A nossa greve se
iniciou em setembro de 2017, após os humilhantes R$350 reais depositados no
final do mês de agosto. Teve caráter massivo, alastrando-se por todo o RS, e
levando ao movimento escolas que nunca tinham feito greve. Este primeiro
impacto gerou medo no governo e na sua base de apoio, a Assembleia Legislativa
e a grande mídia, que partiram para o contra ataque com distorções, calúnias,
difamações, chantagens e a ameaça de desconto e demissões.
Neste
primeiro momento da greve o governo foi parcialmente derrotado com as liminares
na justiça, além do abandono da política de junção das folhas de pagamento. A
grande mobilização da base não se refletiu no comando de greve, que até a
assembleia de 10 de novembro ficou fechado entre as correntes majoritárias do
CPERS. Até este momento, as ações foram as mesmas de sempre: burocráticas,
rotineiras, restritas ao sindicalismo tradicional de orientação cutista,
entrecortadas por algumas ações “radicalizadas” que não foram preparadas na
base e que duraram no máximo um dia. Frente a este corpo mole, o governo usou a
estratégia de sempre: enrolou o movimento com mesas de negociações inúteis,
reforçando seu discurso mentiroso de crise na mídia, matando a greve no cansaço
e, contando para isso, com a conivência da burocracia sindical.
Foi
neste contexto que o governo aceitou a proposta do comando estadual de greve (que
ainda era fechado) de escalonamento dos salários, conforme atesta o editorial
do secretário de educação publicado na Zero Hora (e não desmentido). O
escalonamento e o medo de perder as férias começaram a tencionar os colegas
imediatistas, tentados à voltar ao trabalho. No entanto, em razão da penúria de
grande parte da categoria, a luta seguiu com grande adesão e conseguiu reverter
estas ameaças. A burocracia sindical percebeu que teria problemas para
desmontar o movimento. Sua primeira tentativa, sem sucesso, se deu na assembleia geral de 31 de outubro,
esperando que surgissem propostas de fim de greve da própria base, fato que não
ocorreu. Até este momento o CPERS não tinha desenvolvido uma campanha de mídia
consistente, que respondesse sistematicamente os ataques da grande mídia e as
mentiras do governo. Deixou o movimento ser alvejado por todos os lados para
deixar gerar antipatia na opinião pública (que, como sabemos, é propensa à
apoiar discursos reacionários, embora até este momento tivesse dado apoio à
causa dos educadores por perceber o seu sofrimento).
A
partir da assembleia geral de 10 de
novembro a direção central (PT, PCdoB, PDT, PP; CUT e CTB) e a maioria do
comando de greve passaram à ofensiva contra a greve. Partindo de uma análise
correta de que o movimento tinha refluído (omitindo, é claro, o seu papel neste
refluxo), apelaram ao discurso do medo, ao aparato para asfixiar o movimento e
as iniciativas da base. Mesmo reduzindo-se à uma vanguarda, o movimento
resistiu contra estas investidas, pois esta ainda era numerosa, indo muito além
das correntes oficiais do CPERS e das greves anteriores. Uma das qualidades
desta vanguarda era a sua insistência e a capacidade de infringir derrotas à
inúmeras correntes majoritárias que dirigem núcleos do interior, como a
Articulação Sindical (PT) e a Construção Socialista (PSOL), que já trabalhavam
abertamente pelo fim da greve, inclusive com discursos reacionários que
repudiamos. Devemos alertar a categoria para os perigos reais, mas jamais
insuflar-lhe medo. Muitos destes argumentos foram utilizados posteriormente
pela mídia e pelo governo, inclusive em uma ação judicial pedindo a ilegalidade
da greve, que não foi deferida. A nota do CPERS “alertando” a categoria sobre a
tentativa de tornar a greve ilegal respondeu o governo de forma patética, quase
como uma nota oficial do próprio governo.
O
discurso da direção central e da maioria do comando de greve, além de apelar ao
terrorismo psicológico e judicial (autênticas traições de classe), usava uma
argumentação cínica: “acabar com a greve para seguir na luta, fazer uma ‘greve
geral’, derrotar o ajuste fiscal e concretizar a unidade com os servidores”. Além
de ser um flagrante contrassenso político e teórico, pela experiência sabemos
que se a greve for encerrada a direção central enterrará toda a luta e não
promoverá mais movimento algum.
Os
problemas do comando de greve estadual
Durante a maior parte do tempo o comando de greve ficou
restrito apenas às correntes majoritárias. Somente a partir da assembleia de 10
de novembro foi aberto para as correntes minoritárias (como a nossa). Mesmo
“aberto”, a direção central seguiu impondo sua hegemonia pela força do aparato,
procurando matar a greve por inanição. Foi exatamente o que aconteceu.
Discursos de medo para a categoria e clima de ódio com pautas nada propositivas
no comando estadual intensificaram o refluxo da greve. Tudo isso aumentou o
isolamento da vanguarda.
A nova prorrogação da greve na assembleia de 24 de novembro, apesar de ter aprovado a abertura do
comando de greve para toda a base, intensificou o isolamento e a inanição do
comando de greve. Depois de restringir a sua abertura apenas aos diretores de
núcleo, dando um golpe na base, a direção central tolerou dirigentes
fura-greve, envergonhando a luta e quebrando a disciplina sindical. A
inoperância deste “novo” comando de greve estadual foi completa. Reuniu-se
apenas duas vezes e não debateu nada além de datas para a assembleia geral e
ataques pessoais. Não formulou uma única orientação para os núcleos; nem
esgotou nenhuma possibilidade; colocou seletivamente em prática propostas
aprovadas na última assembleia geral. Dava orientações e declarações a reveria
do comando estadual de greve, apresentando um calendário para núcleos alinhados,
boicotando atividades que julgava inconvenientes (principalmente em Porto
Alegre), propondo reuniões de cúpula para os sindicatos de servidores e as
centrais.
A aprovação da abertura do comando de greve para a base,
a despeito de problemas de formulações (amplamente exagerados ou deformados
pela burocracia sindical), demonstrou claramente o total isolamento do comando
estadual dos comandos de base. A grande lição deste movimento grevista é que não podemos tolerar uma única greve a mais
com este tipo de comando, hegemonizado por correntes de forma vertical e
sem eleição proporcional nos comandos abertos de base, nos núcleos. Em uma
greve, as direções precisam se estender para um comando que seja a expressão
mais próxima possível do movimento na base, eleito nos comandos abertos de
núcleos, desenvolvendo um critério que reflita proporcionalmente o número de
escolas de cada região. Para os ativistas honestos que procuram um caminho, fica
a experiência para ser aperfeiçoada. Para aqueles que vão propor a continuidade
da greve, abrir o comando estadual nesses moldes é um dever, caso contrário
será apenas fanfarronada ou suicídio.
Se
Lula e o PT “perdoaram os golpistas”, os trabalhadores não devem perdoá-los
A mudança de linha política do PT e PCdoB a nível
nacional se refletiu na greve. O sindicalismo da CUT e da CTB não vão além do
legalismo democrático-burguês, portanto, andam conforme a chantagem das suas
instituições e dos seus partidos. O trancaço da Assembleia Legislativa
demonstrou claramente o papel de cúmplices de PT e PCdoB na aplicação do ajuste
fiscal do governo Sartori (PMDB), que, no melhor estilo da direita,
classificaram o trancaço de “inaceitável”. Nos sindicatos que dirigem ajudaram
a frear os servidores contendo a luta e deixando-os isolados. A direção do
CPERS e a CUT boicotaram sistematicamente a proposta de unificação de
calendários de luta dos sindicatos dos servidores, bem como a realização de
encontros de base.
Por
que fomos derrotados?
As nossas greves tem se caracterizado por serem de
resistência. Não arrancam novas conquistas, mas lutamos para preservar as
velhas. Isto é um reflexo da conjuntura, da inoperância das centrais sindicais e
do desgaste de um tipo de sindicalismo. É necessário iniciarmos uma nova
cultura sindical e, para isso, tirar as lições desta derrota é fundamental.
Tivemos pontos positivos com este movimento, tais como o desmascaramento da
“crise financeira” do governo Sartori (as irregularidades em suas contas, principalmente
do FUNDEB), a não junção das folhas de pagamento, a participação de escolas e
colegas que nunca tinham feito greve, a organização dos contratados, o início
do debate sobre a abertura do comando e o desmascaramento de PT e PCdoB. Este
movimento grevista demonstrou claramente que a burocracia sindical cria uma
cortina de fumaça entre o interior e a capital, embaçando dados e dificultando
informações. Vivemos um verdadeiro regime de censura na base. Para superar
isso, é fundamental aprofundar a relação que se desenvolveu ao longo da greve
entre lutadores independentes dos diferentes núcleos para construirmos um poder
paralelo de informações, troca de dados e impressões, no sentido de minar as
bases de poder da burocracia sindical. Neste sentido, as redes sociais cumprem
papel importante.
Por outro lado, setores da vanguarda que querem seguir em
luta afirmam que “não podemos acabar com a greve, pois não arrancamos nada do
governo”. Esta visão é equivocada, pois no atual contexto não se trata de “tirar
algo do governo”, mas de resistir. Nesta resistência, contudo, fomos derrotados,
em primeiro lugar, pela força organizada do governo Sartori (o PMDB e aliados,
o aparato de estado, a grande mídia e a opinião pública alienada). Em segundo
lugar, pela direção central e a maioria do comando de greve, que deixaram a
greve ser atacada e morrer de inanição (ou seja, usaram o aparato para frear a
luta, no velho estilo stalinista). Em terceiro lugar, pelo imediatismo
pequeno-burguês da maior parte de nossa categoria, não combatido pelas direções
do CPERS com formação teórica e organização por local de trabalho.
O resultado foi o refluxo e o esgotamento. Apesar da
derrota, as lições ficam. Que a vanguarda não se esqueça delas. Por sabermos
que a continuidade da greve não terá base mobilizada e morrerá de asfixia
imposta pela burocracia sindical através do aparato, compreendemos que devemos encerrar
a greve.
Contudo, não devemos nos abalar com a derrota. A luta é
um processo! Precisamos fortalecer os fóruns alternativos de troca de
informações, a organização dos educadores contratados, a disseminação teórica
da experiência que vivemos com este movimento e preparar a luta contra a
punição da recuperação dos dias letivos. Na busca deste “acordo” de recuperação
devemos nos utilizar de todo o arsenal jurídico disponível. Caso a direção
central e sua assessoria jurídica se neguem a encampar esta luta, se tratará de
uma nova traição, largando a categoria à sua própria sorte. Nós, enquanto
corrente, seguiremos firmes ajudando a organizar as forças independentes da
categoria, convictos de que para termos greves e lutas vitoriosas no futuro,
precisamos derrotar a burocracia sindical do CPERS.
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