7 de dez. de 2017

A GREVE DO CPERS FOI VANGUARDA NA LUTA CONTRA O AJUSTE FISCAL, MAS ACABOU DERROTADA PELO GOVERNO SARTORI, PMDB, PT, PCdoB E A BUROCRACIA SINDICAL

A nossa greve se iniciou em setembro de 2017, após os humilhantes R$350 reais depositados no final do mês de agosto. Teve caráter massivo, alastrando-se por todo o RS, e levando ao movimento escolas que nunca tinham feito greve. Este primeiro impacto gerou medo no governo e na sua base de apoio, a Assembleia Legislativa e a grande mídia, que partiram para o contra ataque com distorções, calúnias, difamações, chantagens e a ameaça de desconto e demissões.  
Neste primeiro momento da greve o governo foi parcialmente derrotado com as liminares na justiça, além do abandono da política de junção das folhas de pagamento. A grande mobilização da base não se refletiu no comando de greve, que até a assembleia de 10 de novembro ficou fechado entre as correntes majoritárias do CPERS. Até este momento, as ações foram as mesmas de sempre: burocráticas, rotineiras, restritas ao sindicalismo tradicional de orientação cutista, entrecortadas por algumas ações “radicalizadas” que não foram preparadas na base e que duraram no máximo um dia. Frente a este corpo mole, o governo usou a estratégia de sempre: enrolou o movimento com mesas de negociações inúteis, reforçando seu discurso mentiroso de crise na mídia, matando a greve no cansaço e, contando para isso, com a conivência da burocracia sindical.
Foi neste contexto que o governo aceitou a proposta do comando estadual de greve (que ainda era fechado) de escalonamento dos salários, conforme atesta o editorial do secretário de educação publicado na Zero Hora (e não desmentido). O escalonamento e o medo de perder as férias começaram a tencionar os colegas imediatistas, tentados à voltar ao trabalho. No entanto, em razão da penúria de grande parte da categoria, a luta seguiu com grande adesão e conseguiu reverter estas ameaças. A burocracia sindical percebeu que teria problemas para desmontar o movimento. Sua primeira tentativa, sem sucesso, se deu na assembleia geral de 31 de outubro, esperando que surgissem propostas de fim de greve da própria base, fato que não ocorreu. Até este momento o CPERS não tinha desenvolvido uma campanha de mídia consistente, que respondesse sistematicamente os ataques da grande mídia e as mentiras do governo. Deixou o movimento ser alvejado por todos os lados para deixar gerar antipatia na opinião pública (que, como sabemos, é propensa à apoiar discursos reacionários, embora até este momento tivesse dado apoio à causa dos educadores por perceber o seu sofrimento).
A partir da assembleia geral de 10 de novembro a direção central (PT, PCdoB, PDT, PP; CUT e CTB) e a maioria do comando de greve passaram à ofensiva contra a greve. Partindo de uma análise correta de que o movimento tinha refluído (omitindo, é claro, o seu papel neste refluxo), apelaram ao discurso do medo, ao aparato para asfixiar o movimento e as iniciativas da base. Mesmo reduzindo-se à uma vanguarda, o movimento resistiu contra estas investidas, pois esta ainda era numerosa, indo muito além das correntes oficiais do CPERS e das greves anteriores. Uma das qualidades desta vanguarda era a sua insistência e a capacidade de infringir derrotas à inúmeras correntes majoritárias que dirigem núcleos do interior, como a Articulação Sindical (PT) e a Construção Socialista (PSOL), que já trabalhavam abertamente pelo fim da greve, inclusive com discursos reacionários que repudiamos. Devemos alertar a categoria para os perigos reais, mas jamais insuflar-lhe medo. Muitos destes argumentos foram utilizados posteriormente pela mídia e pelo governo, inclusive em uma ação judicial pedindo a ilegalidade da greve, que não foi deferida. A nota do CPERS “alertando” a categoria sobre a tentativa de tornar a greve ilegal respondeu o governo de forma patética, quase como uma nota oficial do próprio governo.
O discurso da direção central e da maioria do comando de greve, além de apelar ao terrorismo psicológico e judicial (autênticas traições de classe), usava uma argumentação cínica: “acabar com a greve para seguir na luta, fazer uma ‘greve geral’, derrotar o ajuste fiscal e concretizar a unidade com os servidores”. Além de ser um flagrante contrassenso político e teórico, pela experiência sabemos que se a greve for encerrada a direção central enterrará toda a luta e não promoverá mais movimento algum.

Os problemas do comando de greve estadual
            Durante a maior parte do tempo o comando de greve ficou restrito apenas às correntes majoritárias. Somente a partir da assembleia de 10 de novembro foi aberto para as correntes minoritárias (como a nossa). Mesmo “aberto”, a direção central seguiu impondo sua hegemonia pela força do aparato, procurando matar a greve por inanição. Foi exatamente o que aconteceu. Discursos de medo para a categoria e clima de ódio com pautas nada propositivas no comando estadual intensificaram o refluxo da greve. Tudo isso aumentou o isolamento da vanguarda.
            A nova prorrogação da greve na assembleia de 24 de novembro, apesar de ter aprovado a abertura do comando de greve para toda a base, intensificou o isolamento e a inanição do comando de greve. Depois de restringir a sua abertura apenas aos diretores de núcleo, dando um golpe na base, a direção central tolerou dirigentes fura-greve, envergonhando a luta e quebrando a disciplina sindical. A inoperância deste “novo” comando de greve estadual foi completa. Reuniu-se apenas duas vezes e não debateu nada além de datas para a assembleia geral e ataques pessoais. Não formulou uma única orientação para os núcleos; nem esgotou nenhuma possibilidade; colocou seletivamente em prática propostas aprovadas na última assembleia geral. Dava orientações e declarações a reveria do comando estadual de greve, apresentando um calendário para núcleos alinhados, boicotando atividades que julgava inconvenientes (principalmente em Porto Alegre), propondo reuniões de cúpula para os sindicatos de servidores e as centrais.
            A aprovação da abertura do comando de greve para a base, a despeito de problemas de formulações (amplamente exagerados ou deformados pela burocracia sindical), demonstrou claramente o total isolamento do comando estadual dos comandos de base. A grande lição deste movimento grevista é que não podemos tolerar uma única greve a mais com este tipo de comando, hegemonizado por correntes de forma vertical e sem eleição proporcional nos comandos abertos de base, nos núcleos. Em uma greve, as direções precisam se estender para um comando que seja a expressão mais próxima possível do movimento na base, eleito nos comandos abertos de núcleos, desenvolvendo um critério que reflita proporcionalmente o número de escolas de cada região. Para os ativistas honestos que procuram um caminho, fica a experiência para ser aperfeiçoada. Para aqueles que vão propor a continuidade da greve, abrir o comando estadual nesses moldes é um dever, caso contrário será apenas fanfarronada ou suicídio.

Se Lula e o PT “perdoaram os golpistas”, os trabalhadores não devem perdoá-los
            A mudança de linha política do PT e PCdoB a nível nacional se refletiu na greve. O sindicalismo da CUT e da CTB não vão além do legalismo democrático-burguês, portanto, andam conforme a chantagem das suas instituições e dos seus partidos. O trancaço da Assembleia Legislativa demonstrou claramente o papel de cúmplices de PT e PCdoB na aplicação do ajuste fiscal do governo Sartori (PMDB), que, no melhor estilo da direita, classificaram o trancaço de “inaceitável”. Nos sindicatos que dirigem ajudaram a frear os servidores contendo a luta e deixando-os isolados. A direção do CPERS e a CUT boicotaram sistematicamente a proposta de unificação de calendários de luta dos sindicatos dos servidores, bem como a realização de encontros de base.

Por que fomos derrotados?
            As nossas greves tem se caracterizado por serem de resistência. Não arrancam novas conquistas, mas lutamos para preservar as velhas. Isto é um reflexo da conjuntura, da inoperância das centrais sindicais e do desgaste de um tipo de sindicalismo. É necessário iniciarmos uma nova cultura sindical e, para isso, tirar as lições desta derrota é fundamental. Tivemos pontos positivos com este movimento, tais como o desmascaramento da “crise financeira” do governo Sartori (as irregularidades em suas contas, principalmente do FUNDEB), a não junção das folhas de pagamento, a participação de escolas e colegas que nunca tinham feito greve, a organização dos contratados, o início do debate sobre a abertura do comando e o desmascaramento de PT e PCdoB. Este movimento grevista demonstrou claramente que a burocracia sindical cria uma cortina de fumaça entre o interior e a capital, embaçando dados e dificultando informações. Vivemos um verdadeiro regime de censura na base. Para superar isso, é fundamental aprofundar a relação que se desenvolveu ao longo da greve entre lutadores independentes dos diferentes núcleos para construirmos um poder paralelo de informações, troca de dados e impressões, no sentido de minar as bases de poder da burocracia sindical. Neste sentido, as redes sociais cumprem papel importante.
            Por outro lado, setores da vanguarda que querem seguir em luta afirmam que “não podemos acabar com a greve, pois não arrancamos nada do governo”. Esta visão é equivocada, pois no atual contexto não se trata de “tirar algo do governo”, mas de resistir. Nesta resistência, contudo, fomos derrotados, em primeiro lugar, pela força organizada do governo Sartori (o PMDB e aliados, o aparato de estado, a grande mídia e a opinião pública alienada). Em segundo lugar, pela direção central e a maioria do comando de greve, que deixaram a greve ser atacada e morrer de inanição (ou seja, usaram o aparato para frear a luta, no velho estilo stalinista). Em terceiro lugar, pelo imediatismo pequeno-burguês da maior parte de nossa categoria, não combatido pelas direções do CPERS com formação teórica e organização por local de trabalho.
            O resultado foi o refluxo e o esgotamento. Apesar da derrota, as lições ficam. Que a vanguarda não se esqueça delas. Por sabermos que a continuidade da greve não terá base mobilizada e morrerá de asfixia imposta pela burocracia sindical através do aparato, compreendemos que devemos encerrar a greve.
            Contudo, não devemos nos abalar com a derrota. A luta é um processo! Precisamos fortalecer os fóruns alternativos de troca de informações, a organização dos educadores contratados, a disseminação teórica da experiência que vivemos com este movimento e preparar a luta contra a punição da recuperação dos dias letivos. Na busca deste “acordo” de recuperação devemos nos utilizar de todo o arsenal jurídico disponível. Caso a direção central e sua assessoria jurídica se neguem a encampar esta luta, se tratará de uma nova traição, largando a categoria à sua própria sorte. Nós, enquanto corrente, seguiremos firmes ajudando a organizar as forças independentes da categoria, convictos de que para termos greves e lutas vitoriosas no futuro, precisamos derrotar a burocracia sindical do CPERS.

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