12 de ago. de 2017

A “GREVE” DE 3 DIAS E A SABOTAGEM DA CONTINUIDADE DA LUTA


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        Após um breve período de pagamentos parcelado dos salários, o governo Sartori (PMDB e aliados) retomou sua ofensiva contra os serviços públicos, reduzindo ainda mais a linha de corte. O objetivo de Sartori é somar esforços com o governo Temer (PMDB/PSDB e aliados) visando piorar as condições de vida dos servidores e tencioná-los à aderir a um “programa de demissão voluntária”. A categoria do magistério estadual, contudo, manifestou grande indignação e parcialmente atendeu o rápido chamado da direção central do CPERS para uma assembleia geral no dia 1º de agosto, em frente ao Palácio Piratini. Uma grande parcela de educadores que não compareceu na Praça da Matriz olhou o movimento “grevista” com simpatia.
        O principal encaminhamento debatido nesta assembleia geral foi a deflagração de uma “greve” que tinha prazo de validade: até sexta feira, quando ocorreria uma nova assembleia geral, originalmente convocada para o mesmo local; apesar de que o correto seria ter chamado esta “greve” de paralisação de 3 dias. A participação no ato do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA) e outra manifestação em frente à SEDUC no dia 4 de agosto também foram atividades votadas nesta assembleia geral.
        Em razão de mais este ataque ardiloso por parte do governo Sartori e da relativa rapidez do CPERS na convocação da assembleia, o movimento grevista chegou a contar com a adesão de aproximadamente 70% da categoria, embora esta indignação espontânea não tenha se convertido em participação efetiva nas atividades da “greve”. Outra vez acabou se convertendo em uma “mobilização” passiva, correspondendo mais à penúria financeira e à indignação efêmera do que se traduzindo numa adesão concreta e consciente contra o governo. Para isso, contribuiu o papel desempenhado pela direção burocrática do CPERS que rapidamente se colocou à frente da mobilização para melhor contê-la.

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        A direção central do CPERS sabotou a formação de um comando de “greve”, nem as correntes que se dizem de “oposição” (MLS, PSTU, PSOL), que defendiam a deflagração de uma greve, o exigiram na assembleia geral. De quarta para quinta a direção central mudou o local da assembleia geral da Praça da Matriz (onde participavam os não-sócios) para a Casa do Gaúcho, no Parque Harmonia, onde cabem, no máximo, 2 mil pessoas e excluía a possibilidade da participação de não-sócios. Esta movimentação da burocracia demonstrou a real intenção de desmobilização da categoria.
        No Conselho Geral de 3 de agosto foi dado o relato da maioria dos 42 núcleos do CPERS. Cerca de 25 núcleos defenderam a suspensão da “greve” na assembleia de sexta feira, 4 de agosto; 3 afirmaram que seguiriam a decisão da assembleia geral; 7 defenderam seguir em “greve” até a integralização do pagamento dos salários; e 7 não tiraram posição. Até onde podemos confiar em alguns relatos, que refletem mais a vontade política da corrente da burocracia ou da “vanguarda” que o dirige do que da própria base da categoria, quase todos falaram em encerrar a “greve” para “períodos reduzidos” ou “seguir mobilizados”.
        A despeito da mobilização inicial, baseada numa fagulha de indignação espontânea, ela esbarrou (e esbarraria) nos mesmos problemas de sempre: falta de preparação prévia, desorganização da base, falta de clareza sobre as reivindicações, direções autoritárias nas escolas e sabotagem por parte da burocracia sindical dirigente caso a “greve” realmente se expandisse. Soma-se a isso os problemas de alienação de grandes contingentes da nossa categoria e a ausência de política da direção central para a recuperação dos dias parados (o que deixa a categoria à mercê da chantagem da SEDUC e das direções de escola autoritárias), sem falar na aplicação do fundo de greve aprovado em assembleia, que deveria servir para auxiliar financeiramente a categoria e até hoje não foi colocado em prática. Pra piorar, a direção central do CPERS envia um ofício para os núcleos afirmando que os dias parados devem ser marcados como “greve” e não mais como PAS (participação em atividade sindical). É a sabotagem da luta futura vindo da própria direção do sindicato.

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        Muitos setores da “oposição” à direção central do CPERS estão criticando a denunciando o “encerramento precipitado” da greve. Pouco ou nada falam sobre a ausência de política para conduzir a greve por parte da direção central, e muito menos do seu oportunismo em propor uma greve só para dar vazão ao sentimento de indignação da categoria e depois destruí-la em 3 dias.
        Acreditamos que o principal erro da burocracia dirigente foi não aproveitar este ânimo da categoria e transformá-lo em ponto de partida para mobilizar os educadores. Outra sabotagem grave foi a ausência de um calendário de lutas real que unificasse o CPERS com os demais servidores e categorias, procurando formar uma frente única com outros setores sociais para enfrentar os duros ataques do ajuste fiscal feito pelos três governos: federal, estadual e municipal. Uma greve isolada da nossa categoria, por mais importante que seja, não poderia se sustentar por muito tempo enquanto permanecesse sozinha. Foi nesse sentido que propusemos a necessidade da construção da luta unificada com os demais servidores e trabalhadores. A burocracia sindical resiste a esta unificação desde 2015, quando criou uma unidade burocrática e de cúpula com os demais sindicatos do funcionalismo, que agora precisa ser superada.
        Sabemos que o CPERS “só faz algo” quando está em greve. Porém, não podemos corroborar com tal prática burocrática, que nunca será capaz de criar uma greve ou qualquer luta de forma consequente. Também sabemos que a direção central sabota todos os encaminhamentos aprovados em assembleia geral quando contrariam sua política. Contudo, é justamente demonstrando a sua inconsistência política e autoritarismo para a base da categoria no momento em que acontecem é que poderemos criar as condições para derrotar a burocracia cutista dentro do CPERS. Uma greve sem maiores perspectivas e isolada, certamente aplaina o caminho para novas derrotas e seria incapaz de derrotar o projeto do governo Sartori, que é geral, global e conta com o apoio de Temer (PMDB) e Marchezan Jr (PSDB).
O ato com o SIMPA e a proposta de participação no ato do dia do estudante foram importantes, mas insuficientes.
       
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        Na assembleia geral de 7 de março de 2017 foi aprovada a seguinte resolução: “unificar a luta com os demais sindicatos de trabalhadores/as e demais movimentos, criando comitês municipais e nos bairros contra as reformas neoliberais e demais ataques do governo federal e estadual”. De lá para cá, absolutamente nada foi feito neste sentido. A direção central e suas correntes estiveram freneticamente envolvidas nas eleições sindicais. Novamente a luta foi sabotada e nenhum setor da dita “oposição” levantou esta bandeira durante todo este período e, sobretudo, na última assembleia geral. Caso as folhas de pagamento “se encontrem” será mais fundamental ainda a luta unificada com os demais servidores, com os estudantes, os rodoviários, etc. Os ataques são muitos e constantes, em todas as esferas. Precisam ser respondidos na mesma moeda.
        Pressentindo a ausência de lutas que se seguiria ao fim da “greve de 3 dias”, propusemos a resolução que foi aprovada com adendos e com a seguinte redação: “10) realizar plenárias e organizar uma plenária estadual, em conjunto com os servidores públicos municipais, estaduais e federais e os movimentos sociais, aberta para a base, para discutir calendário de lutas unificadas”. Precisamos construir as condições para tornar essa resolução em ação concreta e não apenas deixa-la ser uma nova declaração ao vento.

O tempo está correndo contra nós. Tenhamos a ousadia necessária para enfrentar o grande capital propondo e lutando pela real unificação dos sindicatos e movimentos sociais contra o ajuste fiscal.

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