15 de out. de 2018

IR MUITO ALÉM DO VOTO CRÍTICO EM HADDAD: ORGANIZAR A FRENTE ÚNICA CONTRA A DITADURA MILITAR


O fascismo tem possibilidade real de voltar ao poder nestas eleições. É o que alguns intelectuais estão chamando de “suicídio da democracia”. A crise econômica do capitalismo levou à crise política que há tempos se expressava no desgaste dos políticos e dos partidos burgueses. Habilidosamente, a burguesia conseguiu jogar a sua responsabilidade para os ombros da “esquerda” e do “comunismo”. É claro que, para isso, contribuiu a estratégia política do PT, que se adaptou completamente ao capitalismo, tolerando e fortalecendo essa direita.
            Não damos vazão ao debate que tenta minimizar o fascismo em ascensão dizendo que não podemos usar essa definição. Os fascistas do futuro não vão ter o estereótipo de Hitler ou Mussolini, nem o discurso e os símbolos de um “Estado totalitário”. Uma das principais características do fascismo atual é que não é possível um debate coerente. Impera o irracionalismo e a manipulação de emoções infantis. Os fascistas, no geral, não sustentam nenhum argumento seriamente até o fim, reproduzindo, como papagaios, o que vem de cima. Utilizam-se do ódio mal resolvido, da repressão moral e sexual da grande massa; sobretudo por parte da religião organizada.
            Alguns métodos do novo fascismo brasileiro começam a se esclarecer: manipulação das redes sociais, algoritmos e fake news baseada no misticismo evangélico. Com o poder do Estado na mão, "legitimado" pelas urnas, virá a repressão policial, a proibição dos movimentos sociais e de trabalhadores, a repressão ideológica, a imposição do moralismo sexual e religioso, a tortura física e psicológica, até os assassinatos "seletivos" (feitos por terceiros, mas legitimados pelo governo). Tudo em nome de quê? Da aplicação do ajuste fiscal para "salvar" o capitalismo da crise. Discursando contra a "ditadura comunista", os neofascistas enfiarão goela abaixo do país o ajuste fiscal, mantendo o Brasil como plataforma de exportação de matérias-primas, usando a repressão do povo e daqueles que resistem, como as últimas ferramentas que a classe dominante e o imperialismo têm para manter seus privilégios e aumentarem seus lucros a qualquer custo.
O capitalismo chegou numa nova fase da sua degeneração. Quer retirar todos os direitos sociais, acabar com a farsa do Estado de "bem estar social" (que foi uma resposta à União Soviética, que hoje não existe mais). Nos distraem com o discurso paranoico e falso sobre a Venezuela para preparar melhor o terreno ao regime de exploração típico do sudeste asiático, como o capitalismo chinês, que paga 1 dólar por dia aos seus trabalhadores e tem lucro recorde para todas as multinacionais que lá operam. Além disso, quer o "Estado mínimo" (leia-se: destruir os serviços públicos) para garantir as verbas federais ao sistema financeiro e ao agronegócio. A burguesia imperialista e nacional não podem mais usar o teatrinho democrático de “instituições respeitadas” e direitos humanos: precisam do fascismo aberto e declarado (de segunda ordem, é claro, tipo Pinochet)! Esta é a raiz da crise atual.
Há muito tempo isso vem sendo preparado. Mais especificamente, desde a eleição de Donald Trump e outros governos neofascistas pelo mundo. O irracionalismo é plantado conscientemente: falam contra a corrupção pra melhor manter a corrupção do sistema financeiro e do próprio capitalismo; falam contra a “ditadura comunista” para melhor implantar uma ditadura capitalista pra salvar os privilégios dos bancos, das grandes empresas, do agronegócio e dos próprios políticos.

O voto crítico em Haddad e a democracia burguesa
            Sabemos que as eleições nesta democracia dos ricos é um jogo de cartas marcadas. Repetidamente esta “democracia” se torna uma ditadura escancarada quando sobrevém os períodos de crise econômica. Não temos ilusões na candidatura do PT. Sabemos que preparam um ajuste fiscal em um ritmo mais lento do que a de Bolsonaro (PSL). No entanto, o voto nulo não é um princípio para nós.
            Chamamos voto crítico na candidatura do PT no sentido de preservar as liberdades democráticas mínimas e atrapalhar, como é possível no momento, a ascensão fascista. Sabemos do caráter burguês do PT e do PCdoB e de todos os seus planos de administração do capitalismo, o que inevitavelmente acarretará novas ascensões da extrema direita no futuro. Se eleito, no entanto, estaremos na primeira fila para lutar contra as suas medidas “democráticas” de administração do capital. Embora entendamos os motivos do voto nulo e respeitemos os motivos de quem o levanta, justamente por não ser um princípio, achamos equivocado defendê-lo nesse momento. Faremos campanha por um voto crítico sem sustentar a política e o programa petista, que compreendemos estar condenado pela experiência histórica.
            O ódio ao PT representa um ódio aos pobres, aos negros, aos ex-escravos, aos trabalhadores em geral. A “luta contra a corrupção” desta classe média e da elite esconde, na verdade, a defesa dos seus privilégios de classe. Elas sabem perfeitamente que não estão lutando contra a corrupção, mas usando-a como um escudo para defender os seus interesses. Eles querem a ditadura conscientemente e, para isso, se usam deste argumento. A elite e a classe média estão pouco se lixando para uma repressão fascista contra o povo pobre. Ao contrário, querem isso para “colocar o populacho no seu lugar” e preservar os seus privilégios ameaçados pela crise do capitalismo. Sabemos que a ditadura irá se impor primeiro nas periferias e nas favelas, para se estender ao movimento sindical e os locais de trabalho.
            O PT, na contramão disso tudo, tenta sustentar o regime democrático burguês, que desmorona como um castelo de areia. Quanto mais é desrespeitado, mas se apega às suas regras. A crise econômica capitalista exige um novo regime político e o PT se nega a se preparar para essa luta. Os reflexos inevitáveis estão no seu sindicalismo, sustentando pela CUT. A justiça está totalmente controlada por esta direita, que não tem escrúpulos em usá-la politicamente. A vitória eleitoral do fascismo lhes deixará com as mãos livres para aplicarem todo o ajuste fiscal, retirar direitos, aumentar seus privilégios e reprimir os trabalhadores e os movimentos sociais. A vitória de Haddad, por outro lado, justamente por se apegar às regras do jogo democrático burguês, não deterá a ascensão dessa direita, que se sente “empoderada” para atacar trabalhadores, mulheres, negros, LGBTTs. Por tudo isso, o foco das nossas tarefas para o próximo período deve estar na preparação de uma frente única de resistência.

Organizar a luta contra o fascismo: preparar a frente única contra a ditadura militar!
            Todas as propostas de frente anti-fascistas levantadas até o momento se resumem à frentes eleitorais para a eleição de Haddad. Somos contra esse tipo de frente, que é estéril e só pode preparar nossa derrota e novas frustrações. É preciso construir frentes antifascistas que desenvolvam ações coordenadas de autodefesa, informações, inteligência, solidariedade, formação política, agitação e propaganda, em todos os locais em que isso for possível, desde os sindicatos e locais de trabalho, até as escolas, universidades, bairros e vilas.
            Por política de frente única deve-se entender, antes de tudo, uma ação comum, com trabalhadores de partidos reformistas, social-democratas e sem-partido, dentro e fora dos sindicatos. Grande parte da burocracia sindical dirigente está apegada ao regime democrático-burguês em desmoronamento, tal como um náufrago a um pedaço de madeira. Ridiculariza o debate sobre a autodefesa. Para enfrentar a real gravidade da situação, precisamos de frente únicas que superem o método de organização desenvolvido até hoje pelo sindicalismo oficial. Temos que organizar reuniões democráticas e amplas. Todos devem defender todos e sair em solidariedade em caso de agressão, calúnias e outras formas de ataque fascista.
            A organização de frentes antifascistas deixa claro que estamos numa conjuntura defensiva. Será preciso resistir por um período longo, até conseguirmos tomar a ofensiva. A propaganda e a agitação, somada à autodefesa, assumem o primeiro lugar. No campo da agitação e propaganda é fundamental desmascarar o programa do ajuste fiscal e os métodos autoritários que o capitalismo precisa impor para se manter, demonstrando desde já os verdadeiros culpados: o capitalismo, a burguesia e o seu ajuste fiscal.
            A situação atual, por mais desesperadora que pareça, também abre grandes possibilidades de mobilização e de luta contra a direita e o capitalismo, desde que compreendida em profundidade e bem utilizada.

Defendemos:
- Voto crítico em Haddad (PT) pelas liberdades democráticas mínimas: nenhuma confiança no seu programa econômico de administração do capitalismo e no seu governo!
- Combater o fascismo sem vacilação: organização de frente única com todos os setores que se dispuserem a tal!
- Contra o ajuste fiscal e a fascistização da política e da economia: denunciar amplamente o seu programa, os seus métodos e os seus objetivos!
- Que os sindicatos organizem frentes únicas contra a ditadura militar que se avizinha! Se a direção do CPERS não cumprir esta tarefa, que seja imediatamente destituída!

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