossas
condições de trabalho.
Sabemos da dificuldade de
reinvidicar a efetivação dos trabalhadores contratados em uma conjuntura
defensiva como a que estamos vivendo. De qualquer forma, trata-se de uma forma
de aglutinar sindicalmente os setores mais precarizados da nossa categoria,
numa tentativa de levantar suas demandas e representá-los na luta de nossa
entidade.
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