UMESPA:UMA AGÊNCIA
DO GOVERNO NO MOVIMENTO ESTUDANTIL
A União
Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Porto Alegre (UMESPA) é uma
entidade estudantil ligada à UGES (União Gaúcha dos Estudantes), UBES (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e UNE (União Nacional dos Estudantes).
Todas elas nasceram com a finalidade de unificar a luta do movimento estudantil
em defesa da educação pública, mas não é isso que ocorre na prática. Um longo
processo de burocratização as cooptaram e as adaptaram à ordem da sociedade
capitalista. De organizadoras da luta no passado, passaram a ser seu freio no
presente. Camarilhas burocráticas de “estudantes profissionais” se apossaram de
suas direções e as controlam com mãos de ferro, mas com um discurso demagógico.
Os interesses dos estudantes são substituídos pelos interesses destas
camarilhas dirigentes e seus respectivos grupos políticos. A este processo
chamamos burocratização.
Esta cooptação
política ocorre, sobretudo, através do recebimento de verbas dos governos
Federal, Estadual e Municipal. É sabido que a UNE, por exemplo, recebe milhões
do Governo Federal para realizar seus congressos, eventos e “lutas”. O último
congresso da UBES, realizado no final de 2011 na cidade de São Paulo, foi
“agraciado” pelo governo Kassab (PSD) com uma generosa soma de R$1 milhão. Quem
paga a banda escolhe a música. Congressos que deveriam servir para organizar a
luta tornam-se festas e um palco político para o governo.
Em razão
disto, a luta estudantil não passa por estas entidades. A UMESPA, em especial,
está fora de todas as principais lutas travadas pelo movimento estudantil da
capital gaúcha nas últimas décadas. Pior do que isso: estava na trincheira
oposta, de mãos dadas com os governos, supostamente falando “em nome” dos estudantes
e os “representando”. Os seus congressos, ao invés de preparar a luta, são
teatros burocráticos já decididos de antemão. Não existem discussões prévias.
Os estudantes são recrutados nas escolas com o discurso de “festa” e de “turismo”,
mas com a real finalidade de fazer número e dar quorum a estes congressos
“laranjas”.
Os grêmios
estudantis controlados pela UMESPA refletem esta lógica geral. Os estudantes
não são conscientizados, mas alienados. A UMESPA usa o aparato dos grêmios como
verdadeiras fábricas de carteirinhas do TRI. Cobram um valor 10 vezes mais caro
do que seu preço de custo. Um serviço que deveria facilitar a vida do
estudante, na realidade torna-se mais um fardo, fonte de exploração e de
roubalheira. Todo o início de ano em Porto Alegre , a UMESPA participa da reunião do
COMTU (Conselho Municipal de Transporte Urbano) e vota a favor do aumento das
passagens solicitado pelos empresários. A questão do transporte público
interessa duplamente à UMESPA: ao servir como um ponto de apoio aos empresários
do transporte e à prefeitura, ela se credencia como “entidade legítima” dos
estudantes perante os órgãos públicos, fazendo dos direitos dos estudantes uma
fonte de renda ilícita. Por tabela, nenhum dos grêmios estudantis ligados a
UMESPA organiza luta contra o aumento das passagens. Muito antes pelo
contrário, estas entidades são engessadas para que não atrapalhem os planos da
prefeitura e dos empresários do “transporte público”. Inevitavelmente eles
solicitarão novo aumento em 2012. Acompanhemos os seus passos.
Muitos
dirigentes da UMESPA tratam o aparelhamento político dos grêmios e das outras
entidades superiores como algo “natural”. Pegar dinheiro do caixa dos grêmios
para suas próprias correntes políticas – com a falsa justificativa de “financiar
a luta” – é uma prática comum. Estas camarilhas estudantis de UMESPA, UGES,
UBES e UNE são ligadas aos seguintes partidos: PCdoB (UJS), PPL (Partido Pátria
Livre, ex-MR-8), PTB e PMDB. Siglas bem conhecidas pela roubalheira em todas as
esferas públicas. Cada um desses partidos burgueses não tolera oposição
consciente, por isso, nos congressos estudantis impera a intimidação e as
ameaças.
Ultimamente
temos visto no Rio Grande do Sul UMESPA e UGES sabotar a verdadeira luta do
movimento estudantil contra a Reforma do Ensino Médio do governo Tarso e do
Banco Mundial. Como estão ligados ao governo por milhares de vínculos, não
podem travar nenhuma luta contra estes ataques do governo. A UGES foi mais
longe e, no seu 56º Congresso Estadual, com delegados selecionados com o famoso
critério da “festa” e do “turismo”, votou contra a greve dos educadores,
deflagrada no dia 18 de novembro. Neste mesmo congresso fantasma falou o
Secretário de Educação do governo. É por isso que Zero Hora deu destaque de
primeira página a este congresso laranja (“Pais
e líderes estudantis se insurgem contra greve”; ZH, 21/11/2011), que também
foi entusiasticamente saudado pelo governo Tarso.
E sobre a mídia cabe uma reflexão
particular: RBS e ZH usaram a expressão sensacionalista “se insurgem” com a
evidente intenção de influenciar a opinião pública e, em especial, os
estudantes, contra a greve. Este congresso da UGES serviu para dar um verniz de
“veracidade” ao fato. Durante a greve, a mídia noticiava o tempo todo a baixa
adesão, mas silenciou completamente sobre o baixíssimo número de presentes do
referido “congresso estudantil”; inclusive omitiu a participação do Secretário.
Como prova de que estas entidades não representam os estudantes, as reais lutas
estudantis de Porto Alegre e do interior aconteceram por fora e apesar delas,
desmentindo completamente a suposta “insurreição” contra a greve. A realidade
era exatamente o oposto: os estudantes e a comunidade escolar se colocaram a
favor da greve e contra a Reforma do Ensino Médio.
O grau de
burocratização destas entidades as torna praticamente indisputáveis pelo setor
consciente do movimento estudantil. É por isso que para haver luta coerente é
preciso denunciá-las e destruí-las e construir uma nova. Não é isso que faz a
ANEL. Segundo seu congresso de fundação, optou por “não demarcar fronteiras com a UNE”. Por toda a sua prática,
destruir a UMESPA e as demais entidades governistas não é uma prioridade da
ANEL (que é dirigida majoritariamente pelo PSTU). Esta tarefa recai sobre os
ombros dos estudantes conscientes, que, além de lutar contra a Reforma do
Ensino Médio e os demais ataques do governo, precisam lutar contra estes
inimigos na trincheira.
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